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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses.

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Esta grande imagem é de Setembro de 1980 e assinala uma data histórica para os bombeiros de Peso da Régua.

São os momento do desfile motorizado de viaturas dos bombeiros portugueses de todo o país que foi realizado nas principais ruas da cidade, que marcou o encerramento do 24ª Congresso dos Bombeiros Portugueses, das comemorações dos 50º aniversário da Liga dos Bombeiros e do 100º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua.

Foi um acontecimento ímpar para a cidade duriense, reconhecida como a “Capital do Douro” e inesquecível para a história dos bombeiros de Peso da Régua, que festejavam em glória e vitalidade os seus 100 anos de vida ao serviço da população.

Estiveram presentes de representações de bombeiros de todo o país, os principais dirigentes dos bombeiros, como o Padre Vítor Melícias, Eng. João Manuel Palmeirim Ramos, Comandante Manta, o saudoso e nosso amigo Rodrigo Félix, Presidente Direcção da Federação de Vila Real e ainda o Ministro da Administração Interna, Eurico de Melo e o Presidente da República, o General Ramalho Eanes que foram sempre acompanhados pelo carismático prof. Renato Aguiar, Presidente da Câmara Municipal.

Desta imagem, da autoria do fotógrafo reguense Baía Reis, retêm-se a passagem dos carros de pronto-socorro fogo, a demonstrarem muita antiguidade para as suas funções, na sua singela beleza, pela rua da Ferreirinha, com uma presença grande de pessoas a assistirem, o que tornou esta cerimónia não só num verdadeiro êxito de afirmação da capacidade dos “soldados da paz”, como numa festa de cor e alegria.

Este desfile motorizado de Peso da Régua foi atentamente observado pelo jornalista Luís Miguel Baptista, no seu interessante livro “75 Anos a Construir Futuro”, onde com toda a razão afirma o seguinte:

“O desfile apeado e motorizado do Congresso, com a participação de corpos de bombeiros de todo o país, assume a expressão do voluntariado e das potencialidades humanas. Viaturas há muito tempo ao serviço, de características obsoletas, suscitam a necessidade de lançamento de acções para o equipamento, formação e modernização dos bombeiros”.

Hoje sabemos que este 24º Congresso dos Bombeiros Portugueses, realizado em Peso da Régua, marcou uma fase de viragem na vida dos bombeiros portugueses, que passaram a ter uma outra atenção do poder político, reconhecendo-os como os principais agentes da protecção civil, a quem deviam ser dado melhores meios materiais para a realização das suas missões. Isso aconteceu, felizmente, no caso desta Associação que nesse ano de 1980 recebeu um moderno veículo de combates a fogos urbanos, o famoso “Baribi”, um Mercedes que, apresentava como novidade, ter sido carroçado em Itália.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
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  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
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  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
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quinta-feira, 26 de março de 2009

A FANFARRA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PESO DA RÉGUA

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Peso da Régua, 28 de Novembro 2008.
A FANFARRA DOS BOMBEIROS DE PESO DA RÉGUA.

Integrada na Associação está a magnifica Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua, da qual fazem parte cerca de 55 elementos do sexo masculino e feminino com idades compreendidas entre os 6 e os 55 anos.

A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua foi fundada em 15 de Agosto de 1976 e, durante estes 32 anos de existência, marcados com muitos pontos altos, tem dado inúmeros espectáculos de rua, em cerimónias de bombeiros, desfiles de festas de cidades, vilas e aldeias, mostrando toda a sua animação, cores, sons e coreografias variadas, as quais o público muito admira e aplaude.

Esta Fanfarra foi criada e mantida, durante muitos anos, graças ao trabalho e à determinação do saudoso director António Jacinto Dias, mais conhecido por senhor Dias (como carinhosamente lhe chamam elementos dessa época), isto sem esquecer muitos outros directores e bombeiros que ao longo dos anos lhe deram vida.

A Fanfarra começou apenas com os elementos masculinos, numa primeira fase, para aprenderem a manusear os instrumentos e, numa segunda fase, integraram-se já os elementos de sexo feminino, para lhes ensinarem os passos e coordenação geral de todos. O fardamento masculino foi pago pelos próprios elementos, mas o feminino foi feito pelas costureiras de Peso da Régua. Quando estava tudo pronto e afinado, decidiu­-se que a Fanfarra sairia no dia 15 de Agosto de 1976, a acompanhar a procissão solene em honra de Nossa Senhora do Socorro, com saia vermelha, botas vermelhas e camisa azul para as raparigas e calças azuis e camisa branca para os homens.

E a partir daí iniciou as suas actuações por todo o país. Mas, uma dela nunca se vão esquecer, foi a actuação em Castro Daire, no ano de 1976, onde foram participar num concurso de fanfarras, tendo conseguido arrecadar o primeiro lugar.

Os anos foram passando e o fardamento teria que ser mudado e para tal a Direcção dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, passados anos decidiu oferecer o fardamento a todos os elementos, sendo composto por camisa branca e calças azuis para os homens e camisa branca, saia às pregas azul e botas brancas para as mulheres.

Com a entrada de uma nova direcção e de um novo responsável pela Fanfarra mudou-se radicalmente o fardamento, passando as raparigas a ter minissaia travada azul, camisa azul clara com manga a três quartos e botas brancas e os homens com calças, botas e camisa de estilo bombeiro, visual que se manteve até ao ano de 2008.

No ano de 2008, as novas responsáveis pela Fanfarra (Sónia Coutinho e Mónica Silva), decidiram valoriza-la ainda mais e mudaram o fardamento, não em estilo, visto que só as camisas de manga curta das raparigas é que deixou de ser à três quartos, mas a cor modificou e o tipo de chapéus quer de uns quer de outros e os cordões que levam ao peito ficaram menos pesados e mais pequenos.

Com a Fanfarra dos Bombeiros de Peso da Régua, a quem é reconhecido grande valor na área recreativa, leva-se a qualquer parte o bom nome da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, como aconteceu no passado dia 5 de Janeiro de 2009, na cidade galega de Santiago de Compostela, onde esteve presente, a abrir o importante desfile da “Festas dos Reis Magos”.

E, quem viu disse:“brilhantemente”.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida e Sónia Coutinho.

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Outros textos publicados sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
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terça-feira, 5 de maio de 2009

O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua

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Este antigo retrato documenta o combate dos bombeiros ao grande incêndio, no último andar do edifico dos Paços do Concelho do Peso da Régua, no dia 5 de Abril de 1937.

Ele permite ver os pormenores do trabalho dos bombeiros no combate à extinção do incêndio que, teve como consequência para além, dos elevados prejuízos materiais, resultantes da destruição total do andar superior do imóvel, de bens móveis e muita documentação antiga, a perda de três vidas humana, todos funcionários a trabalharem em serviços dessa instituição.

Assistimos ao desenrolar da operação no telhado do prédio, sob uma nuvem de fumo, com os bombeiros a lançarem água aos destroços da cobertura das águas furtadas, onde as chamas teriam deflagrado e rapidamente se haviam propagado a outras partes deste magnífico edifício público, até hoje a servir de “paços do concelho”, adquirido pela vereação liderada pelo Dr. Joaquim Claudino de Morais, em 1876.

Destaca-se no sinistro, o foco do incêndio circunscrito ao último andar e a acção dos corajosos bombeiros do Peso da Régua, que utilizaram duas linhas de mangueiras, ligadas já as bocas da rede pública, desforradeiras para retirar as telhas, uma manga de salvamento de pessoas e, para o escalonamento, uma “escada portuense” (quatro lances que se encaixam até uma altura de 12 metros).

A salvaguarda das vidas das vítimas num incêndio urbano constitui a primeira prioridade num plano estratégico de intervenção de qualquer Corpo de Bombeiros. Este do edifício dos Paços do Concelho, devido à violência da explosão, com que se iniciou, não lhes permitiu o sucesso de evitarem perdas humanas.

Mas, o plano de acção montado pelos patrões Álvaro Rodrigues da Silva e António Guedes Castelo Branco (receberam um louvor que consta da histórica Ordem de Serviço nº 20, de 10 de Abril de 1937, assinada pelos 1ª e 2º Comandantes), que comandavam os bombeiros no salvamento e ataque ao fogo, prova os conhecimentos dos manuais de instrução e, sobretudo, a sua grande experiência, ao iniciarem logo que chegaram ao local, os trabalhos pela extinção do incêndio.

Esta imagem regista o traçado antigo da rua Serpa Pinto, onde se situa o edifício dos Paços do Concelho e, mesmo à sua frente, o desaparecido Jardim Alexandre Herculano. Foram as suas condições amplas e a vizinhança com a rua do Quartel que permitiram o acesso fácil e rápido aos equipamentos dos bombeiros (daí que não tenham levado os carro de pronto-socorro), as suas primeiras intervenções e as manobras de salvamento, pela fachada principal do edifício público atingido.

Este incêndio teve destaque na primeira página do semanário “Noticias do Douro”, edição do dia 8 de Abril de 1937, que com o título “O incêndio dos Paços do Concelho da Régua”, dava a notícia, desta forma circunstanciada:

“Na segunda -feira, perto das 15 horas, a Régua foi alarmada com a notícia de que, devido a uma explosão, estava a arder o último andar dos Paços do Concelho.
O perigo iminente que corriam as pessoas que, surpreendidas pelo sinistro da parte superior daquele edifício, havia já saltado para o telhado, provocava gritos aflitivos da multidão que rapidamente se juntava nas imediações da Câmara Municipal (…)

Esses gritos ainda alarmavam mais as pessoas em perigo, e impediam que em baixo lhe dessem indicações (…) para se defenderem das chamas que iam tomando conta da cobertura do edifício.

A explosão deu-se num compartimento onde estavam os empregados municipais José Artur de Seixas, Ângelo Correia, Manuel Loureiro e Manuel Gonçalves, mais conhecido por “Manuel Ceguinho”.

Este último, que parece ter sido o causador involuntário da explosão, foi, depois de dominado o incêndio, encontrado completamente carbonizado.
O primeiro e o Manuel Loureiro foram arremessados pela escadas (…) extensas queimaduras considerado muito grave o estado do segundo deles.

Quanto ao picheleiro Ângelo Correia, por pouco não resvalou para a beira do telhado, valendo-lhe Octávio da Silva (…) e que, encontrando-o ao procurarem fugir, evitaram a sua queda para o lado da Alameda (…) O seu estado é muito grave, havendo poucas esperanças de que se salve, devido à extensão de pele que perdeu.

Uma senhora (…) foi salva por um indivíduo que trepou por uma esquina do edifício da câmara, utilizando os ornatos de cantaria para se agarrar, e que abriu uma fenda no telhado do corpo mais baixo desse edifício, por onde a fez descer até uma dependência da Secretaria Municipal.

O Sr. Administrador do Concelho e outras pessoas que estavam perto dele, entre elas o menor José Félix, que ficou bastante ferido, tiveram de descer por um pontalete dos fios telefónicos.

Entretanto chegaram os bombeiros da Régua que montaram o ataque ao incêndio.
Uma meia hora depois chegavam também uma viatura dos bombeiros de Lamego a atacar o incêndio e mais tarde uma outra, ficando os bombeiros da Régua a atacar o incêndio principalmente pela frente e os de Lamego pelo lado da Alameda.

Uns e outros portaram galhardamente. Dentre os bombeiros da Régua distinguiram-se Claudino Clemente e João Bonifácio Júnior.

Vieram também bombeiros de Vila Real, acompanhados de excelente material, mas quando chegaram já o incêndio estava dominado.”


A imagem deste fogo faz do tempo uma linha de continuidade da vida e marca um acontecimento histórico: no meio da tragédia humana, os murmúrios da cidade, a demarcar-se nos contornos telúricos das vinhas erguidas em incontáveis socalcos, da “paisagem cultural evolutiva e viva”, prolongam-se nas margens do Salgueiral, embelezadas pelas serenas aguas da bacia do rio Douro.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
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  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
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  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A força do voluntariado nos bombeiros

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A força do voluntariado nos bombeiros da Régua

Início da década de 1960 com uma imagem de um extraordinário grupo de bombeiros da Régua, em farda de trabalho, capacete e machado, numa formatura à entrada do Quartel Delfim Ferreira.

Aqui está retratada mais uma das sucessivas gerações de generosos de bombeiros que, com o seu espírito de dedicação e abnegação, contribuíram em inúmeras missões de socorro, para segurança das nossas vidas e bens.

Estes briosos bombeiros são os principais responsáveis pela afirmação da força e do dinamismo da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que se fundou e cresceu com a força do movimento do voluntariado.

O valor e a importância de uma instituição que tem 128 anos de história define-se essencialmente pelos homens que a representaram - e a continuam a representar - e souberam dar o melhor contributo para o seu engrandecimento.

Ao contrário do que muitos afirmam, nunca estará esgotada a missão de uma associação humanitária, como é o caso da nossa, que em 1880 nasceu da vontade do povo e para servir o povo. Para além do seu fim principal, que é manter um Corpo de Bombeiros, a associação humanitária mantêm-se laços de ligação à população que a criou, permitindo que o seu espaço seja também para o convívio e lazer de todos e de participação em actividades culturais, recreativas e musicais. Desde a fundação, a associação tem aberta ao público uma biblioteca onde se podem encontrar livros para muito gostos.

Uma organização social e humanitária só pode permanecer viva e actuante se, no seu seio, tiver cidadãos de elevada dimensão moral e ética, empenhados na defesa de valores fundamentais para a realização humana.

Podemos recordar, através desta imagem, com nostalgia e saudade, formados à entrada da porta principal do quartel, excelentes bombeiros como o Francisco Ferreira, Diamantino Peixe, José Pinto, Manuel Figueiredo, Joaquim Espírito Santo, o saudoso Trovão, todos já falecidos, e entre nós, o Agostinho Narciso, generosamente conhecido por Zé Grande.

Um dia, com mais algum tempo, havemos de contar uma história divertida que se terá passado na vida do bombeiro Zé Grande – há quem diga que ela é verídica - que tudo fez para tirar uma “carta de condução” para conduzir uma grua da construção civil, na extinta firma A Construtora do Douro, onde em jovem trabalhou como servente. A quem a ouvimos, afirma que ele tudo fez, até da papelada foi tratar na escola de condução reguense. Outros e bons tempos, em que a brincar, as pessoas sabiam sorrir as dificuldades da sua vida…e da dos outros!

Em tempo de grandes crises económicas e dificuldades sociais de vária ordem, o exemplo de dedicação e de solidariedade destes homens – inesquecíveis bombeiros voluntários - deve ser uma referência para os jovens. A eles, a comunidade pede a sua participação cívica na causa do voluntariado nos bombeiros, como principais pilares na salvaguarda da segurança colectiva.

Devemos ter a consciência que vivemos num mundo vulnerável, cada vez com maiores riscos e situações de catástrofes, que deixam mais e mais pessoas em perigo de vida e desprotegidas, à espera da ajuda de um bombeiro voluntário.

Neste contexto, visando reforçar e valorizar a causa do voluntariado nos bombeiros, recordarmos que o Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses divulgou na opinião pública, durante o ano de 2008, esta importante mensagem:

“O voluntariado nos bombeiros é um meio de integração e inclusão social que contribui para a construção de uma sociedade coesa e solidária. Através do voluntariado nos Bombeiros, os indivíduos adquirem e desenvolvem competências, no contexto de uma formação cada vez mais exigente e diversificada, sendo, por isso, um instrumento de aprendizagem ao longo da vida.

Por outro lado, representa uma forma de as pessoas de todas as religiões, convicções políticas e origem socioeconómica poderem contribuir para a defesa de vidas e bens, o mesmo é dizer, exercem uma cidadania activa e responsável, alicerçada nos valores de solidariedade, da partilha, do trabalho em equipa, da eficácia no cumprimento de uma missão”
.

Para que sejam cumpridos estes princípios estamos convencidos que os jovens reguenses aceitarão este desafio de assumirem a causa do voluntariado como “soldados da paz”, seguindo os ideais de altruísmo do 1º Comandante do Corpo de Bombeiros do Peso da Régua, Manuel Maria de Magalhães.- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A visita do Presidente da Républica Américo Tomás - Aqui!
  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Homens que caminham para a história dos bombeiros.

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Uma imagem de Setembro de 1980 com três protagonistas do 24ª Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, realizado no Peso da Régua, a caminharem pelas ruas da cidade, à frente do desfile dos estandartes dos Corpos Bombeiros das associações humanitárias do país, que teve uma forte adesão da população, num sinal incondicional de apoio a todos os “soldados da paz” presentes.

São eles, o General Ramalho Eanes, Presidente da República, que presidiu as cerimónias do encerramento do congresso, o Padre Vítor Melícias, que exercia as novas funções de presidente do Conselho Coordenador do Serviço Nacional de Bombeiros e o anfitrião Renato Aguiar, presidente da Câmara Municipal (1976-89), o primeiro autarca reguense eleito após o 25 de Abril de 1974.

Destas três notáveis figuras, recordamos Renato Aguiar que, durante os seus mandatos de autarca, desempenhou na Associação o cargo de Presidente da Assembleia-geral. Natural da freguesia de Barcos, no concelho de Tabuaço, Renato Aguiar era professor do 1º ciclo, mas a sua acção salientou-se no campo do poder político, como Presidente de Câmara do Peso da Régua. Faleceu novo, com muito para dar na vida, num acidente de viação em 1998.

Considerado por muitos um autarca influente e determinante na afirmação a nível nacional deste concelho duriense, fortemente ligado ao turismo e aos negócios vinho e da vinha, foi agraciado com o grau de Comenda da Ordem do Infante, pelo General Ramalho Eanes, em 1979.

No exercício do poder local marcou a história do concelho do Peso da Régua que, no início do regime democrático do país, apresentava índices elevados de carências sociais e de falta de infra-estruturas de vários níveis. A ele se devem a realização das primeiras grandes obras para satisfação das necessidades básicas dos cidadãos reguenses.

Pelo seu espírito solidário e fraterno, o presidente Renato Aguiar nunca deixou de apoiar os bombeiros do Peso da Régua, destacando-se a sua cooperação na construção de 30 fogos de um bairro de habitação social, como se comprova na mensagem que escreveu na revista comemorativa do 100º aniversário da Associação (1980), da qual recordamos estas suas interessantes ideias:

“Desde longa data que as populações se organizaram para se defenderem contra inimigos e males, como fizeram para resolver os seus problemas e satisfazer suas necessidades locais, longe que estavam os poderes constituídos.

E deste modo que por iniciativa municipal surge a primeira organização de Bombeiros (1646) o que prova bem como eles estão ligados ao poder local.

Se o poder local for forte, organizado, constituído e democrático é certo que as populações serão mais facilmente realizado o que mais desejam, sendo que os Bombeiros Voluntários, neste caso, como organizações espontâneas e de serviço comunitário, se podem considerar a extensão humanitária do Município, já prestam serviços nas maior parte dos países àqueles são cometidas.

Têm em Portugal os Bombeiros e em especial os Voluntários, sido um verdadeiro exemplo de organização popular, dando no dia a dia provas de alto valor humanitário, de bravura e altruísmo que nos podem deixar orgulhosos de com eles algum dia ter colaborado.

Não pode qualquer Município alhear-se desta realidade, deve sim ter em mente os valores reais e os serviços prestados pelos Bombeiros, Soldados da Paz, da Amizade, da Fraternidade e clara e firmemente apoiar as suas iniciativas, criando condições para que eles possam desempenhar a sua missão.

Nesta hora e da nossa parte vai para todos os bombeiros a gratidão, mas também a nossa palavra de confiança e alento a todos os que queiram continuar esta obra que só é digna dos grandes Homens

Aos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, com os quais nos identificamos, queremos deixar aqui expresso o nosso profundo reconhecimento e a certeza do nosso incondicional apoio.”

Na história da Associação, o nome do Comendador Renato Aguiar (em 1999 foi-lhe prestada uma singela homenagem ao atribuir-se o seu nome ao veículo desencacerador) tem de estar o seu, como um dos grandes Homens, que muito ajudou a “continuar” a obra dos bombeiros do Peso da Régua.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

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terça-feira, 8 de abril de 2014

UM LIVRO ESPECIAL

Ao Dr. Bernardino Zagalo

Das homenagens e louvores aos bombeiros da Régua dedicadas pelo seu espírito de abnegação, brio e heroísmo há uma, muito especial que, pela sua raridade, autoria e forma invulgar como foi divulgada, não pode ficar esquecida nas páginas da história da associação nem na memória colectiva.

Não é um diploma nem sequer uma medalha de ouro concedida por alguma entidade pública a reconhecer o mérito, a dedicação pública, a generosidade, o comportamento exemplar, a coragem e abnegação e os serviços distintos pelo que, nas suas arriscadas missões de socorro, fizeram os bombeiros.

Ao longo da sua existência, os bombeiros da Régua foram enaltecidos com importantes distinções e títulos honoríficos. Sem querer valorizar nenhum há um especial muito um que brilha mais alto e destaca-se nas glórias dos bombeiros da velha guarda, a Ordem Militar de Cristo, colocada no estandarte da Associação pelas mãos do Presidente da República, General Óscar Carmona.

Mas, os bombeiros da Régua têm uma homenagem que, se não valeu mais que a distinção das ditas comendas, ajudou a levar à imortalidade dos bombeiros que combateram o grande incêndio, em 26 de Junho de 1911, na cidade de Lamego.

Poucos sabem que o autor do notável louvor, foi o Dr. Bernardino Zagalo, advogado e escritor de novelas de índole regionalista e de uma peça de teatro intitulado O Heitorzinho, popularizado em apresentações no palco de teatro de amadores ao consagrar o exemplo de um homem justo e bom, natural da freguesia de Loureiro, que o povo tem  devoção e reconhece, ainda hoje, como um santo milagreiro.

O Dr. Bernardino Zagalo, lamecense pelo nascimento, foi um verdadeiro reguense pelo coração. Apaixonado pela terra adoptiva, onde teve a sua residência, dedicou-se às actividades do foro judicial. Cidadão inteligente e activo, trabalhou para o bem comum como dinamizador das Festas do Socorro e como criador e impulsionar da Parada Agrícola, uma espécie de primeira e moderna feira agrícola para promoção dos vinhos do Douro e outros dos produtos agrícolas da região duriense.

Nesse tempo, a Associação dos Bombeiros da Régua já era uma instituição muito prestigiada, que não se ocupava só em combates dos fogos, mas tinha nobres objectivos, pois auxiliava e promovia iniciativas sociais e culturais da sociedade civil. A normalidade era a vida associativa próxima dos associados e das pessoas que apoiavam os bombeiros. O Dr. Bernardino Zagalo, como vizinho do primeiro quartel dos bombeiros, situado então no Largo dos Aviadores, conhecia-lhes os exemplos de altruísmo, abnegação e heroísmo. Não é de estranhar que mantivesse com aqueles homens de paz e fraternidade, velhos combatentes de fogos, uma respeitável relação de amizade e apoiada uma elevada admiração.
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Já que se recordou um dos grandes incêndios de Lamego, temos presente uma pequena nota histórica da “assombrosa catástrofe” que, no dia 26 de Junho de 1911, pelas 21.00 horas, reduziu a um esqueleto de ruínas e cinzas uma grande parte das casas da movimentada Rua de Almacave. Rezam as notícias que nem a Igreja da Misericórdia foi poupada à violência das chamas, que a destruiu completamente, o que tornou impossível a sua reconstrução.

Para ajudar a apagar este incêndio foram chamados os bombeiros da Régua, comandados por José Afonso de Oliveira Soares. Combateram-no ao lado dos bombeiros de Lamego, mas a sua acção foi determinante pela sua coragem e heroísmo, o que evitou que o fogo alastrasse às ruas envolventes e causasse mais pânico e prejuízos.

Natural de Lamego, o Dr. Bernardino Zagalo terá registado algumas das brutais imagens que correram desse incêndio e tenha ouvido falar da destemida e corajosa acção dos bombeiros da Régua nesse fogo. Apesar de ser lamecense, não se sentiu diminuído em testemunhar aquela sua missão e o “tamanho do seu heroísmo se glorificou para todo o sempre”. 
Os Desherdados,  que fez questão em dedicar a um amigo, o Conde de Saborosa e também aos Bombeiros Voluntários da Régua e cujas vendas destinou que revertessem para os cofres da associação, confirmou a gratidão a esses bombeiros com este elogio: 

Este livro não se expõe á venda. É uma homenagem, embora obscurissima, a um amigo extremoso e aos Bombeiros Voluntários da Regoa.

Os Desherdados destinam-se a sêrem distribuidos ás pessoas de coração que desejem contribuir com o seu obulo caridoso para o cofre da benemérita Associação dos Bombeiros Voluntarios da Regoa, ficando as despesas de publicação a meu cargo.

Como lamecense amantíssimo da minha terra, venho assim testemunhar a minha gratidão á briosa e esforçada colectividade que teem prestado primorosamente serviços humanitários de alto relevo e superiores a encarecimentos banaes, e que com tamanho heroísmo se glorificou para todo o sempre no pavoroso incêndio que abrazou e reduziu a cinzas, em 26 de Junho de 1911, vinte e um prédios urbanos, salvando das labaredas temerosas o bairro mais importante da cidade de Lamego e o histórico povoado do Castello (….)”.

Dizia o Dr. Zagalo que era uma homenagem obscuríssima. Ora, de obscura é que não tem mesmo nada. Ao imprimi-la nas primeiras páginas de uma sua obra literária, imortalizou os bombeiros da Régua como admiráveis  valores do altruísmo. A literatura raramente os glorifica como personagens principais, mas sabe todos sabemos que na vida real, eles são verdadeiros heróis.

Esta homenagem de um escritor, ainda que desconhecido para a maioria das pessoas, à missão dos bombeiros foi uma excepção que envaidece a quem foi dedicada, neste caso, os bombeiros da Régua. 
Quando um escritor dedica um livro ao exemplo de coragem dos bombeiros, esta atitude vale muito mais que medalhas e títulos honoríficos. O livro, depois de chegar aos leitores, será sempre uma obra imortal. É isto que está a acontecer com Os Desherdados, uma obra que foi escrita há mais de 100 anos, mas de que existem antigas edições à espera uma consulta, mais atenta e demorada, em estantes particulares e públicas.

A mensagem do livro tem um significado importante que, em certa medida, permite entender os riscos de missão dos bombeiros. Se ela revela os genuínos ideais de um ilustre cidadão que adoptou a Régua, não deixa de espelhar o reconhecimento de uma sociedade que sabia respeitar a atitude cívica dos cidadãos mais solidários e generosos. Aqueles homens que deixaram provas de heroísmo ao serviço de uma missão de socorro em Lamego.

A história dos Bombeiros da Régua escreve-se com a abnegação, solidariedade e coragem daqueles homens que juraram cumprir o lema “Vida por Vida”. O dever de cada bombeiro é ajudar os seus semelhantes quando as vidas e bens estão em perigo. Eles não socorrem para serem reconhecidos como heróis. Aquilo que o Dr. Bernardino Zagalo escreveu no seu livro sobre os Bombeiros da Régua é mais uma homenagem ao seu esforçado e valente trabalho perante a destruição devoradora dos fogos. É um louvor, também de alguém que lhes está grato!

Certos livros voltam quando pensávamos que estavam esquecidos, como este do Dr. Bernardino Zagalo. E ainda bem, assim as novas gerações podem saber que os bombeiros da Régua alcançaram um digno reconhecimento pelos seus talentos de humanidade e de heroísmo e, por ser mais nobre que a atribuição de qualquer medalha de ouro, atingiram o estatuto da Imortalidade.

A partir de agora, os bombeiros da Régua sabem que, na sua longa história, há um livro especial, intitulado Os Deserdados que, publicado há cem anos, os evoca pela sua brilhante competência e também pela coragem e abnegação no combate a um dos maiores incêndio ocorridos em Lamego, prestigiando assim o bom nome da benemérita associação reguense.
- José Alfredo Almeida*, Régua, Julho de 2011. Actualizado em 8 de Abril de 2014. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
  • Um outro post - O Nosso Dr Zagalo
Um Livro Especial
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 21 de Julho de 2011
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)

Edição de Jaime Luis Gabão para Escritos do Douro 2011 em 19 de Julho de 2011. Actualização em 8 de Abril de 2014.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Recordação de uma visita a Castro Daire

Aos Bombeiros de Castro Daire, de todos os tempos.
À memória dos Comandantes Lourenço Pinto Medeiros e António Guedes Castelo Branco

No passado os Bombeiros da Régua costumavam organizar viagens pelo país fora, levando uma pequena representação nos seus melhores carros de incêndios. Algumas dessas viagens tiveram como destino uma vista à Corporações de Bombeiros de terras vizinhas, umas nas redondezas e outras para lá dos limites da região demarcada do Douro. Se no decorrer do tempo umas foram esquecidas, outras já ficaram lembradas em fotografias quase sempre tiradas num momento de descontracção e de demonstração de companheirismo e muita dedicação à causa do voluntariado.

Cada visita era mais um dia festa na terra visitada, com uma animação colorida que os bombeiros costumam dar com as suas fardas mais asseadas, capacetes reluzentes, acompanhado pelo ruídos das sirenes estridentes dos carros, com a população nas ruas e nas janelas a assistir à sua passagem, como viesse para venerar os seus santos protectores. Quando o povo voltava as suas casas, a festa recomeçava no quartel, com os abraços fraternais, cumprimentos calorosos e as saudações de cortesia.

Esses homens de condição humilde escreviam assim momentos únicos de fraternidade, com o seu coração cheio de generosidade. Entre eles estreitavam-se laços de amizade e trocavam-se afectos como se todos eles pertencem à mesma família de sangue. Os Comandantes de cada corporação local aproveitavam para elogiar uma atitude mais altruísta e abnegada dos seus subordinados num incêndio mais perigoso e, outras vezes, rememoravam os tempos idos com saudade e nostalgia.

Eram outros tempos! …

A sociedade civil gostava dos seus bombeiros, fossem eles de onde fossem, recebia-os com recepções triunfais, a que se associava a classe política, com o Presidente de Câmara sempre presente para receber os ilustres visitantes, dar-lhes as boas vindas e fazer um discurso com palavras de respeito e sincera gratidão. Desse imaginário faz parte uma visita que os Bombeiros da Régua fizeram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948, onde foram recebidos em festa, que ficou registada, pelo menos, em duas fotografias marcadas com este sugestivo título: “Recordação da Visita a Castro Daire – 6-6-1948- Aos Bombeiros Voluntários do Pêso da Régua – Os Camaradas de Castro Daire”.

Lembrei a existência destas fotografias, durante 41º Congresso dos Bombeiros Portugueses, realizado em Outubro de 2011, na Régua, ao presidente da direcção dos Bombeiros de Castro Daire, o meu amigo António da Conceição Pinto. Mostrou-se surpreendido com uma raridade que ele desconhecia e me prometeu mandar averiguar se elas também faziam parte do arquivo da sua associação. Mais tarde conformou-me que ali não havia nenhuma dessas fotografias nem sinais dessa visita. Quando lhe cedi as cópias dessas imagens e as observou atentamente, informou-me que só reconheceu da sua corporação, o então 2º Comandante Jaime Vitelo, vestido à civil, ao lado dos comandantes da Régua.

Quis saber mais e observar com mais atenção cada fotografia, confiante de encontrar alguém retratado que me fosse familiar. Numa delas, reconheci o Comandante Lourenço de Pinto Medeiros, tratado carinhosamente por Lourencinho, e o 2º Comandante António Guedes Castelo Branco. Na outra fotografia, aqueles rostos eram-me estranhos, o que me levou a concluir ali estavam retratados apenas os bombeiros de Castro Daire, fardados a rigor e perfilhados no Jardim Municipal, hoje denominado Jardim 25 de Abril.

Mas queria saber mais do pouco que essas fotografias me diziam. Socorri-me então  do excelente livro “Machado em Punho - 130 anos dos bombeiros de Castro Daire”, da autoria de Adérito Pereira Ferreira, bem escrito e bastante recheado de documentos e imagens de qualidade, que li ávido de encontrar uma alusão, mas apenas deparei uma referência à Régua, a uma reparação do pronto-socorro  que os  bombeiros  castrenses fizeram na oficina Janeiro & Irmão.

Para pena minha, aquela visita dos Bombeiros da Régua era assunto completamente omisso. Não desisti de encontrar um relato dos seus principais pormenores. No arquivo do Noticias do Douro, nas edições de 13 e 27 de Junho de 1948, pesquisei duas notícias. Escolhia a que foi reproduzida do diário O Comércio do Porto e que, pela sua importância histórica, aqui passo a transcrever na íntegra:

“Castro Daire, 9 – Às primeiras horas da manhã, do passado dia 6, começou a correr celebre a notícia de que uma surpresa, uma agradável surpresa havia sido preparada aos habitantes de Castro Daire. De facto, pouco depois, foi com alvoroço que se tomou conhecimento de que, dali a momentos, Castro Daire seria visitada pela briosa Corporação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e de alguns reguenses amigos da nossa terra.

Assim sucedeu, de facto. Cerca das 14 horas, algum tempo depois de ter sido montada pelos amáveis visitantes, no Jardim Público, uma instalação sonora, através da qual a noticia se confirmou, deu entrada na vila, triunfalmente, um ruidoso cortejo de carros com as esplêndidas e modernas viaturas dos Bombeiros Voluntários da Régua, seguidas do pronto-socorro os Voluntários locais e de um outro carro com a Direcção dos nossos Bombeiros que foram fora da vila ao encontro dos reguenses. Seguiam-se outros automóveis com numerosas pessoas das duas terras. A caravana percorreu a vila de baixo de saudações tão delirantes como sinceras da população que, em grande número, enchia as ruas, não obstante o imprevisto de tão agradável acontecimento. Nos prédios, os seus moradores quer às portas, quer às janelas, não se cansavam de manifestar-se.
Feito o trajecto, os visitantes dirigiram-se ao quartel dos nossos bombeiros, onde foram recebidos pela sua Direcção, Comando e Corpo Activo, tendo-lhe sido dadas as boas vindas pelo Sr. Presidente da Câmara, que em nome da Corporação local e do povo de Castro Daire, manifestou o seu mais vivo reconhecimento pela gentileza da honrosa visita que acabava de ser feita pelos Bombeiros Voluntários da Régua aos seus companheiros do ideal que tem por lema “ Vida por Vida”.

Fez votos pela prosperidade da terra amiga e da Corporação de Bombeiros, lamentando unicamente que esta visita não tivesse sido anunciada previamente, o que impediu que tivessem sido recebidos melhor e mais condignamente, como mereciam.

Em seguida, o Presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua, agradeceu as boas vindas que lhes haviam sido dadas, recordando com saudade os bons tempos da Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire que – disse – era considerada também pelos reguenses, como Banda dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, dadas as boas relações de amizade e simpatia que sempre existiram entre reguenses e castrenses. Finalmente, no gesto tão cativante como espontâneo, pôs à disposição do Sr. Presidente da Câmara e dos Bombeiros de Castro Daire a veloz e moderníssima auto-maca a sua Corporação, sempre que disso houvesse necessidade para serviços de grande urgência.

Aplausos frenéticos de agradecimento se sucederam, tendo por sua vez o Sr. Presidente da Câmara voltado a falar para agradecer em nome de todos os castrenses tão grande gentileza. Pelo resto da tarde, visitantes e visitados, confraternizaram alegremente pela vila, ao som da bela música difundida pela aparelhagem sonora instalada pelos nossos hóspedes. E, ao fim do dia, foi com grande mágoa que os vimos partir, sendo acompanhados pelo pronto-socorro dos nossos bombeiros durante alguns quilómetros dentro do concelho. Dada a maneira amistosa como tudo decorreu, estamos convencidos que estes momentos reviverão sempre na memória de todos quantos tiveram a satisfação de senti-los.

Aproveitamos a ocasião de apresentar a nossa edilidade o seguinte alvitre. Dadas as grandes provas de amizade e dedicação, com que os habitantes da linda e progressiva capital do Douro, desde longos tempos, sempre têm distinguido e dispensado ao povo de Castro Daire e à nossa terra, não seria justo e merecido que a uma das ruas da vila fosse dado o nome de rua da Vila do Peso da Régua? Cremos que toda a população de Castro Daire receberia bem tal iniciativa – C”.

Mais que os pormenores, a razão dessa a visita dos Bombeiros da Régua está aqui toda desvendada pelo senhor “C”, certamente um jornalista natural de Castro Daire. Como aí se diz, esta visita teve como motivação, o lembrar de uma velha tradição, em que a Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire era considerada a banda dos Bombeiros da Régua. Parece que assim foi nos recuados tempos dos primeiros anos do Séc.XX. Mas não foi esse o único motivo, foi uma visita para levar a gratidão do povo da Régua à boa gente beirã de Castro Daire.

E assim se faz uma curiosa e interessante história que une duas associações bombeiros, quase da mesma antiguidade, não muito distante uma da outra que, durante muitos anos, mantiveram grandes ligações de amizades e uma tradição musical, e que jamais acabar, mesmo que a banda de música tenha deixado de tocar no quartel dos Bombeiros da Régua.

Quem sabe, se num dia destes, não faremos uma outra visita a Castro Daire para lembrar o passado e que, numa atitude generosa e solidária, àqueles briosos Bombeiros da Régua levaram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948.

Ainda bem que dessa visita ficaram guardadas, até aos nossos dias, aquelas duas fotografias: quando não temos memória do nosso passado, perdemos sempre algo no futuro!
- José Alfredo Almeida*, 
Peso da Régua, Novembro de 2012


*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A visita do Presidente da República Américo Tomás

(Clique na imagem para ampliar)

Esta imagem de 22 de Maio de 1965 documenta a triunfante e festiva recepção do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, ao lado dos directores Noel de Magalhães Alfredo Baptista, no Quartel dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, ao qual se deslocou “propositadamente” na companhia do Ministro do Interior (Dr. Alfredo Rodrigues Júnior) e o da Marinha (Comodoro Fernando Quintanilha Dias), para receber as honras do Corpo Activo e conhecer as instalações.

Um peculiar apelo de conformismo dos bombeiros, dirigido a este ilustre visitante, estava visível na mensagem que se lia numa faixa colocada junto ao Quartel: “Os bombeiros depõem nas mãos de Vossa Excelência 85 anos de sacrifícios”.

Mas a histórica visita presidencial, que foi “seguida por milhares de pessoas”, não passou de uma habitual manifestação de propaganda política do regime do Estado Novo, a enfrentar as consequências da guerra colonial, o qual se esforçava em difundir mensagens patrióticas para “unir todos os portugueses à sombra da pátria comum”, como disse o Chefe de Estado no seu discurso, proferido no Salão Nobre da Câmara Municipal.

Este ambiente de patriotismo era expresso nas saudações nacionalistas inscritas em grandes painéis colocados nas principais ruas da vila, tais como: “O Chefe de Estado é o Símbolo da Nação!”, “Viva Salazar - benemérito da Pátria” e “Senhor Ministro do Interior: estamos firmes na Frente Interna”.

Ao nível do município, este acontecimento político serviu para o executivo municipal liderado pelo Dr. Rui Machado mostrar as grandes obras do seu mandato ao Governo da Nação que, nas suas elogiosas palavras, “tem promovido o progresso do país e, no caso, o da Régua”.

Este distinto autarca (que também exerceu as funções médico) inaugurava, na presença do Chefe de Estado e dois ministros do Governo de Salazar, “três obras de valor material de mais de 12 mil contos”, de acordo como as anunciou no discurso de boas-vindas, que eram relevantes para o progresso local e essenciais para a melhoria das condições de vida da população reguense: a Alameda Marechal Carmona (hoje como o nome Alameda dos Capitães), o Mercado Municipal e o Bairro Calouste Gulbenkian.

Considerada como “deveras triunfante” a visita de Américo Tomás, em especial às instalações do Quartel dos Bombeiros, mereceu um relato circunstanciado no jornal “Vida por Vida”, num suplemento exclusivo, do qual destacamos o seguinte:

“A Régua como era de esperar soube no dia 22 do corrente receber mais do que condignamente, o Senhor Presidente da República, que em todas as artérias por onde passou foi alvo das mais vivas e calorosas saudações com que espontaneamente lhe tributaram os reguenses (…)

Pode-se dizer que a Régua esteve em festa, mas numa festa a que já há muito tempo se não assistia. Nós, os bombeiros, como não podia deixar de ser, também, de alma e coração nos associamos a tão triunfal recepção que, num momento feliz, veio precisamente culminar no nosso quartel (…)

O nosso edifício-sede e respectiva avenida, encontravam-se de todo engalanadas, sendo de destacar uma passadeira feita pelo corpo activo em que sobressaíam, alternadamente um capacete e uma agulheta, rematando com um trabalho primoroso do brasão do concelho (…)

Depois de decorridos todos os números que constava da visita do Chefe de Estado a esta vila, quis sua Excelência deslocar-se propositadamente ao nosso quartel, onde recebeu as honras do corpo activo, os cumprimentos de alguns membros da direcção e então entusiásticas saudações de uma imensidão de sócios da associação, onde predominavam as senhoras, que não se cansaram de vistoriar tão ilustre visitante, assim como os Senhores Ministros do Interior, Marinha, Governador Civil do Distrito da Vila Real e o Presidente da Câmara, Dr. Rui Machado.

(…) Aproveitando a oportunidade fizeram uma visita rápida ás diversas instalações do Quartel, as quais foram motivo dos mais rasgados elogios (…) podemos afirmar tratar-se de uma obra grande entre as maiores que existem no nosso país.”

Não discutindo o seu interesse social e histórico, esta visita presidencial apontada como de “um dia dos maiores da vida da Associação”, permitiu aos seus dirigentes para pedirem ao Estado (assente na força autoritária do Governo que, no dizer do jornalista Luís Miguel Baptista, “apostava na caridade” e numa “politica demasiadamente restritiva no plano de concessão de facilidades”) auxílios para os bombeiros da Régua, nomeadamente mais equipamentos individuais e um veículo de combate a fogos.

Depois deste Chefe de Estado, só em Setembro de 1980, é que os bombeiros do Peso da Régua, com o Comandante Carlos Cardoso dos Santos (1949-1990) à frente, haviam de voltar a receber outra visita presidencial no seu Quartel, desta vez, o General Ramalho Eanes.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um livro especial

Ao Dr. Bernardino Zagalo

Das homenagens e louvores aos bombeiros da Régua dedicadas pelo seu espírito de abnegação, brio e heroísmo há uma, muito especial que, pela sua raridade, autoria e forma invulgar como foi divulgada, não pode ficar esquecida nas páginas da história da associação nem na memória colectiva.

Não é um diploma nem sequer uma medalha de ouro concedida por alguma entidade pública a reconhecer o mérito, a dedicação pública, a generosidade, o comportamento exemplar, a coragem e abnegação e os serviços distintos pelo que, nas suas arriscadas missões de socorro, fizeram os bombeiros.

Ao longo da sua existência, os bombeiros da Régua foram distinguidos com importantes distinções e títulos honoríficos. Sem querer valorizar nenhum em especial, um brilha mais alto e destaca-se nas glórias dos bombeiros da velha guarda, a Ordem Militar de Cristo, colocada no estandarte da Associação pelas mãos do Presidente da República, General Óscar Carmona.

Mas, os bombeiros da Régua têm uma homenagem que, se não valeu mais que a distinção das ditas comendas, ajudou a levar à imortalidade dos bombeiros que combateram o grande incêndio, em 26 de Junho de 1911, na cidade de Lamego.

Poucos sabem que o autor do notável louvor, foi o Dr. Bernardino Zagalo, advogado e escritor de novelas de índole regionalista e uma peça de teatro intitulado O Heitorzinho, popularizado em reapresentações no palco de teatro de amadores e consagrar o exemplo de um homem justo e bom, natural da freguesia de Loureiro, que o povo veneração devoção e reconhece, ainda hoje, como um santo milagreiro.

O Dr. Bernardino Zagalo, lamecense pelo nascimento, foi um verdadeiro reguense pelo coração. Apaixonado à terra adoptiva, onde teve a sua residência dedicou-se às actividades do foro judicial. Cidadão inteligente e activo trabalhou para o bem comum com dinamizador das Festas do Socorro e o criador e impulsionar da  Parada Agrícola, uma espécie de primeira e moderna feira agrícola para promoção dos vinhos do Douro e outros dos produtos agrícolas da região duriense.

Nesse tempo, a Associação dos Bombeiros da Régua já era uma instituição muito prestigiada, que não se ocupava só em combater os fogos, mas tinha nobres objectivos, auxiliava e promovia iniciativas sociais e culturais da sociedade civil. A normalidade era a vida associativa próxima dos associados e das pessoas que apoiavam os bombeiros. Dr. Bernardino Zagalo, como vizinho do primeiro quartel dos bombeiros, situado então no Largo dos Aviadores, conhecia-lhes os exemplos de altruísmo, abnegação e heroísmo. Não é de estranhar que tivesse por aqueles homens de paz e fraternidade, velhos combatentes de fogos, uma respeitável relação de amizade e uma elevada admiração.
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Já que se recordou um dos grandes incêndios de Lamego, temos presente uma pequena nota história da “assombrosa catástrofe” que, no dia 26 de Junho de 1911, pelas 21.00 horas, reduziu a um esqueleto de ruínas e cinzas uma grande parte das casas da movimentada Rua de Almacave. Rezam as notícias que nem a Igreja da Misericórdia foi poupada à violência das chamas que a destruiu completamente, o que tornou impossível a sua reconstrução.

Para ajudar a apagar este incêndio foram chamados os bombeiros da Régua, comandados por José Afonso de Oliveira Soares. Combateram-no ao lado dos bombeiros de Lamego, mas a sua acção foi determinante pela sua coragem e heroísmo, o que evitou que o fogo se alastrasse às ruas envolventes e causasse mais pânico e prejuízos.

Natural de Lamego, o Dr. Bernardino Zagalo terá registado a algumas das brutais imagens que correram desse incêndio e tenha ouvido falar da destemida e corajosa acção dos bombeiros da Régua nesse fogo. Apesar de ser lamecense, não se sentiu diminuído em testemunhar aquela sua missão e o “tamanho do seu heroísmo se glorificou para todo o sempre”.

No seu livro Os Desherdados que fez questão em dedicar a um amigo, o Conde de Saborosa e também aos Bombeiros Voluntários da Régua e cujas vendas destinou que revertessem para os cofres da associação, confirmou a gratidão a esses bombeiros, com este poderoso elogio: 

“Este livro não se expõe á venda.

É uma homenagem, embora obscurissima, a um amigo extremoso e aos Bombeiros Voluntários da Regoa.

Os Desherdados destinam-se a sêrem distribuidos ás pessoas de coração que desejem contribuir com o seu obulo caridoso para o cofre da benemérita Associação dos Bombeiros Voluntarios da Regoa, ficando as despesas publicação a meu cargo.

Como lamecense amantíssimo da minha terra, venho assim testemunhar a minha gratidão á briosa e esforçada colectividade que teem prestado primorosamente serviços humanitários de alto relevo e superiores a encarecimentos banaes, e que com tamanho heroísmo se glorificou para todo o sempre no pavoroso incêndio que abrazou e reduziu a cinzas, em 26 de Junho de 1911, vinte e um prédios urbanos, salvando das labaredas temerosas o bairro mais importante da cidade de Lamego e o histórico povoado do Castello (…)".

Dizia o Dr. Zagalo que era uma homenagem obscuríssima. Ora, de obscura é que não tem mesmo nada. Ao imprimi-la nas primeiras páginas de uma sua obra literária, imortalizou os bombeiros da Régua como admiráveis dos valores do altruísmo. A literatura raramente os glorifica como personagens principais, mas sabe na vida real, verdadeiros heróis.

Esta homenagem de um escritor, ainda que desconhecido para maioria das pessoas, à missão dos bombeiros foi uma excepção que envaidece a quem foi dedicada, neste caso, os bombeiros da Régua.

Quando um escritor dedica um livro e o dedicado ao exemplo de coragem dos bombeiros, esta atitude vale muito mais que medalhas e títulos honoríficos. O livro depois de chegar aos leitores será sempre uma obra imortal. É isto que está acontecer com Os Desherdados, uma obra que foi escrita há mais de 100 anos, mas que existem antigas edições à espera uma consulta, mais atenta e demorada, em estantes particulares e públicas.

A mensagem do livro tem um significado importante que, em certa medida, permite entender os riscos de missão dos bombeiros. Se ela revela dos genuínos ideais de um ilustre cidadão que adoptou a Régua, não deixa espelhar o reconhecimento de uma sociedade que sabia respeitar a atitude cívica dos cidadãos mais solidários e generosos. Aqueles homens que deixaram provas de heroísmo ao serviço de uma missão de socorro em Lamego.

A história dos Bombeiros da Régua escreve-se com a abnegação, solidariedade e coragem daqueles homens que juraram cumprir o lema “Vida por Vida”. O dever de cada bombeiro é ajudar os seus semelhantes quando as vidas e bens estão em perigo. Eles não socorrem para serem reconhecidos como heróis. Aquilo que o Dr. Bernardino Zagalo escreveu no seu livro sobre os Bombeiros da Régua é mais uma homenagem ao seu esforçado e valente trabalho perante a destruição devoradas dos fogos. È um louvor, também de alguém que está grato!

Certos livros voltam quando os pensávamos que estavam esquecidos, como este do Dr. Bernardino Zagalo. E ainda bem, assim as novas gerações podem saber que os bombeiros da Régua alcançaram um digno reconhecimento pelos seus talentos de humanidade e de heroísmo e, por ser mais nobre que a atribuição de qualquer medalha de ouro, atingiram o estatuto da Imortalidade.

A partir de agora, os bombeiros da Régua sabem que, na sua longa história, há um livro especial, intitulado Os Deserdados, que publicado há cem anos, os evoca pela sua brilhante competência e também pela coragem e abnegação no combate a um dos maiores incêndio ocorridos em Lamego, prestigiando assim o bom nome da benemérita associação.
- José Alfredo Almeida*, Régua, Julho de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
  • Um outro post - O Nosso Dr Zagalo
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Um Livro Especial
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 21 de Julho de 2011
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Edição de Jaime Luis Gabão para Escritos do Douro 2011 em 19 de Julho de 2011.