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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A CHEIA DO RIO DOURO DE 1962

Uma bela imagem da grande cheia do rio Douro de 1962 nas principais ruas da cidade de Peso da Régua.

Nela se nota a grandeza e a intensidade desta cheia ao verem-se dois barcos a “navegar” no conhecido “Passeio Alto”, ao fim da rua Custódio José Vieira (também conhecida por Rua das Vareiras) e as águas do rio a inundarem o princípio da Rua da Ferreirinha, com alguns bombeiros da Régua por perto, onde ao centro de destaca um dos nossos grandes quarteleiros, o conhecido e saudoso Zé Pinto, a ajudarem em trabalhos de retirada bens e pessoas das suas casas.

Na nossa cidade, são consideradas cheias grandes as que inundam a Avenida João Franco (que esta à cota a 58 m), implicando uma subida do nível do rio em 13 metros de altura (caudal a 6 000 m3/s).

Na Régua, essa cheia do rio de 1962, a segunda maior do séculoXX, (a maior cheia é de 1909 com um caudal de 16.700 m3/s) atingiu um caudal de 15.700 m3/s (cota 67,7 m), o equivalente a 23 metros de altura para além do nível médio do leito normal.

Da grande aflição, com “horas de angústia” e “horas de terror”, vividas pelos reguenses nessa cheia do rio, temos um emocionante e doloroso relato feito nas páginas do jornal “Vida Por Vida”.

“Ainda não seriam 19 horas do primeiro dia do ano de 1962, quando os nossos bombeiros começaram a ser solicitados para prestarem o seu auxílio a diversas famílias que na nossa zona ribeirinha estavam a ser molestadas pela subida do rio Douro.

Desde essa hora, nunca mais os nossos bombeiros tiveram um minuto de descanso e o auge da tragédia veio a verificar-se perto da noite, pois cada vez mais era superior o número de pedidos, que os nossos briosos Soldados da Paz eram impotentes para poderem atender. Duas vezes e com angústia se ouviu o toque da sirene para alertar toda a população e os trabalhos iam sempre decorrendo debaixo de um temporal e da um preocupação constante.

Os telefonemas sucediam-se para diversos locais a pedir informações sobre os aumentos verificados no caudal do nosso rio e todas as notícias eram o mais assustadoras que se podiam imaginar.

Cônscio da gravidade da situação, eis que o Comando da Corporação delibera pedir a colaboração das Corporações vizinhas (…) surgiram já no meio da manhã do dia 2 de Janeiro e o seu trabalho também não poderá ser esquecido. Vila Real, Lamego e Armamar, nos diversos locais onde trabalharam, deixaram a certeza de que estavam connosco e só havia um fim: salvar as vidas e haveres de tantos reguenses que se encontravam em perigo.

Tão cedo não se apagará da memória de todos nós tão grave tragédia que, felizmente, não teve a registar qualquer perda de vidas. (…) há a realçar a valentia dos infatigáveis bombeiros que, já na noite desse segundo dia, com risco das suas próprias vidas, salvaram diversos homens numa casa na Rua da Alegria, um casal de velhinhos no Salgueiral, e de morte certa, duas famílias no Juncal de Baixo, pois que estas, após terem sido retiradas, viam as suas pobres casas serem arrasadas pela fúria crescente do rio douro”.
Estes são os maus momentos das páginas do nosso rio Douro, que ciclicamente se repetem, mas que de volta às suas margens, que crescem por belos e imponentes socalcos de vinhas, se torna num dos elementos mais belos do espaço cénico da cidade de Peso da Régua.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.*
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras actividades (onde se inclui fotografia), escrevendo crónicas que registam neste blogue, no seu blogue "Pátria Pequena" e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, textos de escritores e poetas do Douro, além de fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

Outros textos sobre os "Bombeiros Voluntários do Peso da Régua" e sua História:
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2014. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Actualização em Janeiro de 2-14. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Boas Novas: Posto de Emergência Médica do INEM na Régua

A partir de 1 de Outubro de 2012, INEM monta Posto de Emergência Médica e atribui uma nova Ambulância de Socorro aos Bombeiros da Régua.

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua (representada pelo Presidente da Direcção, José Alfredo Saraiva Almeida) assinaram um protocolo para constituição de um Posto de Emergência Médica.

Assim, já a partir do próximo dia 1 de Outubro, este Corpo de Bombeiros passa a assumir um papel activo na emergência médica, operacionalizando assim uma ambulância de socorro do INEM que se destina a prestar cuidados pré-hospitalares à população do concelho.

Para constituição do Posto de Emergência Médica nos Bombeiros Voluntários do Peso da Rega, o INEM cede uma ambulância de socorro  e o  respectivo equipamento, procedendo ao pagamento de um prémio de saída por cada serviço prestado, bem como à atribuição de um subsídio trimestral fixo. Por sua vez, os Bombeiros da Régua asseguram a operacionalidade do meio e a respectiva tripulação para cumprimento das missões de emergência médica determinadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM.

Esta nova ambulância de emergência que ficará brevemente ao dispor do serviço de transportes dos Bombeiros da Régua - que no passado foi denominado de CRUZ D'OURO - é destinada à estabilização e ao transporte de doentes que necessitem de assistência durante o transporte até às unidades de saúde e cuja tripulação e equipamento permitem a aplicação de medidas de Suporte Básico de Vida.













Entre esse velho e glorioso Corpo de Saúde dos Bombeiros Voluntários da Régua, que teve o bom nome de CRUZ D'OURO, e o moderno Posto de Emergência Médica decorreram  perto de 100 anos no serviço de transportes de doentes que evoluiu sempre para garantir mais qualidade à população do concelho do Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

41º Congresso dos Bombeiros Portugueses

O 41º Congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), reunido na Régua entre 28 e 30 de Outubro, escolheu o comandante Jaime Marta Soares para liderar a confederação até final de 2014 e, a uma só voz, vencedores e vencidos apelaram à unidade no momento difícil que as associações de bombeiros atravessam.

O comandante Jaime Marta Soares venceu as eleições com 375 votos contra os 298 arrecadados por Joaquim Rebelo Marinho. Marta Soares é actualmente o presidente da mesa de congressos da LBP, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Coimbra e comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Poiares. Joaquim Rebelo Marinho é vogal da direcção da Escola Nacional de Bombeiros, por indicação da LBP, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Viseu e presidente da assembleia-geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Satão.
Este encontro com mais oitocentos participantes foi uma disputa eleitoral mas, depois disso, constituiu uma jornada de apelo à unidade perante as gravíssimas dificuldades por que os bombeiros portugueses estão a passar. De tal modo, que a sobrevivência de muitas associações começa já a estar em causa.

No cerne da questão está o transporte programado de doentes e as decisões ou demissões unilaterais do Ministério da Saúde de incumprimento do acordo estabelecido com a LBP nesse domínio e que, em primeira instância está a coarctar aos cidadãos o direito de aceder a esse transporte. A queda abrupta dos pedidos de transporte com a consequente quebra de receitas, em média superior a 50 por cento, está na origem da difícil situação financeira vivida pelas associações e corpo de bombeiros. Essa situação teve já como consequência imediata o despedimento de muitos colaboradores dos bombeiros que asseguravam o transporte de doentes.
No decorrer do congresso foi também sublinhada a urgência de um modelo de financiamento dos bombeiros que substitua o modelo actual provisório e desfasado já que , inclusive, os seus valores não são actualizados há quatro anos e os custos do dia a dia não têm parado de crescer.

No âmbito do sistema de protecção civil, do congresso saiu reforçada a vontade dos bombeiros de, participando nesse sistema, poderem ter uma direcção autónoma como todos os restantes agentes da protecção civil.

A sessão de abertura do congresso decorreu nos paços do concelho de Peso da Régua com a presença do secretário de Estado da Protecção Civil, Filipe Lobo de Ávila, enquanto a sessão de encerramento, realizada no pavilhão multiusos municipal, foi presidida pelo ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. No decurso desta sessão procedeu-se à atribuição da Fénix de Honra ao Provedor da LBP, comandante Fernando Vilaça.

De destaque no programa deste Congresso foi também a apresentação do livro “Memórias dos Bombeiros do Peso da Régua”, da autoria do Dr. José Alfredo Almeida, presidente da AHBV do Peso da Régua e da Federação dos Bombeiros de Vila Real, apresentado no belíssimo salão nobre da Casa do Douro, pelo padre Vitor Melicias, que elogiou o trabalho do autor e qualidade da obra, pelo enaltecimento do colectivo de acontecimentos ímpares na vida de uma associação/corpo de bombeiros com 131 anos de história.
No final, decorreu um desfile apeado e motorizado de cariz temático que permitiu conhecer as várias valências e tipos de missões e socorro prestados pelas associações de bombeiros do distrito de Vila Real. Associaram-se também ao desfile diversos guiões de federações distritais e associações e corpo de bombeiros de outras zonas do país.
- Peso da Régua, 1 de Novembro de 2011

Clique  nas imagem acima para ampliar. Imagens de Francisco Ferreira/Foto Baía. Texto e imagens cedidas pelo colaborador deste blogue, Dr. José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2011.
Retalhos do desfile apeado e motorizado de cariz temático das associações de bombeiros do distrito de Vila Real
(Clique nas imagens para ampliar)
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41º CONGRESSO DOS BOMBEIROS PORTUGUESES
A Régua foi a Capital dos Bombeiros de Portugal
Jornal "Arrais", quinta-feira, 03 de Novembro de 2011
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma velha Estante


João de Araújo Correia

Quando o quartel dos bombeiros funcionou modestamente numa casa situada no actual Largo dos Aviadores, frequentei-lhe as salas recreativas com o meu pai - era eu rapazinho.

Na sala dos jogos, inofensivos jogos de cartas, dominó e quino, lembro-me de ver, encostada a uma parede, uma alta e larga estante de madeira rica, toda envidraçada e repleta de livros.

Creio que ninguém lhes tocava. Quem se entretinha com a sueca, o dominó e o quino talvez nem reparasse na volumosa estante, abarrotada de livros.

Reparava eu... E o meu regalo seria abrir aquela estante e colher de lá um livro para o folhear e ler antes de me deitar. Assim eu o percebesse. Era ainda tão novo… Teria onze, doze anos.

Os meus encantos, naquele clube, eram aquela estante. Mas, sempre fechada e muda. Até que uma noite, e em noites seguidas, a vi abrir. Um senhor, que usava óculos, ia retirando e colocando de novo, no seu lugar, rimas de volumes. Arrecadava-os depois de lhes escriturar os títulos num grande livro de papel almaço.

Procedia, a seu modo à catalogação dos livros da magnífica estante. Se fosse hoje, catalogaria em verbetes, mais fáceis de consultar que um bacamarte de papel pautado. Mas, em suma, aquele senhor de óculos, talvez inocente em bibliografia ou biblioteconomia, sempre tentou, o melhor possível o inventário dos livros.

Livros que nunca mais esqueci. Quando, depois de instalados os bombeiros no quartel novo, alguém me disse que todos esses volumes estavam à matroca, empilhados num monte, sem o mínimo vislumbre de arrumação, caiu-me a alma aos pés. E assim, esteve, de rastos uma porção de anos.

Até que ontem, dia que marquei com uma pedra, vim a saber que os livros já estão arrumadinhos na estante – bela estante de mogno.

Falta-me saber se já começaram a ser catalogados. Livros sem catálogo, para quem os quiser consultar, são inúteis ou pouco menos.
Qualquer biblioteca exige três catálogos: o onomástico, o didascálico, e o ideográfico.

O mais importante de todos, em minha opinião, é o onomástico. Poderá esperar, ate melhores dias, pelos outros dois.

A velha estante dos nossos bombeiros poderá prestar serviços a estudiosos se for catalogada. Mãos à obra? Agora, que os Bombeiros festejam o centenário, saúdo-os com este alvitre.

Nota: Esta crónica – de muito interesse para a história da AHBV do Peso da Régua - foi publicada no jornal O Arrais, de 4 de Dezembro de 1980.

- Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro". Clique na imagem acima para ampliar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Obras de Beneficiação no Quartel Delfim Ferreira

As obras... Colocação de um novo telhado no belo e histórico edifício dos Bombeiros da Régua, a concluir até Outubro próximo a tempo de receberem todos aqueles que vão estar presentes ou participar no importante 41º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses.
 (Clique nas imagens para ampliar)
:: Imagens cedidas por José Alfredo Almeida - Bombeiros Voluntários do Peso da Régua ::

terça-feira, 5 de abril de 2011

Para parar três badaladas

Neste ocaso da vida em que, como diria La Palice, quanto a nós não se antolha futuro, mas, tão somente, passado e presente, é-nos grato trazer a estas desataviadas linhas, evocações de factos, decorrentes de uma peregrinação terráquea que, como a nossa, ultrapassou, no tempo, aquela meta, susceptível de nos conferir a qualificação de sobrevivente. E somo-lo, no passo em que vimos, desaparecer, para além dos que particularmente, nos foram caros, homens cuja mensagem permanece, para exemplo das gerações presentes e vindouras, a quem incumbe promover a terra, que lhes deu o ser. Assim aconteceu com esses homens, para que aconteça com os de hoje, para que aconteça com os quais surgirão, na promissora madrugada.

Abordar o tema concernente a uma instituição, que celebra, com legítimo orgulho, o seu centenário, representa convite a mergulhar num mundo de pensamentos, mormente quando ela se vincula à História da Vila e Concelho do Peso da Régua.

Corria o último quartel do século transacto quando sob impulso do Infante D. Afonso - fundador de Voluntários da Ajuda - entraram de proliferar, aqui e além, adentro do âmbito nacional, corporações dotadas de orgânica afim, celebrizadas pela pena de Gervásio Lobato (1) e pelo lápis de Bordalo Pinheiro (2).

Para seu desvanecimento a Régua, mercê de um punhado de boas vontades firmes e válidas, não foi a última a ser dotada da que se passou a denominar Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.
Nascida no menos que modesto prédio (3), ainda existente no Largo dos Aviadores e provida de escasso material, que a edilidade reguense lhe cedeu, contou desde o início, no seu corpo activo, com homens (4) que, sob a responsabilidade do nome, passaram a gozar de um prestígio, que lhe advinha de actos beneméritos, em ordem a conferir à sua associação a fama que, ao actual corpo activo, cabe manter se não dilatar. Esta fama foi encontrá-la em Lamego, na recuada época da nossa adolescência, em que, naquela cidade, estanciámos durante sete anos. A rua de Almacave, no pendor de base do morro encimado pelo castelo medieval, em torno do qual se aninha o primitivo burgo, coetâneo de Fernando Magno, exibia prédios esventrados, portas e janelas como órbitas vazias, em paredes calcinadas, por apocalíptico incêndio.

Diga-se então, aí que, a não intervirem os bombeiros da Régua, a Olaria iria, de enfiada. Quanto pode uma minguada corporação em efectivos, bem comandados (5) em que a disciplina, livremente aceite, gera autênticos cidadãos! Escola de civismo foi, pois, e confiamos que o será, sempre, sem o qual as pátrias não são mais que expressões destituídas de sentido. E os reguenses ao admirarem, íamos dizendo, tais como chouans a Marie Jeanne (6), que cobriram de flores, uma bomba braçal (7) novinha em folha, que o quartel de cavalaria expunha, sentiram que estavam com os seus soldados da paz, como estes se identificavam, com eles.

Dizer do curriculum vitae da Instituição não é consentâneo com a índole de uma achega, que sofre, naturalmente, de limitações.

Hoje os nossos bombeiros dispõem de instalações, que honram a terra, onde se implantam. Catedral do bem, num ópido onde os valores culturais não abundam, emergentes, que são, de passado obscuro que, somente, nos últimos dois séculos se projecta em porvir auspicioso, luta e vai transpondo, com a persistência dos obstinados, os escolhos, que se interpõem, a quem demanda uma meta inatingível tal é a da verdade absoluta - peculiar às grandes reali­zações humanas. Hoje vem-lhe pela mão benemérita de um varão esclarecido (8), seu bairro, na qual a paz da consciência dará mão à ética social, que dignifica; amanhã, na sequência de um corpo vivo em expansão; será a mitose, propícia à nossa conterrânea Godim - quem sabe?

Existiram outrora, nos lares reguenses, no recesso dos oratórios dos antepassados, encaixilhados a preceito, sinais de incêndio, mediante os quais os soldados da paz e a população – que colaborava – ficavam cientes da zona em que se verificava o sinistro, sinais tangidos, pelos campanários locais. Estes sinais sobrepunham-se a uma notificação convencional – para parar três badaladas. Se a convenção era prática, não se compadecia, todavia com a realidade, pelo que o devoto abrenúncio nos vem à boca, nos termos em que Cervantes remata o preâmbulo da sua obra imortal, mediante o consabido.

- Peso da Régua, 12/8/80 - José António de Sousa Pereira. 
(1) Gervásio Lobato, in Lisboa em Camisa. 
(2) Rafael Bordalo Pinheiro, in Almanaques. 
(3) Seria oportuna a aparição, no imóvel, de uma placa comemorativa da efeméride. 
(4) Para além do primeiro comandante, Manuel Maria de Magalhães, José Joaquim Pereira Soares Santos, Joaquim de Sousa Pinto, José Afonso de Oliveira Soares, Camilo Guedes Castelo Branco, Joaquim Maria Leite e Álvaro Rodrigues da Silva, nomes que são uma legenda da Associação. 
(5) Ao tempo por José Afonso de Oliveira Soares. 
(6) Primeira peça de artilhada capturada aos azuis - tropas da Convenção Nacional -  pelos vendeanos, chefiados pelo Cavaleiro de La Charette, activos contra aquela, após o suplício de Luiz XVI (Victor Hugo, in  Noventa e Três). 
(7) Quando a C. P. organiza museus com material primitivo, ao longo da sua rede, lamentamos que este e outro espécime, da mesma natureza, tenham sido vendidos. 
(8) Dr. Aires Querubim Menezes Soares, ao presente governador civil do distrito.

NOTAS:
1 - Esta erudita crónica do ilustre médico reguense, “um dos homens que mais amou a sua Régua e o Alto Douro”, para quem “a sua vida foi um constante caminhar para a verdade”, “lutou pela liberdade”, e “como homem liberto seguia o seu próprio caminho, sem vergonha, sem medo e sem oportunismo” e “ morreu como um justo” (nas palavras do Sr. Dr. Aires Querubim de Menezes Soares), em 1981, foi publicada na Revista do Centenário da AHBV do Peso da Régua, em 1980.
2 - A autarquia reguense homenageou a sua memória ao atribuir a uma rua da cidade o seu nome como era conhecido pelo povo: “Rua Dr. José de Sousa”, aquela começa precisamente onde os bombeiros da Régua têm instalado o seu Edifício Multiusos.  
3 - É tema desta crónica, para além da evocação a história dos bombeiros da Régua, dos seus primórdios até 1980, uma intervenção dos bombeiros da Régua, sob o comando de Afonso Soares, no incêndio que ocorreu na noite de 27 de Junho de 1911, na Rua de Almacave, em Lamego, que se destacaram pela sua intervenção corajosa, rápida e eficiente no combate às  “chamas devastadoras” .
Colaboração de J. A. Almeida - Régua, para "Escritos do Douro" em Abril de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.

Para Parar Três Badaladas
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 31 de Março de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Para Parar Três Badaladas

sábado, 5 de março de 2011

A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa

O Comandante Afonso Soares (1892-1927), no seu livro “Apontamentos para a História da Vila do Peso da Régua”, editado em 1907, no capítulo dedicado à história dos bombeiros, assinalou uma visita dos bombeiros voluntários de Mirandela à então vila da Régua.

Essa visita aconteceu no dia 20 de Setembro de 1903 e coincidiu com a realização de outro acontecimento de grande significado para os bombeiros da Régua, a bênção do primeiro Estandarte que, nesse dia, foi benzido na Real Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro (hoje Capela Senhor do Cruzeiro).

O primeiro estandarte dos bombeiro da Régua, de seda azul e branca, bordado a matiz e ouro, foi oferecido por “uma comissão de senhoras da melhor sociedade regoense” que era “composta das ex.rnas snr.as D. María Adelaide Costa Pinto, D. Isaura Lopes da Veiga, D. Margarida Clotilde de Bernardes Pereira, D. Clotilde da Costa Pinto, D. Maria Margarida Pereira e D. Virginia Augusta Pereira”.

Os bombeiros da Régua tiveram esse estandarte graças à generosidade daquelas senhoras que custearam as despesas. Segundo consta, o emblema foi desenhado pelo grande artista que era Afonso Soares.

Os dois acontecimentos tiveram honra de notícia no jornal “O Douro”, de 23 de Setembro de 1903, que Afonso Soares transcreveu quase na íntegra no seu livro. Ao que parece, o autor da noticia foi Afonso Soares, ele que brilhou como jornalista na imprensa local a escrever e a dirigir os jornais do fim do século XIX e os inícios do século XX.

Quem ler a noticia, rica em detalhes e pormenores,  fica a saber quase tudo o que se passou nesse dia, desde que o comboio da linha do Douro, vindo do Tua, parou na estação da Régua e os bombeiros de Mirandela foram recebidos com foguetes e o hino nacional tocado por uma banda de música.

Era um dia de Verão, mas chovia mansamente. As ruas da vila estavam embandeiradas e viam-se muitas pessoas para assistir à festa. O quartel, então situado no edifício do Largo da Chafarica (hoje Largo dos Aviadores) bem como as salas do andar nobre, estavam com “uma ornamentação muito vistosa, constante de ferramentas do serviço de incêndios, bandeiras, flores e festões de verdura”. A chuva que caía frequentemente não deixou que se efectuasse o exercício que os bombeiros da Régua tencionavam fazer em honra dos excursionistas.

Durante o percurso “os hospedes foram aclamados constantemente e cobertos de flores que, das janelas, adornadas de colgaduras, lhes deitavam as damas da nossa terra”. O ambiente era de festa, grande colorido e animação popular. Os bombeiros eram já  uma força viva da sociedade reguense e as suas manifestações não eram indiferentes à população que os apoiava e  deles se orgulhava: “Era encantador o aspecto das ruas, com as bandeiras drapejando ao vento, as casas embellezadas de colgaduras de seda, de todas as côres, nuvens de pé­talas e ramos cahindo sem cessar, e milhares de pessoas apinhadas nas janellas e nos passeios, acenando, com lenços e soltando vivas”.

O cortejo dirigiu-se para a Real Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro. Aí efectuou-se a cerimónia da bênção da bandeira oferecida aos bombeiros pelas distintas senhoras reguenses. Seguiu-se a celebração de uma missa, acompanhada no coro pela tuna artística de Mirandela, que interpretou temas deliciosos do seu selecto reportório.

Por volta da 1 hora da tarde, reorganizou-se o cortejo que se dirigiu para a sede da associação. Orgulhosos, rua acima, os bombeiros da Régua levaram já hasteado o seu primeiro estandarte. No quartel, a comitiva foi recebida na sua sala nobre e os representantes das duas associações apresentaram cumprimentos mútuos e fizeram-se alguns discursos a assinalar os históricos acontecimentos.

Em nome dos bombeiros de Mirandela, usou da palavra o Sr. Silva, distinto advogado, para agradecera recepção magni­fica feita aos excursionistas e enaltecendo as bellezas na­turaes da nossa terra e os sentimentos dos habitantes della. Fallou com muita eloquencia, revelando uma vasta jntelligencia e um caracter muito nobre. Foi applaudido com muito enthusiasmo”.

Pelos bombeiros da Régua, foi Camilo Guedes Castelo Branco - chefe da segunda esquadra  e   vice-presidente da Assembleia- geral da Associação – que falou parar dar  “as boas-vindas aos nossos estimaveis visitantes e agradeceu a sua honrosa visita e os inolvidaveis testemunhos de apreço que a corporação de que faz parte e as demais pessoas que a acompanharam, em Abril de 1902, tiveram em Mirandella, pondo em relevo o quanto todos os excursionistas d'então vie­ram penhorados com as innumeras gentilezas que lá lhes prestaram”.
No eloquente discurso não esqueceu as damas reguenses beneméritas presentes, a quem respeitosamente manifestou a sua gratidão: “Aproveitando a occasião de estar no uso da palavra e de se acharem presentes a commissão offertante da bandeira e muitas outras senhoras d`esta villa, agradeceu-lhes, commovidamente, em nome dos seus camaradas, a alta e ínestimavel distincção que com tal offerta lhes foi conferida, e accrescentando que os bombeiros regoenses haviam de saber honrar sempre essa bandeira, em que viam concretisada a realisação de quaesquer ambições ou sonhos de gloria, que porventura ti­vessem tido”.

No fim da cerimónia, um gesto de simpatia não ficou despercebido a ninguém: “a Sra. D. Marta Benigna, uma respeitabilissima e amavel senhora da melhor sociedade mirandellense, offereceu aos bombeiros regoenses um rico e formoso ramalhete de flores artificiaes, com  uma dedicatoria muito honrosa”.

De imediato seguiu-se um “copo de água” oferecido pelos bombeiros da Régua, ser­vido numa sala contigua ao salão do tribunal – ao tempo, ficava no rés-do-chão do Edifício da Câmara Municipal - cedida amavelmente pelo juiz de di­reito,  Dr. Manuel Alves da Silva. Estiveram presentes as damas, os bombeiros e outros excursionistas, além dos re­presentantes das corporações e da imprensa local, mas o “logar de honra foi dado ao digno commandante dos bombeiros mirandellenses, o snr. Armindo de Castro, cavalheiro que gosa toda a estima e respeitos, pelas suas invulgares qualidades de intelligencia e carácter”.

Antes de acabar o animado repasto, houve tempo para os agradecimentos. Nas suas instalações, o senhor juiz de direito “brindou ás nossas conterraneas, cuja belleza e virtudes elogiou em sinceras palavras de justiça, alludindo, com muito brilho e felicidade, á bandeira, a cuja benção assistira, e definindo o muito que ella ficará sendo e valendo para a corporação a quem foi offerecida”. De imediato, o comandante dos bombeiros de Mirandela, o “Sr. Armindo de Castro, em termos vibrantes de sinceridade, saudou os bombeiros regoenses, a quem, bem como a todo o povo da Regoa, agradeceu a festa de que elle e os seus companheiros estavam sendo alvo”.

Entusiasmado com esta última saudação um elemento da corporação da Régua saudou e brindou os visitantes: “o sr. Gabriel de Gouvêa, phamaceutico da associação dos bombeiros regoenses, fallou brilhantemente, brindando a todos os excursionistas e, nomeadamente, ao snr. Ar­mindo de Castro”.

A festa de confraternização terminava ao meio da tarde. Na gare da estação, o comboio das quatro e meia já esperava pelos bombeiros de Mirandela, de volta à estação do Tua, para seguirem viagem até à sua terra.

Na hora da partida, a “despedida foi grandiosa e commovente” e era “indescri­ptivel o enthusiasmo dos cumprimentos e saudações que então se  trocaram”.

Nesta inesquecível visita, os bombeiros da Régua receberam os seus camaradas de Mirandela com muita amizade e um grande espírito de fraternidade. Mais que uma simples visita que marcou as vidas de homens e mulheres foi momento histórico em que duas associações, já cheias de passado, conseguiram ser pioneiras, dentro do mesmo espaço geográfico, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, de um gratificante intercâmbio de relações humanas e profissionais.

Ao ser evocado pelas novas gerações, este encontro não pode ser observado apenas como um exercício de revivalismo, mas como uma lição para que se faça aquilo que deve ter ficado nas mentes dos nossos antecessores, a geminação das suas associações. Mais do que nunca, os bombeiros precisam de criar laços de amizade e fraternidade, de estabelecer protocolos de cooperação em áreas da protecção e do socorro e de aproximarem os saberes e as experiências de cada corporação.
Da nossa parte, como actuais dirigentes dos bombeiros da Régua, estamos convencidos que estes bons exemplos não devem ficar apenas lembrados nas páginas da história. Por serem genuínos deve-lhes ser dada uma continuidade no presente, numa atitude solidária entre os bombeiros voluntários da Régua e os de Mirandela.


A história desta inesquecível visita dos bombeiros de Mirandela pode repetir-se. Desde que haja uma vontade capaz de inovar uma tradição que proporcione mais compromissos entre as duas associações e, talvez, mais visitas dos bombeiros mirandelenses à cidade da Régua.
- Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Março de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Fevereiro de 2011
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A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa

sábado, 31 de julho de 2010

Recordações de Barro - Os bombeiros

Por João de Araújo Correia

Meu pai tinha sido bombeiro voluntário. Mas, dotado por aí de lenta agilidade, sempre meticulosamente pausado, é crível que as obrigações de bombeiro, subir e descer escadas, de agulheta em punho, em cima de um telhado, fossem incompatíveis com o seu o seu eu, isto é, com físico e o seu moral. Sei que pouco tempo foi bombeiro. Desertou do apito, mas continuou ou fez-se contribuinte. Foi-o até à hora da morte.

Da actividade bombeiril do meu pai, ficou em minha casa, durante algum tempo, uma recordação. Foram os botões, as charlateiras e umas insígnias do uniforme. O que brinquei, com estas maravilhas amarelas, meio oxidadas, só eu sei… O que não sei é como se perderam. Sei que foram, uma após, imitando o soldadinho de chumbo do conto prodigioso. Mas, se o soldadinho de chumbo regressou, para fazer das suas, elas coitadinhas, não regressaram. Vivem apenas na minha memória, isto é, no passado, que se faz presente quando eu o chamo.

Sempre que brincasse com os botões, as charlateiras da farda do meu pai, dizia entre mim: o papá foi bombeiro. Dizia-o como se o tivesse visto fardado, em dia de grande gala, numa formatura resplandecente. Dizia-o por intuição das charlateiras, insígnias e botões meio oxidados, mas ainda áureos bastantes para suscitarem orgulhoso no cérebro infantil. Se tivesse visto o papá numa parada, com o capacete a arder, numa fogueira de sol, com certeza que a minha vaidade se teria tornado insuportável. Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada com um elmo de ouro, não é um homem. É um semi-deus.

Perdi a ocasião de ver os bombeiros formados quando morreu o Padre Manuel Lacerda. Passou à minha porta o acompanhamento, caminho do Cruzeiro, mas não o vi. Se passou de manhã, estaria eu ainda na cama ou andaria para o quintal, onde era vivo e morto nas horas forras das primeiras letras -tinha eu sete anos.

Quem me descreveu o enterro foi minha irmã mais velha, imediata de minha mãe na minha iniciação em espectáculos novos. Disse-me como tinha sido, mas só o fixei, de mo dizer muitas vezes, que o Borrajo levava a bandeira e ia a chorar.

O Padre Manuel Lacerda. Foi, de todos, o mais benquisto dos reguenses. Morreu de repente, enlutando num pronto a Régua toda. Lembro-me do o ver conversar com meu pai. Que fisionomia! Era uma espécie de coração visto por fora para melhor se adorar. Meu pai, que não era homem de muitas lágrimas, nunca o recordou, pela vida fora, com os olhos absolutamente secos.
Não se pode dizer que o Padre Manuel Lacerda, como padre, tenha sido talhado pelo figurino que os cânones exigem. Mas, como homem, foi um santo homem, um homem alegre, que não podia ver pessoas mal dispostas nem arrenegadas umas com as outras. Onde soubesse que havia desavindos, fazia uma festa, promovia um banquete, fosse lá o que fosse, para os congregar. Deixou, na Régua, essa tradição benigna.

O Padre Manuel Lacerda foi capelão dos bombeiros. Por isso o acompanharam, de bandeira enlutada, no último passeio. O Borrajo, porta-estandarte, ia a chorar…


Notas:
  1. Esta magnífica crónica de João de Araújo Correia teve a sua primeira publicação no jornal da Associação, o “Vida por Vida”, em Novembro de 1957, mas o escritor reguense veio a incluída num dos seus livros de crónicas e memórias.
  2. Estas fotografias são dos anos 50 do último século. Pode ver-se na primeira duas ilustres figuras dos bombeiros da Régua: Jaime Guedes Castelo Branco, distinto director e um dos melhores presidentes de direcção da Associação e ainda o “delicado” Comandante Lourenço de Almeida Medeiros (1949-1959). Elas assinalam uma importante cerimónia em memória dos bombeiros e directores falecidos que se realiza, em cada aniversário da Associação (28 de Novembro), nos cemitérios do Peso e de Godim, onde se prestam as honras e continências em homenagem e se deixa em cada sepultura uma flor vermelha… e de eterna saudade. Temos muita pena de não saber onde está sepultado o corpo do padre Manuel Lacerda, o primeiro capelão dos bombeiros da Régua… Apesar de nunca o esquecermos, pelo que fez em nome dos bombeiros da Régua, da nossa parte, bem merecia uma humilde homenagem…!
- Colaboração de José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Julho de 2010.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.