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sábado, 7 de dezembro de 2013

Memórias Vivas - Antologia de textos sobre os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

Dia 8 de Dezembro de 2013 pelas 15h00, no Salão Nobre do Quartel Delfim Ferreira.
(Clique nas imagens para ampliar)
Lançamento do livro 'Memórias Vivas -  Antologia de textos sobre os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua' - Contém Capa, nota de apresentação do coordenador Dr. José Alfredo Almeida; testemunho do Presidente do Município Engº. Nuno Manuel Sousa Pinto de Carvalho Gonçalves; prefácio do Padre Vítor Melícias, OFM (Presidente Honorário dos Bombeiros da Régua) e 'Levar a associação em diante' texto de autoria do Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares - Comendador.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Recordação de uma visita a Castro Daire

Aos Bombeiros de Castro Daire, de todos os tempos.
À memória dos Comandantes Lourenço Pinto Medeiros e António Guedes Castelo Branco

No passado os Bombeiros da Régua costumavam organizar viagens pelo país fora, levando uma pequena representação nos seus melhores carros de incêndios. Algumas dessas viagens tiveram como destino uma vista à Corporações de Bombeiros de terras vizinhas, umas nas redondezas e outras para lá dos limites da região demarcada do Douro. Se no decorrer do tempo umas foram esquecidas, outras já ficaram lembradas em fotografias quase sempre tiradas num momento de descontracção e de demonstração de companheirismo e muita dedicação à causa do voluntariado.

Cada visita era mais um dia festa na terra visitada, com uma animação colorida que os bombeiros costumam dar com as suas fardas mais asseadas, capacetes reluzentes, acompanhado pelo ruídos das sirenes estridentes dos carros, com a população nas ruas e nas janelas a assistir à sua passagem, como viesse para venerar os seus santos protectores. Quando o povo voltava as suas casas, a festa recomeçava no quartel, com os abraços fraternais, cumprimentos calorosos e as saudações de cortesia.

Esses homens de condição humilde escreviam assim momentos únicos de fraternidade, com o seu coração cheio de generosidade. Entre eles estreitavam-se laços de amizade e trocavam-se afectos como se todos eles pertencem à mesma família de sangue. Os Comandantes de cada corporação local aproveitavam para elogiar uma atitude mais altruísta e abnegada dos seus subordinados num incêndio mais perigoso e, outras vezes, rememoravam os tempos idos com saudade e nostalgia.

Eram outros tempos! …

A sociedade civil gostava dos seus bombeiros, fossem eles de onde fossem, recebia-os com recepções triunfais, a que se associava a classe política, com o Presidente de Câmara sempre presente para receber os ilustres visitantes, dar-lhes as boas vindas e fazer um discurso com palavras de respeito e sincera gratidão. Desse imaginário faz parte uma visita que os Bombeiros da Régua fizeram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948, onde foram recebidos em festa, que ficou registada, pelo menos, em duas fotografias marcadas com este sugestivo título: “Recordação da Visita a Castro Daire – 6-6-1948- Aos Bombeiros Voluntários do Pêso da Régua – Os Camaradas de Castro Daire”.

Lembrei a existência destas fotografias, durante 41º Congresso dos Bombeiros Portugueses, realizado em Outubro de 2011, na Régua, ao presidente da direcção dos Bombeiros de Castro Daire, o meu amigo António da Conceição Pinto. Mostrou-se surpreendido com uma raridade que ele desconhecia e me prometeu mandar averiguar se elas também faziam parte do arquivo da sua associação. Mais tarde conformou-me que ali não havia nenhuma dessas fotografias nem sinais dessa visita. Quando lhe cedi as cópias dessas imagens e as observou atentamente, informou-me que só reconheceu da sua corporação, o então 2º Comandante Jaime Vitelo, vestido à civil, ao lado dos comandantes da Régua.

Quis saber mais e observar com mais atenção cada fotografia, confiante de encontrar alguém retratado que me fosse familiar. Numa delas, reconheci o Comandante Lourenço de Pinto Medeiros, tratado carinhosamente por Lourencinho, e o 2º Comandante António Guedes Castelo Branco. Na outra fotografia, aqueles rostos eram-me estranhos, o que me levou a concluir ali estavam retratados apenas os bombeiros de Castro Daire, fardados a rigor e perfilhados no Jardim Municipal, hoje denominado Jardim 25 de Abril.

Mas queria saber mais do pouco que essas fotografias me diziam. Socorri-me então  do excelente livro “Machado em Punho - 130 anos dos bombeiros de Castro Daire”, da autoria de Adérito Pereira Ferreira, bem escrito e bastante recheado de documentos e imagens de qualidade, que li ávido de encontrar uma alusão, mas apenas deparei uma referência à Régua, a uma reparação do pronto-socorro  que os  bombeiros  castrenses fizeram na oficina Janeiro & Irmão.

Para pena minha, aquela visita dos Bombeiros da Régua era assunto completamente omisso. Não desisti de encontrar um relato dos seus principais pormenores. No arquivo do Noticias do Douro, nas edições de 13 e 27 de Junho de 1948, pesquisei duas notícias. Escolhia a que foi reproduzida do diário O Comércio do Porto e que, pela sua importância histórica, aqui passo a transcrever na íntegra:

“Castro Daire, 9 – Às primeiras horas da manhã, do passado dia 6, começou a correr celebre a notícia de que uma surpresa, uma agradável surpresa havia sido preparada aos habitantes de Castro Daire. De facto, pouco depois, foi com alvoroço que se tomou conhecimento de que, dali a momentos, Castro Daire seria visitada pela briosa Corporação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e de alguns reguenses amigos da nossa terra.

Assim sucedeu, de facto. Cerca das 14 horas, algum tempo depois de ter sido montada pelos amáveis visitantes, no Jardim Público, uma instalação sonora, através da qual a noticia se confirmou, deu entrada na vila, triunfalmente, um ruidoso cortejo de carros com as esplêndidas e modernas viaturas dos Bombeiros Voluntários da Régua, seguidas do pronto-socorro os Voluntários locais e de um outro carro com a Direcção dos nossos Bombeiros que foram fora da vila ao encontro dos reguenses. Seguiam-se outros automóveis com numerosas pessoas das duas terras. A caravana percorreu a vila de baixo de saudações tão delirantes como sinceras da população que, em grande número, enchia as ruas, não obstante o imprevisto de tão agradável acontecimento. Nos prédios, os seus moradores quer às portas, quer às janelas, não se cansavam de manifestar-se.
Feito o trajecto, os visitantes dirigiram-se ao quartel dos nossos bombeiros, onde foram recebidos pela sua Direcção, Comando e Corpo Activo, tendo-lhe sido dadas as boas vindas pelo Sr. Presidente da Câmara, que em nome da Corporação local e do povo de Castro Daire, manifestou o seu mais vivo reconhecimento pela gentileza da honrosa visita que acabava de ser feita pelos Bombeiros Voluntários da Régua aos seus companheiros do ideal que tem por lema “ Vida por Vida”.

Fez votos pela prosperidade da terra amiga e da Corporação de Bombeiros, lamentando unicamente que esta visita não tivesse sido anunciada previamente, o que impediu que tivessem sido recebidos melhor e mais condignamente, como mereciam.

Em seguida, o Presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua, agradeceu as boas vindas que lhes haviam sido dadas, recordando com saudade os bons tempos da Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire que – disse – era considerada também pelos reguenses, como Banda dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, dadas as boas relações de amizade e simpatia que sempre existiram entre reguenses e castrenses. Finalmente, no gesto tão cativante como espontâneo, pôs à disposição do Sr. Presidente da Câmara e dos Bombeiros de Castro Daire a veloz e moderníssima auto-maca a sua Corporação, sempre que disso houvesse necessidade para serviços de grande urgência.

Aplausos frenéticos de agradecimento se sucederam, tendo por sua vez o Sr. Presidente da Câmara voltado a falar para agradecer em nome de todos os castrenses tão grande gentileza. Pelo resto da tarde, visitantes e visitados, confraternizaram alegremente pela vila, ao som da bela música difundida pela aparelhagem sonora instalada pelos nossos hóspedes. E, ao fim do dia, foi com grande mágoa que os vimos partir, sendo acompanhados pelo pronto-socorro dos nossos bombeiros durante alguns quilómetros dentro do concelho. Dada a maneira amistosa como tudo decorreu, estamos convencidos que estes momentos reviverão sempre na memória de todos quantos tiveram a satisfação de senti-los.

Aproveitamos a ocasião de apresentar a nossa edilidade o seguinte alvitre. Dadas as grandes provas de amizade e dedicação, com que os habitantes da linda e progressiva capital do Douro, desde longos tempos, sempre têm distinguido e dispensado ao povo de Castro Daire e à nossa terra, não seria justo e merecido que a uma das ruas da vila fosse dado o nome de rua da Vila do Peso da Régua? Cremos que toda a população de Castro Daire receberia bem tal iniciativa – C”.

Mais que os pormenores, a razão dessa a visita dos Bombeiros da Régua está aqui toda desvendada pelo senhor “C”, certamente um jornalista natural de Castro Daire. Como aí se diz, esta visita teve como motivação, o lembrar de uma velha tradição, em que a Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire era considerada a banda dos Bombeiros da Régua. Parece que assim foi nos recuados tempos dos primeiros anos do Séc.XX. Mas não foi esse o único motivo, foi uma visita para levar a gratidão do povo da Régua à boa gente beirã de Castro Daire.

E assim se faz uma curiosa e interessante história que une duas associações bombeiros, quase da mesma antiguidade, não muito distante uma da outra que, durante muitos anos, mantiveram grandes ligações de amizades e uma tradição musical, e que jamais acabar, mesmo que a banda de música tenha deixado de tocar no quartel dos Bombeiros da Régua.

Quem sabe, se num dia destes, não faremos uma outra visita a Castro Daire para lembrar o passado e que, numa atitude generosa e solidária, àqueles briosos Bombeiros da Régua levaram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948.

Ainda bem que dessa visita ficaram guardadas, até aos nossos dias, aquelas duas fotografias: quando não temos memória do nosso passado, perdemos sempre algo no futuro!
- José Alfredo Almeida*, 
Peso da Régua, Novembro de 2012


*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Dona Florinda - Uma benemérita muito especial

"O egoísmo, a insensibilidade, a frieza de espírito, nascidos de um sistema que liquida os laços sociais de que a humanidade é fundamento, determinam e talvez expliquem este nosso amargo tempo".
Baptista-Bastos

Lembrei-me da Dona Florinda que é como afectuosamente a trato. O seu nome completo é Florinda Rosa da Assunção Pilroto. Mas, na Régua, é conhecida como a Dona Florinda. Assim lhe chamam também os seus vizinhos, os amigos, os escuteiros e os nossos bombeiros voluntários que com ela se relacionam. E, não me engano, que lá na eternidade, os anjos santos devotos e as alminhas devem fazer o mesmo.

Acredito que, na Régua, não haja quem tenho ouvido falar da sua simplicidade e bondade. À sua maneira, ela faz parte do quotidiano social e de uma forma singela e surpreendente marca o ritmo da sua vida, entre o presente e as recordações, a realizar pequenas obras de solidariedade e pequenas acções de benemerência. Já ajudou a igreja a reparar imagens dos Santos, os escuteiros e a associação de bombeiros. Quase à beira dos seus 87 anos, a sua vida é uma lição que quebrou rotinas e as barreiras da sua solidão e a sua forma pessoal de se relacionar com as outras pessoas. Em vez de ficar a viver um vazio existencial consegue ser a protagonista de uma história que é um raro exemplo de participação cívica e cidadania activa.

A Dona Florinda teve um berço humilde, nasceu num bairro pobre que existiu à beira rio, no velho cais de baixo, e cresceu no seio de família numerosa abandonada à sorte de um destino que lhe trocou as voltas. Viveu rodeada de muitos amigos, gente tanto ou mais anónima como ela, que a morte já levou deste mundo, mas que lhe deixou muitas saudades dos tempos felizes e que fala deles como se fossem fantasmas abandonados num mundo, para nós, inexistente. Apesar da modesta instrução, apenas fez a terceira classe na escola das Rua das Vareiras, depois de deixar de trabalhar, a morar sozinha, sem família próxima, procurou nas suas convicções religiosas um sentido útil para não viver entre o presente e os retratos do passado.

Hoje aqueles que a vêem passar curvada no seu pequeno e magro corpo, derreado de lenço atado na cabeça, bengala na mão rugosa, a puxar um carrinho de compras, podem pensar que é uma curiosa e divertida personagem de ficção. Mas estão enganados! Ela é uma mulher afável, perspicaz ao que se passa à sua volta, com necessidade de ainda interagir com a sociedade Sem esconder as obsessões da sua idade, ela gosta calcorrear solitariamente as ruas de uma cidade que, senão a ignora, lhe mostra indiferença e estranheza. O que não a embaraça de fazer com normalidade o seu dia-a-dia. Vai fazer as compras na Mereceria do Arnaldo Marques e do Fernando Azeiteiro. Devota de muitos Santos, com os quais se liga por uma fé inquebrantável, procura os lugares de culto para rezar orações que são mais que meros pedidos de ajuda espiritual. Habitou-se a caminhar ao longo da margem do rio, desfrutando a beleza da paisagem, para travar conhecimento com os tripulantes dos grandes barcos de turismo, ancorados no moderno cais fluvial, para lhes fazer entender com esse lugar mudou e lhe traz saudades de outros barqueiros, como a mítica Felisbela. Também se dedica a cuidar os animais e, houve tempo, que dava nome aos patos selvagens do rio que dela se abordavam para comer as sobras da sua comida.
Das muitas missões de carácter filantrópico que se encarrega de realizar, a que faz com mais afeição é a de zeladora das alminhas do Senhor dos Aflitos. É nesse oratório, perto do mercado municipal, que se dedica às alminhas do outro mundo, no qual acredita, mantém acesas as velas, cuida da limpeza e, passa horas a fio, a rezar orações guardadas num novelo emaranhado da sua lúcida memória. Através dessa ligação ao divino e ao transcendente é assim que, através das suas preces, que ajuda quem precisa de paz espiritual.

Nunca escondeu que tem pelos bombeiros uma admiração antiga, que remonta aos tempos da sua infância, onde conhecera briosos bombeiros, infelizmente falecidos, como o Quim Laranja, Manuel Paixão, seus primos, e o Quim Santos, um barbeiro estabelecido na rua da Ferreirinha. Lembra-se do Comandante Camilo Guedes Castelo Branco, figura de respeito, um respeitado poeta, que se lembra de ver à porta do quartel, quando este ainda era numa velha casa do Cimo da Régua e os rituais dos incêndios eram bem diferentes. É ainda do tempo que se ficava a saber em que rua andava o fogo pelos toques do sino da Igreja do Cruzeiro.
Para os bombeiros de hoje, a Dona Florinda é também conhecida como a Senhora dos Santos. Este carinhoso qualificativo tem uma explicação. Quando precisaram de substituir a imagem do padroeiro São Marçal, no Quartel Delfim Ferreira, foi ela que tratou de angariar o dinheiro necessário para a adquirir. Mais tarde, voltou a presenteá-los com um outra imagem do Santo para ficar no Edifício Multiusos -Sala Museu.

Os bombeiros manifestaram-lhe a gratidão numa cerimónia solene  realizada no Salão Nobre do seu Quartel. Nas comemorações do 129º aniversário da associação deram-lhe uma Medalha de Serviços Distintos – grau prata, concedida pela Liga dos Bombeiros Portugueses. Quiseram, assim, reconhecer uma mulher simples que contribuiu, à sua maneira, para os valores do associativismo e da causa do voluntariado. Comparado com outro o seu contributo pode até ser diminuto, mas tem um valor simbólico um valor inestimável.

Depois faz sobressair uma atitude cívica pouco comum nos tempos difíceis que correm. Quem mais tem, salvas raras excepções, não ajuda a causa humanitária dos bombeiros, nem sequer outras obras de solidariedade.

Lembrei-me da Dona Florinda. Ainda bem que o fiz. O que sabemos da sua biografia identifica-a como uma mulher deste mundo e do outro que, anonimamente, se dedicou a acções solidárias que contribuíram sempre para ajudar o seu semelhante. Quando os bombeiros a reconheceram com o estatuto de uma benemérita, quiseram testemunhar não apenas a sua gratidão, mas a da sociedade reguense. Acreditem que esta humilde mulher merecia diferente reconhecimento pelas causas filantrópicas que se empenha e ninguém mais parece acreditar.
Para a Dona Florinda, a sua vida não passou em vão. Costuma-se dizer que os bons exemplos, mais que as meras palavras, educam. O seu exemplo de vida alvitra para aqueles que, na sua terra, nada fazem pelo bem comum. Aos 87 anos, o seu rosto cansado guarda uma expressão feliz que espelha bem aquilo que ela é e, porventura, queria ter sido e, verdadeiramente, conseguiu ser.

- José Alfredo Almeida*
Peso da Régua, Agosto de 2012

Nota - É simpática senhora com 87 anos que, anonimamente, ajuda causas filantrópicas e instituições de solidariedade. Também como religiosa, se ocupa da missão de zelar pelas alminhas do Senhor dos Aflitos, junto ao Mercado Municipal. A Dona Florinda é figura do povo reguense que se destaca pela sua humilde generosidade. E que ofereceu para o quartel dos bombeiros duas imagens de S. Marçal. Uma delas saiu à rua no andor que os bombeiros transportaram na Procissão de Triunfo das Festas de Nossa Senhora do Socorro 2012, dia 15 de Agosto.- JASA
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 23 de Agosto de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - As melhores imagens da sua História

Combate a incêndios em sentido figurado
"As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas..."
- Ruy Belo,Oh as casas as casas as casas


José Alfredo Almeida tem nas suas crónicas no Arrais tirado do esquecimento, e do pó do tempo, histórias exemplares de bombeiros. É de todo conveniente que as gerações novas conheçam o passado. Há uma tendência hoje em dia talvez mais forte do que nunca de passar uma esponja sobre o que nos antecede e correm o risco, os desprevenidos, de julgarem que estão a cada alvorada a assistir ao próprio acto da Criação.

Por essa razão sigo com prazer o seu exemplo, mas noutra área, a da habitação social, supondo que é possível encontrar entre bombeiros e habitação social um nexo que os aproxime mesmo sem recorrer ao fósforo.

Com prazer o faço, também em nome de uma amizade fundada em trabalhos conjuntos a partir de finais dos anos 90, início do sec. XXI, José Alfredo Almeida, então Vereador da Câmara Municipal da Régua, pelo meu lado, responsabilidades na Direcção do Norte do IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado, entidade proprietária do Bairro das Alagoas, o Bairro Verde. O Bairro Verde tem muita história, boa e má, como todas as entidades humanas. Neste artigo serve de elo entre o anfitrião e o hóspede.

E logo aqui registo o que para muitos parecerá insólito: aquando da sua construção, o bairro das Alagoas era cobiçado pelas classes médias da Régua, que depois o rejeitaram. Imediatamente deste exemplo concreto se vê o modo caprichoso como o tempo procede e manipula os seus objectos. Primeiro, a fase idílica de bairro apetecido, depois, a sua veemente rejeição. Hoje, após a requalificação, com uma maior aceitação social do que a dos anos 90. Com os seus quês, todavia. Mas não posso nesta ocasião deixar de assinalar esta nota com relevo especial para o país interior votado ao abandono, a de que o Estado é essencial para poder haver políticas de território sem o que veremos esta contínua hemorragia em que se encontra há décadas, acabando por atingir todo o corpo nacional.


Actualmente, José Alfredo Almeida é dirigente dos Bombeiros da Régua. Eu, na situação de reforma. Ora, este aparentemente divergente estatuto pessoal, guio-o como pastor que, para poder conversar com outro pastor, conduz o rebanho a terreno comum.
Dou um primeiro passo: lembro que, à época dos nossos trabalhos conjuntos, a que me reporto, meados dos anos 90 em diante, havia um novo Governo. O IGAPHE, por estatuto, tinha como finalidade a gestão e alienação dos seus fogos, e chegara a um impasse. A mistura, nos mesmos condomínios, de fogos vendidos com não vendidos, a exígua percentagem de alienação, tornava quase impraticável a gestão do património, tanto mais que o Instituto, uma emanação do antigo Fundo de Fomento da Habitação, fora concebido, do ponto de vista dos recursos do seu quadro de pessoal, para as finalidades acima referidas: recolha das rendas, alienação dos fogos, obras de conservação. O apoio aos moradores e sua integração social nunca estiveram estatuídos. Existia, em suma, um património gigantesco, difícil de gerir, condomínios por constituir, uma dívida de rendas considerável, falta de pessoal que pudesse abarcar uma tão vasta propriedade. Em 1996, as direcções regionais e a própria presidência do Instituto haviam concluído, e diziam-no abertamente: há um impasse na gestão e é preciso tomar medidas sérias.

A direcção regional do Norte do IGAPHE foi pioneira nas novas formas de actuar, a então apelidada Operação Arco-Íris, que o novo Conselho Directivo gizou em traços largos, para romper o isolamento em que se achava face aos moradores e às instituições locais e poder gerir racionalmente o património construído. Muitas Câmaras Municipais queixavam-se de o Instituto ter para com elas uma atitude pouco amistosa. Algumas instituições diziam mais: que o Instituto era um muro.
Chegado aqui, faço um pequeno desvio, que é outro ponto de encontro com José Alfredo Almeida: as direcções regionais do IGAPHE, designadamente a do Norte, entenderam à época que deviam agir como “bombeiros” a apagar incêndios, em sentido figurado, no Património Habitacional. Tal como quando os bombeiros se queixam do desmazelo nos matos e floresta que potencia ignições constantes no tempo seco, assim, nós, no IGAPHE, nos abalançámos a atacar o desmazelo, quer dizer, a não adequação das finalidades do Instituto ao estado real do património e dos seus utentes. Na ausência de recursos em pessoal, o IGAPHE começou a valer-se de parcerias, nomeadamente com a Segurança Social (Projectos de Luta Contra a Pobreza) e outras entidades públicas ou semi-públicas, um pouco como quando populares e militares acorrem, além dos bombeiros, a uma emergência de fogo. Era, a traço grosso, a Operação Arco-Íris.

Se naquela altura José Alfredo Almeida não era bombeiro, queria sê-lo o IGAPHE a apagar os incêndios sociais que existiam nas Alagoas e em muitos outros locais da sua alçada. O tempo, esse prestidigitador, lança-nos pontes. Éramos nós bombeiros em sentido figurado, é-o agora José Alfredo Almeida em sentido literal. Entretanto o IGAPHE desapareceu na voragem das infindáveis reestruturações dos místicos do reformismo, uma subespécie da piromania e da fundição, podem crer: onde quer que vejam duas coisas, logo a querem apenas uma.


O que então se fez e pretendeu fazer acabou por esbarrar em visões limitadas do que devem ser os deveres do Estado, acabando por morrer. Na Régua, até certo ponto, deu-se excepção. Mercê de uma confluência de trabalhos e acasos, tornou-se possível obter um financiamento europeu, substancial, para o Bairro das Alagoas.

Convém registar que muito do que acontece, bom ou mau, longe de ser o resultado de proverbiais racionalidades, é o acaso que promove com a sua roleta. O Bairro das Alagoas ter-se transformado num caso particularmente difícil para o IGAPHE, um bairro de que o Instituto a certa altura perdeu o quase completo controlo, deu origem a trabalhos materiais e sociais de emergência, seja da Segurança Social, seja da Câmara Municipal, seja do próprio IGAPHE. Entre as várias iniciativas, uma delas foi a de um estudo monográfico encomendado, em parceria, pelo IGAPHE e pela Segurança Social (Vila Real), investigando e registando os trabalhos de campo em torno do bairro desde 1992 ("A Intervenção num Bairro Social – o caso do bairro das Alagoas", Porto, 2001, M.J. Afonso). Enfim, o Bairro pôde beneficiar de uma candidatura a fundos europeus (EFTA - Velhos Guetos, Novas Centralidades) que obteve vencimento, sendo um dos argumentos importantes para ter sido aprovada, a existência dessa monografia, a qual nem por sombras teve esse propósito. Um feliz acaso bem aproveitado.

Daqui saúdo e lembro os “bombeiros” sociais dos antigos Projectos de Luta Contra a Pobreza: Projecto Bairro verde – Um Projecto Esperança e o Projecto “Douro d’Oiro”, e com eles, a Drª. Maria José Tinoco, a Drª Eugénia Santos, a Drª. Maria José Lambéria, o animador sócio-cultural Sr. Fernando Ribeiro ou, do lado do IGAPHE, o entusiasmo e apoio do Dr. Branco Lima nos Intercâmbios Culturais e Desportivos inter-bairros, de jovens e crianças, sempre com o aval do Eng.º António Teles, então director da IGAPHE/Norte.

Perdoem-me os que aqui eventualmente não registe (esperando que alguém o possa fazer completando esta falha) mas, na verdade, tenho esperança de haver vontade de voltar a juntar numa evocação reguense muitos dos que partilharam essas experiências precursoras dos anos 90. Agora, que nos encontramos num tempo de empobrecimento oficial, ganha muita razão de ser tal evocação, quando não invocação.
Em recente visita às Alagoas, na companhia de um amigo, antigo colega do IGAPHE, e profundo conhecedor do Bairro, o eng. Diomar Santos, pareceu-nos lobrigar alguns sinais de alerta. Temos para nós, parafraseando António Sérgio, que podendo poupar na obra da pedra morta para poder gastar nas pedras vivas será sempre o mais avisado. A já extensa história do Bairro, pequena parcela de Portugal, isso mesmo mostra.

Com este sentido no imaterial e no tempo que, se os derruba, também cria laços e pontes, feche-se a crónica.
- Ricardo Lima, Porto, Julho de 2012

Clique nas imagens para ampliar. Sugestão de texto e imagens feita pelo Dr. José Alfredo Almeida (Jasa). Publicado também no jornal semanário regional "Arrais" em 26 de Julho de 2012. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. Permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

UM NOVO CICLO


“(…) Não é um panorama que os olhos contemplam:
                                                       é um excesso da natureza
                                                       (…) Um poema geológico. A beleza Absoluta”

                                                                                                      Miguel Torga, in Diário XII

Encontrei nos versos do poeta transmontano, de S. Martinho de Anta (Sabrosa), a melhor forma de apresentar as BOAS VINDAS aos Bombeiros Portugueses e dirigentes das 476 das Associações do país e das regiões autónomas da Madeira e dos Açores que, nos dias 28 a 30 de Outubro de 2011, estarão na cidade do Peso da Régua, no distrito de Vila Real, para participar no 41º CONGRESSO NACIONAL DOS BOMBEIROS PORTUGUESES.

A cidade do Peso da Régua é a Capital da Região Demarcada do Douro. Não sendo uma cidade de grandes monumentos, é um paraíso histórico de inegável fascínio paisagístico, mergulhado num dos mais belos rios: o Douro. A beleza impressionante da paisagem duriense levou a UNESCO, em 2001, a classifica-la como cultural evolutiva e viva e a reconhece-la como Património da Humanidade. Poucos sabem que a região vinhateira do Alto Douro é o esforço do árduo trabalho humano de gerações de antepassados que modelaram as agrestes encostas de xisto em socalcos de vinhas admiráveis, onde se produz o melhor vinho do Mundo -  o  Vinho do Porto.

Inaugurada em 28 de Novembro de 1880, portanto há 131 anos, a ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA, a mais antiga do distrito de Vila Real, orgulha-se da sua longa história e memória e do testemunho de altruísmo, abnegação e sacrifício de muitas gerações de bombeiros voluntários. Por isso, sinal da sua importância e afirmação, sente-se engrandecida por, uma vez mais, ter a honra de organizar a próxima assembleia magna da Confederação dos Bombeiros Portugueses.

Passaram 31 anos da realização do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros dos Bombeiros Portugueses, realizado nos dias 10 a 14 de Setembro de 1980, na então vila do Peso da Régua, aquele que já é considerado um marco histórico no concretizar de velhas aspirações. A prova esteve na criação do SERVIÇO NACIONAL DE BOMBEIROS, que apesar de ser prematuramente extinto, merece ser repensado como um organismo público que ainda faz falta à actividade dos bombeiros. Ao mesmo tempo, ainda nessa época, os bombeiros reivindicaram e conseguiram do Estado a aprovação de um ESTATUTO SOCIAL DO BOMBEIRO VOLUNTÁRIO, como garante de um conjunto dos direitos e de deveres necessários para promover e estimular a participação dos homens e das mulheres, que contribuem para uma das mais nobres tarefas de serviço público, a protecção e o socorro de pessoas e bens.

Sem ignorar que vivemos num tempo difícil e que o nosso país atravessa seguramente uma das maiores crises económicas, de consequências sociais imprevisíveis, esperamos que os bombeiros portugueses interpretem este novo Congresso da Régua como o começo de um novo ciclo para todas as estruturas de bombeiros. Assim, os congressistas não se limitem às discussões das linhas programáticas e à eleição dos novos corpos órgãos dirigentes da LIGA DOS BOMBEIROS PORTUGUESES. Este deverá ser, se todos o quisermos, o Congresso da mudança. Não uma mudança discursiva e retórica, mas uma mudança objectiva e concreta, que conduza a uma mudança de políticas, de programas e de prioridades. Uma mudança clara, que aposte na modernidade e valorize, e preserve, a identidade dos bombeiros e a sua identidade e matriz originária. Uma mudança que conclua pelo papel do Estado neste sector e promova o reconhecimento dos bombeiros como pedra angular do sistema de protecção civil. Uma mudança que melhore a nossa auto-estima e consolide a nossa imagem. Uma mudança que nos galvanize e nos faça acreditar que temos futuro.

Se assim acontecer, sairá reforçada a posição dos bombeiros como o principal agente no sistema da protecção civil. O Estado e as Autarquias esperam que os bombeiros respondam como o garante da segurança de vidas humanas e, numa atitude mais ética, às emergências sociais e ambientais das suas comunidades cada vez mais exigentes, mas também com imensas fragilidades e vulnerabilidades.            

A todos que venham à Régua, a este “excesso da natureza” como evoca o poeta, faço um voto: UM BOM CONGRESSO! Num preito de homenagem, repito uma frase escrita em 1980 por Rodrigues Félix, meu antecessor na presidência da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real: “Parabéns, pois, e honra aos Voluntários do Peso da Régua para honra e glória dos bombeiros de Portugal”. Acrescento-lhe para o completar: A BEM DA HUMANIDADE.

JOSÉ ALFREDO ALMEIDA
Presidente da Direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real

Peso da Régua, 28 a 30 de Outubro de 2011
UM NOVO CICLO
Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 29 de Setembro de 2011
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Clique  na imagem acima para ampliar. Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2011.