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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Adolfo Pauman

Com este título Uma excursão a Vigo, António Guedes escreveu no extinto Vida por Vida, em finais de 1970, uma deliciosa crónica dos seus tempos de bombeiro.

Na crónica evoca uma história fantástica de uma viagem dos bombeiros da velha guarda da Régua que fizeram com os bombeiros voluntários do Porto à cidade galega de Vigo. Apenas não referiu a data exacta em que aconteceu aquela viagem, mas terá sido entre 1910-20.

Este antigo chefe dos bombeiros da Régua recorda os bombeiros da velha guarda, com os quais teve a ventura de se acamaradar, como Afonso Soares, Camilo Guedes, Joaquim de Sousa Pinto, Lourenço Medeiros, Luís Maria da Cunha Iharco, José Vicente Ferreira da Cunha, João Pinto Cardoso - conhecido por João “Latas”- , Justino Lopes Nogueira, Aires Saldanha, José Maria de Almeida e José da Silva Bonifácio (pai),  o  médico, o farmacêutico privativos e o capelão, o Padre Manuel Lacerda de Oliveira Borges.

Quem também seguiu naquela excursão a Vigo foi Adolfo Pauman, actor dramático de nacionalidade espanhola que, sob o comando de Afonso Soares, se alistara também como bombeiro voluntário, depois de fixar a sua residência na Régua.

E do ilustre actor já aqui se tinham deixado umas breves notas, mas não sabíamos nada mais da vida. Não sabíamos e desconhecíamos o que na crónica, o António Guedes tinha revelado algo mais que iluminava a sua vaga sombra. Conta-nos que o actor Adolfo Pauman abandonou as artes cénicas para se dedicar ao comércio na Régua. Para ganhar o seu sustento, possuiu uma moderna relojoaria e instalou-a numa casa que ainda existe na esquina da Rua João de Lemos com a Rua Marquês de Pombal.

O actor Adolfo Pauman não ficou conhecido. A Régua comercial não recorda a sua existência, nem sabe que teve um antigo actor famoso à frente de um ramo de negócio, do seu passado mais distante, como um dos seus pioneiros.

Se os reguenses não querem saber quem foram os seus antepassados no comércio local, hoje também não sabem que Adolfo Pauman foi actor e bombeiro voluntário. Aqueles que, na sua época, gostavam de ir ao teatro para o ver e lhe aplaudir as suas interpretações, não deixaram memórias. Com o decorrer tempo, o grande actor foi esquecido como se tratasse de um comum mortal. A associação dos bombeiros, por sua vez, não guardou nada que o permita evocar como um dedicado voluntário. O seu nome, como outros exemplares cidadãos, quase ia ficando esquecido na pedra de algum túmulo do cemitério.

Se o seu nome chegou à posteridade, foi porque alguém destacou o seu nome como essencial para se estudarem os primórdios do teatro na Régua. No seu livro da história vila e concelho do Peso da Régua, Afonso Soares, que o admirava, elogiou-o e divulgou-lhe uma fotografia do seu rosto e pose de meio corpo.
Quem observar voltar aquela fotografia pode reparar que o António Guedes não se enganou ao descrevê-lo como um ancião que com “os seus cabelos cumpridos e receitáveis barbas brancas, mais parecia um velho patriarca das Índias…”. Basta juntar a imagem às suas palavras, completam-se como se fossem uma única visão deste homem que, por adopção, se tornou como nós, um reguense.

Nessa excursão a Vigo, entre as divertidas peripécias, Adolfo Pauman não deixou que aquele grupo de velhos garbosos bombeiros da Régua fosse alvo de uma tentativa de burla de um galego nada escrupuloso. Pensando que ele, que o falar espanhol seria um trunfo intercedeu pelos reguenses, mas os anos que já levava a viver na Régua tinham-no feito perder o sotaque da sua língua. Para o seu compatriota galego, Adolfo Pauman era mais um português…! Apanhou, pelo seu gesto, um valente susto…

Se querem saber o resto do episódio passado com o Adolfo Pauman e aqueles “imortais” bombeiros devem continuar ler a crónica bem escrita e repleta de humor do Chefe António Guedes.


Apenas, para concluir, gostava de repetir a sua nostálgica conclusão: “Passou-se isto há muitos anos! Já todos desapareceram do número dos vivos”. Desta vida efémera sim, mas não desaparecem da nossa memória colectiva o Adolfo Pauman – o actor famoso, o bombeiro solidário e o comerciante de relojoaria – nem os bombeiros da velha guarda … Enquanto alguém olhar de frente o seu passado.


- Colaboração de J. A. Almeida* - Régua, para "Escritos do Douro" em Abril de 2011.
- Leia também "O actor que foi bombeiro". Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.

ADOLFO PAUMAN
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 17 de Março de 2011
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ADOLFO PAUMAN

terça-feira, 5 de abril de 2011

Para parar três badaladas

Neste ocaso da vida em que, como diria La Palice, quanto a nós não se antolha futuro, mas, tão somente, passado e presente, é-nos grato trazer a estas desataviadas linhas, evocações de factos, decorrentes de uma peregrinação terráquea que, como a nossa, ultrapassou, no tempo, aquela meta, susceptível de nos conferir a qualificação de sobrevivente. E somo-lo, no passo em que vimos, desaparecer, para além dos que particularmente, nos foram caros, homens cuja mensagem permanece, para exemplo das gerações presentes e vindouras, a quem incumbe promover a terra, que lhes deu o ser. Assim aconteceu com esses homens, para que aconteça com os de hoje, para que aconteça com os quais surgirão, na promissora madrugada.

Abordar o tema concernente a uma instituição, que celebra, com legítimo orgulho, o seu centenário, representa convite a mergulhar num mundo de pensamentos, mormente quando ela se vincula à História da Vila e Concelho do Peso da Régua.

Corria o último quartel do século transacto quando sob impulso do Infante D. Afonso - fundador de Voluntários da Ajuda - entraram de proliferar, aqui e além, adentro do âmbito nacional, corporações dotadas de orgânica afim, celebrizadas pela pena de Gervásio Lobato (1) e pelo lápis de Bordalo Pinheiro (2).

Para seu desvanecimento a Régua, mercê de um punhado de boas vontades firmes e válidas, não foi a última a ser dotada da que se passou a denominar Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.
Nascida no menos que modesto prédio (3), ainda existente no Largo dos Aviadores e provida de escasso material, que a edilidade reguense lhe cedeu, contou desde o início, no seu corpo activo, com homens (4) que, sob a responsabilidade do nome, passaram a gozar de um prestígio, que lhe advinha de actos beneméritos, em ordem a conferir à sua associação a fama que, ao actual corpo activo, cabe manter se não dilatar. Esta fama foi encontrá-la em Lamego, na recuada época da nossa adolescência, em que, naquela cidade, estanciámos durante sete anos. A rua de Almacave, no pendor de base do morro encimado pelo castelo medieval, em torno do qual se aninha o primitivo burgo, coetâneo de Fernando Magno, exibia prédios esventrados, portas e janelas como órbitas vazias, em paredes calcinadas, por apocalíptico incêndio.

Diga-se então, aí que, a não intervirem os bombeiros da Régua, a Olaria iria, de enfiada. Quanto pode uma minguada corporação em efectivos, bem comandados (5) em que a disciplina, livremente aceite, gera autênticos cidadãos! Escola de civismo foi, pois, e confiamos que o será, sempre, sem o qual as pátrias não são mais que expressões destituídas de sentido. E os reguenses ao admirarem, íamos dizendo, tais como chouans a Marie Jeanne (6), que cobriram de flores, uma bomba braçal (7) novinha em folha, que o quartel de cavalaria expunha, sentiram que estavam com os seus soldados da paz, como estes se identificavam, com eles.

Dizer do curriculum vitae da Instituição não é consentâneo com a índole de uma achega, que sofre, naturalmente, de limitações.

Hoje os nossos bombeiros dispõem de instalações, que honram a terra, onde se implantam. Catedral do bem, num ópido onde os valores culturais não abundam, emergentes, que são, de passado obscuro que, somente, nos últimos dois séculos se projecta em porvir auspicioso, luta e vai transpondo, com a persistência dos obstinados, os escolhos, que se interpõem, a quem demanda uma meta inatingível tal é a da verdade absoluta - peculiar às grandes reali­zações humanas. Hoje vem-lhe pela mão benemérita de um varão esclarecido (8), seu bairro, na qual a paz da consciência dará mão à ética social, que dignifica; amanhã, na sequência de um corpo vivo em expansão; será a mitose, propícia à nossa conterrânea Godim - quem sabe?

Existiram outrora, nos lares reguenses, no recesso dos oratórios dos antepassados, encaixilhados a preceito, sinais de incêndio, mediante os quais os soldados da paz e a população – que colaborava – ficavam cientes da zona em que se verificava o sinistro, sinais tangidos, pelos campanários locais. Estes sinais sobrepunham-se a uma notificação convencional – para parar três badaladas. Se a convenção era prática, não se compadecia, todavia com a realidade, pelo que o devoto abrenúncio nos vem à boca, nos termos em que Cervantes remata o preâmbulo da sua obra imortal, mediante o consabido.

- Peso da Régua, 12/8/80 - José António de Sousa Pereira. 
(1) Gervásio Lobato, in Lisboa em Camisa. 
(2) Rafael Bordalo Pinheiro, in Almanaques. 
(3) Seria oportuna a aparição, no imóvel, de uma placa comemorativa da efeméride. 
(4) Para além do primeiro comandante, Manuel Maria de Magalhães, José Joaquim Pereira Soares Santos, Joaquim de Sousa Pinto, José Afonso de Oliveira Soares, Camilo Guedes Castelo Branco, Joaquim Maria Leite e Álvaro Rodrigues da Silva, nomes que são uma legenda da Associação. 
(5) Ao tempo por José Afonso de Oliveira Soares. 
(6) Primeira peça de artilhada capturada aos azuis - tropas da Convenção Nacional -  pelos vendeanos, chefiados pelo Cavaleiro de La Charette, activos contra aquela, após o suplício de Luiz XVI (Victor Hugo, in  Noventa e Três). 
(7) Quando a C. P. organiza museus com material primitivo, ao longo da sua rede, lamentamos que este e outro espécime, da mesma natureza, tenham sido vendidos. 
(8) Dr. Aires Querubim Menezes Soares, ao presente governador civil do distrito.

NOTAS:
1 - Esta erudita crónica do ilustre médico reguense, “um dos homens que mais amou a sua Régua e o Alto Douro”, para quem “a sua vida foi um constante caminhar para a verdade”, “lutou pela liberdade”, e “como homem liberto seguia o seu próprio caminho, sem vergonha, sem medo e sem oportunismo” e “ morreu como um justo” (nas palavras do Sr. Dr. Aires Querubim de Menezes Soares), em 1981, foi publicada na Revista do Centenário da AHBV do Peso da Régua, em 1980.
2 - A autarquia reguense homenageou a sua memória ao atribuir a uma rua da cidade o seu nome como era conhecido pelo povo: “Rua Dr. José de Sousa”, aquela começa precisamente onde os bombeiros da Régua têm instalado o seu Edifício Multiusos.  
3 - É tema desta crónica, para além da evocação a história dos bombeiros da Régua, dos seus primórdios até 1980, uma intervenção dos bombeiros da Régua, sob o comando de Afonso Soares, no incêndio que ocorreu na noite de 27 de Junho de 1911, na Rua de Almacave, em Lamego, que se destacaram pela sua intervenção corajosa, rápida e eficiente no combate às  “chamas devastadoras” .
Colaboração de J. A. Almeida - Régua, para "Escritos do Douro" em Abril de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.

Para Parar Três Badaladas
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 31 de Março de 2011
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Para Parar Três Badaladas

quarta-feira, 13 de março de 2013

O comissário da Sandeman

Encontro-me à mesa da minha secretária, num entardecer outonal com a luz a resplendecer nas águas do rio e nos vinhedos que serpenteiam o vale Abraão, absorvido na leitura de um livro que, de um momento para o outro, me leva às vindimas no meu Douro. Enquanto ouço, lá no meio dos socalcos coloridos, os cantares das vindimadeiras e os sons de uma gaita-de-beiços, um harmónio, os ferrinhos e os bombos que acompanham o pisar das uvas pelos homens, deixo-me viajar no tempo em direcção ao passado.

Acabo de chegar à vila da Régua dos finais do século dezanove. O comboio que me trouxe terminou aqui a sua marcha, apenas com um ligeiro atraso relativamente ao seu horário. Estou na estação, que esconde muita da sua beleza arquitectónica nos ramos dos frondosos plátanos. Da sua porta principal, começa a sentir-se o bulício de pessoas e dos transportes na estrada nacional que lhe passa em frente. Sinto odores de vinho fino que se misturam com perfumes de flores silvestres. As diligências da viúva Vilela, empresária e benemérita, estão de saída para outras paragens.

A vila está a crescer e o comércio prospera, mas é a sua beleza que atrai a atenção do meu olhar e me deixa, por breves instantes, extasiado pela luz e pela intensidade das cores de uma paisagem fascinante que alastra até às margens do rio. Sou despertado por uma velha rebuçadeira de bata branca que vende pacotinhos de uns rebuçados embrulhados em papel. Compro-lhe dois pacotinhos e delicio-me com o aroma de flor de laranjeira de um doce rebuçado da Régua.

Olho as horas no relógio da estação, está muito calor, decido passear-me pela Rua da Bandeira, o coração da vila, onde se faz todo o comércio de retalho, as casas exportadoras guardam o vinho e as aguardentes, onde ficam as hospedarias e as pensões e se encontram as figuras mais respeitáveis da terra. Depois de fazer uma ligeira refeição numa hospedaria mais recomendada, quero visitar a Loja do Zé Pinto, progressista ferrenho, e aí comprar a última edição do bi-semanário O Douro. O jornal interessa-se por divulgar os assuntos da lavoura, do comércio dos vinhos e a gestão da câmara do regenerador Dr. Júlio Vasques. À entrada desta loja, onde se vende um pouco de tudo, deixo o meu olhar penetrar numa sala para aí rever figuras ilustres numa roda de cavaqueira e que, agora, me parecem almas retiradas das profundezas da Eternidade ou de um outro mundo. Na verdade, não os conheço nem eles me conhecerão a mim, mas nutro por eles uma indisfarçável admiração, simpatia e respeito pelo que fizeram no seu tempo. Se eu pudesse falar com alguns deles, seria com o poeta Camilo Guedes Castelo Branco, que continua a usar a sua  farda de soldado da paz.

Retomo a minha caminhada e, de uma viela que circunda o Largo do Cruzeiro, vejo passar o senhor Afonso Soares de barbas brancas e olhos luminosos. Deve ter acabado o seu repasto, porque fuma com redobrado prazer. Disseram-me que é um apreciador de sável, um saboroso peixe que ainda se pesca no rio Douro. Bem gostava de o ter convidado para provar comigo esta deliciosa especialidade gastronómica, mas o senhor Soares é um artista diletante, jornalista, escritor, erudito e pintor. Quase que desconfio que não pode dissipar nenhum do seu precioso tempo com um estranho que lhe apareça assim de frente. Tem mesmo muito que fazer e deve estar preocupado com o futuro da corporação de bombeiros, onde acabou de ser escolhido para Comandante.

Desço a ruela das Vareiras, com as tabernas que vendem os vinhos mais baratos e apreciados pelo povo e onde crescem negócios em que o sal e a sardinha salgada de barricas são as principais mercadorias. Ao fundo da rua sobressai o areal extenso por onde corre o rio e voam vertiginosamente as últimas andorinhas, anunciando que estão de partida. Um barco rabelo de bela içada, carregado com cinquenta pipas de vinho da feitoria, produzido pela firma Martinez e Gassiot, solta as amarras de um movimentado cais fluvial.

Como se faz tarde, aproximo-me da Rua Nova para me dirigir à Casa da Companhia. No seu átrio, juntam-se lavradores, comerciantes, corretores e comissários das casas inglesas. Enquanto uns discutem os preços da pipa de vinho da vindima, outros exibem amostras de colheitas antigas. O preço da pipa ronda os 25.000 mil réis e os viticultores estão insatisfeitos. Diante de mim, tenho os senhores Francisco Ferreira e António Claro, fiéis empregados da Casa A.A. Ferreira, Scrs. Estou surpreendido, os lavradores, numa veneração digna de deuses, saúdam-nos com vénias e mesuras. Gostava de cumprimentar a D. Antónia, a Ferreirinha, que deve estar pela Quinta das Nogueiras, e agradecer-lhe a generosidade para com a associação de bombeiros, que, como primeira sócia contribuinte, muito ajudou nos primeiros anos de existência.

Quem eu vinha procurar, um tal comissário da casa Sandeman, não encontrei. Ali perto, está a relojoaria de Adolfo Pauman, um velho actor galego que deixou as artes cénicas para ser bombeiro voluntário e se dedicar ao comércio reguense. A porta da loja está encerrada, pelo que decido entrar na Botica do Anastácio, outro memorável ponto de tertúlia. Ao balcão, está um moço que avia umas receitas de pomadas. Pergunto-lhe pelo paradeiro do senhor António Roberto Pinto. Depois de sair o cliente, diz-me que devo encontrá-lo na casa da Real Associação dos Bombeiros, no Largo da Chafarica, onde ao fim da tarde costuma ir jogar dominó, quino e frequentar a sala de leitura. Meto as pernas ao caminho em direcção à Rua da Boavista e, em pouco tempo, chego ao quartel dos bombeiros voluntários, instalado numa casa antiga, o rés-do-chão para arrumar as bombas e o primeiro andar para reuniões e encontros de lazer.

É domingo, e as badaladas do sino da capela do Senhor do Cruzeiro dão as seis horas da tarde. Alguns associados, mais habituados a frequentarem a sala de jogos e a casa de leitura, apressam-se a entrar no quartel. Reconheço o senhor António da Silva Correia, solicitador, e o Dr. Júlio Manso Preto, jurisconsulto e publicista que exerce o foro na vila. Ninguém sabe onde nasceu, mas aqui se radicou e fez família. Intriga-me que deste autor ninguém tenha dado atenção ao folheto que publicou em 1864 com o sugestivo título Duas Palavras Acerca da Régua e Arredores. Não o li, mas o seu autor faz aí um magistral retrato poético desta terra, então com poucas ruas, algumas com bons edifícios elegantemente construídos, notável pelo seu comércio de vinhos. Ele, que adoptou esta terra para viver, viu beleza nas colinas tapeteadas de vinha e polvilhadas de casario branco, um encanto para o olhar, donde se  avistava um rio forte, sem igual, e os enormes  sabugueiros em flor.

Atravessa o Largo da Chafarica, vindo do seu escritório, um jovem que começara a advogar como sucesso. Apaixonado pelos ideais republicanos, vai dedicar-se com afinco a resolver as mais problemáticas das questões do Douro. O causídico chama-se Antão de Carvalho e está a iniciar o brilhante futuro que o levará ao cargo de Ministro da Agricultura, logo após a instauração da República, e depois a ser o mais dinâmico dos paladinos do Douro.

Aproxima-se o abastado comerciante Joaquim Sousa Pinto, fardado de bombeiro, acompanhado pelo Comandante Afonso Soares e pelo presidente da direcção, Alberto Pereira Rolla, sendo saudados com continência por um piquete de voluntários. Param diante de mim e, como não me reconhecem familiar ao meio, cumprimentam-me com um afável “Boa tarde, meu caro amigo”. De imediato, o Comandante Afonso Soares, que traz na mão esquerda um manuscrito do livro que irá publicar, os Apontamentos para a História da Vila e Concelho, abeira-se de mim e pergunta-me se me pode ser útil. Digo que sim, que procuro o senhor António Roberto Pinto, comissário da casa comercial Sandeman, a quem precisava de dar umas palavras...! Avisa-me que deve estar a chegar para entregar um donativo da casa Sandeman para ajudar a missão dos bombeiros. Ainda o ouço exclamar: “Bem precisamos de dinheiro….”. Entretanto, pergunta-me se me fiz associado contribuinte. Não sei como lhe responder, mas prometo ao Senhor Soares que, mais tarde, aparecerei para me inscrever como sócio e é o que faço… um século depois.

As badaladas do sino do Cruzeiro voltam a ouvir-se dolentemente e fazem-me acordar de um sono profundo, aconchegado pelo calor outonal. Tenho aberto o livro de actas dos mandatos das primeiras direcções dos bombeiros da Régua. Cá está o desconhecido comissário que não tive a sorte de encontrar na minha viagem ao passado. Uma acta da reunião extraordinária da Direcção dos Bombeiros datada de 1893 confirma-me que, nesse dia, esteve presente oSr. António Roberto Pinto comissário da casa ingleza Sandeman, tendo por este entregue á hora desta sessão  a quantia  25.00 mil réis, que a mesma offerece para os fundos da Associação. Deliberou-se por unanimidade agradecer a oferta”.

A Sandeman, como casa comercial, morreu; aquele mítico nome pertence agora a outra empresa de vinhos, a Sogrape. Com ela morreram também os influentes comissários das casas inglesas, sobre os quais o escritor João de Araújo Correia escreveu o seguinte: “Governam-se melhor que o lavrador e quase tão bem como o comerciante. Estabelecem entre um e outro uma risca de união perfeita de metal precioso. Ser comissário é ser alguém. Ser comissário de casa inglesa é porventura ser mais do que alguém. (…) Ser empregado de ingleses, no Douro, é ser gente estremada – ainda que o emprego se exerça numa adega com caneco à cabeça. Se o emprego é porém de vulto, se representa confiança e espelha a bizarria inglesa, o empregado chama-se comissário e é um lorde. É um lorde entre lavradores preocupados com colheitas e com vendas”.

Já cá não estão estes lordes da sociedade duriense para defenderem o seu bom nome. Morreram todos. Perdura o nome do Sr. António Roberto Pinto, que, apesar de nada sabermos acerca dele, deixou uma fama de benfeitor dos bombeiros da Régua.

Devia acabar aqui esta pequena história. Mas, o mais certo, é ela continuar para acrescentar o exemplo da casa Symington - sócia contribuinte nº 578 – que assim concede o seu apoio a uma instituição humanitária que tem como seu ideal fazer o bem comum. 
- José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Fevereiro de 2013
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras actividades  escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.



Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagem de JASA. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Fevereiro de 2013. Também publicado no jornal semanário regional "O ARRAIS" edição de 13 de Março de 2013 - 1ª parte. edição de 20 de Março de 2013 - 2ª parte. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

UM QUADRO FESTIVO

Um dos quadros que enobrecem a minha sala de estar pintou-o Afonso Soares, artista e historiador reguense que tem busto e memória, ali no simpático jardim do Cruzeiro.

Quadro a óleo sobre folha de flandres, mostra-me uma cena campestre, cheia de beleza e colorido.

O céu e azul, mal forrado de nuvens algodoadas e, como pano de fundo, na linha do horizonte, lá estão umas casas de campo, casas de lavoira que vão do amarelo ocre até ao branco duma caiação já antiga e meio desbotada. Em volta das casas, a verdejar, há umas tantas árvores esguias que me parecem choupos.

Que sítios seriam estes?...

O primeiro plano é todo ele um ervaçal de macieza, cortado por um carreiro de terra batida. E, pelo carreiro, vem caminhando uma rapariga cheiinha de mocidade. Traz uma boa regaçada de erva fresca onde pontilham umas florinhas brancas e parece caminhar com certo desembaraço, a despeito dum ligeiro requebro da cintura.

Um pincel mais miudinho, ao que julgo, deu-lhe a finura dos traços e o quer que seja de luz irradiante. Aquele leve sorriso a flor dos lábios e aquela boca onde se adivinham cantigas de espairecer, sei lá se uns dichotes cortados de gargalhadas, são traços de pincel miudinho.

Com uma pele trigueirota de camponesa e já com um corpo esbelto de senhora, parece fixar-me com o olhar. Mas os olhos, apesar de fitos em mim, devem ser olhos movediços, alegres de condição. Quem seria esta cachopa, assim pintada por Afonso Soares?

Já lhe pus um nome, que é o melhor modo de eu próprio retocar o quadro. Pus-lhe o nome de Margarida, também uma flor campestre. Se em vez duma regaçada de erva, trouxesse com ela uma bilha de agua fresca, mal poisada na ilharga, - Margarida vai a fonte - cuido que viria caminhando com o mesmo desembaraço e a mesma alegria no rosto trigueiro. Que o digam as arrecadas de oiro, os olhos movediços e a boca sorridente.

Margarida veste ao calhar de cada dia e vem descalça com a saia arrepanhada a um dos lados, a deixar ver um tudo nada do saiote vermelho e, por debaixo da blusa, avultam-lhe os pomos dos seios. Se saísse apoucada com estes modos de vestir…. Mas não.

Claro que, por esse tempo, Margarida devia ter também as suas vaidades e é crível que, em cada ano, viesse as festas do Socorro, com outros luxos, outro brio no vestir.

Estou a vê-la pela rua fora, com suas argolinhas de oiro, um certo espairecimento no rosto e na cinta flexível. E, naturalmente mesmo um verdadeiro arraial dentro do peito.
Manuel Braz de Magalhães
Nota: Publicado no Boletim das Festas de Nossa Senhora do Socorro
  • Sobre José Afonso de Oliveira Soares neste blogue
Clique  na imagem para ampliar. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

1º de Maio de 1911

(Clique na imagem para ampliar)

Nesta curiosa foto que, foi tirada à entrada do magnífico Jardim do Peso, no dia 1 de Maio de 1911, aos bombeiros voluntários do Peso da Régua, a qual regista o início de um inédito cortejo, organizado com o objectivo - pensamos nós - de angariar fundos para a aquisição de material de combate aos incêndios.

Esta surpreendente iniciativa terá sido organizada pelo Comandante José Afonso de Oliveira Soares (1893-1927) como forma de chamar a atenção da população para as dificuldades que a instituição estaria a atravessar resultantes, em parte, da grave crise económica que afectava, nesse período de instabilidade política, toda a região duriense, devido, segundo o historiador Gaspar Martins Pereira, à "permanência de uma conjuntura comercial depressiva, com baixas exportações, face às quantidades produzidas e com preços baixos".

Deste insigne Comandante sabemos que exerceu funções de chefe da secretaria na Câmara Municipal. Todavia, era homem mais conhecido e admirado pelos seus talentos - um dotado artista que escrevia, desenhava (em 1925 desenhou o primeiro projecto do Quartel dos Bombeiros que, caso fosse escolhido, em nada perderia para o actual), fotografava e pintava.

Não estaremos longe da verdade, ao admitir que ele terá idealizado e concretizado a concepção figurativa do carro alegórico (conduzido pelo chefe de esquadra José Maria Leite), que pretendia simbolizar, através recriação de casa a ser salva das chamas do fogo, pelos bombeiros em cima de uma escada, umas das suas mais nobres missões mais que lhe são acometidas.

Mas esta bela imagem, reúne outros pormenores significativos a título de subsídios para a história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. Realce-se, por exemplo, a dedicação e o altruísmo subjacentes à presença dos bombeiros que acompanham o cortejo; o importante apoio da população expresso na assistência; e, ainda, o orgulho em servir uma causa, facto estampado na dignidade do pessoal formado, entre o qual o porta-estandarte, cuja firmeza como transporta o símbolo máximo da associação traduz o mais sério compromisso institucional na protecção das vidas e bens da comunidade ali representada.

O Comandante José Afonso Oliveira Soares, perto dessa data, no seu livro “Apontamentos para a História da Vila de Peso da Régua”, publicado em 1907, no capítulo dedicado às origens da Associação, refere que “o corpo activo da associação era composto de três esquadras e possui mais meios e melhor material, que adquiriu logo que, com o abastecimento de águas da vila foram estabelecidas as bocas de incêndios municipais”.

E, como conhecia as origens da Associação e os seus primeiros anos de vida, confessa em tão notável livro, mais tarde convertido no manual da história da cidade: “ (…) apesar das diligências que alguns dos seus sócios activos têm empregado, ainda não tem o material que de um momento para o outro lhe pode ser necessário”.

Em homenagem ao comandante e para que fiquemos a conhecer melhor a respectiva personalidade, citamos o grande escritor duriense João de Araújo Correia, segundo a crónica intitulada "Configurações", do seu livro "Horas Mortas", na qual faz o retrato do homem e do artista:

“José Afonso Oliveira Soares, faleceu a 21 de Outubro de 1939, com oitenta e sete anos de idade completos, tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas, não foi só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor. Tinha mãos e espírito suficientes para ir muito longe, no caminho da glória, se não tivesse vivido em sáfaro de escolas, estímulos, entusiasmos…Também lhe empeceu, diga-se a verdade, o feitio dispersivo. Foi diletante. Comprazia-se em volitar, de flor em flor, no campo da cultura. Homem sereno, risonho e comodista, seria incapaz de esforço orientado em sentido único. Foi ainda um notável entre vizinhos comerciais -ele, que foi artista. Barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, na vila de Peso da Régua, que sem lhe quis bem, porque o Senhor Soares, à parte os seus talentos, tinha o dom da bonomia inalterável.

Não sei em que jornal antigo publicou o Senhor Soares uma espécie de ensaio que intitulou Configurações. Nele deu conta de diversas figuras desenhadas pelo vento, pelo calor e pela humidade em paredes velhas. Uma dessas figuras que reproduziu no seu estudo era um guerreiro de lança em punho, elmo emplumado e viseira caída.

(…)

Não me lembram outras figuras que acompanhavam o ensaio, a prosa despreocupada do Senhor Soares. Lembra-me o guerreiro – e é quanto basta.”


Depois das palavras de João de Araújo Correia, nada mais há a acrescentar sobre este grande comandante dos Bombeiros do Peso da Régua, exceptuando a referência de que a sua memória se encontra perpetuada através de um busto, erguido no Jardim do Cruzeiro, o qual não só honra o passado dos bombeiros como a história da própria cidade do Peso da Régua.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A catástrofe das Caldas do Moledo

Encontra-se publicado no Diário do Governo, em portaria de 12 de Março de 1904, o seguinte louvor: “SUA MAGESTADE El-Rei, a quem foram presentes as informações do governador Civil de Villa Real acerca do philantropico procedimento da Câmara Municipal do concelho do Peso da Regoa e dos humanitários e importantes serviços prestados pelos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS da mesma villa por ocasião da catastrophe que em 10 de Fevereiro se deu na povoação do Moledo: há por bem determinar que seu REAL NOME, sejam conferidos pelo dito magistrado às mencionadas Câmara Municipal e CORPORAÇÃO DE BOMBEIROS os merecidos louvores”-Paço, em 10 de Março de 1904 -Ernesto Rodopho Hintze Ribeiro”.

Em 1904, o Rei D. Carlos concedia este louvor aos bombeiros da Régua como reconhecimento dos seus importantes serviços humanitários, prestados na missão de socorro, realizada no dia 10 de Fevereiro de 1904, nas Caldas do Moledo, numa catástrofe natural, que causou a morte a pelo menos 24 pessoas, que estavam alojadas numa casa da Quinta das Caldas, pertencente à família da D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha.

Esta catástrofe deu-se com o rebentamento de um tanque de recolha de água, situado em plena encosta, que tinha como finalidade recolher as águas que corriam pela vinha da quinta, donde se escoavam pelo vale até ao rio Douro. Nesse inverno de 1904, em Caldas do Moledo, as chuvas tinham sido abundantes e o tanque não resistiu à força das águas e desmoronou-se com as terras que o envolviam. As águas irromperam pela encosta a baixo, destruindo e arrastando o que encontravam pela frente. Arrancam, na sua passagem, os carris do caminho-de-ferro da linha do douro e destroem a casa construída na berma da estrada nacional. As pessoas que nela se abrigavam foram arrastadas com os destroços para o rio e, apesar das buscas, os seus corpos não foram nunca encontrados. Apenas se salvou uma criança – António Cardoso - devido à “mão de Deus” e à coragem do senhor Delfim de Sousa Mesquita.

Os bombeiros da Régua quando chegaram ao local, pouco tempo depois do sucedido, encontraram uma casa reduzida aos seus alicerces, completamente desfeita num amontoado de lamas e pedras. O seu auxílio foi remover terras e terras, nessa noite e nos dias seguintes, para recuperarem os corpos das pessoas. Nenhum foi sequer encontrado no meio dos destroços.

Na sua monografia sobre a história da Régua, Afonso Soares fez uma breve referência a esta tragédia das Caldas do Moledo. Assinalou-a como uma das mais graves em corpo de bombeiros que, ele era seu comandante (1893-1927), tinha socorrido. Não escreveu nenhum relato do que viu e assistiu, apenas se limitou a transcrever a acta da sessão da Câmara Municipal de 11 de Fevereiro de 1904, onde consta que vereação se preocupou com o desenrolar do acontecimento que enlutava a Régua e aproveitava para distinguir com a aprovação de um louvor a população reguense, os bombeiros e o Sr. Delfim de Sousa de Mesquita pelo “socorro às vitimas de tamanha calamidade”.

Passado mais de um século, a tragédia das Caldas do Moledo encontra-se caída no esquecimento e apagada na memória das actuais gerações. Naquele vale do Tinoco, a vida continuou o seu ciclo, tudo se foi reconstruindo com esperança no futuro: edificaram a casa desaparecida e o tanque no mesmo lugar – é verdade - a linha de água mantém o seu curso normal, retomou-se o cultivo da vinha e a produção de bons vinhos na quinta, as velhas termas edificadas no parque de plátanos, afamadas pelo clima ameno e seco e a curas das suas águas sulfúreas, adquiriam maior movimento com a abertura do hotel, erguido pelo génio da Ferreirinha.

O tempo fez voltar tudo à normalidade, mas até hoje ninguém se lembrou de, nesse lugar das Caldas do Moledo, gravar numa parede uma simples placa a evocar as vítimas que perderam a vida nessa tragédia.

Apenas a literatura de cordel a fez lembrar a sua fatalidade cantada numa poesia que o povo conhecia pelo “Grande desastre acontecido nas Caldas do Moledo”, de Agostinho da Silva Pereira. Numa linguagem comum e com um sentimento religioso foi lembrada assim:

“Foi nas Caldas do Moledo/Aquele depósito arrebentou/Ali tudo se arrazou/ Causa pena mete medo/Ali tiveram o seu enterro/Vejam o poder do Senhor/ Que ali ficaram sepultados/Causa pena mete terror/(…) Só naquele próprio menino/Num berço a dormir foi encontrado/Sobre aquele rio tão valente/ Por os barqueiros foi apanhado/Foi um milagre que Deus mostrou nele devemos pensar/ Esta grande calamidade/Que se vai vendo na nossa nação/Sem ninguém isto esperar/Aquele depósito arrebentou/Dos que andavam a trabalhar/ A vida lhe acabou”.

Uns anos mais tarde, Afonso Soares, velho comandante dos bombeiros já no Quadro de Honra, recordou no jornal “A Região Duriense”, num texto intitulado o “Desastre das Caldas do Moledo”. Como o seu texto não é conhecido pelos entendidos na gestão dos território e pelos agentes da protecção civil, faz-se de imediato a sua transcrição:

“Na noite de 10 de Fevereiro de 1904 uma pavorosa catástrofe enlutava o concelho do Peso da Régua. O rio Douro tinha subido muito e a chuva continuava caindo dia e noite. Na quinta das Caldas do Moledo, pertencente à falecida Sr.ª D. Antónia Adelaide Ferreira, havia acima da linha férrea que atravessava a quinta, um grande tanque construído na divisória dos dois concelhos - Régua e Mesão - Frio. Essa divisão fazia-se e faz-se no vale do Tinoco que na estrada que vai para o Porto tem o marco da divisão concelhia.

Do lado esquerdo desse vale havia uma casa de arrumações pertencente à quinta, com frente para a estrada. Do lado oposto duas moradas de casas que recebiam hóspedes. Nesta casa tinham sido recebidos 24 hóspedes, vindo de fora que ali pernoitavam, fugindo à tempestade.

Naquele pequeno vale a que nos referimos, corria, de vez em quando, água vinda das encostas da montanha. O leito do regato comunicava na altura do tanque com ele e depois de cheio restabelecia-se a saída pelo vale. O tanque estava cheio há muito tempo pois que a chuva fora persistente. Às nove horas e meia daquela noite um enorme estampido sobressalta toda a povoação das Caldas do Moledo.

A parede da frente do depósito tinha cedido e aquela avalanche de água ali represa, salta por ali fora, desenfreada, e apesar de encontrar na sua frente uma baixa grande fechada pela linha férrea, que passava em frente, desfaz o talude do caminho de ferro, arranca rails que retorce e leva diante de si, e cai sobre a casa da quinta, cortando-a ao meio, destruindo a parte mais próxima do vale e precipita-se depois sobre as duas casas fronteiras que apara, como se fosse uma navalha de barba, deixando-lhes apenas os alicerces. Precipita casas com tudo o que tinham na corrente do rio que tudo engoliu, incluindo a vida de 24 pessoas que ali se tinham recolhido e cuja identidade nunca se averiguou, pelo desaparecimento dos cadáveres.

Foi esta tragédia que naquela terrível noite se desenvolveu na povoação das Caldas do Moledo. Chamados os socorros para esta vila, daqui partiu muita gente a prestar os seus serviços numa noite tempestuosa que tornava o trânsito impossível pela estrada. Não faltaram nem podiam faltar a esta chamada os nossos bombeiros que, sem hesitação, para aquela povoação partiram imediatamente”.

A notícia escrita por Afonso Soares, apesar do tempo passado, não podia estar mais actual. Assim, a catástrofe das Caldas do Moledo pode e deve, nos nossos dias, ser entendida como uma boa lição para valorizar mais as matérias de protecção da natureza que, violentadas por incúria e negligência humana, causam quase sempre problemas de segurança e protecção civil às populações.

As condições naturais da paisagem duriense associadas a alterações provocadas pelo homem – como a surgida nas Caldas do Moledo - podem aceleram ou desencadear catástrofes naturais. Só se evitam os infortúnios se houver mais rigor e cuidado nos licenciamentos de obras e construções que se fazem nas encostas do Douro. É importante conhecer a orografia da região duriense e a constituição geológica dos seus solos.
(Clique nesta e nas imagens acima para ampliar)

Em tempos de invernos chuvosos são flagrantes as possibilidades de repetirem, com maior violência, estes fenómenos chamados de “movimentos de vertente”, os perigosos deslizamentos de terras, destruidores de tudo em sua volta e causadores da morte de muitas pessoas, sempre indefesas nestas tragédias.
- Peso da Régua, Fevereiro de 2010, J. A. Almeida.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Crónica - o Douro de anteontem

O nosso rio era caudaloso no Inverno e sereno do findar da Primavera ao findar do Outono. Sempre alegre e corredio, o Douro era um potro à solta entre as margens. Vieram depois as barragens meter-lhe o freio e o bridão. Fizeram dele um amestrado e pachorrento cavalo de circo.

Muito lucramos com esta sucessão de enormes espelhos de água, permitindo um desporto e um turismo impensáveis no lombo de um potro irrequieto. Mas também muito perdemos...

O estrujão, o sável e a lampreia, de tanto marrarem contra o cimento das barragens, acabaram por desistir de procurar para a desova os rios ainda abertos às suas imperiosas condições de procriação.

Entre nós conhecido por solho, o estrujão foi-se extinguindo. Dele ficou apenas um dito, de que muita gente já não saberá a origem. Dormir como um solho quer dizer dormir profunda e serenamente. A imagem vem do tempo em que esses grandes peixes do nosso rio se deixavam levar pela corrente, muito quietos, como se dormissem à flor da água.

As lampreias também deixaram de se vender pelas ruas da Régua, oferecidas em regadores, ainda vivas, num desespero de pouca água e pouco espaço. Meu pai, médico de muitas caridades, recebia em abundância os mimos de cada época do ano. As lampreias eram, por vezes, tantas que era preciso largá-las no tanque do quintal, para lhes dar vazão. Agarrá-las era depois um alvoroço de gritinhos e fugas precipitadas.

O sável era ainda mais abundante que a lampreia. Por toda a Régua passavam homens e mulheres a apregoá-lo com dois ou três enfiados num vime. O saboroso peixe chegava a todas as casas, à boca do rico e do pobre, frito ou de escabeche.
O Dr. Júlio Vilela falava, a lamber o beiço, de um sável na telha arranjado pelos homens do rio. E descrevia:

- O sável, bem temperado com azeite, alho, pimenta e loureiro, entala-se entre duas telhas. Depois, é só ir virando sobre uma fogueirinha de lenha. Além de ficar delicioso, a espinha desembainha-se como uma espada.

O Dr. Júlio e os seus petiscos...

Um ano, o sável foi tão abundante que chegou a exaltar o homem mais sereno da Régua - José Afonso de Oliveira Soares.
Pintor e poeta de grande mérito, veio a merecer um busto no jardinzinho bem perto da casa onde morou.

Diz, assim, o pedestal:

Talento e bondade
Flor de simpatia
Que nos merecia
Esta saudade.

Também mereceu da Câmara Municipal uma segunda edição da sua História da Vila e Concelho do Peso da Régua.

Pois, um dia, o nosso sereníssimo Afonso Soares, cheio de sável até ao simpático bigode, largou de casa a esbracejar, ao ver que a esposa se preparava para lhe servir ao almoço, mais uma vez, umas postas de sável frito.

Foi do Cruzeiro para os lados da estação a remoer vinganças num grande nuvem de tabaco. Entrou na Pensão Borges e foi sentar-se à mesa mais recolhida. Logo se aproximou, todo mesureiro, o Adelino Gomes.

- Que temos para o almoço, Adelino?

- Para o senhor Soares arranjam-se umas postinhas de sável...

Ao virar do segundo para o terceiro milénio o Douro de anteontem acordou estremunhado do sono telúrico. Tomou o freio nos dentes, soltou-se da corrente e largou à desfilada pelas margens, galgando-as até onde lhe chegou o fôlego. Por quatro vezes, casas e vinhedos lhe sofreram a fúria. A Princesa do Douro ficou irreconhecível por uns dias. Mas, ao sol de Março pôde mirar-se ao espelho do seu rio, outra vez vaidosa e conformada.

- Camilo de Araújo Correia, Villa Regula de Março de 2001
Clique  nas imagens para ampliar. Texto e imagens da atualização cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

sábado, 3 de dezembro de 2011

Bombeiros da Régua Festejaram 131º. Aniversário

Liga dos Bombeiros atribuiu “ Fénix de Honra”.
Por: mi / Secção: Região do Douro /
Das mais antigas do país, é um exemplo a seguir.

Ambos fizeram questão da sua comparência no acto da entrega da distinção atribuída pela Liga aos Bombeiros reguenses, a “ Fénix de Honra”, uma das mais elevadas insígnias dos Bombeiros lusos. Após se ter efectuado a parada em frente do quartel Delfim Ferreira, seguiu-se após uma visita ao acabado de inaugurar Museu dos Bombeiros, uma sessão solene no respectivo Salão Nobre, contando-se com a presença das autoridades distritais dos “soldados da paz,” de vários representantes de outras Associações, e diversos representantes das forças vivas e institucionais do concelho do Peso da Régua, entre os quais se deve distinguir o presidente da autarquia local, Nuno Gonçalves. As boas-vindas foram dadas pelo presidente da Assembleia Geral, José Alberto Marques, e pelo presidente da Direcção, José Alfredo Almeida, que se não esqueceu de agradecer o apoio de que tem sido alvo a Associação, nomeadamente por parte da Câmara Municipal, cujo presidente no seu discurso disse estar bem ciente da importância dos bombeiros na comunidade reguense, logo por isso, merecedores de todo o apoio que se lhes possa dar. Agradado com as obras de requalificação do quartel ainda “frescas”, com a pujança, e com a interligação com a comunidade, por parte da Associação, um exemplo a seguir,segundo ele, mostrou-se Jaime Soares, que diga-se, foi eleito na Régua, no Congresso aqui ocorrido no último fim-de-semana de Outubro.
Clique nas imagens para ampliar. Transcrito da "Tribuna Douro" com a devida vénia/agradecimentos.

Salve 28 de Novembro - A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua complementou, no pretérito dia 28 de Novembro, o seu 131º aniversário. Nesse dia pudemos ouvir a salva de morteiros, bem como a sirene em toque prolongado, assinalando o início das comemorações do respetivo aniversário. O dia das solenidades foi no dia primeiro do corrente mês, feriado nacional, por coincidência o dia da Restauração, que celebra a libertação do jugo filipino (espanhol).
As festividades começaram pelas 9h da manhã, com o hastear da Bandeira no Quartel Delfim Ferreira, havendo uma guarda de honra do Corpo Ativo e da Fanfarra. De seguida os Bombeiros rumaram aos cemitérios da cidade (Godim e Peso da Régua), tendo colocado flores nas campas dos bombeiros e diretores, que aí descansam em paz.
As celebrações continuaram e, pelas 10h 30mn, houve uma Missa Solene, na Igreja Matriz da cidade, celebrada pelo arcipreste, Pe Luís Marçal, em memória dos fundadores, dos bombeiros, sócios e beneméritos já falecidos, onde foi visível a comparência da Família Bombeiros.
Dando continuidade às celebrações, os Bombeiros deslocaram-se ao Largo do Cruzeiro, e prestaram homenagem ao Comandante Afonso Soares, que, para além de historiador do Peso da Régua, foi um homem distinto e multifacetado na sociedade reguense, que viveu na mudança de século XIX para o século XX (faleceu em 1939), sendo-lhe colocado um ramo de flores aos pés do seu busto, em cerimónia oficial com a formatura do Corpo Ativo.
Pelo meio-dia deu-se a receção às entidades oficiais convidadas, havendo a respetiva formatura e a apresentação das entidades oficiais à formatura do Corpo Ativo dos Bombeiros, seguindo-se uma Guarda de Honra efetuada pelo sr. Presidente do Município, eng. Nuno Gonçalves.
Todos tiveram a oportunidade de constatar os melhoramentos efetuados no edifício, devidamente renovado e adequado a uma melhor função do exercício dos soldados da paz, que lhes é exigida nos tempos modernos. Numa das salas do 1º andar, muito do material museológico exposto, que a Associação possui, serviu de exultação para os inúmeros visitantes, pelo prazer que tal vivência proporcionou, estando tudo devidamente disposto e ordenado, para que as pessoas possam desfrutar de uma realidade ímpar e excecional, dado o volume de objetos nobres e valiosos que a Associação possui, dada a longevidade que a mesma tem e o material respetivo. Uma bela visita que a população reguense pode realizar.
Passando-se ao Salão Nobre António José Rodrigues, um benemérito da Associação, deu-se início à Sessão Solene, sendo a Mesa constituída pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros-Dr. José Alberto Marques, tendo à sua esquerda o comandante Álvaro, da Cruz Branca-representante da Federação Distrital dos Bombeiros de Vila Real; e o Presidente da Direção da Associação-Dr. José Alfredo Almeida; à sua direita encontrava-se o sr. Presidente da Câmara Municipal-Engº Nuno Gonçalves; Dr. Duarte Caldeira-Presidente do Conselho Executivo da Liga Portuguesa dos Bombeiros Portugueses; Jaime Marta Soares-Presidente da Mesa dos Congressos dos Bombeiros Portugueses; Engº Carlos Silva-Comandante Operacional de Vila Real (CODIS); António Fonseca-Comandante dos Bombeiros do Peso da Régua.
De realçar a presença de um grupo de bombeiros infantis, nas cerimónias da efeméride, o que veio rejuvenescer toda a sessão e garantir que a Associação já tem continuadores.
Discursou o Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros, Dr. José Alberto Marques, o qual agradeceu a presença de tantos convidados e tão ilustres, realçando a presença do Dr. Duarte Caldeira e de Jaime Marta Soares, por serem as duas entidades supremas dos Bombeiros Portugueses
No seu magnífico improviso e numa prosa poética - foi de um valor imensurável, pelo retrato fiel que fez da Associação - o Presidente da Mesa da Assembleia enfatizou o papel da Associação Humanitária dos Bombeiros da Régua, realçando o papel verdadeiro e altruísta do Corpo Ativo e de toda a Instituição, incluindo os órgãos Sociais, a qual, ao ser a mais antiga do distrito de Vila Real, tem dado provas cabais da sua ação meritória e inequívoca, não tendo defraudado os ideais dos seus fundadores. 
Alegoricamente, “… em que vieram as chuvas, as tempestades e os dilúvios” e, apesar disso, esta Instituição não caiu, porque, como casa “está edificada na rocha”, porque ela é a própria rocha. Durante estes anos todos soube ligar-se à sociedade civil onde está inserida, engrandeceu-se como coletividade, não se limitando a ser uma Instituição Voluntária de Bombeiros. 
Era a única Corporação de Bombeiros nas redondezas, apoiando os concelhos limítrofes . . .
Foi uma Associação que soube abrir as suas portas às tertúlias, a fim de conversarem, sem preconceitos e com total liberdade de reunião; foi lugar de tertúlia cultural e de amizade, onde as pessoas se reuniam, nessa tal “força invencível”, que saía da letargia de nada fazer, atitude portuguesa tão usual, como defendeu João de Araújo Correia; foi uma Instituição que, durante muitos anos, se distinguiu por ter uma biblioteca, sendo muitas das obras, de valor incalculável, legadas por beneméritos, onde os estudantes ou o cidadão comum podiam procurar alguma da bagagem para a sua cultura geral/específica; foi a sede de um Grupo Coral-“As Andorinhas do Peso da Régua”, com mais de 120 pessoas; foi o 1º refúgio hospitalar para os pobres, pelos tratamentos que se faziam; foi local de encontro para uma elite inteligente e dum bairrismo saudável e reivindicativo.
De seguida falou o Presidente da Direção, que agradeceu a presença de todos. Enumerou algumas das dificuldades sentidas, mas com a noção do dever cumprido. Congratulou-se com a presença das duas figuras máximas dos Bombeiros Portugueses. Referiu (reforçando a ideia) e agradeceu o apoio incondicional que o Município prestou à Associação, foi a força motriz, quer nas obras de remodelação do Quartel, quer na realização do Congresso.
Falaram os restantes elementos da Mesa, que enalteceram o papel do Bombeiro e da Associação reguense, mostrando todo o prazer em estarem presentes numa cerimónia desta envergadura.
Por último discursou o Presidente da Câmara do Peso da Régua, agradecendo as palavras dirigidas à Instituição que superintende, mas que estão naquele cargo para servir e querem que a AHBV seja um elo forte na sociedade reguense, cumprindo cada vez mais e melhor o seu papel.
Para colmatar a sessão solene evocativa da efeméride, o ponto mais alto foi a entrega da distinção honorífica, “Fénix de Honra” - a segunda mais alta distinção honorífica da Liga de Bombeiros Portugueses, colocada no estandarte dos Bombeiros da Régua, pelo ainda Presidente do Conselho Executivo - Dr. Duarte Caldeira. De seguida e para fecho da sessão solene foi entregue a Medalha de Ouro da Federação dos Bombeiros de Vila Real à Câmara Municipal da Régua, na pessoa do seu Presidente-Engº Nuno Gonçalves, e ao Dr. Duarte Caldeira. Fechada a cerimónia, passou-se ao momento seguinte, “Almoço de Confraternização com o Corpo Ativo”, um almoço de convívio, onde, atendendo ao momento de crise, foi servido um só prato, que agradou à generalidade dos convivas. O fecho da solenidade deu-se com o desfile dos veículos – de incêndio e as ambulâncias – pelas principais ruas da cidade, fazendo todo o percurso com as sirenes ativas. Estão de parabéns os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua! 
- Por Adérito Rodrigues, Prof.
Transcrito do "Noticias do Douro" com a devida vénia/agradecimentos