Nesta curiosa foto que, foi tirada à entrada do magnífico Jardim do Peso, no dia 1 de Maio de 1911, aos bombeiros voluntários do Peso da Régua, a qual regista o início de um inédito cortejo, organizado com o objectivo - pensamos nós - de angariar fundos para a aquisição de material de combate aos incêndios.
Esta surpreendente iniciativa terá sido organizada pelo Comandante José Afonso de Oliveira Soares (1893-1927) como forma de chamar a atenção da população para as dificuldades que a instituição estaria a atravessar resultantes, em parte, da grave crise económica que afectava, nesse período de instabilidade política, toda a região duriense, devido, segundo o historiador Gaspar Martins Pereira, à "permanência de uma conjuntura comercial depressiva, com baixas exportações, face às quantidades produzidas e com preços baixos".
Deste insigne Comandante sabemos que exerceu funções de chefe da secretaria na Câmara Municipal. Todavia, era homem mais conhecido e admirado pelos seus talentos - um dotado artista que escrevia, desenhava (em 1925 desenhou o primeiro projecto do Quartel dos Bombeiros que, caso fosse escolhido, em nada perderia para o actual), fotografava e pintava.
Não estaremos longe da verdade, ao admitir que ele terá idealizado e concretizado a concepção figurativa do carro alegórico (conduzido pelo chefe de esquadra José Maria Leite), que pretendia simbolizar, através recriação de casa a ser salva das chamas do fogo, pelos bombeiros em cima de uma escada, umas das suas mais nobres missões mais que lhe são acometidas.
Mas esta bela imagem, reúne outros pormenores significativos a título de subsídios para a história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. Realce-se, por exemplo, a dedicação e o altruísmo subjacentes à presença dos bombeiros que acompanham o cortejo; o importante apoio da população expresso na assistência; e, ainda, o orgulho em servir uma causa, facto estampado na dignidade do pessoal formado, entre o qual o porta-estandarte, cuja firmeza como transporta o símbolo máximo da associação traduz o mais sério compromisso institucional na protecção das vidas e bens da comunidade ali representada.
O Comandante José Afonso Oliveira Soares, perto dessa data, no seu livro “Apontamentos para a História da Vila de Peso da Régua”, publicado em 1907, no capítulo dedicado às origens da Associação, refere que “o corpo activo da associação era composto de três esquadras e possui mais meios e melhor material, que adquiriu logo que, com o abastecimento de águas da vila foram estabelecidas as bocas de incêndios municipais”.
E, como conhecia as origens da Associação e os seus primeiros anos de vida, confessa em tão notável livro, mais tarde convertido no manual da história da cidade: “ (…) apesar das diligências que alguns dos seus sócios activos têm empregado, ainda não tem o material que de um momento para o outro lhe pode ser necessário”.
Em homenagem ao comandante e para que fiquemos a conhecer melhor a respectiva personalidade, citamos o grande escritor duriense João de Araújo Correia, segundo a crónica intitulada "Configurações", do seu livro "Horas Mortas", na qual faz o retrato do homem e do artista:
“José Afonso Oliveira Soares, faleceu a 21 de Outubro de 1939, com oitenta e sete anos de idade completos, tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas, não foi só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor. Tinha mãos e espírito suficientes para ir muito longe, no caminho da glória, se não tivesse vivido em sáfaro de escolas, estímulos, entusiasmos…Também lhe empeceu, diga-se a verdade, o feitio dispersivo. Foi diletante. Comprazia-se em volitar, de flor em flor, no campo da cultura. Homem sereno, risonho e comodista, seria incapaz de esforço orientado em sentido único. Foi ainda um notável entre vizinhos comerciais -ele, que foi artista. Barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, na vila de Peso da Régua, que sem lhe quis bem, porque o Senhor Soares, à parte os seus talentos, tinha o dom da bonomia inalterável.
Não sei em que jornal antigo publicou o Senhor Soares uma espécie de ensaio que intitulou Configurações. Nele deu conta de diversas figuras desenhadas pelo vento, pelo calor e pela humidade em paredes velhas. Uma dessas figuras que reproduziu no seu estudo era um guerreiro de lança em punho, elmo emplumado e viseira caída.
(…)
Não me lembram outras figuras que acompanhavam o ensaio, a prosa despreocupada do Senhor Soares. Lembra-me o guerreiro – e é quanto basta.”
Depois das palavras de João de Araújo Correia, nada mais há a acrescentar sobre este grande comandante dos Bombeiros do Peso da Régua, exceptuando a referência de que a sua memória se encontra perpetuada através de um busto, erguido no Jardim do Cruzeiro, o qual não só honra o passado dos bombeiros como a história da própria cidade do Peso da Régua.
Esta surpreendente iniciativa terá sido organizada pelo Comandante José Afonso de Oliveira Soares (1893-1927) como forma de chamar a atenção da população para as dificuldades que a instituição estaria a atravessar resultantes, em parte, da grave crise económica que afectava, nesse período de instabilidade política, toda a região duriense, devido, segundo o historiador Gaspar Martins Pereira, à "permanência de uma conjuntura comercial depressiva, com baixas exportações, face às quantidades produzidas e com preços baixos".
Deste insigne Comandante sabemos que exerceu funções de chefe da secretaria na Câmara Municipal. Todavia, era homem mais conhecido e admirado pelos seus talentos - um dotado artista que escrevia, desenhava (em 1925 desenhou o primeiro projecto do Quartel dos Bombeiros que, caso fosse escolhido, em nada perderia para o actual), fotografava e pintava.
Não estaremos longe da verdade, ao admitir que ele terá idealizado e concretizado a concepção figurativa do carro alegórico (conduzido pelo chefe de esquadra José Maria Leite), que pretendia simbolizar, através recriação de casa a ser salva das chamas do fogo, pelos bombeiros em cima de uma escada, umas das suas mais nobres missões mais que lhe são acometidas.
Mas esta bela imagem, reúne outros pormenores significativos a título de subsídios para a história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. Realce-se, por exemplo, a dedicação e o altruísmo subjacentes à presença dos bombeiros que acompanham o cortejo; o importante apoio da população expresso na assistência; e, ainda, o orgulho em servir uma causa, facto estampado na dignidade do pessoal formado, entre o qual o porta-estandarte, cuja firmeza como transporta o símbolo máximo da associação traduz o mais sério compromisso institucional na protecção das vidas e bens da comunidade ali representada.
O Comandante José Afonso Oliveira Soares, perto dessa data, no seu livro “Apontamentos para a História da Vila de Peso da Régua”, publicado em 1907, no capítulo dedicado às origens da Associação, refere que “o corpo activo da associação era composto de três esquadras e possui mais meios e melhor material, que adquiriu logo que, com o abastecimento de águas da vila foram estabelecidas as bocas de incêndios municipais”.
E, como conhecia as origens da Associação e os seus primeiros anos de vida, confessa em tão notável livro, mais tarde convertido no manual da história da cidade: “ (…) apesar das diligências que alguns dos seus sócios activos têm empregado, ainda não tem o material que de um momento para o outro lhe pode ser necessário”.
Em homenagem ao comandante e para que fiquemos a conhecer melhor a respectiva personalidade, citamos o grande escritor duriense João de Araújo Correia, segundo a crónica intitulada "Configurações", do seu livro "Horas Mortas", na qual faz o retrato do homem e do artista:
“José Afonso Oliveira Soares, faleceu a 21 de Outubro de 1939, com oitenta e sete anos de idade completos, tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas, não foi só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor. Tinha mãos e espírito suficientes para ir muito longe, no caminho da glória, se não tivesse vivido em sáfaro de escolas, estímulos, entusiasmos…Também lhe empeceu, diga-se a verdade, o feitio dispersivo. Foi diletante. Comprazia-se em volitar, de flor em flor, no campo da cultura. Homem sereno, risonho e comodista, seria incapaz de esforço orientado em sentido único. Foi ainda um notável entre vizinhos comerciais -ele, que foi artista. Barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, na vila de Peso da Régua, que sem lhe quis bem, porque o Senhor Soares, à parte os seus talentos, tinha o dom da bonomia inalterável.
Não sei em que jornal antigo publicou o Senhor Soares uma espécie de ensaio que intitulou Configurações. Nele deu conta de diversas figuras desenhadas pelo vento, pelo calor e pela humidade em paredes velhas. Uma dessas figuras que reproduziu no seu estudo era um guerreiro de lança em punho, elmo emplumado e viseira caída.
(…)
Não me lembram outras figuras que acompanhavam o ensaio, a prosa despreocupada do Senhor Soares. Lembra-me o guerreiro – e é quanto basta.”
Depois das palavras de João de Araújo Correia, nada mais há a acrescentar sobre este grande comandante dos Bombeiros do Peso da Régua, exceptuando a referência de que a sua memória se encontra perpetuada através de um busto, erguido no Jardim do Cruzeiro, o qual não só honra o passado dos bombeiros como a história da própria cidade do Peso da Régua.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.
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