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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Memórias do 24.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses

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Uma curiosa fotografia de um grande momento na história dos bombeiros da Régua, em que os fotógrafos, ao centro com Noel de Magalhães, a procurarem registar o acontecimento: a apresentação da guarda de honra, pelo Comandante Cardoso, ao Presidente da Republica General, Ramalho Eanes que, no dia 14 de Setembro de 1980, presidiu à cerimónia da sessão solene do 24.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, realizado no Peso da Régua.

A organização deste Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses que, se realiza para discutir os problemas e os anseios no associativismo e no voluntariado e eleger os seus directores para os órgãos, é já uma das páginas mais brilhantes da história da Associação.  

Pela primeira vez, uma a primeira Associação do distrito de Vila Real assumia a responsabilidade de organizar uma reunião magna dos bombeiros portugueses. Era uma decisão acertada da Direcção da AHBV do Peso da Régua, presidida pelo Dr. Aires Querubim – nesse ano nomeado Governador Civil do Distrito de Vila Real -  e do Comandante Cardoso que contou com o apoio inexcedível de Rodrigo Félix, um dirigente que valorizava o passado glorioso dos bombeiros, que se encontrava como presidente da Direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real.

Em 1980, com a realização do Congresso, a Associação e os bombeiros da Régua ganharam notoriedade e reconhecimento no país. Cumprindo e respeitando o espírito dos fundadores, afirmava-se neste momento como pioneira, activa e orgulhosa do seu passado e um futuro cheio de ambição, no ano que comemorava o seu primeiro centenário.

Os bombeiros portugueses fizeram uma festa na cidade da Régua que ganhou colorido, um movimento anormal e mais animação turística, num tempo em que escasseavam os hotéis, os residenciais e até os restaurantes para receber tantas pessoas. Conhecendo bem algumas das dificuldades da logística, o Prof. Renato Aguiar, presidente da câmara, apoiou e acarinhou com todos os meios possíveis a iniciativa para que o maior número de participantes ficasse pela cidade. Na falta de alojamento, o Regimento de Infantaria do Porto emprestou colchões pneumáticos e cobertores para algumas dormidas.

Os trabalhos do Congresso decorreram no Cine -Teatro Avenida, nas imediações do Quartel Delfim Ferreira. As cerimónias religiosas da Missa Solene, celebrada em conjunto pelo Padre Vítor Melícias e pelo pároco da Régua, Luís Marçal, aconteceram no Largo Comendador Delfim Ferreira, em frente do Palácio da Justiça e do Hospital D. Luís. O Coral de Nossa Senhora do Socorro, superiormente dirigido pelo maestro José Armindo, esteve presente para animar com os seus cânticos. Estiveram representados quase todos os corpos de bombeiros nacionais, com os seus homens do comando nas filas da frente, como era o caso do Comandante Armando Cardoso Soares, da AHBV do Dafundo.
A população acompanhou e assistiu com entusiasmo e interesse às manifestações públicas dos bombeiros. As ruas da então vila da Régua encheram-se de pessoas para verem e aplaudirem quer os desfile apeado quer o motorizado.

O Congresso abriu com a presença do Presidente da República, General Ramalho Eanes. Os pormenores mais significativos da visita presidencial foram destacados na revista comemorativa, na crónica “Recordando a visita do Presidente da República General Ramalho Eanes”, assinada pelo saudoso jornalista Jaime Ferraz, director do “Noticias do Douro”, que disse o seguinte:

 “Quando o Congresso dos Bombeiros realizados nesta vila, de 10 a 14 de Setembro, tivemos a honra da presença do Primeiro Magistrado da Nação, General Ramalho Eanes que, além de presidir à sessão solene que todos devem estar recordados se realizou no Cine -Teatro Avenida no dia 14-9-80 bem como as outras solenidades, assistiu ao cortejo das corporações, numa tribuna, para o efeito erigida junto ao edifício da Casa dos Douro.

O Presidente da República, além da respectiva comitiva, fez-se acompanhar da sua esposa e sua presença no referido congresso foi umas das principais notas que se podem recordar e enaltecer.

Os bombeiros voluntários da Régua fizeram a respectiva guarda de honra com todo o seu corpo activo formado junto do Quartel, tendo depois o Presidente da República passado revista à Corporação, e felicitado o respectivo Comandante Carlos Cardoso dos Santos, pela forma como soube apresentar-se e que constituiu um dos pontos fulcrais da visita presidencial”.

Para a história, o acontecimento ficará ainda assinalado pelo aniversário dos 50 anos da Liga dos Bombeiros Portugueses. O Presidente da República, General Ramalho Eanes, compreendendo o significado histórico, reconheceu na Régua os valiosos serviços públicos da Liga, ao condecorar o seu estandarte com o Grau de Membro Honorário da Ordem Militar de Cristo.

No Congresso da Régua que elegeu o Comandante Manuel de Almeida Manta para Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses – as principais conclusões diziam respeito à questão da protecção social dos bombeiros. Este assunto mereceu reflexão e veio a ser aprovada uma deliberação que determinava para “no mais curto espaço de tempo possível, se elabore, discuta e faça aprovar um Estatuto Social do Bombeiro Voluntário como garante dos direitos e deveres de verdadeiros Soldados da Paz”. 

Acontece que esse objectivo só veio a ser alcançado alguns anos mais tarde. Em primeiro lugar, com a criação de um Fundo de Socorro Social destinado ao auxilio imediato dos familiares dos bombeiros acidentados em serviço e à promoção de outras acções sociais, consagrado com a publicação da Portaria nº 237/87, de 28 de Março. E, logo de seguida, foi conseguido o pretendido Estatuto Social do Bombeiro, estatuído pela aprovação da Lei nº 21/87, de 20 de Junho.
Os bombeiros portugueses, na década dos anos 80, conheceram profundas e importantes mudanças na sua organização institucional. Depois do Congresso de Aveiro, começam a reconhecidas várias reivindicações aí exigidas como fundamentais para a melhoria do sector dos s bombeiros. O poder politico dava sinais positivos ao estabelecer as bases administrativas do sector dos bombeiros com a criação do “Serviço Nacional de Bombeiros” (Lei nº10/98, de 10 de Março, o DL nº 212/80, de 9 de Junho e o DL nº418/80, de 29 de Setembro), para a presidência do qual era nomeado, o Padre Vítor Melícias.

Algumas dessas transformações ainda foram discutidas nos debates do Congresso da Régua, que pode dizer-se que fez história ao marcar a viragem de um novo tempo na afirmação dos bombeiros portugueses. Essa circunstância deve ter contribuído para motivar a comparência de uma grande afluência de delegados de todo o país – bombeiros e directores - no Cine -Teatro Avenida, para participarem nos trabalhos e intervirem nos assuntos mais preocupantes.

Não admira que, decorridos 30 anos, este 24.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, realizado pela AHBV do Peso da Régua, que encerrou com a presença do Senhor Ministro da Administração Interna, Dr. Eurico de Melo, esteja vivo na memória de muitos dos seus protagonistas, que acreditavam num futuro melhor para os bombeiros de Portugal.

Mas, esta fotografia tem outro valor histórico para os bombeiros da Régua. Ela capta ainda o Sr. Noel de Magalhães, a fotografar o momento histórico, um distinto director dos bombeiros da Régua, bisneto do 1º Comandante Manuel Maria de Magalhães, nascido em S. João da Pesqueira, em 12 de Outubro de 1921 que, pelo seu trabalho à causa do voluntariado, ao longo de várias décadas, foi reconhecido com o Crachá de Ouro, atribuído pela da Liga dos Bombeiros Portugueses, sob posposta da actual Direcção. Noel de Magalhães deixa o seu nome ligado aos bombeiros da Régua e a mais “obras de bem-fazer” como a Santa Casa da Misericórdia. O seu nome fica ligado à arte. Como fotografo amador de grande qualidade ele lega-nos algumas das melhores imagens do nosso Douro, num estilo cheio de “pureza e beleza da genuidade humana…sobretudo quando acontece o mistério da fé duriense, ou a transformação do suor em vinho, entre sorrisos dos rapazes e das mulheres, colhendo a novidade, que misturada com a alegria escorreu pelas pernas dos homens, em cada lagarada”.
Conta 88 anos e tem uma vida normal. Tivemos a sorte de o conhecer e o prazer de partilhar a sua amizade e aprender com os seus conselhos. As suas memórias ajudam-nos a reconstituir uma importante parte do passado dos bombeiros da Régua.
- Peso da Régua, Julho de 2009, José Alfredo Almeida. Atualizado em Outubro de 2010.
















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- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:
  • Memórias dos Bombeiros em Poiares com os Salesianos - Aqui 
  • As vidas que não se esquecem nos Bombeiros - Aqui!
  •  Os bombeiros de escritório - Aqui! 
  • Bombeiros Semi-Deuses - Aqui!
  • As "madrinhas" dos Bombeiros - Aqui! 
  • A benção da Bandeira - Aqui! 
  • Comandante Lourenço de Almeida Pinto Medeiros: Fidalgo e Cavaleiro dos Bombeiros da Régua - Aqui! 
  • A força do voluntariado nos Bombeiros - Aqui! 
  • A visita do Presidente da Républica Américo Tomás - Aqui! 
  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui! 
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui! 
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui! 
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui! 
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui! 
  • Os bombeiros no velho Cais Fluvial - Aqui! 
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui! 
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  •  Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui! 
  • A Tragédia de Riobom - Aqui! 
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui! 
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui! 
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui! 
  • O Baptismo do Marçal - Aqui! 
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui! 
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui! 
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  •  Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui! 
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!
Link's:  
  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui! 
  • Exposição virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um livro especial

Ao Dr. Bernardino Zagalo

Das homenagens e louvores aos bombeiros da Régua dedicadas pelo seu espírito de abnegação, brio e heroísmo há uma, muito especial que, pela sua raridade, autoria e forma invulgar como foi divulgada, não pode ficar esquecida nas páginas da história da associação nem na memória colectiva.

Não é um diploma nem sequer uma medalha de ouro concedida por alguma entidade pública a reconhecer o mérito, a dedicação pública, a generosidade, o comportamento exemplar, a coragem e abnegação e os serviços distintos pelo que, nas suas arriscadas missões de socorro, fizeram os bombeiros.

Ao longo da sua existência, os bombeiros da Régua foram distinguidos com importantes distinções e títulos honoríficos. Sem querer valorizar nenhum em especial, um brilha mais alto e destaca-se nas glórias dos bombeiros da velha guarda, a Ordem Militar de Cristo, colocada no estandarte da Associação pelas mãos do Presidente da República, General Óscar Carmona.

Mas, os bombeiros da Régua têm uma homenagem que, se não valeu mais que a distinção das ditas comendas, ajudou a levar à imortalidade dos bombeiros que combateram o grande incêndio, em 26 de Junho de 1911, na cidade de Lamego.

Poucos sabem que o autor do notável louvor, foi o Dr. Bernardino Zagalo, advogado e escritor de novelas de índole regionalista e uma peça de teatro intitulado O Heitorzinho, popularizado em reapresentações no palco de teatro de amadores e consagrar o exemplo de um homem justo e bom, natural da freguesia de Loureiro, que o povo veneração devoção e reconhece, ainda hoje, como um santo milagreiro.

O Dr. Bernardino Zagalo, lamecense pelo nascimento, foi um verdadeiro reguense pelo coração. Apaixonado à terra adoptiva, onde teve a sua residência dedicou-se às actividades do foro judicial. Cidadão inteligente e activo trabalhou para o bem comum com dinamizador das Festas do Socorro e o criador e impulsionar da  Parada Agrícola, uma espécie de primeira e moderna feira agrícola para promoção dos vinhos do Douro e outros dos produtos agrícolas da região duriense.

Nesse tempo, a Associação dos Bombeiros da Régua já era uma instituição muito prestigiada, que não se ocupava só em combater os fogos, mas tinha nobres objectivos, auxiliava e promovia iniciativas sociais e culturais da sociedade civil. A normalidade era a vida associativa próxima dos associados e das pessoas que apoiavam os bombeiros. Dr. Bernardino Zagalo, como vizinho do primeiro quartel dos bombeiros, situado então no Largo dos Aviadores, conhecia-lhes os exemplos de altruísmo, abnegação e heroísmo. Não é de estranhar que tivesse por aqueles homens de paz e fraternidade, velhos combatentes de fogos, uma respeitável relação de amizade e uma elevada admiração.
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Já que se recordou um dos grandes incêndios de Lamego, temos presente uma pequena nota história da “assombrosa catástrofe” que, no dia 26 de Junho de 1911, pelas 21.00 horas, reduziu a um esqueleto de ruínas e cinzas uma grande parte das casas da movimentada Rua de Almacave. Rezam as notícias que nem a Igreja da Misericórdia foi poupada à violência das chamas que a destruiu completamente, o que tornou impossível a sua reconstrução.

Para ajudar a apagar este incêndio foram chamados os bombeiros da Régua, comandados por José Afonso de Oliveira Soares. Combateram-no ao lado dos bombeiros de Lamego, mas a sua acção foi determinante pela sua coragem e heroísmo, o que evitou que o fogo se alastrasse às ruas envolventes e causasse mais pânico e prejuízos.

Natural de Lamego, o Dr. Bernardino Zagalo terá registado a algumas das brutais imagens que correram desse incêndio e tenha ouvido falar da destemida e corajosa acção dos bombeiros da Régua nesse fogo. Apesar de ser lamecense, não se sentiu diminuído em testemunhar aquela sua missão e o “tamanho do seu heroísmo se glorificou para todo o sempre”.

No seu livro Os Desherdados que fez questão em dedicar a um amigo, o Conde de Saborosa e também aos Bombeiros Voluntários da Régua e cujas vendas destinou que revertessem para os cofres da associação, confirmou a gratidão a esses bombeiros, com este poderoso elogio: 

“Este livro não se expõe á venda.

É uma homenagem, embora obscurissima, a um amigo extremoso e aos Bombeiros Voluntários da Regoa.

Os Desherdados destinam-se a sêrem distribuidos ás pessoas de coração que desejem contribuir com o seu obulo caridoso para o cofre da benemérita Associação dos Bombeiros Voluntarios da Regoa, ficando as despesas publicação a meu cargo.

Como lamecense amantíssimo da minha terra, venho assim testemunhar a minha gratidão á briosa e esforçada colectividade que teem prestado primorosamente serviços humanitários de alto relevo e superiores a encarecimentos banaes, e que com tamanho heroísmo se glorificou para todo o sempre no pavoroso incêndio que abrazou e reduziu a cinzas, em 26 de Junho de 1911, vinte e um prédios urbanos, salvando das labaredas temerosas o bairro mais importante da cidade de Lamego e o histórico povoado do Castello (…)".

Dizia o Dr. Zagalo que era uma homenagem obscuríssima. Ora, de obscura é que não tem mesmo nada. Ao imprimi-la nas primeiras páginas de uma sua obra literária, imortalizou os bombeiros da Régua como admiráveis dos valores do altruísmo. A literatura raramente os glorifica como personagens principais, mas sabe na vida real, verdadeiros heróis.

Esta homenagem de um escritor, ainda que desconhecido para maioria das pessoas, à missão dos bombeiros foi uma excepção que envaidece a quem foi dedicada, neste caso, os bombeiros da Régua.

Quando um escritor dedica um livro e o dedicado ao exemplo de coragem dos bombeiros, esta atitude vale muito mais que medalhas e títulos honoríficos. O livro depois de chegar aos leitores será sempre uma obra imortal. É isto que está acontecer com Os Desherdados, uma obra que foi escrita há mais de 100 anos, mas que existem antigas edições à espera uma consulta, mais atenta e demorada, em estantes particulares e públicas.

A mensagem do livro tem um significado importante que, em certa medida, permite entender os riscos de missão dos bombeiros. Se ela revela dos genuínos ideais de um ilustre cidadão que adoptou a Régua, não deixa espelhar o reconhecimento de uma sociedade que sabia respeitar a atitude cívica dos cidadãos mais solidários e generosos. Aqueles homens que deixaram provas de heroísmo ao serviço de uma missão de socorro em Lamego.

A história dos Bombeiros da Régua escreve-se com a abnegação, solidariedade e coragem daqueles homens que juraram cumprir o lema “Vida por Vida”. O dever de cada bombeiro é ajudar os seus semelhantes quando as vidas e bens estão em perigo. Eles não socorrem para serem reconhecidos como heróis. Aquilo que o Dr. Bernardino Zagalo escreveu no seu livro sobre os Bombeiros da Régua é mais uma homenagem ao seu esforçado e valente trabalho perante a destruição devoradas dos fogos. È um louvor, também de alguém que está grato!

Certos livros voltam quando os pensávamos que estavam esquecidos, como este do Dr. Bernardino Zagalo. E ainda bem, assim as novas gerações podem saber que os bombeiros da Régua alcançaram um digno reconhecimento pelos seus talentos de humanidade e de heroísmo e, por ser mais nobre que a atribuição de qualquer medalha de ouro, atingiram o estatuto da Imortalidade.

A partir de agora, os bombeiros da Régua sabem que, na sua longa história, há um livro especial, intitulado Os Deserdados, que publicado há cem anos, os evoca pela sua brilhante competência e também pela coragem e abnegação no combate a um dos maiores incêndio ocorridos em Lamego, prestigiando assim o bom nome da benemérita associação.
- José Alfredo Almeida*, Régua, Julho de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
  • Um outro post - O Nosso Dr Zagalo
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Um Livro Especial
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 21 de Julho de 2011
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Edição de Jaime Luis Gabão para Escritos do Douro 2011 em 19 de Julho de 2011.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Adolfo Pauman

Com este título Uma excursão a Vigo, António Guedes escreveu no extinto Vida por Vida, em finais de 1970, uma deliciosa crónica dos seus tempos de bombeiro.

Na crónica evoca uma história fantástica de uma viagem dos bombeiros da velha guarda da Régua que fizeram com os bombeiros voluntários do Porto à cidade galega de Vigo. Apenas não referiu a data exacta em que aconteceu aquela viagem, mas terá sido entre 1910-20.

Este antigo chefe dos bombeiros da Régua recorda os bombeiros da velha guarda, com os quais teve a ventura de se acamaradar, como Afonso Soares, Camilo Guedes, Joaquim de Sousa Pinto, Lourenço Medeiros, Luís Maria da Cunha Iharco, José Vicente Ferreira da Cunha, João Pinto Cardoso - conhecido por João “Latas”- , Justino Lopes Nogueira, Aires Saldanha, José Maria de Almeida e José da Silva Bonifácio (pai),  o  médico, o farmacêutico privativos e o capelão, o Padre Manuel Lacerda de Oliveira Borges.

Quem também seguiu naquela excursão a Vigo foi Adolfo Pauman, actor dramático de nacionalidade espanhola que, sob o comando de Afonso Soares, se alistara também como bombeiro voluntário, depois de fixar a sua residência na Régua.

E do ilustre actor já aqui se tinham deixado umas breves notas, mas não sabíamos nada mais da vida. Não sabíamos e desconhecíamos o que na crónica, o António Guedes tinha revelado algo mais que iluminava a sua vaga sombra. Conta-nos que o actor Adolfo Pauman abandonou as artes cénicas para se dedicar ao comércio na Régua. Para ganhar o seu sustento, possuiu uma moderna relojoaria e instalou-a numa casa que ainda existe na esquina da Rua João de Lemos com a Rua Marquês de Pombal.

O actor Adolfo Pauman não ficou conhecido. A Régua comercial não recorda a sua existência, nem sabe que teve um antigo actor famoso à frente de um ramo de negócio, do seu passado mais distante, como um dos seus pioneiros.

Se os reguenses não querem saber quem foram os seus antepassados no comércio local, hoje também não sabem que Adolfo Pauman foi actor e bombeiro voluntário. Aqueles que, na sua época, gostavam de ir ao teatro para o ver e lhe aplaudir as suas interpretações, não deixaram memórias. Com o decorrer tempo, o grande actor foi esquecido como se tratasse de um comum mortal. A associação dos bombeiros, por sua vez, não guardou nada que o permita evocar como um dedicado voluntário. O seu nome, como outros exemplares cidadãos, quase ia ficando esquecido na pedra de algum túmulo do cemitério.

Se o seu nome chegou à posteridade, foi porque alguém destacou o seu nome como essencial para se estudarem os primórdios do teatro na Régua. No seu livro da história vila e concelho do Peso da Régua, Afonso Soares, que o admirava, elogiou-o e divulgou-lhe uma fotografia do seu rosto e pose de meio corpo.
Quem observar voltar aquela fotografia pode reparar que o António Guedes não se enganou ao descrevê-lo como um ancião que com “os seus cabelos cumpridos e receitáveis barbas brancas, mais parecia um velho patriarca das Índias…”. Basta juntar a imagem às suas palavras, completam-se como se fossem uma única visão deste homem que, por adopção, se tornou como nós, um reguense.

Nessa excursão a Vigo, entre as divertidas peripécias, Adolfo Pauman não deixou que aquele grupo de velhos garbosos bombeiros da Régua fosse alvo de uma tentativa de burla de um galego nada escrupuloso. Pensando que ele, que o falar espanhol seria um trunfo intercedeu pelos reguenses, mas os anos que já levava a viver na Régua tinham-no feito perder o sotaque da sua língua. Para o seu compatriota galego, Adolfo Pauman era mais um português…! Apanhou, pelo seu gesto, um valente susto…

Se querem saber o resto do episódio passado com o Adolfo Pauman e aqueles “imortais” bombeiros devem continuar ler a crónica bem escrita e repleta de humor do Chefe António Guedes.


Apenas, para concluir, gostava de repetir a sua nostálgica conclusão: “Passou-se isto há muitos anos! Já todos desapareceram do número dos vivos”. Desta vida efémera sim, mas não desaparecem da nossa memória colectiva o Adolfo Pauman – o actor famoso, o bombeiro solidário e o comerciante de relojoaria – nem os bombeiros da velha guarda … Enquanto alguém olhar de frente o seu passado.


- Colaboração de J. A. Almeida* - Régua, para "Escritos do Douro" em Abril de 2011.
- Leia também "O actor que foi bombeiro". Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.

ADOLFO PAUMAN
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 17 de Março de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
ADOLFO PAUMAN

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Os meus bombeiros

                                                                                                                            José Alfredo Almeida
      
Lembro-me de ler uns versos de Camilo Guedes Castelo Branco em que evoca a missão heróica dos bombeiros. Li-os escritos sobre uma fotografia a preto e branco onde está retratada a figura de um bombeiro sem que se veja o rosto, fardado a rigor, a sair de uma casa em chamas, com uma criança ao seu colo. São estes os versos: “E eis que em meio trágico do braseiro/surge a figura altiva do bombeiro/ Trazendo ao colo o pequeno ser”.

Não sei precisar a data em que os escreveu e chegaram a ser publicados. Apenas posso dizer que foram declamados, no verão de 1950, numa brilhantíssima récita de artistas amadores e da Orquestra Reguense, dirigida pelo professor José Armindo, em benefício da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Régua.

Quando aconteceu essa récita, Camilo Guedes Castelo Branco já não era vivo, falecera em 25 de Agosto de 1949, com 81 anos, mas o seu filho Jaime Guedes era, nesse tempo, o presidente da direcção da associação.

O poeta Camilo Guedes Castelo Branco não fez parte do grupo dos fundadores da Companhia dos Bombeiros Voluntários da Régua, como então se dizia, mas foi pioneiro ao alistar-se aos 17 anos como bombeiro. Conheceu os principais fundadores da Companhia, aprendeu os ensinamentos do combate aos fogos com os três primeiros comandantes e teve formação com o inesquecível Comandante dos Bombeiros do Porto, Guilherme Gomes Fernandes.

Na Régua do seu tempo, o poeta ficou mais conhecido como comandante dos bombeiros e pelo seu exemplo de dever cívico, mas é injusto não o recordar pelas outras facetas da sua vida, onde se revelou um cidadão empenhado política, social e culturalmente. Deve ser lembrado como um defensor moderado do ideário político republicano no concelho da Régua, onde exerceu as funções de administrador. Este discreto ajudante de notário foi ainda jornalista na imprensa local e dirigiu jornais importantes que se publicaram na Régua, como o jornal O Cinco de Outubro. Publicou apenas um livro, o Fraternais Dolores (1923), e deixou muita poesia dispersa nos jornais. Por editar ficou o livro Arias Sertejanas, mas isso não impediu que Camilo Guedes Castelo Branco fosse reconhecido como poeta “lírico de altíssimo talento”, como disse João de Araújo Correia, que incluiu na sua Lira familiar uma das poesias do nosso comandante. Os seus dotes literários brilharam também como autor de peças de teatro, destacando-se a opereta As Andorinhas, que foi musicada pelo maestro Almeida Saldanha e popularizada dentro e fora da Régua nos palcos do teatro amador.

Mas vamos ao que interessa, que são aqueles versos dedicados a um bombeiro sem nome e sem rosto. Quem concebeu a ideia de associar os versos do poeta a uma fotografia de um bombeiro com uma criança ao colo, teve como intenção construir uma imagem apelativa ao sentimento, evidenciando o sentido muitas vezes dramático da missão de um bombeiro, que nunca procura A SUA HONRA NEM A SUA GLÓRIA na hora de salvar uma vida em perigo.

Pela qualidade literária, pela vibração afectiva e pelo sopro de humanidade que dela se desprende, gostava de lembrar e partilhar a poesia “O Bombeiro”, donde foram retirados aqueles versos:  

“No silêncio da noite, de repente,
Ergue-se a voz estrídula dos sinos
      num longo baladar
E à distância brilhou, sinistramente,
Um clarão, que tingiu a luz do luar
    de laivos purpurinos.
“Fogo! Fogo!”-alguém diz com aflição.
E logo a pobre gente do lugar,
toda cheia de espanto e de canseira,
Pôs-se a correr, gritando, em direcção
    da medonha fogueira.

O incêndio crepitava 
e, batido do vento, devorava
Uma pequena casa arruinada.
E, perto, uma mulher d`olhar aflito
erguia as mãos ao céu calmo e infinito
a chorar e a gemer desesperada.
Ali, em meio da fogueira, tinha
essa mulher um filho, a criancinha 
mais bonita da velha povoação,
e o fogo, em seu horrível avançar, 
iria dentro em breve transformar 
o seu pequeno corpo num carvão.

Metia dó a pobre mãe! Mas como
Salvar-lhe o louro e cândido filhinho,
    se a labareda e o fumo,
num espantoso e horrível torvelinho,
ameaçam devorar rapidamente
quem se abeirar dessa fornalha ingente?

Podes chorar, mulher! ninguém te acode.
Chora, que és mãe; mas vê que ninguém pode
esse anjinho das chamas libertar.
Olha: em meio da tétrica fogueira
anda a morte, feroz e traiçoeira,
    a acenar, a acenar…

Mas nisto, junto ao prédio incendiado
surge um homem soberbo de valor.
A multidão ansiosa solta um brado
    de espanto e terror.

Ele caminha sempre com a firmeza
e a intrepidez estóica dos heróis;
escala a casa em chamas com presteza,
escala a casa em chamas…e depois…
    depois desaparece.
E a pobre mãe aflita cai de bruços
A murmurar baixinho, ente soluços,
    Uma prece…

Na multidão, silêncio. Só se ouvia
um secreto rumor, que parecia
o palpitar de muitos corações…

Senhor! És pai e cheio de bondade!
estende lá do azul da imensidade
O teu olhar repleto de perdões!

E eis que em meio trágico do braseiro
surge a figura altiva do bombeiro
Trazendo ao colo o pequeno ser.
Passou…desceu…e dentro em pouco, ansioso,
depositava o fardo precioso
no regaço da pálida mulher.”

O poeta sabe do que fala; como velho bombeiro que foi, retirado do corpo activo, parece recordar uma história real de um fogo, um que ele próprio combateu com o seu espírito abnegado e corajoso ou um dos muitos em que comandou. São esses heróis sem tempo, sem rosto e sem nome que, para protegerem as nossas vidas e bens, sacrificam, se for preciso, a sua própria vida. O comandante Camilo Guedes Castelo Branco ensinou o seu lema aos seus bombeiros: “Para se salvar uma criatura de uma morte certa, todos temos a obrigação de sacrificar seja o que for, mesmo que sejamos nós próprios”. 

Os bombeiros são heróis anónimos. Como está visível na poesia, a medalha mais importante é o bem que fazem; são a sua coragem e o seu altruísmo que nos devolvem nos maus momentos a esperança, a alegria e o sorriso de eternamente gratos pela sua existência.
…………………………………………………………………………………………………………………………
As minhas recordações da infância estão povoadas com os primeiros bombeiros que vi a combater um fogo que ameaçou destruir uma velha casa nas Caldas do Moledo, lugar onde nasci e dei os meus primeiros passos. Se não fossem esses corajosos bombeiros, as chamas teriam reduzido a cinzas a vida de uma família pobre e os seus míseros haveres. Nunca soube o nome dos bombeiros que apagaram esse fogo, mas eles ficaram-me retidos nas malhas da memória como heróis.
Mal sabia eu que, muitos anos depois deste fogo, as voltas do destino me pregavam uma partida e faziam-me ser um bombeiro, sem farda nem capacete, pois que fui convidado para assumir a Direcção da Associação, isto é, tomar conta das contas, dos papéis, das mil e uma burocracias que não os podem ocupar para estarem sempre prontos a responder ao toque da sirene. 
Tive fortes razões para recusar o convite, mas o apelo das minhas memórias de um fogo fizeram com que aceitasse, com honra, um cargo directivo para o qual não sabia se estava preparado, nem se teria competência para estar ao lado de homens que eu admirava e eram os meus heróis. O certo é que tive de aprender com os bombeiros no activo, e, no meio de muitas tormentas, deixei-me ficar na companhia deles. Quando olho para o calendário do tempo, vejo que já passaram cerca de quinze anos a dirigir os nossos bombeiros. Não são muitos os anos a que me dedico com zelo à instituição se os comparar com a sua longevidade já mais que centenária. Confesso que me limitei a dar um pequeno e humilde contributo para a tornar melhor, como fizeram todos os meus antepassados. Aprendi com os bombeiros lições de sacrifício e solidariedade e actos de muita humanidade.

Por isso, muitas vezes me recordo daqueles versos de Camilo Guedes Castelo Branco impressos numa fotografia eterna que me não deixa esquecer os meus bombeiros, heróis sem nome nem rosto que continuam a apagar o fogo da minha memória, lá nas ruínas do velho Moledo, cumprindo o espírito da sua missão: VIDA POR VIDA.
- Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013.
Nota do autor*: Este título fico a dever por inteiro ao Dr. Camilo de Araújo Correia que, em primeira mão, deu origem a uma sua deliciosa crónica, para nos contar histórias dos tempos em que foi Presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros da Régua.
    • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
    OS MEUS BOMBEIROS
    Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 15 de Dezembro de 2011
    (Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)




    Clique  nas imagens para ampliar. Colaboração de texto e imagens do Dr. José Alfredo Almeida e edição de Jaime Luis Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2011. Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

    segunda-feira, 15 de outubro de 2012

    PESO DA RÉGUA - XV Feira do Livro do Douro

    PROGRAMA

    22 SETEMBRO, sábado
    18h00
     Abertura oficial da XV Feira do Livro do Douro
    Atuação da Banda às Riscas
    21h30
     Concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa

    23 SETEMBRO, domingo
    10h00
     Abertura da Feira do Livro
    21h30 Espetáculo pela Universidade Sénior do Peso da Régua
    24 SETEMBRO, segunda-feira
    10h00
     Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    14h00 Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    21h00 Apresentação do livro A Fúria do Venezuelano de Gorgi Batista
    21h30
     Concerto pela Academia de Música do Peso da Régua

    25 SETEMBRO, terça-feira
    10h00
     Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    14h00 Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    21h00 Apresentação da Revista Geya, pela Tertúlia João de Araújo Correia, por Hercília Agarez
    21h30
     Apresentação do livro Não nos Roubarão a Esperança, da autoria de Júlio Magalhães

    26 SETEMBRO, quarta-feira
    10h00
     Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    14h00 Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    21h00 Apresentação do livro A Lua está ali, da autoria de Amparo Rainha
    21h30
     Teatro infantil Volta ao Mundo em 10 Instrumentos

    27 SETEMBRO, quinta-feira
    10h00
     Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    14h00 Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    21h00 Espetáculo Gigantes Pela Própria Natureza21h30 Conferência: O Homem e os Livros, pelo Prof. Doutor António Barros Cardoso

    28 SETEMBRO, sexta-feira
    10h00
     Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    14h00 Visita à Feira de alunos do pré-escolar e 1.º ciclo
    21h30 Apresentação do livro Cartas da Maya - O Dilema, da autoria de Maya
    22h00
     Teatro 5 encalhadas e 1 casamento, pelo grupo Tear Douro

    29 SETEMBRO, sábado
    10h00
     Abertura da Feira do Livro
    18h30 Apresentação do livro Fármaco, da autoria de António José Borges, por Fernando Pinto Amaral (*)
    21h30 Apresentação do livro Os Anjos Não Têm Asas, da autoria de Ruy de Carvalho
    22h00
     Espetáculo musical com Las Çarandas24h00 Encerramento da XV Feira do Livro do Douro

    LER... Um Mundo de Descobertas
    • (*) FÁRMACO - António José Borges - Para Platão, a linguagem é um pharmakon, um remédio, um veneno, um cosmético. Fármaco surge como remédio do imaginário, veneno plurissignificativo do sentimento e cosmético do sentido telúrico e da memória. Tempo e acção determinam a leitura crítica das três secções que compõem o livro: «O selvagem peso do gesto», «Pharmakon» e «Sombra». Todas entroncam no Fármaco que age sobre o sonho e os sentidos da memória. António José Borges nasceu no Peso da Régua. Vive em Lisboa, onde é professor e investigador. Colabora em diversas revistas de literatura e cultura. Publicou os livros Timor – As Rugas da beleza (crónicas), em 2006; de olhos lavados / ho matan moos (poesia – edição bilingue e ilustrada), em 2009; José Saramago – da Cegueira à Lucidez (ensaio), em 2010.
    Fonte - Biblioteca Municipal de Peso da Régua e internet. Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Atualizado em Outubro de 2012. Permitidos copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue somente com a citação da origem/autores/créditos. 

    quinta-feira, 3 de outubro de 2013

    Notas soltas e pessoais sobre a Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

    Exerço a profissão de advogado de corpo inteiro, ou, melhor dito, de fio a pavio. Por isso nunca me dediquei à escrita, salvo nos articulados, tal como meu Pai. Já meu avô João de Araújo Correia teve vocação para a escrita, tardia, mas séria.

    Exponho esta minha limitação, por mera cautela, e também pelo respeito devido ao leitor.

    Pediu-me o Dr. Alfredo Almeida umas breves notas escritas sobre a Associação dos Bombeiros da Régua. Ora, os “Bombeiros da Régua” trazem-me sempre à memória  três episódios.

    Em primeiro lugar, o gozo com que o meu Pai  tratava o irmão Camilo, por ter sido Presidente dos Bombeiros. Médico ilustre, o meu tio Camilo nunca por nunca foi pessoa de apagar fogos. Nem devia saber bem o que era uma mata. De modo que aquele cargo foi sempre fonte de piadas entre meu Pai e meu Tio, que terminavam em profunda gargalhada, ora de um, ora de outro.

    Em segundo lugar, recordo a guarda de honra, que presenciei, à porta do edifício dos Bombeiros, prestada ao então Ministro da Cultura, Lucas Pires. Eu contava apenas catorze anos, a democracia tardava em consolidar, de modo que uma visita pessoal do Senhor Ministro a casa de meu avô foi um momento alto da vida da Régua, à qual os Bombeiros se associaram de forma majestosa.

    Em terceiro lugar, o episódio mais divertido, embora com uma pitada de humor negro.

    No ano de 1952 o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra viajou até ao Brasil. Foi, no entanto, uma verdadeira embaixada, pois seguiram alunos, professores, suas esposas e ainda o Reitor. Só para se ter uma ideia, a viagem durou quatro meses, algo que hoje seria impensável.

    O meu Pai  também embarcou, na altura com vinte e três anos. O avô João, inicialmente, não o deixou ir. O Prof. Paulo Quintela teve de interceder pessoalmente junto dele, garantindo-lhe que o Joãozinho, durante a viagem, nunca andaria de avião. O avião era encarado pelo meu avô como um bicho malévolo e perigoso. Mas, com esta garantia, meu Pai fez a mala e lá foi, felicíssimo.

    O TEUC permaneceu no Brasil três meses, sempre em viagem de um lado para o outro, e realizou grandes espetáculos de teatro. Algumas dessas viagens foram de avião,  daqueles com hélices rudimentares. Tinha de ser assim, pois a vastidão do Brasil a isso obrigava. O meu avô nunca sonhou tal coisa, como é evidente.

    Sucede que uma dessas viagens correu muito mal. O avião caía repetidamente em poços de ar, com solavancos terríveis, ao ponto dos ouvidos sangrarem, e de alguns  serem acometidos por desmaios. No meio de semelhante aflição, o Tóssan, actor e humorista, para desanuviar o ambiente,  saiu-se com esta:

    “É pá, não faz mal, se morrermos todos será a nossa grande oportunidade de termos funerais nacionais. Notícias em todos os jornais. Um País a chorar os seus estudantes e professores. As urnas todas arrumadas na Sala dos Capêlos. Fantástico! Não se pode perder isto por nada deste mundo! E depois, claro, vêm os bombeiros de cada terra buscar os seus filhos. Já estou mesmo a ver os Bombeiros da Régua, com as fardas reluzentes e alinhadas,  a virem buscar o Joãozinho.”

    A Associação dos Bombeiros da Régua foi lembrada, lá nas alturas,  há tantos anos e por este motivo!

    Deve, por isso, e por tudo, ser preservada para sempre, pois as memórias do passado tornam-se mais bonitas  no trilho de futuro radioso.
    - Gabriel Araújo Correia.

    Clique  na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editados para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

    quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

    Memórias dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

    Clique na imagem para ampliar
    Por *M. Nogueira Borges 

    Lembrar-se-ão alguns leitores do que disse Thomas Mann, ao deixar a Europa, em 1938, para se estabelecer na América: «Onde eu estou, está a cultura alemã.» Hoje, 74 anos depois, um português que emigre, repete o que gemiam, com outras palavras, os da década de sessenta, quando a salto, despedaçavam o corpo nas escarpas da fronteira: «Onde eu estou, está a crise portuguesa.» Por isso eles fugiam; por isso agora o fazem - ao menos! - conforme a lei, mas igual apuro.

    Vivemos um tempo de desgosto patriótico, de míngua financeira e moral. Há quem brade aí pela reincarnação salazarenta de chicote, pés descalços e uma malga de sopa; quem subscreva abaixo-assinados pelo julgamento, nos pretórios nacionais, dos políticos de ontem; os que defendem um castigador emagrecer fiduciário para – num brasileirismo que a indigência do acordo ortográfico já não faz corar – o povo, esse malandro perdulário, cair na real.

    É nestas alturas que me apetece sair deste ambiente de funeral, longe dos noticiários de sangue e de morte, da fome calada e do ódio recalcado. Afastar-me das quadraturas redondas ou rectangulares e dos seus argumentos de plástico, dos discursos com palavras redondas que urdem lençóis de celofane a fingir água em palco de teatro.

    Agarro-me, então, às biografias e aos livros de memórias heróicas. Umas e outros transportam-me ao tempo da cidadania e do amor comunitário; à transparência de gente de relevo que, por excelência própria, se alcandorou ao cume da história. É a diferença das almas, as nascidas na elevação e as desfeitas na frieza; as que sabem que o orgulho destrói o amor e a tolerância cristianiza a felicidade; as que juram que a virtude é a ânsia de compor a vida como uma obra de arte e a beleza e a alegria de fazer da dádiva uma vida; aquelas que não ignoram a diferença entre suportar e sofrer, e por isso, não discutem sacrifícios nem as horas de os fazer ou contabilizar; as que vivem dentro de homens que aprenderam de nascença a salvação da humanidade na não opressão dos seus semelhantes, mas na fraternidade do abraço que dá tudo sem esperar paga.

    O título que encima esta crónica é igual ao do livro que o dr. José Alfredo Almeida publicou, em edição da Mosaico de Palavras, acerca da Associação dos nossos bombeiros, a que ele preside. É uma surpreendente e cativante obra, escrita com emoção e, por isso, me comove, com muito trabalho de pesquisa e, perante a qual, me dobro. Aqui estão as façanhas de homens honrados na sua farda e no seu exemplo. São memórias, factos e figuras, enquadradas na nossa HISTÓRIA; da viticultura – ora ajustada ora rapace - à psicologia humana – ora refinada ora decadente -; do teatro à literatura; da grandeza popular à debilidade política da época, afinal de todas as épocas; mas tendo sempre como matriz descritiva a luta dos NOSSOS BOMBEIROS. O autor esconde o panegírico da heroicidade daqueles, os seus feitos, as suas excepcionalidades. Emociona-me o carinho que o José Alfredo Almeida coloca na defesa apaixonada do voluntariado, na adoração pela saga dos homens da paz, na comparação entre esses tempos com os de hoje e das lições que se retiram.

    Depois, ele tem a prerrogativa de saber despertar memórias que me transportam às noites de breu ou às manhãs doiradas; aos dias de gelo ou de esplendor solar; às tardes de namoro febril ou às lágrimas de paixões desfeitas nos bardos da minha terra; ao toque da sirene, subindo o Peso até ao alto de S. Gonçalo, e o primeiro fogo da minha infância; a aflição de meus avós paternos, no Côto, a ver, ao fundo, a desgraça de Riobom; os incêndios da Viúva Lopes e a morte do grande tipógrafo Figueiredo; dos Fortunatos, onde a minha mãe escolhia os tecidos; da Flor do Adro e dos cafés que lá tomei; da tragédia da ponte e das cheias do rio, que chegavam quase ao largo do Cruzeiro. Meu Deus! Benditos os que escrevem A MEMÓRIA!

    Ele fala-me do que aconteceu sem saracoteios piegas; vai longe e fundo aos arcanos da lembrança para o revivalismo sadio das gestas dos bombeiros reguenses; esquadrinha os arquivos, com entusiasmo e gosto, na busca do papel que decifre uma interrogação; investiga uma pista com o suor da ansiedade e serena no sorriso do achado.

    O autor tem, num texto recordativo, que não consente a ficção, espaços de escrita brilhante, onde se reflecte o talento de justapor o passado aos modos de hoje, um realismo que me atrevo a classificar de majestático, em mistura com um sentimentalismo que só os desumanos não percebem, a procura do melhor termo, uma ênfase nunca despropositada da tese que se defende, e por isso o trágico descritivo – único modo de “valorizar realmente” o acontecido. Anoto, sem afectações de escolha, as paginas 21-25; 62-66; 113–116; 130-133; 157-158; 159-163; 170-172; 173-176, e todas as referidas aos escritores médicos João de Araújo Correia e seu filho Camilo, que catalogam o livro com a chancela do esmero.

    Com a vida dos nossos bombeiros vem a documentação fotográfica e os seus heroísmos; as citações de quem os serviu e os perfis dos seus comandantes; os esparsos desconhecidos, que parecem ainda transmitir os antigos cheiros das ruas ou das margens do rio; as ascendências galegas ou vareiras e a nostalgia do “pouca-terra” do Tua; a primeira biblioteca que a associação fundou e as peças teatrais pueris mas solidárias; uma saudade gostosa desses tempos inocentes mas corajosos, de necessidade mas humanamente grandes, em que não se apreçava uma ajuda nem discutia uma abnegação.

    Gosto dos livros assim: escritos com alma, coração e saudade; são genuínos, sentidos e respeitadores da HISTÓRIA.

    3.2.12
    • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor e poeta do Douro-Portugal. Nasceu no lugar de S. Gonçalo, freguesia de S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 12.10.1943. Frequentou o curso de Direito de Coimbra, cumpriu o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial mil.º e enveredou pela profissão de bancário. Tem colaboração dispersa por diversos jornais, nomeadamente: Notícias (de Lourenço Marques); Diário de Moçambique (Beira), Voz do Zambeze (Quelimane), Diário de Lisboa, República, Gazeta de Coimbra, Noticias do Douro, Miradouro, Arrais e outros. Em 1971 estreou-se com um livro de contos a que chamou "Não Matem A Esperança". (In 'Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses', coordenado por Barroso da Fonte. Manuel Coutinho Nogueira Borges está no Google

    Clique nas imagens para ampliar. Este texto está também publicado na edição do semanário regional "O Arrais" de 16 de Fevereiro de 2012. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em  Fevereiro 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.