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segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Padre Manuel Lacerda - Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua.

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Este retrato de Dezembro de 1956 conta várias histórias. Conta, em primeiro lugar, um momento muito significativo dos Bombeiros do Peso da Régua: a sua devoção ao seu santo padroeiro S. Marçal, cujo imagem se encontra em destaque ao fundo do Quartel Delfim Ferreira.

Ele mostra-se uma procissão vinda da Igreja Matriz, onde se tinha realizado a bênção da imagem deste santo, com a mesma a ser transportada em cima de um dos mais emblemáticos carros da Associação, o Buick, adquirido por volta de 1926.

Destaca-se ainda a guarda de honra composta por garbosos bombeiros, acompanhados pelo reverendo padre Miranda Guedes, no momento em que a procissão seguia pela Rua Dr. Maximiano de Lemos, próximo da chegada à entrada principal do majestoso quartel.

Conta e documenta as memórias e as identidades da cidade que, nos últimos 50 anos, cresceu muito urbanisticamente, gerando a descaracterização na silhueta da sua paisagem envolvente, revelada na fraca qualidade arquitectónica das actuais edificações.

As alterações da “fisionomia” da cidade que, a essa data, ainda espelhava beleza nas antigas casas de habitação, com terraços e quintais floridos e cheios de frescura das árvores que, nos tempos actuais, cederam lugar a grandes e volumosas edificações de habitação colectiva, as quais progressivamente cortaram o contacto visual com a bacia do rio Douro.

Quanto aos bombeiros do Peso da Régua, estes tiveram sempre uma ligação à religião católica. Desde os primeiros anos da fundação da Associação que a vertente espiritual foi fortificada nos “sócios-activos”, ou seja, nos primeiros bombeiros do Corpo Activo, por influência do bom Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges que, para além de exercer as funções de director, foi seu capelão durante anos, até à hora da sua morte.

Desde a morte deste insigne sacerdote, o lugar de capelão no Corpo de Bombeiros do Peso da Régua nunca mais esse lugar foi ocupado. E, foi pena…! A sua existência foi logo prevista no art. 3 do primeiro “Regulamento para os sócios activos” juntamente com a de um engenheiro ou arquitecto e a de um farmacêutico.

Recordamos, pois, com saudade a sua pessoa, recorrendo para o efeito às palavras do escritor João de Araújo Correia, que numa crónica publicada no jornal “Vida por Vida”, de Novembro de 1957, sob o título "Recordações de Barro", descreve desta forma magistral, o dia do seu funeral:

“Perdi a ocasião de ver os bombeiros formados quando morreu o Padre Manuel Lacerda. Passou à minha porta o acompanhamento, a caminho do Cruzeiro, mas não o vi. Se passou de manhã, estaria eu ainda na cama ou andaria para o quintal, onde era vivo e morto nas horas forras das primeiras letras - tinha eu sete anos.

Quem me descreveu o enterro foi minha irmã mais velha, imediata de minha mãe na minha iniciação em espectáculos novos. Disse-me como tinha sido, mas só o fixei, de mo dizer muitas vezes, que o Borrajo levava a bandeira e ia a chorar.

O Padre Manuel Lacerda foi, de todos, o mais benquisto dos reguenses. Morreu de repente, enlutando num pronto a Régua toda. Lembro-me do o ver conversar com pai. Que fisionomia! Era uma espécie de coração visto por fora para melhor se adorar. Meu pai, que não era homem de muitas lágrimas, nunca o recordou, pela vida fora, com os olhos absolutamente secos.

Não se pode dizer que o Padre Manuel Lacerda, como padre, tenha sido talhado pelo figurino que os cânones exigem. Mas, como homem, foi um santo homem, um homem alegre, que não podia ver pessoas mal dispostas nem arrenegadas umas com as outras. Onde soubesse que havia desavindos, fazia uma festa, promovia um banquete, fosse lá o que fosse, para os congregar. Deixou, na Régua, essa tradição benigna.

O Padre Manuel Lacerda foi capelão dos bombeiros. Por isso o acompanharam, de bandeira enlutada, no último passeio. O Borrajo, porta-estandarte, ia a chorar…”

Não chorou só por ele o bombeiro Borrajo.

Choramos todos nós, pela alma do nosso bom capelão, o padre Manuel Lacerda, acreditando que lá na imensa eternidade, onde andará a espalhar mensagens celestiais de concórdia, nos espera a sorrir, para um grande e festivo banquete.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • OsBombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

segunda-feira, 23 de março de 2009

A CHEIA DO RIO DOURO DE 1962.

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Uma bela imagem da grande cheia do rio Douro de 1962 nas principais ruas da cidade de Peso da Régua.

Nela se nota a grandeza e a intensidade desta cheia ao verem-se dois barcos a “navegar” no conhecido “Passeio Alto”, ao fim da rua Custódio José Vieira (também conhecida por Rua das Vareiras) e as águas do rio a inundarem o princípio da Rua da Ferreirinha, com alguns bombeiros da Régua por perto, onde ao centro de destaca um dos nossos grandes quarteleiros, o conhecido e saudoso Zé Pinto, a ajudarem em trabalhos de retirada bens e pessoas das suas casas.

Na nossa cidade, são consideradas cheias grandes as que inundam a Avenida João Franco (que esta à cota a 58 m), implicando uma subida do nível do rio em 13 metros de altura (caudal a 6 000 m3/s).

Na Régua, essa cheia do rio de 1962, a segunda maior do séculoXX, (a maior cheia é de 1909 com um caudal de 16.700 m3/s) atingiu um caudal de 15.700 m3/s (cota 67,7 m), o equivalente a 23 metros de altura para além do nível médio do leito normal.

Da grande aflição, com “horas de angústia” e “horas de terror”, vividas pelos reguenses nessa cheia do rio, temos um emocionante e doloroso relato feito nas páginas do jornal “Vida Por Vida”.

“Ainda não seriam 19 horas do primeiro dia do ano de 1962, quando os nossos bombeiros começaram a ser solicitados para prestarem o seu auxílio a diversas famílias que na nossa zona ribeirinha estavam a ser molestadas pela subida do rio Douro.

Desde essa hora, nunca mais os nossos bombeiros tiveram um minuto de descanso e o auge da tragédia veio a verificar-se perto da noite, pois cada vez mais era superior o número de pedidos, que os nossos briosos Soldados da Paz eram impotentes para poderem atender. Duas vezes e com angústia se ouviu o toque da sirene para alertar toda a população e os trabalhos iam sempre decorrendo debaixo de um temporal e da um preocupação constante.

Os telefonemas sucediam-se para diversos locais a pedir informações sobre os aumentos verificados no caudal do nosso rio e todas as notícias eram o mais assustadoras que se podiam imaginar.

Cônscio da gravidade da situação, eis que o Comando da Corporação delibera pedir a colaboração das Corporações vizinhas (…) surgiram já no meio da manhã do dia 2 de Janeiro e o seu trabalho também não poderá ser esquecido. Vila Real, Lamego e Armamar, nos diversos locais onde trabalharam, deixaram a certeza de que estavam connosco e só havia um fim: salvar as vidas e haveres de tantos reguenses que se encontravam em perigo.

Tão cedo não se apagará da memória de todos nós tão grave tragédia que, felizmente, não teve a registar qualquer perda de vidas. (…) há a realçar a valentia dos infatigáveis bombeiros que, já na noite desse segundo dia, com risco das suas próprias vidas, salvaram diversos homens numa casa na Rua da Alegria, um casal de velhinhos no Salgueiral, e de morte certa, duas famílias no Juncal de Baixo, pois que estas, após terem sido retiradas, viam as suas pobres casas serem arrasadas pela fúria crescente do rio douro”.
(Clique na imagem para ampliar)
Estes são os maus momentos das páginas do nosso rio Douro, que ciclicamente se repetem, mas que de volta às suas margens, que crescem por belos e imponentes socalcos de vinhas, se torna num dos elementos mais belos do espaço cénico da cidade de Peso da Régua.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.*


*Quem é José Alfredo Almeida:
- Data de Nascimento: 04 de Novembro de 1962
- Morada: Peso da Régua.
- E-mail: jasapr@gmail.com
- 1987 – Licenciatura em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.- Exerce a actividade de Licenciado em Direito, Jurista no Gabinete Técnico Local do Município do Peso da Régua, professor na Escola Secundária do Peso da Régua e na Escola Secundária de Resende, vereador em regime de permanência no Município do Peso da Régua tendo a cargo os Pelouros das Obras Particulares e Urbanismo, Desporto e Juventude, Abastecimento Económico e Assuntos Jurídicos.
Como actividade cívica é desde 1998 – Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua; Desde 2005 – Vogal da Direcção da Associação da Região do Douro p/ Apoio a Deficientes; Desde 2006 – Presidente da Direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real.


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  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
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  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
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sábado, 4 de abril de 2009

Os Bombeiros no Largo da Estação.

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Magnifica imagem de um dia de festivo para os “soldados da paz” da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que comemorava o seu 75º aniversário, no dia 28 de Novembro de 1955.

Esta imagem é o rosto de uma cidade num tempo da sua história, que aqui mostra o Largo da Estação, um espaço de grandes referência para a vida da cidade do Peso da Régua, o verdadeiro e ainda actual “interface” de comunicações, o lugar das partidas e chegadas das pessoas e mercadorias ligadas ao vinho e à vinha, donde os passageiros partiam em camionetas para outros destinos das Beiras, Trás-os-Montes e Alto-Douro.

Do olhar sobre a imagem ficamos com a beleza do edifício da estação de caminho de ferro e o seu imponente cais de mercadorias, uma rara peça de arquitectura, a ser hoje utilizada para espaços de lazer e restauração, onde o comboio da linha do Douro (1873-1887) chegou em 1879, sendo considerado uma revolução social, económica e humana (se todas fossem assim…) para a região a duriense. Ainda ficamos atentos com a nostalgia dos comboios parados na bela linha do Corgo, um soberbo troço de 25 km, entre montanhas e socalcos do Douro património da humanidade, até Vila Real, inaugurada em 1906 e encerrada em 25 de Março de 2009 (!!!) para se realizarem obras de segurança. Ao fundo da rua, um olhar para a grande casa comercial “Viúva Lopes” com o telhado e paredes consumidas pelo grande incêndio que a atingiu em 1953.

Mas, o nosso olhar na imagem fica preso no grandioso desfile do Corpo de Bombeiros de Peso da Régua, onde estão incorporados bombeiros de associações amigas convidadas, com uma numerosa assistência a ver e apoiá-los, e ainda os carros de fogos que se usavam no tempo, que hoje pela sua fantástica beleza nos fazem sonhar e gostar ainda mais dos nossos soldados da paz. Algumas dessas relíquias, esses carros que povoaram memórias e brincadeiras de infância, os quais podemos ver guardados nos museus dos bombeiros.

Este aniversário de “Bodas de Diamante” da Associação teve um vasto programa de festejos, destacando-se a publicação de uma revista comemorativa, com a colaboração especial do escritor João de Araújo Correia, que escreveu um soneto em memória do bombeiro João dos Óculos, assinalava uma nova fase de crescimento e de modernidade quer em infra-estruturas quer em equipamentos, tudo conseguido por uma Direcção sabiamente dirigida pelo ilustre e prestigiado advogado, Dr. Júlio Vilela e um Corpo de Bombeiros sob a orientação do grande comandante Lourenço Pinto Medeiros (1949-1959).

Para melhor conhecermos esta fase da vida da associação, os seus primeiros setenta e cinco anos de existência, os momentos de sacrifícios e anseios, em que venceu a determinação de todos, transcrevemos um interessante texto assinado pelo Dr. Júlio Vilela, em nome da Direcção, onde diz o seguinte:

“Agradecemos, profundamente sensibilizados, o carinho e o amparo dispensados à velhinha e prestigiosa instituição que temos a honra de representar.

Completa ela agora setenta e cinco anos de existência.

Despida de recursos, a sua vida, tão longa quão prestimosa, é uma soma infindável de dedicações, esforços e sacrifícios.

No entanto, desde o punhado de homens generosos que a fundou e constituiu o seu primeiro Corpo Activo até àqueles que hoje a servem, um pensamento e uma preocupação tomaram o espírito de todos: torná-la cada vez maior e mais eficiente.

Depois de beneficiada com o apetrechamento essencial correspondente à sua importância e às modernas exigências dos serviços de incêndios, inaugura ela, neste momento, o Novo Quartel, primeira e mais premente fase de acabamento do seu edifício-sede, ainda há bem pouco reduzido a um esqueleto que, embora se avizinhasse como projecto de obra grandiosa, era por muitos considerado como a forma definitiva de um sonho.

O sonho, porém, tornou-se dia a dia em realidade, se bem que penosamente.

É outra soma de novas dedicações, novos esforços e sacrifícios irão completar.

A AHBV do Peso Régua sabe, entretanto, e porque julgar continuar a merecer o auxílio de todos, que tal soma vai, mais uma vez, verificar-se”.

Assim, fica-se a saber que a mais bela casa dos bombeiros portugueses, “obra grandiosa” que hoje admiramos, desenhada em 1930, pelo arquitecto portuense Oliveira Ferreira, demorou mais de 20 anos a sair do seu inicial “esqueleto”, caso não fosse essa “soma infindável” de dedicações e sacrifícios de homens bons e generosos, cujos nomes esta Associação terá de escrever em letras de ouro na sua já longa história.

E um deles será sempre, o do Dr. Júlio Vilela.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Recordação de uma visita a Castro Daire

Aos Bombeiros de Castro Daire, de todos os tempos.
À memória dos Comandantes Lourenço Pinto Medeiros e António Guedes Castelo Branco

No passado os Bombeiros da Régua costumavam organizar viagens pelo país fora, levando uma pequena representação nos seus melhores carros de incêndios. Algumas dessas viagens tiveram como destino uma vista à Corporações de Bombeiros de terras vizinhas, umas nas redondezas e outras para lá dos limites da região demarcada do Douro. Se no decorrer do tempo umas foram esquecidas, outras já ficaram lembradas em fotografias quase sempre tiradas num momento de descontracção e de demonstração de companheirismo e muita dedicação à causa do voluntariado.

Cada visita era mais um dia festa na terra visitada, com uma animação colorida que os bombeiros costumam dar com as suas fardas mais asseadas, capacetes reluzentes, acompanhado pelo ruídos das sirenes estridentes dos carros, com a população nas ruas e nas janelas a assistir à sua passagem, como viesse para venerar os seus santos protectores. Quando o povo voltava as suas casas, a festa recomeçava no quartel, com os abraços fraternais, cumprimentos calorosos e as saudações de cortesia.

Esses homens de condição humilde escreviam assim momentos únicos de fraternidade, com o seu coração cheio de generosidade. Entre eles estreitavam-se laços de amizade e trocavam-se afectos como se todos eles pertencem à mesma família de sangue. Os Comandantes de cada corporação local aproveitavam para elogiar uma atitude mais altruísta e abnegada dos seus subordinados num incêndio mais perigoso e, outras vezes, rememoravam os tempos idos com saudade e nostalgia.

Eram outros tempos! …

A sociedade civil gostava dos seus bombeiros, fossem eles de onde fossem, recebia-os com recepções triunfais, a que se associava a classe política, com o Presidente de Câmara sempre presente para receber os ilustres visitantes, dar-lhes as boas vindas e fazer um discurso com palavras de respeito e sincera gratidão. Desse imaginário faz parte uma visita que os Bombeiros da Régua fizeram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948, onde foram recebidos em festa, que ficou registada, pelo menos, em duas fotografias marcadas com este sugestivo título: “Recordação da Visita a Castro Daire – 6-6-1948- Aos Bombeiros Voluntários do Pêso da Régua – Os Camaradas de Castro Daire”.

Lembrei a existência destas fotografias, durante 41º Congresso dos Bombeiros Portugueses, realizado em Outubro de 2011, na Régua, ao presidente da direcção dos Bombeiros de Castro Daire, o meu amigo António da Conceição Pinto. Mostrou-se surpreendido com uma raridade que ele desconhecia e me prometeu mandar averiguar se elas também faziam parte do arquivo da sua associação. Mais tarde conformou-me que ali não havia nenhuma dessas fotografias nem sinais dessa visita. Quando lhe cedi as cópias dessas imagens e as observou atentamente, informou-me que só reconheceu da sua corporação, o então 2º Comandante Jaime Vitelo, vestido à civil, ao lado dos comandantes da Régua.

Quis saber mais e observar com mais atenção cada fotografia, confiante de encontrar alguém retratado que me fosse familiar. Numa delas, reconheci o Comandante Lourenço de Pinto Medeiros, tratado carinhosamente por Lourencinho, e o 2º Comandante António Guedes Castelo Branco. Na outra fotografia, aqueles rostos eram-me estranhos, o que me levou a concluir ali estavam retratados apenas os bombeiros de Castro Daire, fardados a rigor e perfilhados no Jardim Municipal, hoje denominado Jardim 25 de Abril.

Mas queria saber mais do pouco que essas fotografias me diziam. Socorri-me então  do excelente livro “Machado em Punho - 130 anos dos bombeiros de Castro Daire”, da autoria de Adérito Pereira Ferreira, bem escrito e bastante recheado de documentos e imagens de qualidade, que li ávido de encontrar uma alusão, mas apenas deparei uma referência à Régua, a uma reparação do pronto-socorro  que os  bombeiros  castrenses fizeram na oficina Janeiro & Irmão.

Para pena minha, aquela visita dos Bombeiros da Régua era assunto completamente omisso. Não desisti de encontrar um relato dos seus principais pormenores. No arquivo do Noticias do Douro, nas edições de 13 e 27 de Junho de 1948, pesquisei duas notícias. Escolhia a que foi reproduzida do diário O Comércio do Porto e que, pela sua importância histórica, aqui passo a transcrever na íntegra:

“Castro Daire, 9 – Às primeiras horas da manhã, do passado dia 6, começou a correr celebre a notícia de que uma surpresa, uma agradável surpresa havia sido preparada aos habitantes de Castro Daire. De facto, pouco depois, foi com alvoroço que se tomou conhecimento de que, dali a momentos, Castro Daire seria visitada pela briosa Corporação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e de alguns reguenses amigos da nossa terra.

Assim sucedeu, de facto. Cerca das 14 horas, algum tempo depois de ter sido montada pelos amáveis visitantes, no Jardim Público, uma instalação sonora, através da qual a noticia se confirmou, deu entrada na vila, triunfalmente, um ruidoso cortejo de carros com as esplêndidas e modernas viaturas dos Bombeiros Voluntários da Régua, seguidas do pronto-socorro os Voluntários locais e de um outro carro com a Direcção dos nossos Bombeiros que foram fora da vila ao encontro dos reguenses. Seguiam-se outros automóveis com numerosas pessoas das duas terras. A caravana percorreu a vila de baixo de saudações tão delirantes como sinceras da população que, em grande número, enchia as ruas, não obstante o imprevisto de tão agradável acontecimento. Nos prédios, os seus moradores quer às portas, quer às janelas, não se cansavam de manifestar-se.
Feito o trajecto, os visitantes dirigiram-se ao quartel dos nossos bombeiros, onde foram recebidos pela sua Direcção, Comando e Corpo Activo, tendo-lhe sido dadas as boas vindas pelo Sr. Presidente da Câmara, que em nome da Corporação local e do povo de Castro Daire, manifestou o seu mais vivo reconhecimento pela gentileza da honrosa visita que acabava de ser feita pelos Bombeiros Voluntários da Régua aos seus companheiros do ideal que tem por lema “ Vida por Vida”.

Fez votos pela prosperidade da terra amiga e da Corporação de Bombeiros, lamentando unicamente que esta visita não tivesse sido anunciada previamente, o que impediu que tivessem sido recebidos melhor e mais condignamente, como mereciam.

Em seguida, o Presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua, agradeceu as boas vindas que lhes haviam sido dadas, recordando com saudade os bons tempos da Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire que – disse – era considerada também pelos reguenses, como Banda dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, dadas as boas relações de amizade e simpatia que sempre existiram entre reguenses e castrenses. Finalmente, no gesto tão cativante como espontâneo, pôs à disposição do Sr. Presidente da Câmara e dos Bombeiros de Castro Daire a veloz e moderníssima auto-maca a sua Corporação, sempre que disso houvesse necessidade para serviços de grande urgência.

Aplausos frenéticos de agradecimento se sucederam, tendo por sua vez o Sr. Presidente da Câmara voltado a falar para agradecer em nome de todos os castrenses tão grande gentileza. Pelo resto da tarde, visitantes e visitados, confraternizaram alegremente pela vila, ao som da bela música difundida pela aparelhagem sonora instalada pelos nossos hóspedes. E, ao fim do dia, foi com grande mágoa que os vimos partir, sendo acompanhados pelo pronto-socorro dos nossos bombeiros durante alguns quilómetros dentro do concelho. Dada a maneira amistosa como tudo decorreu, estamos convencidos que estes momentos reviverão sempre na memória de todos quantos tiveram a satisfação de senti-los.

Aproveitamos a ocasião de apresentar a nossa edilidade o seguinte alvitre. Dadas as grandes provas de amizade e dedicação, com que os habitantes da linda e progressiva capital do Douro, desde longos tempos, sempre têm distinguido e dispensado ao povo de Castro Daire e à nossa terra, não seria justo e merecido que a uma das ruas da vila fosse dado o nome de rua da Vila do Peso da Régua? Cremos que toda a população de Castro Daire receberia bem tal iniciativa – C”.

Mais que os pormenores, a razão dessa a visita dos Bombeiros da Régua está aqui toda desvendada pelo senhor “C”, certamente um jornalista natural de Castro Daire. Como aí se diz, esta visita teve como motivação, o lembrar de uma velha tradição, em que a Banda dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire era considerada a banda dos Bombeiros da Régua. Parece que assim foi nos recuados tempos dos primeiros anos do Séc.XX. Mas não foi esse o único motivo, foi uma visita para levar a gratidão do povo da Régua à boa gente beirã de Castro Daire.

E assim se faz uma curiosa e interessante história que une duas associações bombeiros, quase da mesma antiguidade, não muito distante uma da outra que, durante muitos anos, mantiveram grandes ligações de amizades e uma tradição musical, e que jamais acabar, mesmo que a banda de música tenha deixado de tocar no quartel dos Bombeiros da Régua.

Quem sabe, se num dia destes, não faremos uma outra visita a Castro Daire para lembrar o passado e que, numa atitude generosa e solidária, àqueles briosos Bombeiros da Régua levaram à vila de Castro Daire, no dia 6 de Junho de 1948.

Ainda bem que dessa visita ficaram guardadas, até aos nossos dias, aquelas duas fotografias: quando não temos memória do nosso passado, perdemos sempre algo no futuro!
- José Alfredo Almeida*, 
Peso da Régua, Novembro de 2012


*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os bombeiros de escritório

(Clique na imagem para ampliar)

Estão presentes, nesta foto de 17 de Maio de 1964, tirada na vila de Resende, três vultos da história dos bombeiros do Peso da Régua: o Comandante Carlos Cardoso dos Santos, Alfredo Luís Baptista, Noel de Magalhães e Teófilo Clemente, acompanhado do seu jovem filho José Manuel Clemente, que estavam a convite da associação humanitária local para assistirem a uma cerimónia de homenagem aos bombeiros.

Como não podia deixar de ser, do ilustre bombeiro de farda, o Comandante Carlos Cardoso dos Santos já aqui deixamos vários apontamentos da sua vida e dos seus 31 anos de serviço nos bombeiros da Régua.

Quanto aos bombeiros sem farda já se distinguiu Noel de Magalhães. Mas, apenas por falta de oportunidade, nada se disse dos directores Alfredo Luís Teixeira Baptista e Teófilo Clemente.

O primeiro destacou-se nas direcções presididas pelo Dr. Júlio Vilela e o Dr. Camilo de Araújo Correia, sendo o principal responsável pelo acabamento das obras do quartel, cuja construção é de 1931, pela aquisição de novos carros para os incêndios e pelo aparecimento do jornal da associação “Vida por Vida” (publicou-se ente 1956-1974), o qual chegou a dirigir.

Quanto ao segundo foi um grande chefe de material. O melhor que a associação teve nesse sector fundamental para a actividade operacional dos bombeiros. Mas foi um dos grandes beneméritos que teve a associação. Se o velho Buick ainda hoje circula, isso se deve aos cuidados e à generosidade do Senhor Teófilo Clemente. Foi ele que o mandou reparar e lhe deu um motor novo, que fui retirar de um carro da sua firma de transportes. O seu filho José Manuel Clemente, que o acompanhava na sua juventude, é actualmente o sócio mais antigo da associação, sem nunca ter sido director, herdou do seu pai o gosto de ajudar os bombeiros.

Estes dois homens fazem parte de história dos bombeiros da Régua. Os seus nomes são exemplos a apontar como ensinamento de cidadania. Como membros directivos da associação, o empenhamento e dedicação cívica de Alfredo Luís Teixeira Baptista e de Teófilo Clemente teve um reconhecimento, quando a Liga dos Bombeiros Portugueses os distinguiu com a Medalha de Ouro de duas estrela

Desde facto, o jornal “Vida por Vida”, em Novembro de 1964, com o título “Duas Condecorações: uma honra para a nossa Associação”, deu conta do significado destas distinções para estes ilustres cidadãos reguenses nestes termos: “Se certo que estes dois elementos não esconderam o regozijo por tão honrosa distinção, a verdade é que a mesma reveste de elevado sentido para a própria Associação, pois que se o seu nome não fosse um nome que se impõe ao respeito e admiração de todos em geral, certamente que não conquistavam estas duas distinções para dois elementos que há mais de 10 anos têm prestado o seu concurso para uma maior valorização dos bombeiros.”

Estas duas medalhas para estes dois cidadãos são a prova que os bombeiros sem farda têm a sua importância. A eles cabe-lhes o papel de defender os seus interesses do colectivo e zelar pelas melhores condições do cumprimento das missões de socorro de todos aqueles que vestem a farda de bombeiro.

Nos primeiros estatutos da associação, datados de 1880, os associados constituíam-se em quatro classes: honorários, contribuintes, activos e auxiliares. Os activos eram os bombeiros voluntários. Os sócios auxiliares eram os que prestavam auxilio à companhia de incêndios. Os sócios honorários eram aqueles que pela sua posição social ou pelos serviços prestados lhe foi conferida essa honra. Os restantes associados pertenciam à classe aos sócios contribuintes, ou seja, todos aqueles que não vestem farda. Teve a sorte esta associação de nessa classe se inscrever a famosa viticultura do Douro, a bondosa D. Antónia Adelaide Ferreira, a nossa ilustre Ferreirinha.

Como associados, os bombeiros sem farda são todos aqueles que exercem cargos sociais nos órgãos da instituição: na Assembleia-geral, no Conselho Fiscal e na Direcção. Enfim, são outro tipo de voluntários que se preocupam mais com as contas da casa, a sua gestão corrente e o seu funcionamento no dia a dia. Eles são responsáveis por toda a dinamização institucional, por vezes, com muitos obstáculos, por vezes com polémicas, outras vezes com brilhantismo, mas estes directores constituem um pilar do associativismo.

Em 1980, na revista comemorativa do 100º aniversário da Associação, o Dr. Camilo de Araújo Correia, na crónica “Uma volta cá por dentro”, contou-nos com o seu sentido de ironia, o papel de um “bombeiro de escritório”, que ele próprio desempenhou com brilhantismo, na qualidade de Presidente de Direcção, desta enternecedora maneira:

“Relacionam-se com os nossos bombeiros as memórias dos meus primeiros raciocínios.

Estivesse onde estivesse, a brincar, a comer ou a dormir, logo acorria ao ruído marcial da sua passagem.

Toda a gente me dizia que os bombeiros, mal tocavam a fogo os sinos do Peso e do Cruzeiro, acorriam, sem demora, à casa que estivesse a arder. Mas…como podiam correr, assim, em duas fileiras e com aquele passo? O que mais me intrigava era a limpeza das fardas. É que eu, com duas voltas no quintal, sem apagar fogo nenhum, ficava logo com o bibe a merecer umas surras da minha mãe.

Receio bem que o meu desejo de ser bombeiro não tenha sido tão puro como o de todas as crianças do mundo. Lembro-me perfeitamente de quando me apeteceu ser bombeiro. Foi logo a seguir a um grande ataque de inveja. È melhor contar tudo inteirinho…

É certo que neste mundo é que elas se pagam…Deus, na sua infinita ironia, acabou por me fazer bombeiro, cerca de trinta depois do meu ataque de inveja. Vim a ser Presidente da Direcção por entusiasmo e crédito de um punhado de amigos. Não pensaram na minha desesperada falta de tempo…Tive de abandonar com o dedo imperioso da profissão espetada nas costas.

Tudo acabaria muito bem, se ficasse por aqui. Mas é que eu viria a ter, anos depois, a sobrinha mais travessa que Deus ao mundo deitou!...

Um dia, num chá de certa cerimónia e sem vir a propósito, saiu-se com esta:

- O meu tio já foi bombeiro, mas teve de sair porque não apagava nada!

Os risinhos das senhoras, mal disfarçados, atravessaram-me como alfinetes….

De cada vez que me pregava esta partida, tentava fazer-lhe compreender que o meu papel de Director não era ir aos incêndios, nem apagar fosse o que fosse, por mais que as coisas ardessem à minha volta. Em vão procurei convencê-la de que os bombeiros também têm escritório com secretárias cheias de papéis…

De cara fechada e olhos trocistas dizia sempre:

-Sim…sim…

Paguei bem paga a inveja que me fez o capacete e a machadinha daquele bombeiro de palmo e meio aos ombros de um homenzarrão, numa tarde de calor e de tourada.”

O Dr. Camilo de Araújo Correia foi um dos melhores bombeiros de escritório. Por pouco tempo é certo, como ele o confessa, pelos muitos afazeres de médico anestesista. Mas exerceu essa função com grande paixão de bem servir. Como Presidente da Direcção conheceu e conviveu de perto com muitos bombeiros. Ao lado deles sorriu e deu muitas gargalhadas pelas divertidas peripécias de alguns, como as presenciou na vida do bombeiro Justino, que andará com ele pelos caminhos da Eternidade a inspirar-lhe mais deliciosas histórias, que nos cativem com seu sentido de ironia e de humor fino.
Como no seu tempo……ainda hoje os bombeiros da Régua têm escritório com secretárias cheias de papéis. E, têm umas sobrinhas ainda mais travessas para nos fazerem sorrir da vida. Felizmente que é assim…
- Peso da Régua, Junho de 2009, José Alfredo Almeida.

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  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A tragédia de Riobom - 27 de Maio de 1959

(Clique na imagem para ampliar)

A tragédia de Riobom

A foto em presença mostra o momento de uma grande tragédia, no lugar de Rio Bom, na freguesia de Cambres, em Lamego, no dia 27 de Maio de 1959, onde seis pessoas perderam a vida.

E mostra, também, quanto outrora era secundarizada a protecção individual do bombeiro, vendo-se esta limitada ao uso de capacete de latão, o qual, inclusive, à data do registo fotográfico, 27 de Maio de 1959, já havia sido recomendado, a nível nacional, como inadequado para trabalho, nomeadamente pela Liga dos Bombeiros Portugueses, devido a factores de fraca resistência.

Em plena acção vê-se um bombeiro de Peso da Régua. De archote na mão, outra marca da ausência de meios apropriados à situação de socorro, aliás, tal como o tipo de fardamento (fato-macaco e calçado normal), prescruta entre os destroços do que foi a povoação de Riobom, freguesia de Cambres, com a intenção de ainda salvar vidas e bens, sob o olhar de um popular que parece procurar algo.

Em 30 de Maio de 1959, o jornal da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua, intitulado “Vida por Vida”, deu conta do trágico acontecimento e da complexidade em que decorreu a acção dos "soldados da paz", nos seguintes termos: O Lugar de Riobom (…) viu-se tragicamente atingido por uma violenta tromba de água que deixou atrás de si rastos de desgraça e prejuízos materiais que ascenderam a milhares de contos.

Seriam 21.45 horas, de 27 de Maio do corrente ano (1959), quando o nosso amigo e sócio contribuinte Elísio Valente(…) solicitou a intervenção dos nossos bombeiros para prestar serviço no desmoronamento de uma casa, devido às águas das chuvas. Imediatamente e sem alarmes de maior, seguiu um piquete para o lugar de Riobom e, qual foi a maior admiração dos bombeiros, ao depararem na noite escura com a vastidão de uma catástrofe que, passo a passo, se verificava e cada vez maiores proporções atingia.

Seguiu-se o pedido de reforços, e então a nossa vila viveu horas de amargura, ao saber da triste sorte dos seus vizinhos de Riobom. Foi à luz de archotes e através de um espantoso lamaçal que todos os bombeiros procuraram as vítimas, sempre na angustiosa incerteza de haver maior gente em situação crítica no seio da noite e da tempestade.

Os nossos bombeiros, trabalhando sob o comando do Subchefe Claudino, iniciaram os trabalhos às 21.45 h do dia 27 e só as 5.00 h, do dia 28 regressaram ao quartel.

Foram dramáticos todos os serviços de salvamento e de certo modo arriscados. Por via disso, um dos bombeiros pertencentes à composição n.º 2, teve que ser socorrido no Hospital D. Luiz I, devido a várias escoriações.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Carta dos Bombeiros Voluntários Lisboneses

Ao vasculharmos os arquivos da nossa Associação não nos passou despercebida uma carta enviada pelo Comandante Tenente José Francisco França de Sousa, dos Bombeiros Voluntários Lisboneses, em 1966, ao director do jornal “Vida por Vida”, órgão oficial da AHBV do Peso da Régua.

Como, quando lhe chegou às mãos, essa carta não passou também despercebida ao Dr. Camilo de Araújo Correia, a quem fora amavelmente dirigida, que lhe reconheceu valor e interesse histórico para a divulgar nas colunas da primeira página do jornal.

Na edição de Janeiro de 1966, com o sugestivo título “Bombeiros Voluntários Lisbonenses” é feita a transcrição integral dessa carta. E, numa pequena nota introdutória, muito pessoal e ao seu jeito e estilo, o director - ilustre médico e escritor infelizmente já falecido - lembrou que, pela satisfação que a tinha recebido, não resistia a tentação – assim mesmo – de a publicar.

Os bombeiros da Régua são pioneiros a estabelecer relações institucionais com as associações congéneres. Faz parte dos genes da sua fundação. Entenderam desde os seus primórdios, que se tornava necessário conhecer o que se fazia de mais avançado nas associações mais preparadas e capazes e para conhecerem as novidades no combate aos fogos e no socorro às populações.

O jornal dos bombeiros da Régua, fundado em 1957, foi um elo de ligação aos bombeiros do país. Serviu para mostrar o trabalho de uma geração de homens que lutou com paixão para manter, com a ajuda de muitos beneméritos – os primeiros mecenas - o associativismo mais activo e um corpo bombeiros melhor preparado para responder às exigências do socorro às suas populações.

Se, no passado recente, existiram contactos dos Bombeiros da Régua com os Bombeiros Voluntários Lisbonenses, o mais certo é terem acontecido em encontros entre os seus directores e seus comandantes. Leva a crer que os comandantes se terão conhecido numa das muitas reuniões ou congressos de bombeiros, para discutirem as preocupações e aspirações do sector, onde teriam participado em nome das suas associações.

Na Régua, o Comandante Cardoso (1959-1990) fazia questão em participar nos debates que iam acontecendo pelo país sobre os desafios que os bombeiros voluntários tinham pela frente, como a definição de regras ordenamento da sua actividade e a afirmação do associativismo no seio da sociedade de que emerge.
Em 1968, os bombeiros da Régua participaram no congresso que teve lugar na cidade de Lisboa. A direcção da Associação, presidida pelo Eng. Abel Osório de Almeida (1966-67) e o Comandante Cardoso mandaram imprimir um folheto para oferecem nessa assembleia magna. Começavam com esta mensagem de saudação: “Os BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA, saúdam com amizade todos os camaradas portugueses presentes como nós neste XVIII Congresso Nacional, e fazem votos por que os seus anseios e as suas pretensões venham a ser estudadas para bem da Causa que servirmos, o mesmo que dizer para bem de Portugal”. Aproveitavam, nas restantes páginas do folheto, para divulgar, com muito saudável bairrismo, os meios e os objectivos da Associação e para promover a região do Douro - como escreviam única no Mundo - e o seu principal produto, a sua primordial fonte de recursos, o “Vinho do Porto - Orgulho de Portugal”.
(Clique nesta e nas duas imagens acima para ampliar)

A carta do Comandante Tenente França de Sousa é um precioso testemunho para a história dos bombeiros da Régua. a importância da Associação, reconhecida pelo seu progresso e crescente prestígio, presta uma homenagem ao seu valoroso corpo de bombeiros da década de 60 e faz um enaltecimento da figura do seu Comandante Cardoso, conhecido por viver os problemas da sua corporação como se fossem parte integrante da sua vida.

Esta carta é também uma prova que mostrar que “nesta cruzada de Coragem, Abnegação e Humanidade, também há ainda lugar para radicar e vincar amizades entre todos aqueles que sabe viver e compreender a missão a que devotamente nos entregamos”, como expressava o director do “Vida por Vida”.

Apesar das distâncias que separam as duas corporações, os bombeiros não deixam de comungar os mesmos valores de fraternidade e solidariedade.

As palavras de gratidão do Comandante Tenente França de Sousa, servidor leal e competente, que deixou marcas indeléveis nos Bombeiros Voluntários Lisboneses e na sua prestigiada Associação, este ano a comemorar o seu centenário, podem servir de motivo para aproximar as duas instituições, cheias de glorioso passado, numa união de vontades e de partilha dos novos desafios exigidos ao voluntariado do séc. XXI.

Não queremos deixar esquecida a carta do Comandante Tenente França de Sousa que deve ser relida com a devida atenção, pelo que a melhor homenagem lhe prestamos, agradecendo o seu nobre gesto, é de voltar a fazer na íntegra a sua transcrição:

“Exmo Senhor
Director do Jornal “Vida por Vida”:

Apresentando os meus mais sinceros cumprimentos a V. Exª, venho gostosamente saldar uma dupla dívida, que desde alguns meses tinha para convosco.

A primeira, de agradecer o envio mensal do vosso jornal “Vida por Vida” para esta Corporação da Capital, que dista algumas centenas de quilómetros da vossa, atitude que sinceramente, tanto a mim, como aos 80 homens do meu Corpo Activo bem funda ficou gravada nos nossos corações e, que embora com o pouco contacto que tem existido entre estas duas corporações, me permite afirmar que é a única compreensível entre Soldados da Paz!

A outra dívida que tinha para convosco, é de agora lhe confessar quanto me satisfaz e aprecio verificar através do vosso jornal, como a Vossa Associação está em progresso e grande prestígio que ela tem dentro dos meios ligados à causa do Voluntariado, situação atingida mercê da acção dinâmica dos seus Corpos Gerentes e da muita dedicação dos seus valorosos elementos do Corpo Activo bem comandados por um comando que vive os seus problemas da sua Corporação, fazendo dela parte integrante da sua vida.

Para a briosa corporação nortenha do Peso da Régua, vai o meu apreço e abraço amigo dos vossos camaradas “Lisbonenses”, na certeza, que embora distantes, aqui sentiremos igualmente as vossas horas más que possam surgir, regozijaremos como os vossos momentos de esplendor, com as vossas alegrias, saudando pelo vosso progresso!

Com os meus melhores cumprimentos, sou de V. Exª”.

Quantas vezes mais lemos esta carta, sentimos que o Comandante Tenente França de Sousa nos emociona e faz sentir mais orgulho pelo passado feito por muitas gerações de bombeiros e dirigentes, sempre motivados e com uma única preocupação, a elevar sempre o prestígio da Associação, seguindo os ideais consagrados pelo primeiro dos fundadores, o brioso Comandante Manuel Maria de Magalhães (1880-1892).
- Peso da Régua, Fevereiro de 2010, J. A. Almeida.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Uma homenagem aos bravos “Soldados da Paz” do Peso da Régua

Que mais será preciso dizer?
Por: Rodrigo Félix Nogueira de Carvalho*

Quando a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua celebra o seu PRIMEIRO CENTENÁRIO, que mais será preciso dizer do que o que já tem sido dito por tantas e tão ilustres personagens, melhor conhecedoras do seu historial, onde avultam gigantescos esforços e abnegadas acções que lhe permitiram vencer e chegar, de fronte erguida e com a satisfação do dever cumprido, ainda que por sinuosos e difíceis caminhos, até estes nossos dias, tão conturbados e tão dominados pelo materialismo?

Que mais será preciso dizer da consciência cívica revelada, em tão elevado grau, pelas sucessivas gerações que serviram o seu CORPO DE BOMBEIROS, onde souberam ser sublimes no ataque ao fogo e intemeratas perante o perigo, ao mesmo tempo que discretas na sua bravura, estóicas na sua temeridade, modestas no seu altruísmo e humildes na recepção de honrarias?

Sim. Que mais será preciso dizer dos que, no exímio cumprimento do dever que a si próprios voluntariamente impuseram, vieram a perecer em defesa dos que algum dia viram as suas vidas e bens em risco de se perderem, inscrevendo os seus nomes, a ouro, entre os dos heróis do VOLUNTARIADO e legando a sua glória como nobre exemplo a apontar aos vindouros, com justo orgulho?

Não sei.

Não sei, nem, conhecedor das minhas limitações, certamente o saberia dizer se, acaso, tanto fosse ainda necessário.

Assim, nesta hora de júbilo e felicidade, muito singelamente, desejo apenas prestar a minha homenagem aos bravos “Soldados da Paz” da encantadora e hospitaleira vila do Peso da Régua, agora a servir de sala de visitas do distrito, no XXIV Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, não só pelo que ao longo de todo o caminho percorrido souberam realizar, mas também pela certeza que me acompanha de que irão prosseguir na rota do progresso e da causa humanitária a que se votaram e já tanto prestigiaram.
E a esta minha modesta e singela homenagem eu quero juntar uma outra, vibrante e grandiosa, dos BOMBEIROS DO DISTRITO, entre os quais dos Voluntários de Vila Real e Cruz Verde, que, porque irmanados pelo mesmo sublime ideal, se afirmam presentes e felicitam os seus companheiros neste limiar de um novo século ao serviço da Humanidade.

Parabéns, pois, e honra aos VOLUNTARIOS DO PESO DA RÉGUA para honra e glória dos BOMBEIROS DE PORTUGAL.
* Antigo Presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real e da Presidente da Direcção da AHBV de Vila Real e Cruz Verde.

Notas:
  1. Em memória do Sr. Rodrigo Félix deve dizer-se que começou como dirigente da AHBV de Vila Real e Cruz e Verde, sendo eleito Secretário da Direcção em 23/3/1957, onde se manteve até ser eleito Presidente da Direcção; em 20 de Janeiro de 1975 é eleito Presidente da Direcção, onde se manteve até 19 de Janeiro de 1996; em 20 de Janeiro de 1996 é eleito Presidente da Assembleia-geral, mantendo-se nessa função até ao seu falecimento em 15/2/2005; fez ainda parte do Conselho Geral da Associação por inerência do cargo de Presidente da Assembleia-geral; foi um dos fundadores da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real, criada em 15/9/1978, sendo eleito seu primeiro Presidente de Direcção, onde esteve durante vários mandatos; foi Membro da Assembleia de Delegados da Liga dos Bombeiros Portugueses; fez parte dos Órgãos Sociais eleitos da Liga dos Bombeiros Portugueses e foi Conselheiro Regional da Inspecção Regional dos Bombeiros do Norte.
  2. Este seu magnífico texto encontra-se publicado na revista comemorativa do 100º Aniversário da AHBV do Peso da Régua, publicada em 1980. As fotografias registam algumas das cerimónias dos bombeiros da Régua – a festa despedida do Comandante Cardoso, a tomada de posse do Comandante Fernando Almeida e a imposição de uma medalha de mérito num bombeiro – que tiveram lugar no Quartel Delfim Ferreira, onde o Sr. Rodrigues Félix interveio na sua qualidade de Presidente da Direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real.
 - Colaboração de José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Agosto de 2010.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.
Jornal "O Arrais", Sexta-Feira, 24 de Dezembro de 2010
Uma homenagem aos bravos “Soldados da Paz” do Peso da Régua - Que mais será preciso dizer?
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Uma homenagem aos bravos “Soldados da Paz” do Peso da Régua

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Memórias do Serviço de Transporte de Doentes nos Bombeiros da Régua: As pandemias da gripe espanhola à gripe A


(Clique na imagem para ampliar)

Em 3 de Março 1968, os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua (BVPR) recebiam uma nova ambulância Mercedes Benz, modelo 220 D, para melhoraria do seu modesto serviço de transporte de doentes, à qual foi dado o nome de "Nossa Senhora da Conceição", em homenagem a D. Sílvia Ferreira, grande benemérita da instituição.

Nessa data, o corpo de bombeiros dispunha em actividade regular de uma velha ambulância. Esse veículo já não satisfazia as exigências de um serviço quase permanente e do aumento extraordinário da população, motivado pela fixação, na cidade, de muitos trabalhadores (e suas famílias), contratados para a construção da Barragem de Bagaúste.

A cerimónia da bênção e baptismo da nova ambulância decorreu no Largo da Igreja Matriz. Procedeu ao acto litúrgico o reverendo Avelino Branco, pároco local. Além de muito público, esteve presente o Corpo Activo, o comandante Carlos Cardoso dos Santos e a Direcção. A madrinha da viatura foi D. Margarida da Glória Mesquita e Costa Vieira de Castro, esposa do presidente da Direcção, pelo Dr. José Lopes Vieira de Castro (1968-1969), que os sócios haviam escolhido em acto eleitoral muito participado – e conturbado – no qual foi derrotada uma lista alternativa liderada pelo Dr. Fernando Bandeira.

No final, a nova viatura e as demais existentes nos bombeiros da Régua desfilaram pelas ruas da cidade até às Caldas do Moledo. Assim, pretenderam os bombeiros agradecer a generosa contribuição da população para a compra da moderna unidade móvel, avaliada em 200 contos, valor incomportável para a associação, na sua totalidade, devido à limitação de recursos financeiros.

A ambulância em causa deixou de prestar serviço há muitos anos e não teve a sorte de alguém a ter reservado para peça de museu. Outro destino teve a velha ambulância Mercedes Benz, modelo 180 D, adquirida em 1958 pela direcção sob a presidência do Dr. Júlio Vilela. Depois de deixar o activo e, apesar de degradada, continuou a fazer parte do património da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. Considerada peça rara, de momento aguarda recuperação total para os seus cromados ainda voltem brilhar.Essa bonita viatura tinha uma célula sanitária muito elementar constituída por duas macas, uma delas desmontável. O seu principal objectivo era o transporte, ao contrário do que acontece com as ambulâncias dos nossos dias, dotadas de equipamentos para os mais variados fins de assistência. Por exemplo, se solicitado o seu serviço para uma transferência de hospital, era assegurada a colocação de soro e oxigénio, situação para a qual estava preparada. Dado que o estrado da maca é amovível e abre o encosto do banco traseiro permitia, caso fosse necessário, transformar-se rapidamente em transporte de pessoal, com capacidade para sete bombeiros.

Quanto à primeira ambulância que existiu no Corpo de Bombeiros da Régua, sabemos pelas memórias escritas de António Guedes (nascido em 1894), antigo chefe, que era uma viatura marca Rolly-Pillan, cujo chassis foi oferecido pelo benemérito José Vasques Osório. Quem chegou a vê-la circular, descreve-a como sendo "uma caranguejola esquinuda, de um branco duvidoso e conforto ainda mais duvidoso".

Actualmente os bombeiros da Régua dispõem de dez ambulâncias para o serviço de transporte de doentes preparadas ao nível de Suporte Básico de Vida, número considerado suficiente para responder às actuais necessidades da população do concelho, mesmo em situações mais complexas, caso da primeira pandemia de gripe do século XXI que, desde Maio último, aumenta o número de pessoas afectada pelo vírus H1N1.

Lembramos que no início do século passado, mais precisamente na primavera de 1918, aquando da pandemia de gripe espanhola, também conhecida por pneumónica, os bombeiros da Régua desempenharam um papel importante no apoio sanitário aos infectados.

Quando esta se "manifestou na vila e nas imediações, a corporação dos bombeiros instalou postos de socorro e um hospital apropriado para o qual ela conduzia, nas suas macas, as pessoas atingidas pela epidemia", relata, numa carta de 30 de Agosto de 1928, o sócio fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro, ao tempo presidente da Comissão Administrativa do concelho do Peso da Régua.

Um outro testemunho é de o António Guedes, antigo Chefe no Corpo de bombeiros da Régua, publicado no jornal “O Arrais”, de 20 de Junho de 1978, num artigo intitulado "Bombeiros Voluntários: Recordações", que descreve como ele e outros bombeiros viveram, sem alarmismos, os momentos mais críticos deste nefasto acontecimento:

"Mais tarde, quando da pneumónica, montamos um improvisado hospital na casa onde hoje está o Asilo Vasques Osório, o qual ficou sob a direcção do médico da nossa Corporação, Sr. Dr. Luís António de Sousa.

Ainda não existiam ambulâncias na Corporação, e éramos nós bombeiros, que com macas portáteis, íamos buscar os doentes a suas casas e os transportávamos para o hospital.
Há que frisar o facto de nenhum de nós se ter contagiado com aquela terrível doença, certamente devido à desinfecção a que éramos sujeitos, sempre que chegávamos com qualquer doente.

Recordo-me muito bem que, dessa desinfecção, constava um 'medicamento', um 'antibiótico' muito agradável, que era o Vinho do Porto. O primeiro gole seria para bochechar e deitar fora e o restante conteúdo do cálice (bem grande, por sinal) era para ingerir.

E de todos esses homens da velha guarda resto eu apenas, ralado de saudades pelo falta daqueles bons companheiros, os quais com o meu pequeno contributo, conseguiram conquistar a auréola, a fama de eficiência e valentia que ainda hoje enaltecem os Voluntários da Régua."

Desconhecemos quantas pessoas esta gripe, mais conhecida por pneumónica, vitimou no concelho do Peso da Régua, mas sabe-se que, de norte a sul do país, terá provocado perto de 150 mil casos mortais.

Eram tempos de alguma improvisação em que os bombeiros não tinham, como hoje, preparados os seus planos de contingência.
A ser verdade – e não temos razões para duvidar – os efeitos do Vinho do Porto, como poderoso desinfectante, talvez pelo seu teor alcoólico, terá resultado em 1918 como uma boa medida de prevenção ao vírus da gripe! - Peso da Régua, Agosto de 2009, José Alfredo Almeida.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

132º. aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua


Celebra-se no dia 28 de Novembro  mais um aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, fundada há 132 anos por um conjunto de 27 cidadãos reguenses  liderados pelo dinâmico Comandante Manuel Maria de Magalhães, que será festejado no domingo, dia 2 de Dezembro, com a presença do Senhor Secretário da Administração Interna Filipe Lobo d` Ávila em representação do Ministro da Administração Interna.

Do programa  das comemorações consta a importante  cerimónia de atribuição de uma Medalha de Mérito de Protecção e Socorro Civil à Associação e ao seu Corpo de Bombeiros, sendo reconhecidos, com justiça, pelo poder político a sua notável folha de serviços ao longo da sua história e o papel activo na missão de  protecção e socorro de bens e vidas  e o  serviço   transportes de doentes, emergentes e programados, prestados à população  do concelho.

Durante a sessão solene serão também agraciados com o Crácha de Ouro, da Liga dos Bombeiros Portugueses dois ex-presidentes da direcção da instituição, o senhor Dr. Aires Querubim de Meneses Soares, antigo Governador Civil de Vila Real e António Bernardes Pereira, um conhecido comerciante e ex-vereador da Câmara Municipal do Peso da Régua, ambos em reconhecimento pelo seu contributo para o engrandecimento e prestigio da instituição que serviram durante vários mandatos  nos anos 80, salientando-se a construção do Bairro Social dos Bombeiros, a ampliação do Quartel Delfim Ferreira e a brilhante realização do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses.

A título póstumo, a instituição vai também agraciar com a Medalha de Serviços Distintos-Grau Ouro, da LBP, dois  cidadãos recentemente falecidos que, cada à sua maneira, prestigiaram os bombeiros da Régua e  a sua fanfarra.

Um deles é o senhor Joaquim Sequeira Teles, conhecido empresário e destacado dirigente da arbitragem nacional, que também foi bombeiro voluntário mais de trinta anos e que  sempre ajudou a associação nos momentos mais difíceis. Quando pertenceu  ao  quadro de honra dos bombeiros  nunca deixou de estar presente em nenhum dos aniversários, manifestando sempre uma paixão e uma grande dedicação à causa do voluntáriado que ele serviu com muito orgulho. Ele é assim um verdadeiro reguense, digno da nossa admiração e, sobretudo, exemplo de cidadania a ser salientado juntos das novas gerações de bombeiros.   
O outro cidadão  a ser agraciado a título póstumo é o senhor Manuel Carneiro que serviu a fanfarra dos Bombeiros da Régua desde que foi criada até quase à sua morte, demonstrando uma atitude de fiel devoção e uma atitude que a todos deixou sensibilizados quando pediu que o seu corpo fosse sepultado vestido com a sua velha farda da fanfarra.
PROGAMA DAS COMEMORAÇÕES
132º ANIVERSÁRIO DA ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA

Medalha de Mérito de Protecção e Socorro no grau ouro e distintivo azul - Despacho
Clique  nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.