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sexta-feira, 5 de julho de 2013

O DESASTRE DA PONTE

Eram perto das 18.45 da 1º de Maio de 1964. Mais uma tarde primaveril acabava num horizonte cercado de montes de vinhas verdejantes e as aguas serenas de um rio pasmado na beleza das suas margens. De repente, um estrondoso ruído iria marcar de dor e sofrimento a sossegada vila da Régua.

Cumprindo com exactidão o horário, uma camioneta de passageiros da EAVT fazia o percurso habitual e rotinado, entre a cidade de Lamego e a Vila do Peso da Régua. Atravessava a ponte nova, já nos últimos tabuleiros – ponte destinada a uma linha ferroviária que nunca veio a ser construída. Avistava-se, já muito pertinho, o velho casario do Corgo, o imponente cais de mercadorias da estação do caminho-de-ferro, os táxis e camionetas de carreira a aguardarem passageiros, no Largo da Estação, onde também esta iria fazer a última paragem de giro... 
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2013. Recorte cedido pelo Dr. José Alfredo Almeida. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sábado, 20 de abril de 2013

A Minha Régua ! - O barco e o pescador

O barco do pescador numa serena manhã de nevoeiro.
"Fotografar, é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coraçao." (Henri Cartier-Bresson, 1994)

Se participa da rede social 'FaceBook', poderá apreciar a coletânea de imagens 'A Minha Réguanos álbuns 'Peso da Régua' e 'Peso da Régua 2', com mais de 1.000 fotos.

Clique  nas imagens para ampliar. Imagens de autoria do Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A Minha Rua dos Camilos

Assalta-me sempre o sentimento da saudade, quando deito os meus olhos sobre uma fotografia que tenho exatamente da rua dos Camilos, que mostra o que ela era há cerca de 79 anos, isto é, na segunda metade da década  dos anos 30 do século passado, principalmente o trecho desta rua que ia da curva onde funcionavam as oficinas dos Janeiros até ao entroncamento com a rua de Serpa Pinto. É um trecho que me recorda os meus doces  tempos de rapazote e, até, os da meninice.

Ela era uma rua sem perigos, segura, onde todos se conheciam. Na fotografia que tenho presente, salienta-se o prédio onde morava o meu patriarcal avô – Gaspar da Silva Monteiro, de muito boa memória  e onde eu vivi dos 11 aos 14 anos de idade. Este prédio, na fotografia, encobre um outro, contíguo, onde eu nasci e onde vivi até um pouco antes de 1930. O prédio onde viveu o meu avô está separado do da Casa do Douro pela rua da Alegria, o qual por sua vez tinha em frente, no passeio oposto, a casa do “Menino d'Ouro” e uma pequena loja, onde o Né (Rodrigues) viria a montar a sua ourivesaria. Um pouco mais ao lado, a casa onde moravam os Coutinhos, que tinham um seu denodado representante no corpo ativo dos nossos  humanitários Bombeiros.

Caminhando neste mesmo passeio, iríamos encontrar, um pouco mais adiante, uma barbearia, uma outra loja da família do Né e a oficina do latoeiro, de cujos proprietários não me lembram os nomes. Dois passos mais ao lado íamos encontrar o prédio e a loja do Valente Velho e a padaria do Azevedo, um dos fundadores do Sport Clube da Régua, já à esquina da rua. Nesta bifurcação com a rua de Serpa Pinto, estavam as lojas dos Fortunatos, do Borrajo e do Zé Pinto, todos estimados comerciantes. Alguns anos depois, iríamos ver fixado nesta bifurcação um polícia sinaleiro, quando o trânsito automóvel se intensificou.

Se nos aproximássemos de novo da casa do meu avô, encontraríamos um quelho, logo à entrada do qual, se encontrava uma outra ourivesaria e, ao fundo, as limitadíssimas instalações dos Bombeiros Voluntários.

Nesta fotografia que tenho referido, evidencia-se o intenso movimento da rua, mas sendo ainda pouco denso o movimento automóvel, que eram poucos os carros existentes na altura. Pelo contrário, era notável o movimento dos carros de bois, que carregavam as pipas, e passavam chiando, chiando, animando os animais. Naquele tempo, desfilavam na rua as varinas com os pregões, anunciando os seus produtos, e passavam outras mulheres, que carregavam grandes cestas com pão para entregarem a freguesas certas. Era também significativo o movimento de outras mulheres, que carregavam a roupa que lavavam no rio e que, depois, coravam.

Pouco antes da fotografia, fora aberto o novo edifício da Casa do Douro, que ficou repleto com os trabalhadores que nele serviam, sendo comum encontrarem-se pequenos grupos de pessoas a conversarem à porta de entrada da instituição, que também era um ponto de encontro das pessoas. A Casa do Douro era uma pedra preciosa para a Régua e para todo o Douro, era uma instituição importante, só comparável aos regimentos militares de Vila Real e de Lamego e ao próprio caminho de ferro, que serpenteava por toda a região e a fazia feliz.

A rua dos Camilos – o centro da Régua, outros lhe chamavam o “cimo da Régua” – parecia já, em verdade, um formigueiro de gente, de gente ativa, de gente ligada às vinhas e ao comércio, principalmente. Do alto das varandas das casas em que vivi – a casa do meu avô tinha marcado o número 44 – eu passava muito do meu tempo de rapaz a admirar o bulício de tanta gente, muito me admirando a pacatez das ruas de Lamego, que eu visitava com frequência.

Na altura das vindimas, todo o movimento da rua  mais aumentava ainda, merecendo-me destaque a passagem das rogas para as vindimas, que vinham de Trás os Montes e da Beira, homens e mulheres cantando, assobiando pelos seus apitos, tocando bombos e tambores, chamando, com a sua alegria, a população às janelas e varandas, toda a gente em festa, todos se correspondendo.

A rua dos Camilos, correndo desde a rua de Serpa Pinto até à estação dos comboios, tinha, neste lado contrário ao do trecho já referido, aspetos de carater inteiramente diferenciado, pois que víamos muita gente que não conhecíamos a sair e a entrar para a estação a todas as horas do dia, e, na situação de espera, alguns (ainda não muitos) carros de transporte coletivo de passageiros, de Lamego e de Castro Daire, alem de um ou outro táxi, concorrendo com os camiões.

Não muito longe da Estação, quase em frente a um celebérrimo hotel Borges, a ponte dos Guindais, que atravessava a linha dos comboios, e, que naquele tempo, usava de má fama: toda a gente a via, mas ninguém falava dela, salvo em dichotes de humor malicioso. O respeito, respeitinho é muito lindo!...Entre este pontão e o Largo da Estação estava erigida a linda Capela do Asilo, outra instituição meritória, que honrava a Régua.

Todas as referências desta já extensa memória se referem - há que o esclarecer – à vida diurna da Régua, tal como eu a senti, mas, após as 21 horas de cada dia, a vida da população em geral, era quase impercetível. As pessoas tinham de ir cedo para a cama para repousarem, que o dia seguinte seria de intenso trabalho e de negócios, como a rua dos Camilos bem o demonstrava. Só alguns jovens perturbavam os silêncios das noites, para o que a simples presenças de meia dúzia de elementos da GNR (aquartelada no fundo da Rua da Alegria) chegava perfeitamente para evitar excessos, assim se respeitando a ordem pública, porventura sempre em risco, tão insuficiente era a iluminação existente.

A atividade cultural era então muito restrita, ficando-se, praticamente por pequenos encontros de alguma gente mais informada aos fins da tarde, junto dos estabelecimentos do Borrajo e do Zé Pinto, alem de uns convívios do doutor Júlio Vilela com alguns dos seus admiradores, convívios que fazem parte da própria história da Régua, sempre a altas horas da noite, constituindo notas de amizade e de franca lealdade, que ainda hoje, gostosamente relembro. De referir que as conversas tocavam os assuntos mais diversos, com a exceção dos assuntos políticos, que isso não se coadunava com o espírito do regime que, na altura, vigorava.

Havia na época dois cafés nas imediações das oficinas dos Janeiros, ambos com uma frequência não muito intensa, onde os clientes mais velhos iam saborear o “cafezinho do costume”, e, os mais novos, iam jogar um pouco o bilhar e alongar-se em conversas singelas, embora disputadas, sobre o Benfica e o Sporting, que o Porto ainda não tinha atingido a maioridade desportiva. Também aqui, nos cafés, não se falava de política, nem sequer quando, em 1936, da guerra civil de Espanha.

Os meus olhos de hoje dão-me a leitura das coisas daquele tempo, tal como as senti, naturalmente.

Nas descrições que fiz, no entanto, cometi um lapso, que seria imperdoável, se não o confessasse: não referi que do cimo da rua da Alegria, já na rua dos Camilos, se avista, dominante, o nosso rio Douro, uma enorme corrente de água - quando das cheias, quase imensa - que sempre condicionou os nossos sentimentos. De um rio bravio e de que gostávamos, fizeram os homens um lago calmo, navegável, mas com uma faceta ou com outra,  um rio quase espiritual, mais se ainda se não esquecermos o valor da faina única dos seus “rabelos”, que noutro tempo garantiram a chegada do néctar duriense à cidade do Porto e à consequente exportação.

A fotografia não nos mostra o rio, mas nem um só reguense ignora o seu rio lindo, que lhes corre aos pés e que é a razão do nosso amor à região que ele, amorosamente, vai continuar a saudar por toda a eternidade.

Que saudades eu tenho daqueles tempos, dos amigos, das brincadeiras!

Era uma felicidade plena, que sempre se sobrepôs a todos os contratempos da vida!
- Abeilard Vilela, Janeiro de 2013

Clique  na imagem para ampliar. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

UM QUADRO FESTIVO

Um dos quadros que enobrecem a minha sala de estar pintou-o Afonso Soares, artista e historiador reguense que tem busto e memória, ali no simpático jardim do Cruzeiro.

Quadro a óleo sobre folha de flandres, mostra-me uma cena campestre, cheia de beleza e colorido.

O céu e azul, mal forrado de nuvens algodoadas e, como pano de fundo, na linha do horizonte, lá estão umas casas de campo, casas de lavoira que vão do amarelo ocre até ao branco duma caiação já antiga e meio desbotada. Em volta das casas, a verdejar, há umas tantas árvores esguias que me parecem choupos.

Que sítios seriam estes?...

O primeiro plano é todo ele um ervaçal de macieza, cortado por um carreiro de terra batida. E, pelo carreiro, vem caminhando uma rapariga cheiinha de mocidade. Traz uma boa regaçada de erva fresca onde pontilham umas florinhas brancas e parece caminhar com certo desembaraço, a despeito dum ligeiro requebro da cintura.

Um pincel mais miudinho, ao que julgo, deu-lhe a finura dos traços e o quer que seja de luz irradiante. Aquele leve sorriso a flor dos lábios e aquela boca onde se adivinham cantigas de espairecer, sei lá se uns dichotes cortados de gargalhadas, são traços de pincel miudinho.

Com uma pele trigueirota de camponesa e já com um corpo esbelto de senhora, parece fixar-me com o olhar. Mas os olhos, apesar de fitos em mim, devem ser olhos movediços, alegres de condição. Quem seria esta cachopa, assim pintada por Afonso Soares?

Já lhe pus um nome, que é o melhor modo de eu próprio retocar o quadro. Pus-lhe o nome de Margarida, também uma flor campestre. Se em vez duma regaçada de erva, trouxesse com ela uma bilha de agua fresca, mal poisada na ilharga, - Margarida vai a fonte - cuido que viria caminhando com o mesmo desembaraço e a mesma alegria no rosto trigueiro. Que o digam as arrecadas de oiro, os olhos movediços e a boca sorridente.

Margarida veste ao calhar de cada dia e vem descalça com a saia arrepanhada a um dos lados, a deixar ver um tudo nada do saiote vermelho e, por debaixo da blusa, avultam-lhe os pomos dos seios. Se saísse apoucada com estes modos de vestir…. Mas não.

Claro que, por esse tempo, Margarida devia ter também as suas vaidades e é crível que, em cada ano, viesse as festas do Socorro, com outros luxos, outro brio no vestir.

Estou a vê-la pela rua fora, com suas argolinhas de oiro, um certo espairecimento no rosto e na cinta flexível. E, naturalmente mesmo um verdadeiro arraial dentro do peito.
Manuel Braz de Magalhães
Nota: Publicado no Boletim das Festas de Nossa Senhora do Socorro
  • Sobre José Afonso de Oliveira Soares neste blogue
Clique  na imagem para ampliar. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Miguel Torga (12-08-1907 - 17-01-1995)

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, (São Martinho de Anta, 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995) foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios. - Fonte Wikipédia
Em homenagem a Miguel Torga, recordo o grande Poeta e Escritor com o poema "Recomeçar" (que bem precisamos neste presente de dificuldades) e um excerto diarístico que nos conduz à terra (Devo à paisagem as poucas alegrias que tive neste mundo). 
Em nome dos nomes grandes da nossa Literatura, aqui fica a minha singela homenagem a Miguel Torga (12-08-1907 - 17-01-1995).
- Maria da Luz Magalhães - via e.mail

Recomeçar

Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
- Miguel Torga

Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo

Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo. Mas eu, não. Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven, Cervantes, Shakespeare... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe!
- Miguel Torga, in "Diário (1942)"

Clique  na imagem para ampliar. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e e-mail de Maria da Luz Magalhães. Edição de imagem e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Retalhos da net - Douro é Património Mundial há 11 anos

Transcrição 'Noticias ao Minuto' com a devida vénia - 11:25 - 05 de Dezembro de 2012 | Por Paula Lima

A chefe de projecto da Estrutura de Missão do Douro (EMD), Célia Ramos, afirmou hoje que o Douro "vai conseguir dar resposta e vai conseguir compatibilizar tudo".

"Nós responderemos absolutamente e com toda a convicção a todas as questões que nos forem colocados e que nos estão a ser colocadas", salientou.

O Ministério da Agricultura e Ambiente divulgou em Outubro que o relatório da missão da UNESCO ao Douro concluiu que a construção do aproveitamento hidroeléctrico de Foz Tua, de acordo com o projecto revisto, é compatível com a manutenção do Alto Douro Vinhateiro (ADV) na Lista do Património Mundial".

A organização mundial fez, no entanto, críticas ao processo e exige medidas de mitigação.

A UNESCO concorda com o enterramento da central eléctrica, num projecto do arquitecto Souto Moura, mas exige conhecer e pré-aprovar soluções para a subestação e para a linha de muito alta tensão.

A organização recomendou ainda a criação de um "Plano de Gestão da Zona", com força de lei, que proteja o Douro "dos impactos cumulativos de infra-estruturas como barragens, linhas eléctricas e estradas, como por impactes incrementais resultantes da ausência de políticas de gestão consistentes".

Este plano terá de ser submetido à UNESCO até 1 de Fevereiro de 2013.

"Julgo que, neste momento, com um tremendo esforço diplomático que foi feito, com uma viva e empenhada actuação por parte do Ministério do Ambiente, nós conseguimos vencer esta batalha", sublinhou Célia Ramos.

No dia 14, no Peso da Régua, decorrerá uma cerimónia que culminará as comemorações de uma década de Património Mundial, iniciadas no ano passado, e se comemorará mais um ano após a classificação. O ADV foi reconhecido em 2001.

Os secretários de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, e do Turismo, Cecília Meireles, deverão participar no evento.

As comemorações arrancam com a inauguração do monumento "Feitoria de Alma", da autoria de Gracinda Marques.

Depois, Teresa Andresen, coordenadora do estudo de avaliação do estado de conservação do ADV fará um balanço da paisagem cultural e Célia Ramos falará sobre as linhas de força para os futuros 10 anos.

Será ainda apresentado o projecto da National Geographic, o mapa guia do geoturismo para o Douro.

As comemorações juntam a EMD, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e a Comunidade Intermunicipal do Douro.

Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Recortes da net: Era uma vez um COMBOIO HISTÓRICO ? - A Linha do Tua

Do Blog "Memórias... e outras coisas... BRAGANÇA" - Filme documentário de Jorge Pelicano sobre a linha do Tua.

«Pare, escute, olhe» é um filme documentário de Jorge Pelicano sobre a linha do Tua, cuja antestreia ocorreu em Mirandela a que assistimos. Foi vencedor de sete prémios nacionais e está disponível em DVD de 30 minutos, mas tem gravações de duas horas.

O guião pega na causa da linha do TUA, em que se retrata bem alguns políticos troca-tintas. Começa na grande manifestação de 1992 com a supressão do comboio entre Mirandela e Bragança, para desembocar na grande barragem do Tua. Esta poderia ser desdobrada em duas ou três e poupava-se a jóia da engenharia ferroviária portuguesa do século XIX, com um potencial de desenvolvimento imenso que seria posto a render em qualquer país desenvolvido.

Pelo que se tem divulgado Mirandela com este filme seria de inteira justiça que a Assembleia Municipal de Mirandela, registasse para o Jorge Pelicano um «Muito Obrigado».

A mítica linha, em bitola reduzida, e o comboio quase faziam parar o relógio do tempo. Neste momento, era importante registar no terreno a sua memória, pelo que desafiamos os municípios ribeirinhos (Mirandela, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Murça e Alijó) a traçarem um «trilho pedestre Linha do Tua» intermunicipal (também para BTT).

Sugerimos, ainda, ao Município de Mirandela que faça um núcleo museológico da linha do Tua, com um misto de espólio de material ferroviário, fotografias antigas e com suporte digital. Ao museu poder-se-ia chamar «Memória das Terras de Mirandela».
- Por: Jorge Lage, in jornal.netbila.net
Publicada por Hengerinaques em Terça-feira, Novembro 06, 2012
"Pare, Escute, Olhe" de Jorge Pelicano, vencedor de 7 prémios nacionais, incluindo Melhor Documentário Português no DocLisboa 09, agora numa edição dupla de DVD. Mais de duas horas de extras, onde se inclui imagens antigas da linha ferroviária do Tua, mini-documentários sobre a ferrovia, making of, banda sonora original, fotos, entre outros.
- Disponível para venda na FNAC, El Corte Inglês e em http://coagret.wordpress.com/
  • Alguns post's neste blogue sobre os históricos e tradicionais comboios do Douro em vias de desaparecerem.
Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Transcrição do Blog "Memórias... e outras coisas... BRAGANÇA". Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.  

sábado, 3 de novembro de 2012

Retalhos da net - Era uma vez um combóio lá pelo Douro...

Transcrição - Out 27 18:00 

Estações Esquecidas em Vila Pouca de Aguiar

A Casa da Cultura de Vila Pouca de Aguiar acolherá, entre sábado 27 de Outubro e 25 de Novembro, a exposição Estações Esquecidas – 125 anos da Linha do Tua, com fotografia e vídeo de Sílvia Gonçalves.
Esta coleção permitirá fruir da riqueza natural da linha ferroviária do Tua e abrir espaço à reflexão sobre o seu futuro, num momento em que parte significativa do percurso se encontra desativada.

A relação intrínseca entre a natureza da exposição e a história do edifício da Casa da Cultura, antiga estação da Linha do Corgo, constituirá o mote para a tertúlia de inauguração de Estações Esquecidas – 125 anos da Linha do Tua. A iniciativa, marcada para sábado 27 de Outubro, pelas 18 horas, visa resgatar Memórias da Linha do Corgo, histórias de partidas e chegadas, peripécias e romances na antiga estação ferroviária de Vila Pouca de Aguiar.

Os participantes da tertúlia estão convidados a contribuir, com fotografias, documentos ou objetos relacionados com a Linha do Corgo, para a exposição permanente que está a ser desenvolvida, para a Casa da Cultura, pela VitAguiar, EM.
- Redacção

Clique  na imagem para ampliar. Imagem e texto do site do " @tual - Diário do Alto Tâmega e Barroso trenscritos e editados para este blogue com a devida vénia - Sugestão de Carlos Pinheiro e José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Outro rio, outros barcos

O rio Douro fez parte da minha instrução primária, como a geografia e aritmética. A escola ficava na Rua das Vareiras, ali a dois passos. Não tínhamos recreio coberto, nem descoberto. Nos intervalos pequenos corríamos em grande algazarra para a Meia Laranja, varandim sobranceiro ao rio. Nós maiores descíamos a rampa até ao cais. Ali, ao mesmo tempo que brincávamos, esquecidos da palmatória do Senhor Morais, íamos assistindo ao tráfego do rio.

Chegavam carros de bois, em grande chiadeira, com a sua pipa de vinho fino debaixo de um molho de canas de milho. Pelo cansaço dos bois e as pragas dos carreiros se adivinhava o Inferno dos caminhos. Outros partiam, aliviados da pipa, de moço à frente a dizer iete… iete… e carreiro atrás, de mãos nas chedas, para não cair. Aquele copinho a mais… uma ou outra camioneta aparecia já, a destoar com as suas estridências no costumado arruido do cais.

Os barcos rabelos, em linha ou lado a lado, conforme o espaço acostável disponível, esperavam as pipas, balouçando-se pesadamente ao som do chap, chap das ondas miudinhas que vinham morrer entre eles.

Os mareantes eram homens silenciosos. Andavam por ali a preguiçar ou a fazer comida em pequenos potes de ferro. Mas, começando o embarque das pipas alinhadas no cais, desatavam a praguejar e a dar ordens que só eles entendiam. Causava uma certa ansiedade ver aqueles homens descalços e de calças arregaçadas até ao meio das pernas, muito lépidos, a rebolar sobre duas pranchas frágeis, acima das águas do rio, as pipas que o barco ia engolindo. Mais uma… mais uma… Os homens subiam as pranchas com esforço e lentidão e desciam-nas rápidos como lavandiscas. Do alto da apegada o arrais dava indicações no arrumo da preciosa carga.

Para nós, a partida dos barcos rio abaixo, não tinha grande encanto. A chegada sim. Por mais distraídos que andássemos, havia sempre um que os descobria, mal despontavam as velas na curva do Salgueiral.

- Lá vem um!...

- São dois!...

- Olha aquele… que grande!

Os rabelos chegavam em frente da Régua como imponentes majestades de um reino fabuloso. A vela caía como um suspiro de gigante cansado.

Aqueles homens encardidos pelo sol e pelo vento atracavam o barco em pouco minutos. Ainda hoje me impressiona a sua destreza.

Pressentindo instintivamente o fim do intervalo, partíamos como revoada de pardais. Chegávamos aos bancos da escola muito suados, de coração a bater e olhos cheios de rio. De um rio que não é este, de barcos de ferros, ventrudos como dinossauros.

- Camilo de Araújo Correia
In revista Tribuna do Douro, Maio de 2005.

Clique nas imagens para ampliar. Texto cedido pelo Dr. José Alfredo Almeida e editado para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

BOMBEIRO AO MEU JEITO

De certo modo sempre tive os nossos Bombeiros dentro do meu ser.

Em criança era o saudoso Abílio T. Dias, carinhosamente “Bibi” lá em casa, que mal a sirene soava o seu “chamamento”, logo largava o que quer que fosse que o ocupasse, na pressa de chegar, dizendo para o meu pai:-padrinho está a tocar a sirene…

Quando mais tarde chegava, quantas vezes só no dia seguinte, o ritual de sempre. Ardeu muito, onde foi e muitas mais perguntas que trouxessem algum alívio pela aflição que sempre sentia, como se fossem os meus que estivessem em causa. Se porventura era algum acidente de estrada, relatava-nos os danos das viaturas e a situação clínica dos ocupantes.

O “Bibi”, no seu jeito humilde, mas de muita satisfação e maior orgulho pela farda que garbosamente envergava, era a minha referência em cada desfile, que eu não perdia nunca, pendurado na varanda lá de casa, na Rua dos Camilos.

Na adolescência subi muitas vezes as escadas até lá acima, para ir ao Sr. Marinheira levantar e entregar os primeiros livros, não os escolares, que esses transitavam do meu irmão mais velho. O pingue – pingue também me levou muitas vezes ao Quartel.

Com o primeiro ordenado veio a minha inscrição de associado.

Um dia, já na ternura dos 40, o Sr. Eduardo M. Sebastião convidou-me para fazer parte da lista para a direcção. Ainda não tinha acabado de expor o projecto que tinha em mente e já o meu, claro que sim, o interrompia.

Um convite tão honroso só podia ter aquela resposta.

Ao fim de 6 anos, o amigo Eduardo já com 20 anos de director deu por finda a missão.

O Dr. Alfredo Almeida deu-lhe continuidade e ao convite formulado para que eu continuasse, anui com a mesma alegria e satisfação.

Nesses 12 anos, o apelo das marchas e aprumo da Fanfarra, que me acompanhava desde a 1ª apresentação em 15 de Agosto de 1976, aquando das Festas em Honra de Nª Sª do Socorro, avivou-se.

Como o jeito para os instrumentos musicais era pouco, o meu escape foi assumir a direcção da mesma.

Em muitas cidades, vilas, aldeias do nosso cantinho à beira-mar plantado elevei bem alto o Estandarte e marchei consciente que ia ali o meu Torrão Natal. Quanto orgulho e porque não, vaidade até, ao ouvir à nossa passagem os aplausos e a exclamação, são do Peso da Régua, a que se juntava no final o reconhecimento das Comissões de Festas.

Tínhamos que declinar muitos convites, pois a agenda ficava preenchida de um ano para o outro.

Com os nossos Bombeiros tornei-me ainda mais reguense, ao calcorrear e conhecer todos os cantinhos das nossas freguesias, em angariação de fundos, quando o cofre normalmente vazio, requeria algum fundo de maneio extra para socorrer a tantas necessidades.

Um dia a minha avó nos seus 86 anos, só pedia que a levassem no carro dos Bombeiros.

Não queria ir “fechada” num carro fúnebre. O saudoso Comandante Gouveia e a Direcção fizeram-lhe a vontade. O Buick levou a minha querida avó até à última morada. Vou ficar em dívida o resto da minha vida.

As medalhas de bronze e prata com que me galardoaram aquando dos 5 e 10 anos de bons serviços directivos estão orgulhosamente encaixilhados e expostas na sala de visitas ao lado do meu mais querido legado, os meus filhos.

Aos nossos Bombeiros o meu sincero reconhecimento por me terem permitido pertencer a tão honrosa, altruísta e solidária Instituição.

P S - O bom amigo Dr. Alfredo Almeida, há bem pouco tempo, foi o meu cicerone na cortesia de apreciar as recentes obras de requalificação do Quartel Delfim Ferreira. Uma obra digna de realce e de visita obrigatória.
- Miguel Ribeiro Gonçalves
Ao Dr. Alfredo Almeida                                               
Digmo Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.

Caro amigo,

Fico-lhe grato pelo apreço que deu ao meu artigo, o que para mim foi uma surpresa.

Eu apenas disse o que penso, pois não aceito que certos críticos, que se calhar nunca sentiram a dor duma queimadura e não sabem distinguir o imaginário duma realidade, venham à praça lançar bocas que apenas servem para desmoralizar aqueles que, estóica e voluntariamente, expõem as suas vidas ao serviço da vida dos outros; mesmo que involuntariamente, cometam erros, que as circunstancias tantas vezes tornam inevitáveis; apagar um incêndio como aqueles a que assistimos pela TV, não é o mesmo que apagar a chama duma vela em dia de aniversário e cuspir nos dedos para apagar o pavio: do lado de cá tudo parece fácil, mas do lado de lá, no terreno, o cenário é real e não imaginário!

O Dr. pede-me que escreva sobre os bombeiros da Régua; porém,  eu não tenho matéria suficiente para o fazer, porque, embora o meu apreço pela instituição, não acompanhei de perto a sua história. Posso, no entanto, informá-lo da razão do meu orgulho por ela, que não é exclusividade minha, mas sim, como sabe, o orgulho de quase toda, senão mesmo toda a população do concelho, desde há muitos anos.

Como sabe, eu era ferroviário. Durante a década de 50 do século passado, era eu então factor de 2ª classe, estava na bifurcação do Corgo, a regular a circulação dos comboios procedentes da linha do Alto Douro e da linha do Corgo com destino à Régua e vice-versa, e a entrada e saída do material circulante de e para as oficinas ali existentes.

Um dia, numa conversa a propósito do incêndio da Casa Viúva Lopes, (ao qual não assisti) com o Manuel Fernandes, um operário (já falecido) que era bombeiro e trabalhava naquelas oficinas, fiquei a saber o prestígio que os bombeiros da Régua ao longo da sua historia  haviam granjeado a nível nacional; prestígio confirmado mais tarde pelo Manuel Montezinho, um dos mais acérrimos defensores da construção do conhecido por “bairro dos bombeiros”, quando era membro da direcção, então presidida pelo senhor Dr. Aires Querubim.

Fiquei entusiasmado, propus-me ser sócio da associação e, salvo o erro, terá sido o Manuel Fernandes a tratar da minha inscrição que, se a memória me não falha, com o número 1025. Não fiz nada de especial; afinal, no seu lema de vida por vida, nunca se sabe se um dia, um bombeiro perde a sua vida, para salvar a minha. E quem diz a minha, diz a de muitos outros.
Ninguém é obrigado a ser sócio da associação. Porém, para com uma instituição de voluntários, cabe-nos o dever moral de, voluntariamente também, contribuirmos para a sua grandeza que analogicamente, contribui para o orgulho da nossa terra, competindo à sua direcção e aos próprios bombeiros, com a sua dedicação, a nobre tarefa de alimentá-lo.

Da Régua, uma a uma, todas as instituições nos têm levada. Porém um dos mais ricos patrimónios desta cidade, é a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso Régua, e essa, ninguém nos pode levar.

Com os melhores cumprimentos, 
- José de Oliveira Guerra, Peso da Régua 05-9-2012
  • Bombeiros da Régua no Google (imagens)
Clique nas imagens para ampliar. Imagens e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 13 de Setembro de 2012. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue sómente com a citação da origem/autores/créditos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Retalhos da net: A INACABADA LINHA FÉRREA DE LAMEGO À RÉGUA

TranscriçãoOs efeitos da Segunda Guerra Mundial foram marcados em Portugal com uma certa instabilidade política e social, havendo constantes mudanças governamentais até 1926, sentindo-se os reflexos  nos Ministérios da Agricultura, Comércio e Indústria.
O caminho de ferro construido até então, destinado também a quebrar o isolamento a populações de localidades ermas, foi um dos veículos pelos quais muitos jovens imigraram com destino ao Litoral e grandes urbes, onde depositavam  a esperança dum emprego condigno e melhor qualidade de vida.
O êxodo dos jovens e da mão de obra do interior atingiu proporções preocupantes.
A crise, atingindo a manutenção das vias férreas, proporcionou em simultâneo a circulação automóvel, já que, também a rede de estradas nacionais proporcionava fluxos rodoviários às principais cidades do País.
A verdade é que na consequência do mal estar politico e económico vivido em Portugal até 1926, os caminhos de ferro não foram actualizados, não houve a manutenção devida, o material circulante estava ultrapassado, e era evidente uma instabilidade na instituição CP.
A comercialização e acessibilidade aos veículos automóveis, criou nas directrizes políticas, investimentos na rede viária, ficando para segundo plano a implementação e execução de nocas linhas de ferro.
Uma atitude inversa nos planos dos governos em relação às acessibilidades, ao interior, neste caso, à região do Douro, originando então neste território uma progressiva letargia em rentabilizar e manter todas as estruturas férreas construidas até então e paragem dos projectos e trabalhos duma nova linha no Douro Sul.
Seria a linha férrea Régua-Vila Franca das Naves, projecto cuja rentabilidade económica acabou por se questionar quando, se iniciaram os trabalhos entre Régua e Lamego e pouco depois pararam por motivos institucionais, económicos e políticos.
As características técnicas subjacentes ao traçado da linha, designadamente no que se refere ao declive máximo que as máquinas de então conseguiam vencer, exigiam que esta linha férrea possuísse um percurso muito ondulante.
A linha nascia na Régua, atravessava o rio Douro através de uma nova ponte de pedra construida então, mais à frente continuava numa outra ponte sobre o rio Varosa e, seguindo um traçado que se aproximava de Cambres chegava a Lamego até ao local onde hoje se situa o Palácio de Justiça e a central de Camionagem.
Os carris, foram entretanto transportados para o cais da Régua, e nesta precisa fase final dos trabalhos, por directrizes superiores, a obra em causa foi
considerada economicamente inviável, e então abandonada.
É claro que um dos grandes responsável por esta decisão foi a concorrência movida então pela camionagem para o mesmo trajecto.
Poucos anos depois quando os executivos competentes se afrontaram com a ruina em que
se encontrava a velha ponte em ferro da Régua, transformaram a abandonada ponte ferroviária para o tráfego rodoviário, alargando o seu tabuleiro.
Alguns troços foram adaptados ao tráfego rodoviário, mas a maioria do circuito permacece em bom estado.
Foram as políticas a priveligiar o litoral, a falta de estratégias turísticas tão importantes e de louvar neste território de Portugal, e com a mais valia nos tempos de hoje em rentabilizar turisticamente as linhas férreas aferentes ao Douro, que provocaram o desacelaramento e desenvolvimento deste interior, tornando-o pobre e descapitalizado.
Surge recentemente o turismo do Douro com a navegabilidade turística deste rio.
É importante que as zonas adstritas do Douro Norte e Douro Sul sejam divulgadas e façam parte dos roteiros turísticos de milhares de pessoas que anualmente visitam esta zona do País
  • Sobre comboios neste blogue !
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Transcrição de texto e imagens 'daqui'. Permitidos copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue somente com a citação da origem/autores/créditos. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Retalhos da net: DORMIR NA RÉGUA...

"T'ás maluco? Vais dormir à Régua? 'Ninguém' dorme na Régua!". Foi esta a reação quase insomníca, de ontem à tarde, assumida por um vila-realense empedernido, quando lhe anunciei que, por uns dias, ia ficar num hotel da Régua, para acompanhar uma missão da UNESCO que vai avaliar da compatibilidade da construção de uma barragem na foz do Tua com o estatuto de "património mundial" do Alto Douro Vinhateiro.

Por natureza identitária, um vila-realense que se preze não gosta da Régua, melhor, "ignora" a Régua, da mesma forma que se "irrita" com essa "irrelevância" regional que é Chaves. Para um cidadão de Vila Real, a sua cidade é um fenómeno isolado, porque entende que Trás-os-Montes (e o Alto Douro) apenas pode, e deve, ser representado pela sua ímpar urbe. E isto não se discute, por mais modesto que um vila-realense possa e queira ser. Há Vila Real e, depois, só há, para lá do Marão, o Porto. E é tudo! É claro que, um pouco mais "lá para cima", há, mas já bem depois, uma "coisa" a que se chama Bragança (e, de caminho, Mirandela e Macedo, além de umas adjacências onde "não se vai", a não ser a caminho de Espanha). Mas tudo isso já é muito "diferente".

A Régua esteve situada a 29 km de Vila Real (hoje já é bem menos), pela "estrada velha", que passava por Santa Marta e cujas curvas nos causavam enjoos infantis. Em alternativa, fazia-se quase uma hora de viagem, pela velha linha férrea do Corgo, para ir aí apanhar, até aos anos 60 (quando a camionagem do Cabanelas nos passou a fazer enjoar pelo Marão), o comboio para o Porto. Mais tarde, a Régua ficou um pouco mais próxima, quando se ia pela encosta contrária, por Nogueira. Mas vamos ser justos: por que diabo um vila-realense ia à Régua? Para nada, a menos que fosse para passar para Viseu, ou para ir a à Senhora dos Remédios a Lamego, num assomo de romaria. Ou, como experiência etnológica, se decidisse passar por lá para comprar rebuçados, às mulheres aventaladas à porta da estação e fotografar a mais pequena barbearia do mundo (que deixo a imagem, ontem registada). Às vezes, em fins de semana invernosos, também se passava pela Régua para "ver" as cheias, quando o Douro, antes das barragens (já estou a fazer política "unescal", como notaram), alagava a marginal.

Nós, em Vila Real, o que é que conhecíamos da Régua? Praticamente, só as "pequenas". Por um excedente de produção de qualidade que nunca ninguém soube explicar, a Régua enviava para Vila Real, para estudar, algumas das mais bonitas garotas que o liceu Camilo Castelo Branco alguma vez teve (e que olhos, senhores!). Os irmãos ou os primos desse "pequename", assumindo uma espécie de "template" automobilístico, vinham sempre à "Bila" de NSU, que traziam aos ralis, às gincanas ou apenas, como dizíamos, para "armar aos cágados", à porta da Gomes, em dias de circuito, a aquecer ruidosamente os escapes. Por essas e por outras é que eu, durante anos, quase que me convenci que, na Régua, não era "gente" quem não andasse de NSU, como se por aí estivesse estabelecido o principal consumo mundial dessas viaturas. "For the record", convém dizer que essas simpáticas colegas vinham cuidadosamente "policiadas" por uma austera (mas muito competente) professora de matemática reguense, a Dona Raquel. Ah! e por falar em policiamento, é também muito importante recordar aqui os "polícias da Régua", tidos como dos mais rigorosos da região, sempre de farta bigodaça e pança proeminente, os quais, dizia-se, eram ferozes a derimir questiúnculas pesadas na zona do Peso (a Régua chamava-se, ou chama-se ainda, nunca percebi bem onde o debate toponímico ficou, Peso da Régua), onde, dizia-se, os ciganos imperavam. "É pior que um polícia da Régua!" era uma frase que, por décadas, se ouvia em Vila Real, para designar alguém com mau feitio. E da Régua chegava, pela voz melodiosa de Carlos Ruela, a "Rádio Alto Douro", para despeito vila-realense, onde imperava um deserto radiofónico.

Muito mais tarde, fomos "descobrindo" que a Régua também tinha, além do vinho do Porto (ninguém, nessa altura, bebia vinho do Porto, confessemos!, salvo no Natal, casamentos e batizados), o Douro e a sua beleza natural, a qual, lamento ter de dizê-lo, nunca contribuiu muito para melhorar a imagem da (agora) cidade, que é um eterno objeto arquitetónico sem grande interesse, com pontes e viadutos a mais. Da Régua vamos ouvindo ainda, SIClicamente, nas televisões, os protestos às 13 ou às 20 horas (horas oficiais dos protestos, no Portugal contemporâneo) dos produtores de vinho da região, sempre cuidadosamente filmados em frente ao "estadonovense" edifício da Casa do Douro, com lavradores querendo mais "benefício" (o conceito demoraria algum tempo a explicar aqui) e, claro, apoios do Estado.

Mas, atenção!, na Régua, ou perto dela, comeu-se quase sempre bastante bem (e este bloguista não é indiferente ao tema, como é sabido). Mais recentemente, ia-se ao "Douro In", agora vai-se ao "Castas e Pratos" (fui lá ontem e foi um jantar soberbo!), sito nos velhos armazéns da estação ferroviária. Mais longe, lá para a Folgosa, o Rui Paula continua a dar cartas no "DOC" (depois de as ter dado no "Cepa Torta", em Alijó, e mesmo mantendo o "DOP", junto à Bolsa do Porto). Para uma experiência um pouco mais "radical", porque terá de se defrontar inevitavelmente com o mau feitio do dono da casa, e sempre avisando com antecedência, vá-se pelo cabrito à "Repentina", já fora de portas. E, para melhor discutir a barragem que por aqui nos traz, poder-se-ia acabar a tarde no "Calça Curta", bem junto à velha estação do Tua.

Eu sou um vila-realense atípico: sempre achei alguma graça à Régua. E hoje vou cá dormir, pensando (sem nostalgias, garanto!) no que será feito das belas reguenses do meu tempo. Boa noite!
Clique nas imagens para ampliar. Imagem e texto do blogue "duas ou três coisas", com a devida vénia. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue sómente com a citação da origem/autores/créditos.