A apresentar mensagens correspondentes à consulta Afonso Soares ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Afonso Soares ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O actor que foi bombeiro

Na Régua, são conhecidas duas casas de espectáculos.

A mais antiga é o Salão Recreativo Reguense, ao cimo da Rua da Vareiras (hoje Rua Custódio José Vieira). Está inactivo há muitos anos, mas o edifício preserva intacta a beleza arquitectónica do passado.

A outra é o abandonado Cine -Teatro Avenida, perto do Quartel dos Bombeiros, que se desfaz em ruínas, esperando, como no tempo em que havia filmes, um fim menos inglório.

Antes destas casas, em tempos recuados, existiu um Teatro que funcionou numa casa situada ao fundo da rampa João Macedo, hoje Rua 1.º de Dezembro.

Desse primeiro Teatro da Régua, não se fez ainda a sua história. O que se conhece está escrito no livro “História da Vila e do Concelho do Peso da Régua”, que nos deixou José Afonso de Oliveira Soares e nas crónicas do escritor João de Araújo Correia.

Do que eles escreveram sobre o primitivo Teatro, uma conclusão se pode tirar: era um teatrinho modesto, fundado por (actores) amadores, que não envergonhava a terra. Foi palco dalguns dos mais importantes actores profissionais.

Quando se abriram as suas portas, ao público, nada se sabe com certeza e rigor. Como não se sabe quantos anos esse Teatro manteve, com carácter de permanência, uma actividade recreativa e cultural.

O que está historiado é que esse Teatro foi atingido por uma das piores cheias do rio Douro, a tenebrosa cheia de 1860. As águas galgaram as margens, inundaram as ruas principais e chegaram às habitações da zona ribeirinha, onde se localizava o edifício. A força das águas destruiu-lhe os cenários, o palco e o telhado.
Conta Afonso Soares que o rio Douro, no dia 26 de Dezembro de 1860, “subindo muitos metros acima do nível ordinário, submergiu o teatro, do qual foi necessário amarrar o telhado para não ir na corrente como alguns outros”. Começou rigoroso o inverno de 1860, recorda Afonso Soares, para descrever a intensidade das águas que “fez engrossar o rio à altura de 24 metros aproximadamente acima do seu nível de estiagem”. Foi uma cheia que causou grande tragédia, provocou avultados prejuízos, nos bens e haveres, fazendo viver intensos dramas e múltiplas angústias.

Durante bastantes anos, a população da Régua ficou sem o seu Teatro. O edifício manteve-se fechado, a aguardar obras e a boa vontade de gente caridosa. Os reguenses deixam, assim, de assistir às representações das companhias que se deslocavam pelo país.

O Teatro só não desapareceu, definitivamente, porque dois beneméritos, António Pereira de Matos e o Padre Luís António Frias, decidiram reconstrui-lo para que uma companhia dramática espanhola, em tornée pelo país, pudesse representar para o público reguense, grande admirador de teatro.

A companhia espanhola era formada por artistas razoáveis, mas tinha dois actores a Joanita e o Adolfo Eulálio Pauman, que se distinguiam pela figura e boa interpretação que emprestavam aos papéis.

No seu livro, Afonso Soares revela admiração pelo actor Adolfo Eulálio Pauman. Além  dos elogios que lhe dedicou, fez-lhe o retrato para figurar numa página dedicada às casas de espectáculos.

Sobre o actor espanhol, o comandante Afonso Soares conta-nos como ele  soube conquistar o coração dos reguenses e que, após um mês de representações, não seguiu com a sua companhia, na tornée,  mas ficou a residir na Régua.

Chega a contar-nos que o actor foi bombeiro da Régua…!

Os arquivos dos bombeiros não guardam memórias desta tão ilustre personagem. Ninguém se lembra de haver registos da sua incorporação. Mas, o testemunho de Afonso Soares merece-nos credibilidade, já que o autor da História da Régua, nos primórdios da fundação da associação dos nossos bombeiros, tinha sido seu comandante (1892-1927). No exercício desse nobre cargo, é possível que o tenha admitido como sócio-activo, isto é, bombeiro e, por ser uma personalidade insigne, não deixou de o recordar.

Esta revelação de Afonso Soares é uma informação preciosa para a história dos bombeiros da Régua que, por descuido ou falta de atenção, ignorava que esta ilustre personagem tivesse sido bombeiro.

Do bombeiro Adolfo Eulálio Pauman não existem provas de que tivesse apagado fogos, nem que tivesse gestos de heroísmo. Seriam úteis esses pormenores, mas não acrescentariam nada ao exemplo de altruísmo e  generosidade que demonstrou ao alistar-se na corporação. Se no palco do primeiro Teatro da Régua foi um actor deveras aplaudido, no palco da vida brilhou como bombeiro dedicado em socorrer os reguenses.

O que sobre ele escreveu Afonso Soares chega para podermos imaginar um famoso actor que, ao som do sino da Capela do Cruzeiro - os primeiros sinais de incêndio -  se fardava de bombeiro, à volta das velhas bombas de incêndio, guardadas no pequeno Quartel, à data situado no Largo da Chafarica.
Assim, fica por contar mais uma bela e interessante história de vida…! A história do célebre actor espanhol que foi bombeiro voluntário da Régua. Dele só resta um retrato do seu rosto, da autoria do artista Afonso Soares, para o orgulho e a admiração das presentes e das vindouras gerações de bombeiros do Peso da Régua.
- Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Janeiro de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Refazer Memórias

Na primeira metade do século passado ainda o senhor José Afonso de Oliveira Soares andava por aí, por todos os caminhos e todos os recantos da vila do Peso da Régua. E sempre numa postura de bonomia e de bom trato, de mais a mais afeiçoado não só às motivações jornalísticas, mas também a todos os cenários do desenho e da pintura. Andava por aí com as suas barbas já um tanto abrancaçadas e a sorver as fumaças de um cachimbo de boa paz.

Por esse tempo já eu era um gaiato de meia dúzia de anos, nascido e criado em meio rural, todo envolvido de singelezas e flores campestres.

Por esse tempo eu não conhecia o senhor Afonso Soares, muito menos o seu talento e as suas qualidades artísticas. E mal feito fora que eu, ainda mal saído dos cueiros, andasse já a dar tento das pessoas mais ilustres e mais admiradas. Os meus cuidados, de todo infantis, andavam de volta das pereiras e dos pessegueiros a ver se já tinham frutos amadurados. Também de volta da coelha parida, a saber de quantos laparotos era a ninhada. E a pocilga do reco, sempre na engorda, até que, pelo Dezembro, o Seara vinha matá-lo e sangrá-lo em modos de o aviar em presuntos e salpicões. Nos dias mais soalheiros da Primavera, podia ir aos ninhos ou à cata dos grilos, enquanto a moça Carolina lavava um montão de roupa no tanque grande, com a água toda escumada de sabão.

Isto será um resumo da minha pretérita ruralidade. Mas foi o quadro da Margarida, quadro que Afonso Soares pintou, que veio, só por si, refazer estas memórias.

O quadro da Margarida, pintado em folha-de-flandres, foi-me oferecido pelo meu amigo Mário Joaquim, que, na altura, trabalhava na tipografia da Imprensa do Douro. O quadro é, todo ele, um cenário de tonalidades e sabores campesinos e já há tempos lhe dei realce em letra de forma. Disse, por exemplo, que por um carreiro de terra vem caminhando uma rapariga cheiinha de mocidades. Ela traz na ilharga uma regaçada de erva fresca,  se calhar para mantença da coelheira. Afonso Soares, com um pincel miudinho, deu-lhe a finura dos traços e o que quer que seja de uma luz irradiante. Os olhos da rapariga,  movediços a todo o largo, não deixam de ser envolventes e nas faces afogueadas até parece que vem por aí a cantar umas cantiguinhas, bem avivadas no calor da garganta. Os longes do quadro, esses, são ainda uma harmonia de ruralidades. À cachopa pus eu o nome de Margarida, cachopa que sendo grácil e bem apessoada, também tem o nome de uma singela flor campestre.

Guardo o quadro como uma reserva do passado e com as ressonâncias que sobrevivem num crescendo harmonioso.

Ainda a refazer memórias, bem me lembro de há uns bons trinta anos ter ido, em consulta clínica, a casa do senhor António G. Castelo Branco, ali em Cambres, na Quinta da Bugalheira. Na casa e na estreiteza do quarto, reparei que um belo quadro estava pendurado na parede. Figurava uma cabeça de Cristo, com uma bela expressão de sereno e compadecido misticismo. Da transparência das tintas e suas discretas tonalidades, pareceu-me que se evolava uma luz de recolhida santidade. Pareceu-me, até, que aquele quadro era propício à beleza e ao talentoso amadorismo do pintor Afonso Soares. E, em conversa de bom e salutar convívio, disse-me o senhor Castelo Branco que o quadro lhe fora oferecido pelo autor Afonso Soares, pois tinha sido seu amigo e quase contemporâneo.

Mas, Afonso Soares também se distinguiu como escritor e jornalista e um digno Comandante dos Bombeiros da Régua. E foi com redobrado deleite que li e reli a primeira edição da História da vila e concelho do Peso da Régua, edição que guardo a bom recato na minha biblioteca.

Em conclusão, digamos que Afonso Soares tem um busto em bronze no Jardim do Cruzeiro, a exaltar e a perpetuar o talento e as benquerenças do jornalista, do escritor e do pintor. Ali está como um sinal de luz não esmorecida, sinal a reluzir e a pulsar no nosso entendimento.

O artista, afeito a uma órbita de novidades, parece adorar o seu mundo. A olhar a rua é ainda e sempre um mendicante da arte e da beleza.
- Manuel Braz de Magalhães, Novembro de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editados para este blogue. Edição de texto e imagens de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um jantar oferecido ao primeiro bombeiro do país - Guilherme Gomes Fernandes


Quem mais escreveu sobre os bombeiros da Régua foi, sem dúvida, o reguense José Afonso Oliveira Soares, dedicado sócio -contribuinte e seu comandante de 1892 a 1927. Como protagonista activo, acompanhou de perto toda a história dos seus primórdios, da génese nos finais da monarquia, primeira república e princípios do Estado Novo, que deixou narrada num capítulo do “História da vila e concelho do Peso da Régua”.

Se não fosse Afonso Soares, hoje sabíamos muito menos do que levou um grupo de homens a “inaugurar” em 28 de Novembro de 1880, uma associação humanitária que detinha um corpo de bombeiros, composto de três esquadras. Como seria mais difícil de entender as necessidade de ter homens formados que, na ausência de um socorro municipal organizado, soubessem dar o devido uso à bomba e ao carro de material adquirido pela câmara, já que nas ruas principais da vila da Régua – a Bandeira e a Alegria - se erguiam muitos   armazéns de vinhos e aguardentes, que potenciavam perigosos e violentos fogos urbanos.

Pelo seu testemunho histórico, ficamos a conhecer quem foram os ousados fundadores, nome por nome e distinção e eficácia do Comandante Manuel Maria de Magalhães que materializou o sonho com “a grande actividade e amor de mais alguns sócios, do número dos quais se destacaram José Joaquim Pereira soares Santos e Joaquim Sousa Pinto”.

As memórias de actos de abnegação e heroísmo dos primeiros bombeiros da Régua e os honrosos reconhecimentos públicos concedidos à Associação, são evocados por Afonso Soares com algum desvanecimento. O título de “Real Associação”, concedido, em 1892, por carta do Rei D. Luís I, por ser a primeira grande condecoração nacional, mereceu-lhe uma ampla referência. Também chamou a atenção para singeleza das primeiras instalações, que ficava no Largo da Chafarica e que serviu de “ casa de quartel e recreio onde reúnem os seus associados e nela inaugurou em Janeiro de 1885 uma escolhida biblioteca”.

Depois do que deixou brilhantemente memorizado nas páginas do seu livro História da Régua, Afonso Soares que também foi distinto jornalista, publicou no semanário regional “A Região Duriense”, de 30 de Novembro de 1930, um excelente trabalho sobre a fundação da Associação e do Corpo de Bombeiro. Sem alterar o que já tinha escrito, este trabalho traz novidades e algumas revelações de acontecimentos, completamente desconhecidos, dos primórdios da vida da Associação.

Um acontecimento que destacou estava relacionado com a figura mais importante para os bombeiros portugueses: Guilherme Gomes Fernandes, o Comandante, o Inspector de Incêndios do Porto, o mais medalhado com ouro em concursos e manobras, considerado um herói de todos os tempos.

Foi este homem, mestre e sábio comandante dos bombeiros que, nos finais do séc. XIX, revolucionou as técnicas do combate aos fogos urbanos, os bombeiros da Régua tiveram o privilégio de conhecer. Ele que ficava consagrado ao alcançar um enorme êxito no concurso de manobras, realizado em Paris, em 18 de Agosto de 1900, que alguém recordou desta forma simples:

“Mas, o seu dia de maior glória verificar-se-ia precisamente seis anos mais tarde. Paris. Agosto de 1900. Realiza-se a Exposição Universal na capital francesa e, conjuntamente, um Concurso Internacional de Bombeiros (…)

(…)

A prova dos nossos antigos camaradas realizada no dia 18 de Agosto de 1900 coincidiu com a dos húngaros e americanos. Foi-lhe dado um prazo para resolver o tema do concurso. Em 15 minutos teriam de extinguir o fogo que se manifestava no terceiro andar de um prédio de seis. Não era possível utilizar a escada de serviço nem o quarto andar, e uma outra no sexto. Com material moderníssimo para a época, os americanos gastaram apenas 10 minutos. Mais morosos, os húngaros ultrapassaram o tempo limite, concluído a prova em pouco mais de 16 minutos. E, quando chegou a vez, Guilherme Gomes Fernandes conduz de tal forma os seus camaradas que 2 minutos e 56 segundos depois de a ter iniciado, a sua prova estava terminada!

Para avaliar do êxito alcançado pela exibição dos portugueses bastará referir que muitas das corporações desistiram, por considerarem a inutilidade de competir com os nossos compatriotas e superar o tempo por eles alcançado”.

Já se sabia que, em 1892, o Comandante Guilherme Gomes Fernandes tinha jantado com os bombeiros da Régua, a convite da Direcção e do Comandante Manuel Maria de Magalhães.

O pouco que sabíamos desse jantar estava mencionado num Relatório e Contas de Gerências. Quem verificar as despesas extraordinárias, repara que está assinalado um gasto num jantar, no valor de 582.880 réis, o que suscita a atenção dos mais curiosos.

Nesse precioso documento, para a informação dos associados, essa despesa extraordinária foi justificada não,  como um débito de uma  qualquer refeição,  mas de um importante “Jantar oferecido ao primeiro bombeiro do país, Sr. Guilherme Gomes Fernandes, inspector dos incêndios do Porto e sócio-honorário desta Associação”.

Foi, sem dúvida, um jantar com a presença de uma importante personalidade para os bombeiros da Régua. Se, ao tempo, teve divulgação nada se sabe, mas nos tempos de hoje, deve ser valorizado e referenciado com um acontecimento excepcional para história dos bombeiros.

Sabemos que, durante algum tempo, Guilherme Gomes Fernandes ministrou instrução aos bombeiros da Régua. Era ele que se deslocava pessoalmente e, quando não podia, mandava pessoa da sua confiança. Que o confirmou, foi o Comandante Afonso Soares que, entre outras informações, recordava no referido trabalho jornalístico,  que da primeira corporação de voluntários, o seguinte:

“Recebeu instrução directamente fornecida pelo falecido Guilherme Gomes Fernandes que várias vezes veio à Régua, outras vezes mandava pessoa da sua confiança, pertencente à Corporação dos Bombeiros Voluntários do Porto para aquele fim. O resultado que a corporação obteve da instrução fornecida por Guilherme Gomes Fernandes foi tão proveitosa que, quando aquele bombeiro que tanto ilustrou o seu nome, formou a brigada de bombeiros portugueses para irem à cidade de Lyon, para onde tinham sido convidados, convidou para fazer parte daquela equipe o actual comandante dos nossos bombeiros (Camilo Guedes Castelo Branco)”.

Sendo o Comandante Afonso Soares a lembrar tão importante episódio, não há razão para duvidar que a proveitosa a instrução fornecida por Guilherme Gomes Fernandes elevou o prestígio de um corpo de bombeiro, que tinha poucos anos de existência, mas que esteve preocupado em não ficar ultrapassado na aprendizagem das novas técnicas de combate aos fogos urbanos.

Esta era uma página brilhante que faltava acrescentar na história dos primeiros bombeiros da Régua. Uma grande momento, um exemplo de liderança, responsabilidade e de determinação em formar um corpo de bombeiros, apto e competente na sua missão de socorro. Mais do que uma honra e um privilégio para os primeiros bombeiros da Régua, foi uma oportunidade receberem os ensinamentos de quem mais sabia em matéria de combate aos incêndios. 

Este facto histórico constitui um acontecimento que sobressai no passado da Associação. Se os directores da Associação ao escreverem num documento administrativo o nome de Guilherme Gomes Fernandes como o “primeiro bombeiro do país” desejaram que o jantar que lhe ofereceram não ficasse esquecido, conseguiram que um século depois, voltasse a ser evocado, como que a revelar a grandeza e o valor de um corpo de bombeiros.

Não se conhecendo os motivos que levaram à realizarão desse jantar, não nos enganamos se afirmarmos que só pode ter sido organizado para agradecer o seu trabalho de instrutor daqueles bombeiros, voluntários na opção mas que pretendiam ser profissionais na acção, retribuindo-lhe à sua gratidão.

Gostávamos de saber o que se terá passado no decorrer desse jantar, mas parece que não foi revelado nem sequer documentado por nenhum dos convidados.

Apenas, se pode imaginar que, numa noite de 1892, os bombeiros da Régua e os seus directores, acompanhados pelo Comandante Manuel Maria de Magalhães – que, nesse ano, viria a falecer de doença - tiveram a honra de conviver e de escutar  a Guilherme Gomes Fernandes, o “primeiro bombeiro do país” como o distinguiram,   as suas proezas patrióticas nos concursos  de manobras, enquanto  jantavam…para um inesquecível  momento da História. 
- Colaboração de José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Setembro de 2010. Clique nas imagens acima para ampliar.

  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.


    Jornal "O Arrais", Sexta-Feira, 24 de Setembro de 2010
    Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua
    Um jantar oferecido ao primeiro bombeiro do país - Guilherme Gomes Fernandes.
      (Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
    Um jantar oferecido ao primeiro bombeiro do país - Guilherme Gomes Fernandes     

      sábado, 8 de janeiro de 2011

      O Copiador dos Ofícios de José Afonso de Oliveira Soares

      Guardam os bombeiros da Régua um curioso e importante copiador dos ofícios expedidos pelo Comandante José Afonso de Oliveira Soares (1892-1927) e pelo 2º Comandante Joaquim de Sousa Pinto.

      Na página de abertura desse antigo copiador dos ofícios, assinada pelo Secretário da Direcção, António Martins, era feita a seguinte anotação “há-de servir este livro para ser registada a correspondência expedida pelo comandante da corporação dos bombeiros voluntários desta vila: Peso da Régua”.

      O Comandante Afonso Soares redigia pela sua própria mão as cópias de cartas que, nos primeiros anos de funções, enviou a diversos destinatários. Era, sem dúvida, um arquivo da sua correspondência pessoal, enquanto esteve no lugar do quadro de comando dos bombeiros.

      A antiguidade do copiador está confirmada pelo primeiro ofício nele manuscrito, que tem data de 15 de Março de 1893. Trata-se de uma carta que foi enviada ao Comandante dos Bombeiros da Figueira da Foz. Agradecia o “amável obséquio” de ter intercedido junto do Rei para que fosse concedida uma benesse ao filho do falecido Comandante Manuel Maria de Magalhães. 

      Nas páginas seguintes, seguem registados mais ofícios. Que é como quem diz, manuscritos com um averbamento numa coluna da respectiva data de emissão. A correspondência expedida pelo Comandante Soares era diversa. Os principais destinários eram os bombeiros alistados na corporação que não cumpriam os deveres de assiduidade. Quando prevaricavam, o comandante, identificando-os pelo seu número e pelo nome, não deixava de lhes enviar duas palavras, a lembra-lhes a sua autoridade e o seu poder disciplinar. O assunto nelas versado ligava-se, frequentemente, aos comportamentos de faltas injustificadas aos exercícios de instrução.

      Hoje tais cartas parecem ser inúteis, mas têm a vantagem considerável de conhecer a conduta do Comandante Afonso Soares, um cidadão culto, de feitio exigente, mas tolerante com os homens que comandava. Da breve leitura das suas cartas, fica-se a saber que não aplicava cegamente as punições do regulamento em vigor. A prudência levava-o a pedir mais respeito pelos deveres de bombeiros. Só depois de reiterado o incumprimento, decidia pelos castigos aos bombeiros prevaricadores. Era norma sua, no final de cada ofício, dar este bom conselho: ”Creio bem que V. Excia cumprirá doravante o rigor e disciplina a que estamos sujeitos, e o que deveras muito sentiria”. A quem não respeitasse a advertência, o comandante costumava punir com uma multa de mil réis, a ser paga à Real Associação.

      Estão manuscritas cartas que tiveram como destinatários ilustres pessoas na vida pública. O presidente da câmara da Régua recebeu, em tempos diferentes, duas cartas com abundantes considerações e uma repetida preocupação do comandante com as questões de segurança e protecção civil, que pedia urgência na reparação das “bocas de água” da vila, para se evitar males maiores nos incêndios. O famoso e influente bombeiro Guilherme Gomes Fernandes, na qualidade de Inspector-geral dos Incêndios do Porto, recebeu correspondência do comandante, a pedir-lhe que enviasse um exemplar de ordenanças usado no corpo de salvação pública, para aplicar nos bombeiros da Régua.

      Em 9 de Junho de 1894, o copiador dos ofícios registava a Ordem do Dia nº 22, que o comandante enviou aos bombeiros. Não seria badalada se não testemunhasse uma visita que o Rei D. Luís I fazia à vila da Régua. Essa ordem era uma convocatória para os bombeiros participarem na solenidade: “São avisados todos os sócios activos a reunirem-se na casa da associação, no dia 11 do corrente pelas 10 horas da manhã a fim de prestarem as homenagens devidas as Suas  Majestades que nesse dia honram esta vila com sua visita”.

      Está também transcrita uma interessante dirigida ao Exmo Senhor Bernardino de Mesquita do Couto Zagalo com a data de 26 de Março de 1912. O Comandante agradecia-lhe a oferta de 360 exemplares do livro “Os Desherdados”. O talento e a vocação literária do comandante estão espelhados na forma selecta e polida como respondeu: “A viva significativa e extrema gravidade de V. Excia para com a colectividade do meu comando, calaram docemente no meu espírito. Amo muitíssimo a minha corporação e reconhecer que façam justiça à sua inigualável dedicação pelo bem e lhe prestarem auxilio, a preencher à constante aspiração de quem muito houvera pertencer-lhe (…) Pela corporação dos bombeiros, que tanto me orgulhado com os seus semelhantes humanitários, com os seus lances de coragem e de competente abnegação, venho significar a V. Excia as minhas mais sinceras felicitações e um afectuosíssimo e indelével reconhecimento. Saúde e Fraternidade”.

      Esta carta agradecia a cidadão que tinha alcançado notoriedade a literatura com a publicação de obras literárias popular, no seu tempo, como a peça de teatro O Heitorizinho e os Contos da Beira Alta. O autor de “Os Desherdados” não era autor obscurecido. Este distinto advogado distinguiu-se como animador das Festas do Socorro que tiveram no seu programa a realização de uma Parada Agrícola, um evento original bem sucedido, destinado a promover os produtos agrícolas duriense. Mas, qual seria a intenção que o levou a oferecer volumes de uma obra literária aos bombeiros, para que o produto da venda fizesse mais uma receita.

      Procurámos descobrir o motivo de tão generosa oferta deste benemérito que era  natural de Lamego, mas que sempre viveu na Régua, onde faleceu em 7 de Abril de 1923. Conseguimos saber que a oferta dos exemplares do seu livro “ Os Deseherdados” teve como intenção reconhecer os insignes serviços humanitários, heroicamente prestados, na sua terra – assim ele escrevera numa carta -  por ocasião do pavoroso incêndio de 26 de Junho de 1911.

      Estava, assim, desvendado o enigma suscitado em volta  deste benemérito que associou a sua generosidade a um acto de heroísmo dos bombeiros da Régua, num combate ao grande incêndio que destruiu vinte edifícios na Rua de Almacave e ameaçou um Hospital Militar.     

      A última carta que está manuscrita no copiador dos ofícios do Comandante Afonso Soares data de 23 de Abril de 1912. Foi dirigida ao presidente do Conselho de Administração do Asilo José Vasques Osório, a pedir autorização para que os bombeiros pudessem fazer os exercícios de instrução num terreiro anexo ao edifício dessa instituição.
      A partir dessa última data, o copiador dos ofícios não registou mais correspondência. O Comandante Soares permaneceu no comando dos bombeiros até mais tarde, por volta de 1927. Não sabemos por que razão interrompeu esta missão arquivística. Pode ser que, a partir de certa altura, os copiadores tenham ficado em desuso. Se assim foi, perdeu-se um seguro hábito de registar, para a posteridade, uma correspondência com um notório interesse público.


      O primitivo copiador de ofícios será um documento raro na história dos bombeiros da Régua. Tem o valor de registar as memória dos primeiros anos de existência da Associação e da abnegada missão dos seus bombeiros voluntários que, com todas as dificuldades reais e imagináveis surgidas nos tempos finais da monarquia e inícios da primeira república, ousaram ser mais generosos e humanistas, um exemplo de cidadania que, nos nossos dias, se deve renovar com semelhante espírito.
      Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Janeiro de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
      • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
      Jornal "O Arrais", Sexta-Feira, 14 de Janeiro de 2011
      O Copiador dos Ofícios de José Afonso de Oliveira Soares
      (Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
      O Copiador dos Ofícios de José Afonso de Oliveira Soares

      quinta-feira, 7 de abril de 2011

      Uma Sineta de Palavras - 4

       
       A presença dos bombeiros na vida e obra  de João de Araújo Correia

      “A associação é digna do meu zelo e até do meu sacrifício”
      João de Araújo Correia


      Continuação.
      A primeira galera nunca chegou a ser devolvida ao museu então criado. Uma das relíquias que se encontram naquele museu é o famoso Sino de Canelas.


      Em “Uma relíquia” (in Pátria Pequena-1956), estão patentes os seus conhecimentos sobre episódios da história portuguesa. Com simplicidade e concisão, narra um acontecimento trágico e violento, as invasões francesas, na sua passagem pelo Douro, nomeadamente por Canelas e Peso da Régua. E, para concluir, demonstra satisfação por os bombeiros terem no seu museu este valioso objecto que, em tempos mais recuados, pertenceu à terra onde nasceu, a freguesia de Canelas do Douro, quando era um concelho.


      “Do extinto concelho de Canela existiram, até há bem pouco tempo, três relíquias: a casa da câmara, um livro de actas das sessões camarárias e uma sineta, cujo repique servira ordinariamente para convocar vereadores.
      (…)
      Das três relíquias, só existe a sineta. Quem quiser ver esse pedaço de bronze deverá subir à cobertura da nossa casa, como quem diz ao telhado do nosso quartel (Bombeiros Voluntários da Régua). Substituirá a sereia quando a sereia emudecer.
      (…)
      Do antigo foro de Canelas, à parte a rua da Picota, que ainda existe, continua a viver como nova, por ser de bronze, a sineta que alarmou os povos em 1808. Nós, os Bombeiros da Régua, orgulhamo-nos da sua posse. Ao festejarmos os setenta e seis, rica idade, é-nos agradável celebrar uma relíquia que não deslumbra o nosso brasão.”


      Durante a sua vida, o escritor teve a oportunidade de conhecer, com excepção de Manuel Maria de Magalhães, todos os comandantes dos bombeiros, com os quais privou de perto e fez amizade.


      Sucedeu ao Comandante Manuel Maria de Magalhães uma figura da cultura reguense, o jornalista, o pintor, o escultor, o investigador José Afonso de Oliveira Soares (1892-1927), autor da “História da Vila e do Concelho de Peso da Régua”. João de Araújo Correia foi seu amigo íntimo e ambos escreveram nos jornais que se publicaram na Régua nas primeiras décadas do séc. XX.


      A ele dedica a crónica “Configurações” (In Horas Mortas-1968) para elogiar o seu génio de artista. E na crónica “José Afonso Oliveira Soares”, publicada na primeira página do "Jornal da Régua", em 1928, escreve sobre um seu retrato para   lhe gabar  as suas qualidades morais.


      “O retrato é mal tirado. Mas a nossa adoração espiritualiza-o. Aos olhos dos devotos não escorrem sangue as feridas mal pintadas dos crucificados? À nossa vista, o Senhor Soares gravado é o Senhor Soares vivo. O fenómeno do riso no octogenário ensilveirado de barbas é um dos encantos do homem que vem, às tardes sentar-se no banco do Zé Pinto, do esteta que procura uma mercearia para espairecer, como há enxovedos que procuram os museus para ressoar. O riso é o triunfo do homem sobre as trivialidades que o circundam. A beleza e fealdade das coisas são reacções interiores. Por isso vemos o Senhor Soares deliciado quando o Afonso Henriques Morrão pesa bacalhau ou o Zé Pinto se põe a esculpir estátuas impressionistas de oiro, com manteiga. Se o amor preleva o senso estético no descobrir em prosa poesia num pelo defumado do cachimbo do Senhor Afonso Soares, veremos o singular indivíduo que vive oitenta anos à sombra de sertanejo campanário, sem prejuízo da harmonia do seu vestir ou pensar. A gravura que encima, esta coluna e, por consequência uma maravilha.
      (…)
      Não é exacto valerem os homens somente pela obra executada. Os homens valem pelo mundo íntimo que abrigam e vem transparecer à flor do olhar, do gesto, da palavra, que é a maneira de pôr a gravata ou o chapéu. O Senhor Soares vale um tesoiro.Com aquelas barbas chamuscadas de fumo, a moeda romana que lhe orna o peito, vale tanto como se houvesse despedido do lar aos vinte anos, com a sua habilidade e seus pincéis e regressasse pelos oitenta, coroado de espinhos loiros, bem granjeado o nome pomposo de Mestre José Afonso”.


      Quanto ao Comandante Joaquim de Sousa Pinto (1927-1930), comerciante estabelecido na Rua dos Camilos, nº 45, no tempo em que havia as mercearias com fartos recheios de produtos do comércio de retalho, homem que também se distinguiu como vereador da autarquia, nos finais da monarquia, foi referenciado na crónica “A Botica do Anastácio”, publicada no jornal “O Arrais”, em 1981.


      “A Régua actual, tornemos a dizer, não é muita antiga. Nasceu com a Companhia Velha, cujo edifício e armazém, à beira do nosso rio, são uma espécie de quartel-general do país vinhateiro. Deram à Régua o foro de capital do Douro, região que vai desaparecer – se é certo o que anunciam os jornais portugueses. Caso para gritar: aqui del-rei, que matam o Douro!
      Mas, por hoje, vamos lá recordar a botica do Anastácio, situada na Rua dos Camilos, defronte da antiga loja do Valente Novo. Loja que mudou de nome português para nome francês, mudando o proprietário. Deus lhe perdoe.
      A botica do Anastácio! Já toda a gente lhe chamava farmácia. Mas, o meu pai, amigo de termos velhos ainda lhe chamava botica. Assim como chamava Rua da Bandeira à Rua dos Camilos, porque os terrenos, por ali situados, tinham pertencido aos Portocarreiros, fidalgos da Bandeirinha, lá em baixo, na cidade do Porto.
      A Régua não é muito antiga. Mas, já se pode ir falando da Régua de ontem aos actuais reguenses. Como tudo quanto nasceu, também, a Régua vai envelhecendo.
      A botica do Anastácio é de ontem. É do tempo em que não havia clubes ou só havia um clube. É do tempo em que os mentideiros, os soalheiros, os centros de cavaco, eram as farmácias ou mercearias. Memorável ponto de reunião foi a botica do Anastácio - como lhe chamava meu pai. Memorável clube improvisado.
      Anastácio, de pé, do lado de dentro do mostrador, deitava aos contertúlios, de vez em quando, uma palavra mansa.
      Era homem calmo, correcto, farmacêutico limpo e honesto como não havia segundo. Receita aviada por ele saía das suas mãos como obra-prima em forma de garrafa, hóstias ou pomada. Morreu bastante novo, com uma diabete quase fulminante.
      Contertúlios reunidos à noite eram aí meia dúzia. Além de meu pai, conto o Dr. Vasques Osório, mais conhecido por Doutor Galego, por ser filho de Domingos, galego de nação; Joaquim Lopes da Silva, homem de grande tino comercial, uma energia oriundo de Ovar; Cardoso Mirandela, então ajudante de notário, homem esperto e positivo; Joaquim de Sousa Pinto, merceeiro bem disposto, dedicado comandante de bombeiros; Joaquim Penhor, a quem chamavam o Tio Rico, e outros.
      Conversavam sobre a política do tempo, contavam anedotas recessas, etc.
      Tio Rico morava lá em cima, no Poeiro, numa casa que veio a ser residência paroquial. Creio que vivia com mulher e cunhadas. E, como não tivesse filhos, deixou a casa ao Cardoso Mirandela, sobrinho dele por afinidade.
      A Régua não é muito antiga. Mas, como se vê, começa a ter que contar”.


      Do Comandante Camilo Guedes Castelo Branco (1930-1949), ajudante de notário de profissão, jornalista em jornais de índole republicana, distinto poeta, com uma obra publicada – “Farternalis Dolor” -  e muita  dispersa, o escritor  insere  no seu livro “Lira Familiar”,  o fragmento poético Instantâneo VI, que aquele tinha assinado com o pseudónimo de Gil Vaz, no “Jornal da Régua”, em1937. Em nota final, nessa sua obra, elogia-lhe o talento de poeta e aconselha que se reúna num livro a sua poesia dispersa.


      “Poeta lírico de altíssimo talento, pedem colectânea há muito, os seus dispersos.Com ele se poderia formar um dedicado ramo de flores”.


      O Comandante Lourenço de Almeida Medeiros (1949-1959), faleceu em 12 de Dezembro de 1959. Destacou-se pelos seus 63 anos de serviço nos bombeiros, o que foi reconhecido com uma alta condecoração do Estado, a comenda de Cavaleiro da Ordem da Benemerência.


      Na crónica intitulada “Delicadeza” (In Pátria Pequena -1959) escreveu um “in memoriam” a um homem delicado, carinhosamente tratado pelo “Lourenchinho”.


      “Faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem delicado. Melhor dizendo, faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem que exerceu, durante mais de oitenta anos, a delicada arte de ser delicado.
      Parece que o exercício dessa função espiritual o conservou moço até ao limiar da cova. Tinha oitenta anos como se tivesse apenas cinquenta, mas, direitos e elegantes como guias de salgueiro.
      Toda a gente sabe ou adivinha que o nosso morto é o Lourenço de Almeida Pinto Medeiros, o Lourenchinho, como lhe chamávamos todos, consoante o uso no Norte. O inho, entre nós, não é mau signo de equívoca personalidade, é tributo que se paga em moeda de afectivo respeito, a um homem que o mereça.
      O Lourenchinho, reguense nato, inteligência circunscrita a ideias intramuros, coração transbordante de paixões locais, Bombeiros e Festas do Socorro, foi excepção na Régua devido à sua ingénita delicadeza.
      Por esse motivo, além de outros, faz imensa falta a este burgo comercial, tão atarefado, que não considerou que cortesia é sinal de civilização.
      Terra que não saiba cumprimentar, que não perdoe pequenas fraquezas a naturais e estranhos, que não dissolva mesquinhos ressentimentos, não vença a iníqua antipatia que lhe inspiram os melhores filhos, é terra de esboço colonial de provável povoação.
      É tempo de a Régua se orgulhar de cidadãos polidos como o Lourenchinho. Ele e poucos mais, que felizmente por aí ficaram, uns ricamente vestidos, outros pobremente vestidos, provam que a Régua não é árida de cortesia como a pintam os seus hóspedes mais sensíveis.
      O Lourenchinho, foi fidalgo de natureza, que é maneira menos falível de ser fidalgo”.


      Por volta de 1958, os bombeiros necessitaram de ajuda da população para comprar uma nova ambulância, a auto-maca de que tinham falta para transportar os doentes para os hospitais do Porto. Mais uma vez, o escritor reguense, que conhecia bem as dificuldades que vivia a Associação, mostra as suas qualidades cívicas.


      O escritor sabia que os seus textos eram lidos com atenção e respeitados. Em tom dramático, mas repleto de humor, na crónica “Socorro!” (In Pátria Pequena-1958) faz um apelo à generosidade dos reguenses. Deve dizer-se que, no ano seguinte, os bombeiros juntaram a verba para compararem a necessitada ambulância.


      “É indispensável e até urgente que os nossos bombeiros adquiram uma ambulância nova! A que aí têm é ainda um bom carro, foge que voa pela estrada fora e trepa ao cimo dos nossos montes como um gato, mas é inóspita para doentes e pessoas que os acompanham. Não tem defesa contra o frio e calor externos. Em viagens longas, consoante a estação, é frigorífico ou crematório.
      (…)
      Tornou-se angustiosa a necessidade de se adquirir nova auto-maca. A velha ficará para serviço rápido, subir a Poiares ou a Sedielos num rufo, suprir ou auxiliar veículo novo em caso de necessidade. Para levar um doente à Misericórdia do Porto, aos hospitais de Coimbra ou Lisboa, pôr-se-á a caminho ordinariamente uma ambulância capaz de o agasalhar e proteger com o maior carinho e o menor dispêndio.
      De todos os fogos, o que lavra no corpo ferido ou doente é o mais credor de imediato socorro. Não há casa que valha uma vida humana. Levar a uma enfermaria o semelhante é acudir-lhe com o coração guiado pelo espírito. É um acto que transcende da simples caridade. Deixar morrer é matarmo-nos. O bem comum mais precioso é o homem. Como quem diz: somos nós todos. No caso de auxiliarmos os Bombeiros, na compra da auto-maca, o que lhe dermos será economia nossa que vamos pôr a juros. Imaginemos, à nossa vontade, que somos beneméritos. O que seremos, em boa análise, é egoístas. O óbolo que sair do nosso bolso é um seguro de vida. Reverterá, quando mal nos precatarmos, a nosso próprio favor. Ninguém dirá, vendo passar a auto-maca: de ti, estou eu livre.”


      Em 8 de Agosto de 1953, o bombeiro João Gomes de Figueiredo - conhecido por João dos Óculos - morreu no combate ao  incêndio  na Casa Viúva Lopes. A sua morte causou enorme a dor e mágoa aos reguenses que não deixaram de expressar os sentimentos, quer à sua família de sangue – deixava a viúva e três filhos menores na miséria –, quer à do seu coração, ao Corpo de Bombeiros.


      Nesse dia fatídico, o escritor que, por sinal, era um seus dos patrões, já que era um dos sócios da Imprensa do Douro, onde o malogrado bombeiro trabalhava como tipógrafo, dirigiu um telegrama à Exma Direcção dos Bombeiros Voluntários, a manifestar os seus “Sentidos pêsames - trágico falecimento dedicado  Bombeiro e Homem de Bem Joaquim Figueiredo”.
      Nas páginas do Boletim das Bodas de Diamante da Associação (1955), escreveu um soneto em memória daquele bombeiro. Para ele, este malogrado bombeiro que morria aos 33 anos de idade, era o símbolo que não podia ser ignorado, como exemplo verdadeiro de que, muitas vezes, estes “soldados da paz” dão a sua própria vida para salvar a do seu semelhante.


      O João dos Óculos nasceu bombeiro
      Embora fosse pálido e franzino,
      Cumpriu até o fim o seu destino
      Com impoluta alma de guerreiro.


      Nenhuns braços lhe foram cativeiro
      Mal da sereia ouvisse o som mofino…
      Em uma noite de luar divino
      Foi encontrar a morte num braseiro.


      A sua associação - cândida amante -
      Celebra hoje as Bodas de Diamante…
      -Quase cem anos de existência honesta.


      Um bom diante, sócios, é carvão.
      Ide buscar o coração do João
      E fazei dele o símbolo da festa.”
      Em 28 de Novembro de 1980, quando a associação festejava o primeiro centenário e os bombeiros  estavam encarregados da  organização do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, escreveu no Boletim do Centenário (1980) o inédito “História de um Soneto”, para lembrar os “versos de cegos” – na opinião de seu filho Camilo - que tinha escrito em memória  do abnegado jovem bombeiro João dos Óculos,  tragicamente falecido no combate a um  incêndio.


      “Tive muita pena do João dos Óculos, falecido em 1953. Quando, em 1955, festejou as bodas de diamante a benemérita ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA, lembrei-me dele e da sua trágica morte E, vai daí, andando a passear no meu quarto, improvisei um soneto à sua memória. Digo improvisei, porque me apareceu, no cérebro, desde a primeira à última palavra. Nasceu-me, de mais a mais, a conversar com um dos meus filhos, o Camilo, que não é nada tolo como toda a gente sabe.
      Por ele não ser tolo, recitei-lhe o soneto antes de o escrever.
      Mas, que má impressão lhe causei! Premiou-me os catorze versos com uma coroa de espinhos. Disse-me que eram versos de cego.
      Versos de cego, em 1955 eram uma versalhada, que os ceguinhos entoavam na rua, ao som da viola, violão ou outro instrumento de corda, para apurar tostões. Levavam de terra em terra, tocando e cantando, o noticiário de grandes casos. Eram quase sempre, eco de grandes crimes, principalmente crimes passionais.
      Estou a ouvi-los entoar a versalhada, que, na opinião do meu filho, era mãe do meu soneto.
      Embora… Publiquei os meus catorze versos numa folha ilustrada, comemorativa dos setenta e cinco anos dos nossos bombeiros.
      (…)
      Mal chegou a Lisboa o sonetito, encontrou no Dr. Nuno Simões carinhoso acolhimento. Depois de o ler na folha única, não se conteve o ilustre publicista. Comunicou o seu entusiasmo à Associação dos Bombeiros.
      Isto de críticos… Se todos pensassem o mesmo, a respeito de qualquer obra, tombava o mundo para uma banda, correria o risco de se perder na imensidade.
      Todos os conselhos ouvirás e o teu não deixarás – reza o prolóquio. Todas as críticas ouvirás e a tua não deixarás – digo eu antes e depois de publicar os meus escritos. Sei ou suponho que sei até que ponto merecem ser publicados”.


      Em carta dirigida ao Secretário da Direcção dos Bombeiros do Peso da Régua, encontrada nos arquivos da Associação, João de Araújo Correia pedia o máximo cuidado na revisão dos seus textos. Era um cultor rigoroso da língua portuguesa e temia os erros e as gralhas tipográficas estragassem a qualidade literária dos seus escritos.


      “Para corresponder ao amável convite de V. Excia, para colaborar num livro comemorativo do centenário da sua Associação, tive a honra de lhe remeter, pelo Sr. António Luís Pinto, empregado da Imprensa do Douro, três originais.
      Trata-se de uma crónica inédita, intitulada História dum Soneto, e de dois artiguinhos que devem ser agora republicados.
      Suponho que nenhum dos meus escritos, enviados a V. Excia pelo Sr. António, destoarão da índole do livro. Todos aludem a tempos idos da Associação.
      Como tenho tido medo a gralhas tipográficas, não dispensarei a revisão de provas. Podem estas ser enviadas pelo dito Sr. António Luís Pinto – seja qual for a tipografia que imprima o livro”.


      O certo é que nesse Boletim só foi publicado o inédito. Nenhuns dos seus dois artiguinhos “dos tempos idos da Associação” foram republicados.


      E foi pena… Em vez dele, publicaram uma sua poesia alusiva à data histórica, que intitulou de “Centenário dos Bombeiros”.


      Em 28 de Novembro de 1980, os bombeiros da Régua celebravam 100 anos de vida, com sinais de vitalidade, força e grande determinação. Uma vez mais, mostram estar actuantes na sociedade e os seus valores de generosidade provavam que estavam preparados para assumir mais  desafios no futuro. Como sempre, os bombeiros olham em frente, marcham em direcção a um novo horizonte, sempre com uma intenção: fazer mais e melhor, estando ao serviço da sua comunidade.
      A longevidade da Associação fez reflectir mais o escritor, para quem os seus homens tinham uma certa condição de imortalidade: “Bombeiros não envelhecem/Nem sequer podem morrer/Como qualquer outro ser/Bombeiros não envelhecem/Nem sequer pode morrer”.


      Por outras palavras, o escritor João de Araújo Correia imortalizou os bombeiros da sua terra não como heróis, mas como seres de elevados princípios humanistas.


      Ao longo de mais 130 anos de missão, os bombeiros souberam construir uma a história colectiva de uma instituição nascida para servir e ajudar as pessoas, erigindo uma grande casa para fazer o Bem, como o seu primeiro um ideal, mas também para ser útil social e culturalmente.


      No início de novo século, apostarão na modernidade, no conhecimento, na formação e na inovação, mas serão testemunhas privilegiadas dos valores e dos princípios de humanismo, de altruísmo e de filantropia, que pretendem manter firmes e perenes, sem nunca esmorecer os ideais dos seus fundadores.


      Porque os bombeiros merecem admiração e respeito de cada um de nós, temos de repetir o que deles afirmou o escritor João de Araújo Correia: “Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada com um elmo de ouro, não é um homem. É um semi-deus”.

      - Colaboração de J. A. Almeida - Régua para "Escritos do Douro".
      João de Araújo Correia na "Infopédia"
      João de Araújo Correia na "Wikipédia"

      sábado, 5 de março de 2011

      A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa

      O Comandante Afonso Soares (1892-1927), no seu livro “Apontamentos para a História da Vila do Peso da Régua”, editado em 1907, no capítulo dedicado à história dos bombeiros, assinalou uma visita dos bombeiros voluntários de Mirandela à então vila da Régua.

      Essa visita aconteceu no dia 20 de Setembro de 1903 e coincidiu com a realização de outro acontecimento de grande significado para os bombeiros da Régua, a bênção do primeiro Estandarte que, nesse dia, foi benzido na Real Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro (hoje Capela Senhor do Cruzeiro).

      O primeiro estandarte dos bombeiro da Régua, de seda azul e branca, bordado a matiz e ouro, foi oferecido por “uma comissão de senhoras da melhor sociedade regoense” que era “composta das ex.rnas snr.as D. María Adelaide Costa Pinto, D. Isaura Lopes da Veiga, D. Margarida Clotilde de Bernardes Pereira, D. Clotilde da Costa Pinto, D. Maria Margarida Pereira e D. Virginia Augusta Pereira”.

      Os bombeiros da Régua tiveram esse estandarte graças à generosidade daquelas senhoras que custearam as despesas. Segundo consta, o emblema foi desenhado pelo grande artista que era Afonso Soares.

      Os dois acontecimentos tiveram honra de notícia no jornal “O Douro”, de 23 de Setembro de 1903, que Afonso Soares transcreveu quase na íntegra no seu livro. Ao que parece, o autor da noticia foi Afonso Soares, ele que brilhou como jornalista na imprensa local a escrever e a dirigir os jornais do fim do século XIX e os inícios do século XX.

      Quem ler a noticia, rica em detalhes e pormenores,  fica a saber quase tudo o que se passou nesse dia, desde que o comboio da linha do Douro, vindo do Tua, parou na estação da Régua e os bombeiros de Mirandela foram recebidos com foguetes e o hino nacional tocado por uma banda de música.

      Era um dia de Verão, mas chovia mansamente. As ruas da vila estavam embandeiradas e viam-se muitas pessoas para assistir à festa. O quartel, então situado no edifício do Largo da Chafarica (hoje Largo dos Aviadores) bem como as salas do andar nobre, estavam com “uma ornamentação muito vistosa, constante de ferramentas do serviço de incêndios, bandeiras, flores e festões de verdura”. A chuva que caía frequentemente não deixou que se efectuasse o exercício que os bombeiros da Régua tencionavam fazer em honra dos excursionistas.

      Durante o percurso “os hospedes foram aclamados constantemente e cobertos de flores que, das janelas, adornadas de colgaduras, lhes deitavam as damas da nossa terra”. O ambiente era de festa, grande colorido e animação popular. Os bombeiros eram já  uma força viva da sociedade reguense e as suas manifestações não eram indiferentes à população que os apoiava e  deles se orgulhava: “Era encantador o aspecto das ruas, com as bandeiras drapejando ao vento, as casas embellezadas de colgaduras de seda, de todas as côres, nuvens de pé­talas e ramos cahindo sem cessar, e milhares de pessoas apinhadas nas janellas e nos passeios, acenando, com lenços e soltando vivas”.

      O cortejo dirigiu-se para a Real Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro. Aí efectuou-se a cerimónia da bênção da bandeira oferecida aos bombeiros pelas distintas senhoras reguenses. Seguiu-se a celebração de uma missa, acompanhada no coro pela tuna artística de Mirandela, que interpretou temas deliciosos do seu selecto reportório.

      Por volta da 1 hora da tarde, reorganizou-se o cortejo que se dirigiu para a sede da associação. Orgulhosos, rua acima, os bombeiros da Régua levaram já hasteado o seu primeiro estandarte. No quartel, a comitiva foi recebida na sua sala nobre e os representantes das duas associações apresentaram cumprimentos mútuos e fizeram-se alguns discursos a assinalar os históricos acontecimentos.

      Em nome dos bombeiros de Mirandela, usou da palavra o Sr. Silva, distinto advogado, para agradecera recepção magni­fica feita aos excursionistas e enaltecendo as bellezas na­turaes da nossa terra e os sentimentos dos habitantes della. Fallou com muita eloquencia, revelando uma vasta jntelligencia e um caracter muito nobre. Foi applaudido com muito enthusiasmo”.

      Pelos bombeiros da Régua, foi Camilo Guedes Castelo Branco - chefe da segunda esquadra  e   vice-presidente da Assembleia- geral da Associação – que falou parar dar  “as boas-vindas aos nossos estimaveis visitantes e agradeceu a sua honrosa visita e os inolvidaveis testemunhos de apreço que a corporação de que faz parte e as demais pessoas que a acompanharam, em Abril de 1902, tiveram em Mirandella, pondo em relevo o quanto todos os excursionistas d'então vie­ram penhorados com as innumeras gentilezas que lá lhes prestaram”.
      No eloquente discurso não esqueceu as damas reguenses beneméritas presentes, a quem respeitosamente manifestou a sua gratidão: “Aproveitando a occasião de estar no uso da palavra e de se acharem presentes a commissão offertante da bandeira e muitas outras senhoras d`esta villa, agradeceu-lhes, commovidamente, em nome dos seus camaradas, a alta e ínestimavel distincção que com tal offerta lhes foi conferida, e accrescentando que os bombeiros regoenses haviam de saber honrar sempre essa bandeira, em que viam concretisada a realisação de quaesquer ambições ou sonhos de gloria, que porventura ti­vessem tido”.

      No fim da cerimónia, um gesto de simpatia não ficou despercebido a ninguém: “a Sra. D. Marta Benigna, uma respeitabilissima e amavel senhora da melhor sociedade mirandellense, offereceu aos bombeiros regoenses um rico e formoso ramalhete de flores artificiaes, com  uma dedicatoria muito honrosa”.

      De imediato seguiu-se um “copo de água” oferecido pelos bombeiros da Régua, ser­vido numa sala contigua ao salão do tribunal – ao tempo, ficava no rés-do-chão do Edifício da Câmara Municipal - cedida amavelmente pelo juiz de di­reito,  Dr. Manuel Alves da Silva. Estiveram presentes as damas, os bombeiros e outros excursionistas, além dos re­presentantes das corporações e da imprensa local, mas o “logar de honra foi dado ao digno commandante dos bombeiros mirandellenses, o snr. Armindo de Castro, cavalheiro que gosa toda a estima e respeitos, pelas suas invulgares qualidades de intelligencia e carácter”.

      Antes de acabar o animado repasto, houve tempo para os agradecimentos. Nas suas instalações, o senhor juiz de direito “brindou ás nossas conterraneas, cuja belleza e virtudes elogiou em sinceras palavras de justiça, alludindo, com muito brilho e felicidade, á bandeira, a cuja benção assistira, e definindo o muito que ella ficará sendo e valendo para a corporação a quem foi offerecida”. De imediato, o comandante dos bombeiros de Mirandela, o “Sr. Armindo de Castro, em termos vibrantes de sinceridade, saudou os bombeiros regoenses, a quem, bem como a todo o povo da Regoa, agradeceu a festa de que elle e os seus companheiros estavam sendo alvo”.

      Entusiasmado com esta última saudação um elemento da corporação da Régua saudou e brindou os visitantes: “o sr. Gabriel de Gouvêa, phamaceutico da associação dos bombeiros regoenses, fallou brilhantemente, brindando a todos os excursionistas e, nomeadamente, ao snr. Ar­mindo de Castro”.

      A festa de confraternização terminava ao meio da tarde. Na gare da estação, o comboio das quatro e meia já esperava pelos bombeiros de Mirandela, de volta à estação do Tua, para seguirem viagem até à sua terra.

      Na hora da partida, a “despedida foi grandiosa e commovente” e era “indescri­ptivel o enthusiasmo dos cumprimentos e saudações que então se  trocaram”.

      Nesta inesquecível visita, os bombeiros da Régua receberam os seus camaradas de Mirandela com muita amizade e um grande espírito de fraternidade. Mais que uma simples visita que marcou as vidas de homens e mulheres foi momento histórico em que duas associações, já cheias de passado, conseguiram ser pioneiras, dentro do mesmo espaço geográfico, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, de um gratificante intercâmbio de relações humanas e profissionais.

      Ao ser evocado pelas novas gerações, este encontro não pode ser observado apenas como um exercício de revivalismo, mas como uma lição para que se faça aquilo que deve ter ficado nas mentes dos nossos antecessores, a geminação das suas associações. Mais do que nunca, os bombeiros precisam de criar laços de amizade e fraternidade, de estabelecer protocolos de cooperação em áreas da protecção e do socorro e de aproximarem os saberes e as experiências de cada corporação.
      Da nossa parte, como actuais dirigentes dos bombeiros da Régua, estamos convencidos que estes bons exemplos não devem ficar apenas lembrados nas páginas da história. Por serem genuínos deve-lhes ser dada uma continuidade no presente, numa atitude solidária entre os bombeiros voluntários da Régua e os de Mirandela.


      A história desta inesquecível visita dos bombeiros de Mirandela pode repetir-se. Desde que haja uma vontade capaz de inovar uma tradição que proporcione mais compromissos entre as duas associações e, talvez, mais visitas dos bombeiros mirandelenses à cidade da Régua.
      - Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Março de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
      • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
      A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa
      Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Fevereiro de 2011
      (Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
      A visita dos bombeiros mirandellenses à villa da Regoa