A presença dos bombeiros na vida e obra de João de Araújo Correia
“A associação é digna do meu zelo e até do meu sacrifício”
João de Araújo Correia
Continuação.
A primeira galera nunca chegou a ser devolvida ao museu então criado. Uma das relíquias que se encontram naquele museu é o famoso Sino de Canelas.
Em “Uma relíquia” (in Pátria Pequena-1956), estão patentes os seus conhecimentos sobre episódios da história portuguesa. Com simplicidade e concisão, narra um acontecimento trágico e violento, as invasões francesas, na sua passagem pelo Douro, nomeadamente por Canelas e Peso da Régua. E, para concluir, demonstra satisfação por os bombeiros terem no seu museu este valioso objecto que, em tempos mais recuados, pertenceu à terra onde nasceu, a freguesia de Canelas do Douro, quando era um concelho.
“Do extinto concelho de Canela existiram, até há bem pouco tempo, três relíquias: a casa da câmara, um livro de actas das sessões camarárias e uma sineta, cujo repique servira ordinariamente para convocar vereadores.
(…)
Das três relíquias, só existe a sineta. Quem quiser ver esse pedaço de bronze deverá subir à cobertura da nossa casa, como quem diz ao telhado do nosso quartel (Bombeiros Voluntários da Régua). Substituirá a sereia quando a sereia emudecer.
(…)
Do antigo foro de Canelas, à parte a rua da Picota, que ainda existe, continua a viver como nova, por ser de bronze, a sineta que alarmou os povos em 1808. Nós, os Bombeiros da Régua, orgulhamo-nos da sua posse. Ao festejarmos os setenta e seis, rica idade, é-nos agradável celebrar uma relíquia que não deslumbra o nosso brasão.”
Durante a sua vida, o escritor teve a oportunidade de conhecer, com excepção de Manuel Maria de Magalhães, todos os comandantes dos bombeiros, com os quais privou de perto e fez amizade.
Sucedeu ao Comandante Manuel Maria de Magalhães uma figura da cultura reguense, o jornalista, o pintor, o escultor, o investigador José Afonso de Oliveira Soares (1892-1927), autor da “História da Vila e do Concelho de Peso da Régua”. João de Araújo Correia foi seu amigo íntimo e ambos escreveram nos jornais que se publicaram na Régua nas primeiras décadas do séc. XX.
A ele dedica a crónica “Configurações” (In Horas Mortas-1968) para elogiar o seu génio de artista. E na crónica “José Afonso Oliveira Soares”, publicada na primeira página do "Jornal da Régua", em 1928, escreve sobre um seu retrato para lhe gabar as suas qualidades morais.
“O retrato é mal tirado. Mas a nossa adoração espiritualiza-o. Aos olhos dos devotos não escorrem sangue as feridas mal pintadas dos crucificados? À nossa vista, o Senhor Soares gravado é o Senhor Soares vivo. O fenómeno do riso no octogenário ensilveirado de barbas é um dos encantos do homem que vem, às tardes sentar-se no banco do Zé Pinto, do esteta que procura uma mercearia para espairecer, como há enxovedos que procuram os museus para ressoar. O riso é o triunfo do homem sobre as trivialidades que o circundam. A beleza e fealdade das coisas são reacções interiores. Por isso vemos o Senhor Soares deliciado quando o Afonso Henriques Morrão pesa bacalhau ou o Zé Pinto se põe a esculpir estátuas impressionistas de oiro, com manteiga. Se o amor preleva o senso estético no descobrir em prosa poesia num pelo defumado do cachimbo do Senhor Afonso Soares, veremos o singular indivíduo que vive oitenta anos à sombra de sertanejo campanário, sem prejuízo da harmonia do seu vestir ou pensar. A gravura que encima, esta coluna e, por consequência uma maravilha.
(…)
Não é exacto valerem os homens somente pela obra executada. Os homens valem pelo mundo íntimo que abrigam e vem transparecer à flor do olhar, do gesto, da palavra, que é a maneira de pôr a gravata ou o chapéu. O Senhor Soares vale um tesoiro.Com aquelas barbas chamuscadas de fumo, a moeda romana que lhe orna o peito, vale tanto como se houvesse despedido do lar aos vinte anos, com a sua habilidade e seus pincéis e regressasse pelos oitenta, coroado de espinhos loiros, bem granjeado o nome pomposo de Mestre José Afonso”.
Quanto ao Comandante Joaquim de Sousa Pinto (1927-1930), comerciante estabelecido na Rua dos Camilos, nº 45, no tempo em que havia as mercearias com fartos recheios de produtos do comércio de retalho, homem que também se distinguiu como vereador da autarquia, nos finais da monarquia, foi referenciado na crónica “A Botica do Anastácio”, publicada no jornal “O Arrais”, em 1981.
“A Régua actual, tornemos a dizer, não é muita antiga. Nasceu com a Companhia Velha, cujo edifício e armazém, à beira do nosso rio, são uma espécie de quartel-general do país vinhateiro. Deram à Régua o foro de capital do Douro, região que vai desaparecer – se é certo o que anunciam os jornais portugueses. Caso para gritar: aqui del-rei, que matam o Douro!
Mas, por hoje, vamos lá recordar a botica do Anastácio, situada na Rua dos Camilos, defronte da antiga loja do Valente Novo. Loja que mudou de nome português para nome francês, mudando o proprietário. Deus lhe perdoe.
A botica do Anastácio! Já toda a gente lhe chamava farmácia. Mas, o meu pai, amigo de termos velhos ainda lhe chamava botica. Assim como chamava Rua da Bandeira à Rua dos Camilos, porque os terrenos, por ali situados, tinham pertencido aos Portocarreiros, fidalgos da Bandeirinha, lá em baixo, na cidade do Porto.
A Régua não é muito antiga. Mas, já se pode ir falando da Régua de ontem aos actuais reguenses. Como tudo quanto nasceu, também, a Régua vai envelhecendo.
A botica do Anastácio é de ontem. É do tempo em que não havia clubes ou só havia um clube. É do tempo em que os mentideiros, os soalheiros, os centros de cavaco, eram as farmácias ou mercearias. Memorável ponto de reunião foi a botica do Anastácio - como lhe chamava meu pai. Memorável clube improvisado.
Anastácio, de pé, do lado de dentro do mostrador, deitava aos contertúlios, de vez em quando, uma palavra mansa.
Era homem calmo, correcto, farmacêutico limpo e honesto como não havia segundo. Receita aviada por ele saía das suas mãos como obra-prima em forma de garrafa, hóstias ou pomada. Morreu bastante novo, com uma diabete quase fulminante.
Contertúlios reunidos à noite eram aí meia dúzia. Além de meu pai, conto o Dr. Vasques Osório, mais conhecido por Doutor Galego, por ser filho de Domingos, galego de nação; Joaquim Lopes da Silva, homem de grande tino comercial, uma energia oriundo de Ovar; Cardoso Mirandela, então ajudante de notário, homem esperto e positivo; Joaquim de Sousa Pinto, merceeiro bem disposto, dedicado comandante de bombeiros; Joaquim Penhor, a quem chamavam o Tio Rico, e outros.
Conversavam sobre a política do tempo, contavam anedotas recessas, etc.
Tio Rico morava lá em cima, no Poeiro, numa casa que veio a ser residência paroquial. Creio que vivia com mulher e cunhadas. E, como não tivesse filhos, deixou a casa ao Cardoso Mirandela, sobrinho dele por afinidade.
A Régua não é muito antiga. Mas, como se vê, começa a ter que contar”.
Do Comandante Camilo Guedes Castelo Branco (1930-1949), ajudante de notário de profissão, jornalista em jornais de índole republicana, distinto poeta, com uma obra publicada – “Farternalis Dolor” - e muita dispersa, o escritor insere no seu livro “Lira Familiar”, o fragmento poético Instantâneo VI, que aquele tinha assinado com o pseudónimo de Gil Vaz, no “Jornal da Régua”, em1937. Em nota final, nessa sua obra, elogia-lhe o talento de poeta e aconselha que se reúna num livro a sua poesia dispersa.
“Poeta lírico de altíssimo talento, pedem colectânea há muito, os seus dispersos.Com ele se poderia formar um dedicado ramo de flores”.
O Comandante Lourenço de Almeida Medeiros (1949-1959), faleceu em 12 de Dezembro de 1959. Destacou-se pelos seus 63 anos de serviço nos bombeiros, o que foi reconhecido com uma alta condecoração do Estado, a comenda de Cavaleiro da Ordem da Benemerência.
Na crónica intitulada “Delicadeza” (In Pátria Pequena -1959) escreveu um “in memoriam” a um homem delicado, carinhosamente tratado pelo “Lourenchinho”.
“Faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem delicado. Melhor dizendo, faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem que exerceu, durante mais de oitenta anos, a delicada arte de ser delicado.
Parece que o exercício dessa função espiritual o conservou moço até ao limiar da cova. Tinha oitenta anos como se tivesse apenas cinquenta, mas, direitos e elegantes como guias de salgueiro.
Toda a gente sabe ou adivinha que o nosso morto é o Lourenço de Almeida Pinto Medeiros, o Lourenchinho, como lhe chamávamos todos, consoante o uso no Norte. O inho, entre nós, não é mau signo de equívoca personalidade, é tributo que se paga em moeda de afectivo respeito, a um homem que o mereça.
O Lourenchinho, reguense nato, inteligência circunscrita a ideias intramuros, coração transbordante de paixões locais, Bombeiros e Festas do Socorro, foi excepção na Régua devido à sua ingénita delicadeza.
Por esse motivo, além de outros, faz imensa falta a este burgo comercial, tão atarefado, que não considerou que cortesia é sinal de civilização.
Terra que não saiba cumprimentar, que não perdoe pequenas fraquezas a naturais e estranhos, que não dissolva mesquinhos ressentimentos, não vença a iníqua antipatia que lhe inspiram os melhores filhos, é terra de esboço colonial de provável povoação.
É tempo de a Régua se orgulhar de cidadãos polidos como o Lourenchinho. Ele e poucos mais, que felizmente por aí ficaram, uns ricamente vestidos, outros pobremente vestidos, provam que a Régua não é árida de cortesia como a pintam os seus hóspedes mais sensíveis.
O Lourenchinho, foi fidalgo de natureza, que é maneira menos falível de ser fidalgo”.
Por volta de 1958, os bombeiros necessitaram de ajuda da população para comprar uma nova ambulância, a auto-maca de que tinham falta para transportar os doentes para os hospitais do Porto. Mais uma vez, o escritor reguense, que conhecia bem as dificuldades que vivia a Associação, mostra as suas qualidades cívicas.
O escritor sabia que os seus textos eram lidos com atenção e respeitados. Em tom dramático, mas repleto de humor, na crónica “Socorro!” (In Pátria Pequena-1958) faz um apelo à generosidade dos reguenses. Deve dizer-se que, no ano seguinte, os bombeiros juntaram a verba para compararem a necessitada ambulância.
“É indispensável e até urgente que os nossos bombeiros adquiram uma ambulância nova! A que aí têm é ainda um bom carro, foge que voa pela estrada fora e trepa ao cimo dos nossos montes como um gato, mas é inóspita para doentes e pessoas que os acompanham. Não tem defesa contra o frio e calor externos. Em viagens longas, consoante a estação, é frigorífico ou crematório.
(…)
Tornou-se angustiosa a necessidade de se adquirir nova auto-maca. A velha ficará para serviço rápido, subir a Poiares ou a Sedielos num rufo, suprir ou auxiliar veículo novo em caso de necessidade. Para levar um doente à Misericórdia do Porto, aos hospitais de Coimbra ou Lisboa, pôr-se-á a caminho ordinariamente uma ambulância capaz de o agasalhar e proteger com o maior carinho e o menor dispêndio.
De todos os fogos, o que lavra no corpo ferido ou doente é o mais credor de imediato socorro. Não há casa que valha uma vida humana. Levar a uma enfermaria o semelhante é acudir-lhe com o coração guiado pelo espírito. É um acto que transcende da simples caridade. Deixar morrer é matarmo-nos. O bem comum mais precioso é o homem. Como quem diz: somos nós todos. No caso de auxiliarmos os Bombeiros, na compra da auto-maca, o que lhe dermos será economia nossa que vamos pôr a juros. Imaginemos, à nossa vontade, que somos beneméritos. O que seremos, em boa análise, é egoístas. O óbolo que sair do nosso bolso é um seguro de vida. Reverterá, quando mal nos precatarmos, a nosso próprio favor. Ninguém dirá, vendo passar a auto-maca: de ti, estou eu livre.”
Em 8 de Agosto de 1953, o bombeiro João Gomes de Figueiredo - conhecido por João dos Óculos - morreu no combate ao incêndio na Casa Viúva Lopes. A sua morte causou enorme a dor e mágoa aos reguenses que não deixaram de expressar os sentimentos, quer à sua família de sangue – deixava a viúva e três filhos menores na miséria –, quer à do seu coração, ao Corpo de Bombeiros.
Nesse dia fatídico, o escritor que, por sinal, era um seus dos patrões, já que era um dos sócios da Imprensa do Douro, onde o malogrado bombeiro trabalhava como tipógrafo, dirigiu um telegrama à Exma Direcção dos Bombeiros Voluntários, a manifestar os seus “Sentidos pêsames - trágico falecimento dedicado Bombeiro e Homem de Bem Joaquim Figueiredo”.
Nas páginas do Boletim das Bodas de Diamante da Associação (1955), escreveu um soneto em memória daquele bombeiro. Para ele, este malogrado bombeiro que morria aos 33 anos de idade, era o símbolo que não podia ser ignorado, como exemplo verdadeiro de que, muitas vezes, estes “soldados da paz” dão a sua própria vida para salvar a do seu semelhante.
“O João dos Óculos nasceu bombeiro
Embora fosse pálido e franzino,
Cumpriu até o fim o seu destino
Com impoluta alma de guerreiro.
Nenhuns braços lhe foram cativeiro
Mal da sereia ouvisse o som mofino…
Em uma noite de luar divino
Foi encontrar a morte num braseiro.
A sua associação - cândida amante -
Celebra hoje as Bodas de Diamante…
-Quase cem anos de existência honesta.
Um bom diante, sócios, é carvão.
Ide buscar o coração do João
E fazei dele o símbolo da festa.”
Em 28 de Novembro de 1980, quando a associação festejava o primeiro centenário e os bombeiros estavam encarregados da organização do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, escreveu no Boletim do Centenário (1980) o inédito “História de um Soneto”, para lembrar os “versos de cegos” – na opinião de seu filho Camilo - que tinha escrito em memória do abnegado jovem bombeiro João dos Óculos, tragicamente falecido no combate a um incêndio.
“Tive muita pena do João dos Óculos, falecido em 1953. Quando, em 1955, festejou as bodas de diamante a benemérita ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA, lembrei-me dele e da sua trágica morte E, vai daí, andando a passear no meu quarto, improvisei um soneto à sua memória. Digo improvisei, porque me apareceu, no cérebro, desde a primeira à última palavra. Nasceu-me, de mais a mais, a conversar com um dos meus filhos, o Camilo, que não é nada tolo como toda a gente sabe.
Por ele não ser tolo, recitei-lhe o soneto antes de o escrever.
Mas, que má impressão lhe causei! Premiou-me os catorze versos com uma coroa de espinhos. Disse-me que eram versos de cego.
Versos de cego, em 1955 eram uma versalhada, que os ceguinhos entoavam na rua, ao som da viola, violão ou outro instrumento de corda, para apurar tostões. Levavam de terra em terra, tocando e cantando, o noticiário de grandes casos. Eram quase sempre, eco de grandes crimes, principalmente crimes passionais.
Estou a ouvi-los entoar a versalhada, que, na opinião do meu filho, era mãe do meu soneto.
Embora… Publiquei os meus catorze versos numa folha ilustrada, comemorativa dos setenta e cinco anos dos nossos bombeiros.
(…)
Mal chegou a Lisboa o sonetito, encontrou no Dr. Nuno Simões carinhoso acolhimento. Depois de o ler na folha única, não se conteve o ilustre publicista. Comunicou o seu entusiasmo à Associação dos Bombeiros.
Isto de críticos… Se todos pensassem o mesmo, a respeito de qualquer obra, tombava o mundo para uma banda, correria o risco de se perder na imensidade.
Todos os conselhos ouvirás e o teu não deixarás – reza o prolóquio. Todas as críticas ouvirás e a tua não deixarás – digo eu antes e depois de publicar os meus escritos. Sei ou suponho que sei até que ponto merecem ser publicados”.
Em carta dirigida ao Secretário da Direcção dos Bombeiros do Peso da Régua, encontrada nos arquivos da Associação, João de Araújo Correia pedia o máximo cuidado na revisão dos seus textos. Era um cultor rigoroso da língua portuguesa e temia os erros e as gralhas tipográficas estragassem a qualidade literária dos seus escritos.
“Para corresponder ao amável convite de V. Excia, para colaborar num livro comemorativo do centenário da sua Associação, tive a honra de lhe remeter, pelo Sr. António Luís Pinto, empregado da Imprensa do Douro, três originais.
Trata-se de uma crónica inédita, intitulada História dum Soneto, e de dois artiguinhos que devem ser agora republicados.
Suponho que nenhum dos meus escritos, enviados a V. Excia pelo Sr. António, destoarão da índole do livro. Todos aludem a tempos idos da Associação.
Como tenho tido medo a gralhas tipográficas, não dispensarei a revisão de provas. Podem estas ser enviadas pelo dito Sr. António Luís Pinto – seja qual for a tipografia que imprima o livro”.
O certo é que nesse Boletim só foi publicado o inédito. Nenhuns dos seus dois artiguinhos “dos tempos idos da Associação” foram republicados.
E foi pena… Em vez dele, publicaram uma sua poesia alusiva à data histórica, que intitulou de “Centenário dos Bombeiros”.
Em 28 de Novembro de 1980, os bombeiros da Régua celebravam 100 anos de vida, com sinais de vitalidade, força e grande determinação. Uma vez mais, mostram estar actuantes na sociedade e os seus valores de generosidade provavam que estavam preparados para assumir mais desafios no futuro. Como sempre, os bombeiros olham em frente, marcham em direcção a um novo horizonte, sempre com uma intenção: fazer mais e melhor, estando ao serviço da sua comunidade.
A longevidade da Associação fez reflectir mais o escritor, para quem os seus homens tinham uma certa condição de imortalidade: “Bombeiros não envelhecem/Nem sequer podem morrer/Como qualquer outro ser/Bombeiros não envelhecem/Nem sequer pode morrer”.
Por outras palavras, o escritor João de Araújo Correia imortalizou os bombeiros da sua terra não como heróis, mas como seres de elevados princípios humanistas.
Ao longo de mais 130 anos de missão, os bombeiros souberam construir uma a história colectiva de uma instituição nascida para servir e ajudar as pessoas, erigindo uma grande casa para fazer o Bem, como o seu primeiro um ideal, mas também para ser útil social e culturalmente.
No início de novo século, apostarão na modernidade, no conhecimento, na formação e na inovação, mas serão testemunhas privilegiadas dos valores e dos princípios de humanismo, de altruísmo e de filantropia, que pretendem manter firmes e perenes, sem nunca esmorecer os ideais dos seus fundadores.
Porque os bombeiros merecem admiração e respeito de cada um de nós, temos de repetir o que deles afirmou o escritor João de Araújo Correia: “Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada com um elmo de ouro, não é um homem. É um semi-deus”.
A primeira galera nunca chegou a ser devolvida ao museu então criado. Uma das relíquias que se encontram naquele museu é o famoso Sino de Canelas.
Em “Uma relíquia” (in Pátria Pequena-1956), estão patentes os seus conhecimentos sobre episódios da história portuguesa. Com simplicidade e concisão, narra um acontecimento trágico e violento, as invasões francesas, na sua passagem pelo Douro, nomeadamente por Canelas e Peso da Régua. E, para concluir, demonstra satisfação por os bombeiros terem no seu museu este valioso objecto que, em tempos mais recuados, pertenceu à terra onde nasceu, a freguesia de Canelas do Douro, quando era um concelho.
“Do extinto concelho de Canela existiram, até há bem pouco tempo, três relíquias: a casa da câmara, um livro de actas das sessões camarárias e uma sineta, cujo repique servira ordinariamente para convocar vereadores.
(…)
Das três relíquias, só existe a sineta. Quem quiser ver esse pedaço de bronze deverá subir à cobertura da nossa casa, como quem diz ao telhado do nosso quartel (Bombeiros Voluntários da Régua). Substituirá a sereia quando a sereia emudecer.
(…)
Do antigo foro de Canelas, à parte a rua da Picota, que ainda existe, continua a viver como nova, por ser de bronze, a sineta que alarmou os povos em 1808. Nós, os Bombeiros da Régua, orgulhamo-nos da sua posse. Ao festejarmos os setenta e seis, rica idade, é-nos agradável celebrar uma relíquia que não deslumbra o nosso brasão.”
Durante a sua vida, o escritor teve a oportunidade de conhecer, com excepção de Manuel Maria de Magalhães, todos os comandantes dos bombeiros, com os quais privou de perto e fez amizade.
Sucedeu ao Comandante Manuel Maria de Magalhães uma figura da cultura reguense, o jornalista, o pintor, o escultor, o investigador José Afonso de Oliveira Soares (1892-1927), autor da “História da Vila e do Concelho de Peso da Régua”. João de Araújo Correia foi seu amigo íntimo e ambos escreveram nos jornais que se publicaram na Régua nas primeiras décadas do séc. XX.
A ele dedica a crónica “Configurações” (In Horas Mortas-1968) para elogiar o seu génio de artista. E na crónica “José Afonso Oliveira Soares”, publicada na primeira página do "Jornal da Régua", em 1928, escreve sobre um seu retrato para lhe gabar as suas qualidades morais.
“O retrato é mal tirado. Mas a nossa adoração espiritualiza-o. Aos olhos dos devotos não escorrem sangue as feridas mal pintadas dos crucificados? À nossa vista, o Senhor Soares gravado é o Senhor Soares vivo. O fenómeno do riso no octogenário ensilveirado de barbas é um dos encantos do homem que vem, às tardes sentar-se no banco do Zé Pinto, do esteta que procura uma mercearia para espairecer, como há enxovedos que procuram os museus para ressoar. O riso é o triunfo do homem sobre as trivialidades que o circundam. A beleza e fealdade das coisas são reacções interiores. Por isso vemos o Senhor Soares deliciado quando o Afonso Henriques Morrão pesa bacalhau ou o Zé Pinto se põe a esculpir estátuas impressionistas de oiro, com manteiga. Se o amor preleva o senso estético no descobrir em prosa poesia num pelo defumado do cachimbo do Senhor Afonso Soares, veremos o singular indivíduo que vive oitenta anos à sombra de sertanejo campanário, sem prejuízo da harmonia do seu vestir ou pensar. A gravura que encima, esta coluna e, por consequência uma maravilha.
(…)
Não é exacto valerem os homens somente pela obra executada. Os homens valem pelo mundo íntimo que abrigam e vem transparecer à flor do olhar, do gesto, da palavra, que é a maneira de pôr a gravata ou o chapéu. O Senhor Soares vale um tesoiro.Com aquelas barbas chamuscadas de fumo, a moeda romana que lhe orna o peito, vale tanto como se houvesse despedido do lar aos vinte anos, com a sua habilidade e seus pincéis e regressasse pelos oitenta, coroado de espinhos loiros, bem granjeado o nome pomposo de Mestre José Afonso”.
Quanto ao Comandante Joaquim de Sousa Pinto (1927-1930), comerciante estabelecido na Rua dos Camilos, nº 45, no tempo em que havia as mercearias com fartos recheios de produtos do comércio de retalho, homem que também se distinguiu como vereador da autarquia, nos finais da monarquia, foi referenciado na crónica “A Botica do Anastácio”, publicada no jornal “O Arrais”, em 1981.
“A Régua actual, tornemos a dizer, não é muita antiga. Nasceu com a Companhia Velha, cujo edifício e armazém, à beira do nosso rio, são uma espécie de quartel-general do país vinhateiro. Deram à Régua o foro de capital do Douro, região que vai desaparecer – se é certo o que anunciam os jornais portugueses. Caso para gritar: aqui del-rei, que matam o Douro!
Mas, por hoje, vamos lá recordar a botica do Anastácio, situada na Rua dos Camilos, defronte da antiga loja do Valente Novo. Loja que mudou de nome português para nome francês, mudando o proprietário. Deus lhe perdoe.
A botica do Anastácio! Já toda a gente lhe chamava farmácia. Mas, o meu pai, amigo de termos velhos ainda lhe chamava botica. Assim como chamava Rua da Bandeira à Rua dos Camilos, porque os terrenos, por ali situados, tinham pertencido aos Portocarreiros, fidalgos da Bandeirinha, lá em baixo, na cidade do Porto.
A Régua não é muito antiga. Mas, já se pode ir falando da Régua de ontem aos actuais reguenses. Como tudo quanto nasceu, também, a Régua vai envelhecendo.
A botica do Anastácio é de ontem. É do tempo em que não havia clubes ou só havia um clube. É do tempo em que os mentideiros, os soalheiros, os centros de cavaco, eram as farmácias ou mercearias. Memorável ponto de reunião foi a botica do Anastácio - como lhe chamava meu pai. Memorável clube improvisado.
Anastácio, de pé, do lado de dentro do mostrador, deitava aos contertúlios, de vez em quando, uma palavra mansa.
Era homem calmo, correcto, farmacêutico limpo e honesto como não havia segundo. Receita aviada por ele saía das suas mãos como obra-prima em forma de garrafa, hóstias ou pomada. Morreu bastante novo, com uma diabete quase fulminante.
Contertúlios reunidos à noite eram aí meia dúzia. Além de meu pai, conto o Dr. Vasques Osório, mais conhecido por Doutor Galego, por ser filho de Domingos, galego de nação; Joaquim Lopes da Silva, homem de grande tino comercial, uma energia oriundo de Ovar; Cardoso Mirandela, então ajudante de notário, homem esperto e positivo; Joaquim de Sousa Pinto, merceeiro bem disposto, dedicado comandante de bombeiros; Joaquim Penhor, a quem chamavam o Tio Rico, e outros.
Conversavam sobre a política do tempo, contavam anedotas recessas, etc.
Tio Rico morava lá em cima, no Poeiro, numa casa que veio a ser residência paroquial. Creio que vivia com mulher e cunhadas. E, como não tivesse filhos, deixou a casa ao Cardoso Mirandela, sobrinho dele por afinidade.
A Régua não é muito antiga. Mas, como se vê, começa a ter que contar”.
Do Comandante Camilo Guedes Castelo Branco (1930-1949), ajudante de notário de profissão, jornalista em jornais de índole republicana, distinto poeta, com uma obra publicada – “Farternalis Dolor” - e muita dispersa, o escritor insere no seu livro “Lira Familiar”, o fragmento poético Instantâneo VI, que aquele tinha assinado com o pseudónimo de Gil Vaz, no “Jornal da Régua”, em1937. Em nota final, nessa sua obra, elogia-lhe o talento de poeta e aconselha que se reúna num livro a sua poesia dispersa.
“Poeta lírico de altíssimo talento, pedem colectânea há muito, os seus dispersos.Com ele se poderia formar um dedicado ramo de flores”.
O Comandante Lourenço de Almeida Medeiros (1949-1959), faleceu em 12 de Dezembro de 1959. Destacou-se pelos seus 63 anos de serviço nos bombeiros, o que foi reconhecido com uma alta condecoração do Estado, a comenda de Cavaleiro da Ordem da Benemerência.
Na crónica intitulada “Delicadeza” (In Pátria Pequena -1959) escreveu um “in memoriam” a um homem delicado, carinhosamente tratado pelo “Lourenchinho”.
“Faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem delicado. Melhor dizendo, faleceu a 12 do corrente, nos subúrbios desta vila, um homem que exerceu, durante mais de oitenta anos, a delicada arte de ser delicado.
Parece que o exercício dessa função espiritual o conservou moço até ao limiar da cova. Tinha oitenta anos como se tivesse apenas cinquenta, mas, direitos e elegantes como guias de salgueiro.
Toda a gente sabe ou adivinha que o nosso morto é o Lourenço de Almeida Pinto Medeiros, o Lourenchinho, como lhe chamávamos todos, consoante o uso no Norte. O inho, entre nós, não é mau signo de equívoca personalidade, é tributo que se paga em moeda de afectivo respeito, a um homem que o mereça.
O Lourenchinho, reguense nato, inteligência circunscrita a ideias intramuros, coração transbordante de paixões locais, Bombeiros e Festas do Socorro, foi excepção na Régua devido à sua ingénita delicadeza.
Por esse motivo, além de outros, faz imensa falta a este burgo comercial, tão atarefado, que não considerou que cortesia é sinal de civilização.
Terra que não saiba cumprimentar, que não perdoe pequenas fraquezas a naturais e estranhos, que não dissolva mesquinhos ressentimentos, não vença a iníqua antipatia que lhe inspiram os melhores filhos, é terra de esboço colonial de provável povoação.
É tempo de a Régua se orgulhar de cidadãos polidos como o Lourenchinho. Ele e poucos mais, que felizmente por aí ficaram, uns ricamente vestidos, outros pobremente vestidos, provam que a Régua não é árida de cortesia como a pintam os seus hóspedes mais sensíveis.
O Lourenchinho, foi fidalgo de natureza, que é maneira menos falível de ser fidalgo”.
Por volta de 1958, os bombeiros necessitaram de ajuda da população para comprar uma nova ambulância, a auto-maca de que tinham falta para transportar os doentes para os hospitais do Porto. Mais uma vez, o escritor reguense, que conhecia bem as dificuldades que vivia a Associação, mostra as suas qualidades cívicas.
O escritor sabia que os seus textos eram lidos com atenção e respeitados. Em tom dramático, mas repleto de humor, na crónica “Socorro!” (In Pátria Pequena-1958) faz um apelo à generosidade dos reguenses. Deve dizer-se que, no ano seguinte, os bombeiros juntaram a verba para compararem a necessitada ambulância.
“É indispensável e até urgente que os nossos bombeiros adquiram uma ambulância nova! A que aí têm é ainda um bom carro, foge que voa pela estrada fora e trepa ao cimo dos nossos montes como um gato, mas é inóspita para doentes e pessoas que os acompanham. Não tem defesa contra o frio e calor externos. Em viagens longas, consoante a estação, é frigorífico ou crematório.
(…)
Tornou-se angustiosa a necessidade de se adquirir nova auto-maca. A velha ficará para serviço rápido, subir a Poiares ou a Sedielos num rufo, suprir ou auxiliar veículo novo em caso de necessidade. Para levar um doente à Misericórdia do Porto, aos hospitais de Coimbra ou Lisboa, pôr-se-á a caminho ordinariamente uma ambulância capaz de o agasalhar e proteger com o maior carinho e o menor dispêndio.
De todos os fogos, o que lavra no corpo ferido ou doente é o mais credor de imediato socorro. Não há casa que valha uma vida humana. Levar a uma enfermaria o semelhante é acudir-lhe com o coração guiado pelo espírito. É um acto que transcende da simples caridade. Deixar morrer é matarmo-nos. O bem comum mais precioso é o homem. Como quem diz: somos nós todos. No caso de auxiliarmos os Bombeiros, na compra da auto-maca, o que lhe dermos será economia nossa que vamos pôr a juros. Imaginemos, à nossa vontade, que somos beneméritos. O que seremos, em boa análise, é egoístas. O óbolo que sair do nosso bolso é um seguro de vida. Reverterá, quando mal nos precatarmos, a nosso próprio favor. Ninguém dirá, vendo passar a auto-maca: de ti, estou eu livre.”
Em 8 de Agosto de 1953, o bombeiro João Gomes de Figueiredo - conhecido por João dos Óculos - morreu no combate ao incêndio na Casa Viúva Lopes. A sua morte causou enorme a dor e mágoa aos reguenses que não deixaram de expressar os sentimentos, quer à sua família de sangue – deixava a viúva e três filhos menores na miséria –, quer à do seu coração, ao Corpo de Bombeiros.
Nesse dia fatídico, o escritor que, por sinal, era um seus dos patrões, já que era um dos sócios da Imprensa do Douro, onde o malogrado bombeiro trabalhava como tipógrafo, dirigiu um telegrama à Exma Direcção dos Bombeiros Voluntários, a manifestar os seus “Sentidos pêsames - trágico falecimento dedicado Bombeiro e Homem de Bem Joaquim Figueiredo”.
Nas páginas do Boletim das Bodas de Diamante da Associação (1955), escreveu um soneto em memória daquele bombeiro. Para ele, este malogrado bombeiro que morria aos 33 anos de idade, era o símbolo que não podia ser ignorado, como exemplo verdadeiro de que, muitas vezes, estes “soldados da paz” dão a sua própria vida para salvar a do seu semelhante.
“O João dos Óculos nasceu bombeiro
Embora fosse pálido e franzino,
Cumpriu até o fim o seu destino
Com impoluta alma de guerreiro.
Nenhuns braços lhe foram cativeiro
Mal da sereia ouvisse o som mofino…
Em uma noite de luar divino
Foi encontrar a morte num braseiro.
A sua associação - cândida amante -
Celebra hoje as Bodas de Diamante…
-Quase cem anos de existência honesta.
Um bom diante, sócios, é carvão.
Ide buscar o coração do João
E fazei dele o símbolo da festa.”
Em 28 de Novembro de 1980, quando a associação festejava o primeiro centenário e os bombeiros estavam encarregados da organização do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, escreveu no Boletim do Centenário (1980) o inédito “História de um Soneto”, para lembrar os “versos de cegos” – na opinião de seu filho Camilo - que tinha escrito em memória do abnegado jovem bombeiro João dos Óculos, tragicamente falecido no combate a um incêndio.
“Tive muita pena do João dos Óculos, falecido em 1953. Quando, em 1955, festejou as bodas de diamante a benemérita ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA, lembrei-me dele e da sua trágica morte E, vai daí, andando a passear no meu quarto, improvisei um soneto à sua memória. Digo improvisei, porque me apareceu, no cérebro, desde a primeira à última palavra. Nasceu-me, de mais a mais, a conversar com um dos meus filhos, o Camilo, que não é nada tolo como toda a gente sabe.
Por ele não ser tolo, recitei-lhe o soneto antes de o escrever.
Mas, que má impressão lhe causei! Premiou-me os catorze versos com uma coroa de espinhos. Disse-me que eram versos de cego.
Versos de cego, em 1955 eram uma versalhada, que os ceguinhos entoavam na rua, ao som da viola, violão ou outro instrumento de corda, para apurar tostões. Levavam de terra em terra, tocando e cantando, o noticiário de grandes casos. Eram quase sempre, eco de grandes crimes, principalmente crimes passionais.
Estou a ouvi-los entoar a versalhada, que, na opinião do meu filho, era mãe do meu soneto.
Embora… Publiquei os meus catorze versos numa folha ilustrada, comemorativa dos setenta e cinco anos dos nossos bombeiros.
(…)
Mal chegou a Lisboa o sonetito, encontrou no Dr. Nuno Simões carinhoso acolhimento. Depois de o ler na folha única, não se conteve o ilustre publicista. Comunicou o seu entusiasmo à Associação dos Bombeiros.
Isto de críticos… Se todos pensassem o mesmo, a respeito de qualquer obra, tombava o mundo para uma banda, correria o risco de se perder na imensidade.
Todos os conselhos ouvirás e o teu não deixarás – reza o prolóquio. Todas as críticas ouvirás e a tua não deixarás – digo eu antes e depois de publicar os meus escritos. Sei ou suponho que sei até que ponto merecem ser publicados”.
Em carta dirigida ao Secretário da Direcção dos Bombeiros do Peso da Régua, encontrada nos arquivos da Associação, João de Araújo Correia pedia o máximo cuidado na revisão dos seus textos. Era um cultor rigoroso da língua portuguesa e temia os erros e as gralhas tipográficas estragassem a qualidade literária dos seus escritos.
“Para corresponder ao amável convite de V. Excia, para colaborar num livro comemorativo do centenário da sua Associação, tive a honra de lhe remeter, pelo Sr. António Luís Pinto, empregado da Imprensa do Douro, três originais.
Trata-se de uma crónica inédita, intitulada História dum Soneto, e de dois artiguinhos que devem ser agora republicados.
Suponho que nenhum dos meus escritos, enviados a V. Excia pelo Sr. António, destoarão da índole do livro. Todos aludem a tempos idos da Associação.
Como tenho tido medo a gralhas tipográficas, não dispensarei a revisão de provas. Podem estas ser enviadas pelo dito Sr. António Luís Pinto – seja qual for a tipografia que imprima o livro”.
O certo é que nesse Boletim só foi publicado o inédito. Nenhuns dos seus dois artiguinhos “dos tempos idos da Associação” foram republicados.
E foi pena… Em vez dele, publicaram uma sua poesia alusiva à data histórica, que intitulou de “Centenário dos Bombeiros”.
Em 28 de Novembro de 1980, os bombeiros da Régua celebravam 100 anos de vida, com sinais de vitalidade, força e grande determinação. Uma vez mais, mostram estar actuantes na sociedade e os seus valores de generosidade provavam que estavam preparados para assumir mais desafios no futuro. Como sempre, os bombeiros olham em frente, marcham em direcção a um novo horizonte, sempre com uma intenção: fazer mais e melhor, estando ao serviço da sua comunidade.
A longevidade da Associação fez reflectir mais o escritor, para quem os seus homens tinham uma certa condição de imortalidade: “Bombeiros não envelhecem/Nem sequer podem morrer/Como qualquer outro ser/Bombeiros não envelhecem/Nem sequer pode morrer”.
Por outras palavras, o escritor João de Araújo Correia imortalizou os bombeiros da sua terra não como heróis, mas como seres de elevados princípios humanistas.
Ao longo de mais 130 anos de missão, os bombeiros souberam construir uma a história colectiva de uma instituição nascida para servir e ajudar as pessoas, erigindo uma grande casa para fazer o Bem, como o seu primeiro um ideal, mas também para ser útil social e culturalmente.
No início de novo século, apostarão na modernidade, no conhecimento, na formação e na inovação, mas serão testemunhas privilegiadas dos valores e dos princípios de humanismo, de altruísmo e de filantropia, que pretendem manter firmes e perenes, sem nunca esmorecer os ideais dos seus fundadores.
Porque os bombeiros merecem admiração e respeito de cada um de nós, temos de repetir o que deles afirmou o escritor João de Araújo Correia: “Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada com um elmo de ouro, não é um homem. É um semi-deus”.
- Colaboração de J. A. Almeida - Régua para "Escritos do Douro".
João de Araújo Correia na "Infopédia"
João de Araújo Correia na "Wikipédia"