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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Recortes da net - Histórico Teatrinho da Régua reabre as portas no verão


Lusa - In RTPNotícias - 11 Abr, 2013, 17:22

O presidente do município, Nuno Gonçalves, referiu que a obra deverá estar concluída até ao final de maio e que o espaço poderá estar em pleno funcionamento no verão deste ano, depois da instalação do equipamento e de definida a forma de gestão.

Construído em 1912, o Teatrinho chegou a receber grandes espetáculos de ópera, mas ao longo dos anos foi-se degradando.

A ideia agora é devolver à população da Régua o edifício classificado como de interesse público.

Nesta reconstrução procedeu-se a uma ampliação do espaço, mantendo os elementos históricos como os dois balcões e o gradeamento.

Pretende-se que o edifício seja polifacetado e tenha condições para receber concertos, peças de teatro, exposições ou até mesmo congressos ou apresentações de livros.

Este espaço é propriedade do IVDP mas o direito de usufruto foi entregue ao MD.

Para o presidente do instituto público, Manuel Cabral, esta intervenção é um bom exemplo do diálogo e do braço dado entre as instituições.

"Um dos problemas do Douro é haver alguma debilidade institucional e, pior do que isso, é a falta de diálogo entre as instituições que estão pouco habituadas a trabalhar em conjunto", salientou.

Agora, falta definir a forma de funcionamento. "É algo que estamos a trabalhar em conjunto, para encontrar um modelo que seja sustentado e sustentável e que permita rentabilizar este espaço em termos culturais", acrescentou.

Elisa Babo, presidente do conselho de administração da Fundação do Museu do Douro, referiu que o espaço "é um desafio para enriquecer a oferta cultural e o papel cultural da fundação na região".

Esta obra insere-se "Frente Douro", um projeto do município que quer melhorar a relação da cidade com o rio e atrair investimento.

O custo do "Frente Douro" já ultrapassa os 13 milhões de euros, conta com o apoio do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) e junta vários parceiros públicos e privados.

No âmbito deste projeto está ainda em curso a a reabilitação do cais de madeira da estação, bem como a criação da ecopista do Douro, que se estenderá ao longo de mil metros, junto ao rio, e a reabilitação dos espaços verdes ribeirinhos.

No âmbito do programa de regeneração urbana já está concluído o espaço multiusos (parque de estacionamento e local da feira semanal), bem como a reabilitação da ponte metálica e do cais fluvial.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos

terça-feira, 8 de abril de 2014

UM LIVRO ESPECIAL

Ao Dr. Bernardino Zagalo

Das homenagens e louvores aos bombeiros da Régua dedicadas pelo seu espírito de abnegação, brio e heroísmo há uma, muito especial que, pela sua raridade, autoria e forma invulgar como foi divulgada, não pode ficar esquecida nas páginas da história da associação nem na memória colectiva.

Não é um diploma nem sequer uma medalha de ouro concedida por alguma entidade pública a reconhecer o mérito, a dedicação pública, a generosidade, o comportamento exemplar, a coragem e abnegação e os serviços distintos pelo que, nas suas arriscadas missões de socorro, fizeram os bombeiros.

Ao longo da sua existência, os bombeiros da Régua foram enaltecidos com importantes distinções e títulos honoríficos. Sem querer valorizar nenhum há um especial muito um que brilha mais alto e destaca-se nas glórias dos bombeiros da velha guarda, a Ordem Militar de Cristo, colocada no estandarte da Associação pelas mãos do Presidente da República, General Óscar Carmona.

Mas, os bombeiros da Régua têm uma homenagem que, se não valeu mais que a distinção das ditas comendas, ajudou a levar à imortalidade dos bombeiros que combateram o grande incêndio, em 26 de Junho de 1911, na cidade de Lamego.

Poucos sabem que o autor do notável louvor, foi o Dr. Bernardino Zagalo, advogado e escritor de novelas de índole regionalista e de uma peça de teatro intitulado O Heitorzinho, popularizado em apresentações no palco de teatro de amadores ao consagrar o exemplo de um homem justo e bom, natural da freguesia de Loureiro, que o povo tem  devoção e reconhece, ainda hoje, como um santo milagreiro.

O Dr. Bernardino Zagalo, lamecense pelo nascimento, foi um verdadeiro reguense pelo coração. Apaixonado pela terra adoptiva, onde teve a sua residência, dedicou-se às actividades do foro judicial. Cidadão inteligente e activo, trabalhou para o bem comum como dinamizador das Festas do Socorro e como criador e impulsionar da Parada Agrícola, uma espécie de primeira e moderna feira agrícola para promoção dos vinhos do Douro e outros dos produtos agrícolas da região duriense.

Nesse tempo, a Associação dos Bombeiros da Régua já era uma instituição muito prestigiada, que não se ocupava só em combates dos fogos, mas tinha nobres objectivos, pois auxiliava e promovia iniciativas sociais e culturais da sociedade civil. A normalidade era a vida associativa próxima dos associados e das pessoas que apoiavam os bombeiros. O Dr. Bernardino Zagalo, como vizinho do primeiro quartel dos bombeiros, situado então no Largo dos Aviadores, conhecia-lhes os exemplos de altruísmo, abnegação e heroísmo. Não é de estranhar que mantivesse com aqueles homens de paz e fraternidade, velhos combatentes de fogos, uma respeitável relação de amizade e apoiada uma elevada admiração.
(Clique na imagem para ampliar)
Já que se recordou um dos grandes incêndios de Lamego, temos presente uma pequena nota histórica da “assombrosa catástrofe” que, no dia 26 de Junho de 1911, pelas 21.00 horas, reduziu a um esqueleto de ruínas e cinzas uma grande parte das casas da movimentada Rua de Almacave. Rezam as notícias que nem a Igreja da Misericórdia foi poupada à violência das chamas, que a destruiu completamente, o que tornou impossível a sua reconstrução.

Para ajudar a apagar este incêndio foram chamados os bombeiros da Régua, comandados por José Afonso de Oliveira Soares. Combateram-no ao lado dos bombeiros de Lamego, mas a sua acção foi determinante pela sua coragem e heroísmo, o que evitou que o fogo alastrasse às ruas envolventes e causasse mais pânico e prejuízos.

Natural de Lamego, o Dr. Bernardino Zagalo terá registado algumas das brutais imagens que correram desse incêndio e tenha ouvido falar da destemida e corajosa acção dos bombeiros da Régua nesse fogo. Apesar de ser lamecense, não se sentiu diminuído em testemunhar aquela sua missão e o “tamanho do seu heroísmo se glorificou para todo o sempre”. 
Os Desherdados,  que fez questão em dedicar a um amigo, o Conde de Saborosa e também aos Bombeiros Voluntários da Régua e cujas vendas destinou que revertessem para os cofres da associação, confirmou a gratidão a esses bombeiros com este elogio: 

Este livro não se expõe á venda. É uma homenagem, embora obscurissima, a um amigo extremoso e aos Bombeiros Voluntários da Regoa.

Os Desherdados destinam-se a sêrem distribuidos ás pessoas de coração que desejem contribuir com o seu obulo caridoso para o cofre da benemérita Associação dos Bombeiros Voluntarios da Regoa, ficando as despesas de publicação a meu cargo.

Como lamecense amantíssimo da minha terra, venho assim testemunhar a minha gratidão á briosa e esforçada colectividade que teem prestado primorosamente serviços humanitários de alto relevo e superiores a encarecimentos banaes, e que com tamanho heroísmo se glorificou para todo o sempre no pavoroso incêndio que abrazou e reduziu a cinzas, em 26 de Junho de 1911, vinte e um prédios urbanos, salvando das labaredas temerosas o bairro mais importante da cidade de Lamego e o histórico povoado do Castello (….)”.

Dizia o Dr. Zagalo que era uma homenagem obscuríssima. Ora, de obscura é que não tem mesmo nada. Ao imprimi-la nas primeiras páginas de uma sua obra literária, imortalizou os bombeiros da Régua como admiráveis  valores do altruísmo. A literatura raramente os glorifica como personagens principais, mas sabe todos sabemos que na vida real, eles são verdadeiros heróis.

Esta homenagem de um escritor, ainda que desconhecido para a maioria das pessoas, à missão dos bombeiros foi uma excepção que envaidece a quem foi dedicada, neste caso, os bombeiros da Régua. 
Quando um escritor dedica um livro ao exemplo de coragem dos bombeiros, esta atitude vale muito mais que medalhas e títulos honoríficos. O livro, depois de chegar aos leitores, será sempre uma obra imortal. É isto que está a acontecer com Os Desherdados, uma obra que foi escrita há mais de 100 anos, mas de que existem antigas edições à espera uma consulta, mais atenta e demorada, em estantes particulares e públicas.

A mensagem do livro tem um significado importante que, em certa medida, permite entender os riscos de missão dos bombeiros. Se ela revela os genuínos ideais de um ilustre cidadão que adoptou a Régua, não deixa de espelhar o reconhecimento de uma sociedade que sabia respeitar a atitude cívica dos cidadãos mais solidários e generosos. Aqueles homens que deixaram provas de heroísmo ao serviço de uma missão de socorro em Lamego.

A história dos Bombeiros da Régua escreve-se com a abnegação, solidariedade e coragem daqueles homens que juraram cumprir o lema “Vida por Vida”. O dever de cada bombeiro é ajudar os seus semelhantes quando as vidas e bens estão em perigo. Eles não socorrem para serem reconhecidos como heróis. Aquilo que o Dr. Bernardino Zagalo escreveu no seu livro sobre os Bombeiros da Régua é mais uma homenagem ao seu esforçado e valente trabalho perante a destruição devoradora dos fogos. É um louvor, também de alguém que lhes está grato!

Certos livros voltam quando pensávamos que estavam esquecidos, como este do Dr. Bernardino Zagalo. E ainda bem, assim as novas gerações podem saber que os bombeiros da Régua alcançaram um digno reconhecimento pelos seus talentos de humanidade e de heroísmo e, por ser mais nobre que a atribuição de qualquer medalha de ouro, atingiram o estatuto da Imortalidade.

A partir de agora, os bombeiros da Régua sabem que, na sua longa história, há um livro especial, intitulado Os Deserdados que, publicado há cem anos, os evoca pela sua brilhante competência e também pela coragem e abnegação no combate a um dos maiores incêndio ocorridos em Lamego, prestigiando assim o bom nome da benemérita associação reguense.
- José Alfredo Almeida*, Régua, Julho de 2011. Actualizado em 8 de Abril de 2014. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.
  • Um outro post - O Nosso Dr Zagalo
Um Livro Especial
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 21 de Julho de 2011
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)

Edição de Jaime Luis Gabão para Escritos do Douro 2011 em 19 de Julho de 2011. Actualização em 8 de Abril de 2014.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A “pátria pequena” e os valores humanitários

Ana Ribeiro*
O bem comum mais precioso é o homem. Como quem diz: somos nós. 
João de Araújo Correia em Pátria Pequena.

Em 1977, Pátria pequena veio juntar-se ao já extenso rol de publicações de João de Araújo Correia. Tal designação traz à lembrança títulos como Pátria (1896), de Guerra Junqueiro, ou A minha pátria (1906), de Ana de Castro Osório. Distancia-se deles, no entanto, ao circunscrever um recorte daquela que, por contraste, poderá ser considerada a pátria grande. Esse retalho corresponde, como o autor esclarece na nota introdutória, à “vila e concelho do Peso da Régua”, aos quais também dedica o livro. Num primeiro plano, este título, à semelhança de Terra ingrata ou Montes pintados, fornece a representação de um espaço, cuja exiguidade é várias vezes referida ao longo da obra.

A “pátria pequena” de João de Araújo Correia é, porém, muito mais do que um território, pois esta figuração metafórica expressa sobretudo a relação profunda que o escritor mantém com este local. Quando declara “Aqui nasci, aqui vivo e aqui morrerei sem espírito provinciano”, faz dele uma espécie de casa onde passou a sua vida, convertendo-o num espaço íntimo da maior importância na sua geografia sentimental.

Enraizado no seu torrão natal para a vida e para a morte, nem por isso deixa o autor de o transcender. “Sem espírito provinciano”, ele é um cidadão do mundo fiel às suas origens, mas de vistas alargadas. Somada à sua estreita ligação ao meio onde decorreu a sua existência, esta característica legitima o projecto que desenvolve nos diversos textos coligidos em Pátria pequena. Na nótula de abertura, o autor apresenta-os como “setas de papel disparadas pelo meu arco, sempre insofrido, contra fealdades e vícios de cunho provinciano” que afectam a Régua e arredores. Como dirá na crónica “De boa mente”, onde realiza o balanço de três anos de publicações mensais no Vida por vida, “não mira outro alvo que não seja quanto a deslustre ou prejudique”.

Na identificação desassombrada das males de que a sua terra padece, o escritor reguense parece transferir para a sua “pátria pequena” aquele comportamento tão típico dos portugueses, que, como diz Barry Hatton, “são mais críticos de si mesmos do que os estrangeiros”. No entanto, é a sua afeição por ela e o seu espírito cívico que assim o determinam: “É admissível e até louvável que o natural da Régua diga mal da sua terra por amor, isto é, com o intuito de a corrigir de algum defeito grave ou esvoaçante pecha que a deslustre” (“Pobre Régua”). À semelhança de José Correia de Magalhães, que cita em “Música de Poiares”, João de Araújo Correia pretende “fazer da Régua uma vila perfeita”. Tal aspiração, partilhada “por quem se distingue do barro comum”, não será alheia à responsabilidade associada ao estatuto de capital do Douro, pois, como o escritor recorda em “Escolas técnicas”, “A Régua é o Douro, região com características de autêntica província. É a capital do país vinícola mais célebre do mundo”.

A denúncia com objectivos terapêuticos traduz-se num retrato da Régua no século XX, uma vez que, embora redigidos na segunda metade deste século, os textos não excluem a convocação do passado recente. Note-se, no entanto, que os antecedentes desta actividade remontam ao Sem método (1938), a obra inaugural do autor. De facto, nas “notas críticas de certeiro jacto” de que fala Vergílio Correia no prefácio da 1ª edição, João de Araújo Correia identifica na sua terra chagas como o descaso pela memória, o esquecimento de vultos ilustres que nela nasceram ou viveram, a ausência de estruturas básicas de saúde e de assistência social, o desperdício de potencialidades turísticas e agrícolas, o bairrismo estéril, a descaracterização de hábitos (num prenúncio de globalização) e a fúria arboricida. Cerca de vinte anos depois, estes temas regressam nos textos recolhidos em Pátria pequena. É caso para dizer que se mudam os tempos mas não se mudam as vontades. Daí que, em “Alvitres”, o autor ironize: “Parece-nos a nós […] que os nossos estímulos, a bem do nosso meio, já não têm conta. /O que conta é o efeito que produziram. Matematicamente, é igual a zero. Poderá haver maior consolação?”. No entanto, a indiferença que acolhe as suas sugestões não faz esmorecer o seu zelo, como bem revela uma alusão à “Parábola do semeador” na crónica “De boa mente”: “Que faz porém quem nada mais deseja que ser semeador? Semeia… Se a semente cair em bom terreno, muito bem… se cair em mau terreno, paciência…” . Espécie de Cristo a pregar no deserto, só o amor inquebrantável à sua terra justifica que, entre 1956 e 1974, apesar de algumas interrupções, persista na sua intervenção cívica nas páginas do Vida por vida, o jornal dos Bombeiros locais.

Por outro lado, diz também muito do meio que o envolve o facto de, durante quase vinte anos, nele continuar o escritor a encontrar motivos que justificam a sua acção pedagógica, reincidindo até em alguns, como a defesa das árvores e a imperiosa necessidade de criar espaços verdes na Régua, a inaceitável decadência das termas do Moledo, a urgência de preservar os miradouros e de os tornar lugares convidativos à contemplação da paisagem, o resgate do esquecimento de reguenses de vulto como Vieira da Costa e Maximiano de Lemos e a falta de educação e de civismo que afecta alguns dos seus conterrâneos.

Não quer isto dizer, no entanto, que a pena de João de Araújo Correia seja atraída apenas pelo lado negro da sua terra. Como afirma em “Pobre Régua”, “Criticar é apreciar, é distinguir, na coisa criticada, os valores negativos e positivos”. Por isso se revolta, na mesma crónica, contra aqueles que, munidos de critérios desajustados, deixam escapar aquilo que torna um local único, conferindo-lhe uma identidade própria: “Quem sai da cidade sem nada na cabeça, mas com a bitola do Porto ou de Lisboa, diz mal da Régua como diz mal de Mirandela. Diz mal das terras pequenas, porque não são grandes. Do gracioso e do pitoresco não cura. Só lhe praz o colossal”. Mais uma vez, a “pátria pequena” inspira ao autor dos Contos bárbaros um patriotismo idêntico ao dos portugueses pelo seu país natal, os quais, no dizer de Barry Hatton, “são facilmente susceptíveis a estrangeiros desaprovadores”.

Pequena, mas não desprezível, a pátria de João de Araújo Correia detém, pois, potencialidades que deve explorar sem, contudo, se descaracterizar. É neste sentido que vão as sugestões do autor, as quais, numa dialéctica entre tradição e inovação, pretendem abrir caminho para um futuro alternativo a um presente pouco auspicioso.

Tal como ele a vê em meados do século passado, a sua pátria carece de atractivos quer para os naturais, quer para quem a visite: não tem um parque, não tem vida cultural, não tem monumentos, não tem locais de onde se possa desfrutar a bela paisagem envolvente, não tem escolas que possam contribuir para o desenvolvimento da região, não tem asseio nem maneiras, não tem uma rede local de transportes públicos, não oferece espaços agradáveis de alojamento e restauração, é barulhenta, tem muitos carros e condutores incumpridores...

Nada há de fatal, no entanto, neste cenário, pois, na óptica do escritor, não faltam recursos ao concelho da Régua para mudar de rumo. A começar pelas condições naturais, propícias ao turismo e à floricultura, por exemplo. Para além da natureza, também o passado é apresentado, sem contradição, como uma fonte de renovação. A ele se hão-de ir recuperar iniciativas como a parada agrícola, a tourada, as bandas de música ou os grupos de teatro, ou seja, aspectos que fazem da terra do nosso contista mais do que um entreposto vinícola. Ela pode também embelezar-se recuperando trechos como a estrada do Rodo, com as suas amoreiras. Desse passado fecundo, do qual se traça um retrato eufórico, deverá manter-se ainda a tradição dos queijinhos e do requeijão fornecidos pelas aldeias vizinhas, e ícones como o barco rabelo e o carro de bois, “relíquias da nossa terra ameaçadas de morte”. A memória e identidade locais também não podem dispensar os “reguenses ilustres”, imortalizados em nomes de ruas ou em monumentos. O antigo jornal diário também deve ser ressuscitado, para “defesa e ilustração” da capital do Douro. Enfim, a criação de escolas técnicas e o exemplo de outras terras são alguns dos estímulos para que a Régua deixe de ser uma “princesa indolente”.
Se criticar, como vimos acima, é também apontar os aspectos positivos, os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua cabem certamente nesta categoria. Oriundos desse pretérito glorioso, não tiveram o mesmo destino efémero de muitas criações de outrora. Na sua crónica “Biblioteca de Maximiano Lemos”, João de Araújo Correia assinala precisamente a excepcionalidade da sobrevivência da corporação local de Bombeiros entre fracassos de diversa ordem: “Na Régua é tradição que falhem todas as iniciativas. Falharam as touradas, as exposições fotográficas, o teatro de amadores, o orfeão, a parada agrícola, os desportos fluviais e até o carnaval inventado pelo Chico Pulga. Tudo falhou, menos a Associação dos Bombeiros Voluntários, fundada em 1880 e, de ano para ano, mais florescente”. Ao perdurar vigorosamente, a corporação de bombeiros poderá constituir um exemplo a seguir, demonstrando que o sucesso é possível.

A vitalidade desta instituição está bem patente nos textos que inspira a este seu admirador e entusiasta apoiante. Diga-se a propósito que logo a segunda crónica de Pátria pequena, “Uma relíquia”, de 1956, os traz à liça. O mesmo sucede numa das últimas, “O pelourinho de Canelas”, de 1971, o que sugere uma certa continuidade da presença deste tema ao longo dos anos. Registe-se ainda que, se a primeira crónica assinala os setenta e seis anos da corporação, a segunda evoca o aniversário do seu jornal, o Vida por vida.

Também as crónicas “Novembro” e “Bombeiros da velha guarda”, de 1963 e 1965, respectivamente, celebram natalícios dos Bombeiros. Constituem, por isso, atestados da robustez do corpo de Bombeiros, ao mesmo tempo que expressam o regozijo do autor com tal efeméride.

Este sentimento é indissociável do envolvimento do escritor na missão humanitária daqueles que sempre designa como “os nossos bombeiros”. Se não foi bombeiro como o pai ou presidente da Associação como o filho Camilo, nem por isso deixou de contribuir para o futuro de uma instituição com propósitos tão semelhantes aos da sua profissão. Com a discrição da abelha no seu casulo, foi da escrita que se serviu para fomentar o progresso dos soldados da paz da sua terra. Neste aspecto, a actuação de João de Araújo Correia é talvez única no país, já que nenhum outro dos nossos escritores, ao longo da sua vida, terá dedicado na imprensa tantos textos aos Bombeiros seus conterrâneos. Neles enaltece publicamente a nobre missão dos soldados da paz, iluminando com as suas palavras um recanto da sociedade geralmente deixado na sombra.

Por outro lado, a existência de Pátria pequena é, por si só, bem reveladora da ligação estreita entre o escritor e a corporação dos “nossos bombeiros”. Como explica na nota introdutória a este volume, foi no boletim Vida por vida, “órgão da [então] quase secular Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua”, que surgiram pela primeira vez, raramente identificados com o seu nome, os textos que esta obra reúne e reivindica como seus. Ao alimentar as páginas do órgão da Associação com as suas 121 crónicas, o contista duriense contribuiu certamente para a afirmação e robustecimento de ambos.

O júbilo do autor não decorre apenas de o aniversário dos Bombeiros, à conta de se festejar há muitos anos, se ter tornado em mais uma tradição que, no penúltimo mês do ano, como reflecte em “Novembro”, se veio juntar aos santórios, aos diospiros, aos almanaques e às castanhas assadas. De facto, estas crónicas de comemoração servem ainda para assinalar a invulgar juvenilidade destes Bombeiros com mais de oitenta anos. É que, e ainda segundo esta mesma crónica, eles, “ao contrário de nós, que somos mortais, remoçam com a idade”. Ao salientar este fenómeno, João de Araújo Correia torna patente a cadeia intergeracional através da qual a vida dos Bombeiros se renova, contrariando o esmorecimento do seu projecto humanitário. E assim deve ser, pois, como prossegue, “É objecto que os nossos Bombeiros vivam sem envelhecer”. 

Tanto em “Novembro” como em “Bombeiros da velha guarda”, o autor do Sem método não deixa também de referir a forma como os Bombeiros celebram o seu aniversário. Na primeira destas crónicas chama-lhe “velha tradição”, na qual vemos não só o reflexo de uma existência, ao tempo, quase centenária, mas também um dos suportes da longevidade da instituição. Segundo esta mesma crónica, tal tradição consiste apenas num “jantar fraternal”, associando assim ao jantar os valores que norteiam a actividade dos soldados da paz. Em “Bombeiros da velha guarda”, há um retrato mais completo da forma como os Bombeiros comemoram o seu aniversário: “Depois das cerimónias piedosas e do desfile nas ruas, sentam-se à mesa e comem. Comem bem e gracejam…”. A vida da corporação é, pois, marcada pela jovialidade, pela boa disposição e pela camaradagem. Os valores religiosos também fazem parte do ADN dos Bombeiros, assim como a sua ligação à comunidade, para a qual se exibem em trajes de gala.

Logo pelo seu título, esta crónica apresenta um pendor evocativo que no texto se desenvolve através de recordações várias. Em primeiro lugar, “os sócios e bombeiros antigos” que já participaram neste convívio anual. Numa luta contra o esquecimento e o anonimato, o autor constrói uma espécie de memorial, no qual reúne nomes mais ou menos sonantes, todos eles irmanados numa causa comum: “Lembra-se de Afonso Soares […]; do poeta Camilo Guedes […]; do José Avelino […]; do José Ruço […]; do José Maria Leite, o Riço […]”. Esta mescla de homens de origem social diversa que partilham valores afins torna patente a natureza democrática dos Bombeiros, bem explícita quando João de Araújo Correia afirma: “Clube, ponto de reunião sem preconceito, era o quartel dos Bombeiros”. Sinal desta sã convivência entre escalões sociais diversos são talvez as “gargalhadas que faziam estremecer o quartel”. Aliás, na evocação do autor, é a boa disposição que caracteriza esses bombeiros de outros tempos: “Pelo que nos toca, ou toca aos nossos Bombeiros, recordemos os da velha guarda, tão garbosos como os de agora, mas, muito mais alegres, mais divertidos, mais despreocupados”.

Para além das pessoas, a rememoração do passado da corporação não dispensa a referência às suas antigas instalações “na Chafarica, no largo dos Aviadores, como hoje se diz”, informação que também regista as alterações na onomástica da vila, aspecto que mereceu a atenção do autor em “Nomes de ruas”, incluído no mesmo volume.

Estas recordações fornecem a João de Araújo Correia o ensejo para chamar a atenção para a necessidade de escrever a história dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua: “Tempos simples aqueles! Falta escrever-lhes a história”. Ao longo de Pátria pequena, é recorrente a preocupação do escritor com a preservação do passado. Para além da dos Bombeiros, falta “a história de notabilidades nossas – de raiz ou adoptivas” (“Reguenses ilustres”), “a história dos Artistas da Régua” (“Escolas técnicas”) e mesmo a história do teatro na vila (“Teatro na Régua”), capítulos que viriam completar a História da Vila e Concelho do Peso da Régua (1936-1938), da autoria de Afonso Soares. A causa da insistência na importância do passado encontramo-la em “Primórdios”, onde afirma: “As coisas são como os rios. Têm sua origem, que, embora tímida, nunca é desprezível”. Esta sua cruzada contra o esquecimento dos tempos pretéritos embate na indiferença da sua “pátria pequena”, já que “a Régua não tem amor a velharias, que são o pergaminho das localidades” (“Pobre padre Carminé”). A história dos bombeiros, que dá corpo à sua longa existência, ao permitir tomar consciência de um labor continuado de obreiros vários, torna-se relevante para um melhor conhecimento da instituição e, ao mesmo tempo, da terra onde lançou raízes e se desenvolveu.
Aniversários, tradições e história não teriam razão de ser se não fosse o relevante papel que os Bombeiros desempenham na sociedade, particularmente na “pátria pequena”, a qual, de acordo com o Sem método, “tirante os bombeiros, não tem coisa nenhuma útil ao comum”. É sabido que, após a publicação do livro de estreia de João de Araújo Correia, outras instituições se vieram juntar aos Bombeiros no zelo pelo bem de todos, mas tal libelo mostra bem como os Bombeiros são indispensáveis à colectividade. Mas se é verdade que a comunidade tem nos Bombeiros um dos pilares da sua existência, estes também não sobrevivem sem ela. Isto mesmo se depreende do agudo apelo que João de Araújo Correia dirige aos leitores do Vida por Vida em “Socorro!”. O título não podia ser mais adequado, já que se trata de um pedido de ajuda. No entanto, contrariamente ao habitual, são os Bombeiros que precisam de auxílio para desempenhar da melhor maneira a missão humanitária de transporte de doentes que lhes compete, tarefa para a qual é fundamental a aquisição de uma nova ambulância. Com a sua clarividência habitual, o escritor sublinha que, ao aderir a esta causa comum, é a nós mesmos que estamos a ajudar, pois “Ninguém dirá, vendo passar a auto-maca: de ti, estou eu livre”. Nesta sugestão de que o puro altruísmo não existe parece o nosso escritor ir ao encontro da irónica máxima que Nietzsche apontou no seu Crepúsculo do ídolos: “Ajuda-te a ti mesmo: então todos os outros te ajudarão. Princípio do amor ao próximo”.

À semelhança de “Socorro!”, a crónica “Acudam-lhe”, tal como o título anuncia, também encerra um pedido de auxílio. As atenções voltam-se agora para a Ceia de Cristo existente na igreja matriz, obra de Pedro Alexandrino degradada pelo tempo. Neste caso, os Bombeiros são chamados, como habitualmente, a prestar assistência, mas num domínio bem diferente daquele em que costumam intervir. Entre a Casa do Douro e a Associação dos Bombeiros, o escritor prefere esta última para acolher o painel setecentista depois de recuperado. Com uma certa dose de humor, argumenta que os Bombeiros, “bairristas por excelência, defendê-lo-iam de todos os ultrajes, nomeadamente o fogo”. É o amor deles à “pátria pequena”, comprovativo da ligação profunda que os liga à sua terra, que os torna os melhores guardiães dos tesouros que ela possui e não deve perder. A sua missão humanitária vê-se assim complementada por uma vertente cultural.

A ser aceite a sugestão de João de Araújo Correia, não seria a tela religiosa o primeiro objecto com história a ser albergado pelos Bombeiros. Ela iria juntar-se à “sineta que alarmou os povos em 1808”, “relíquia” exibida, em 1956, pela “cobertura da nossa casa, como quem diz, [n]o telhado do nosso quartel”. Estas mesmas instalações seriam, provavelmente, o destino do “Pelourinho de Canelas”, se o desafio lançado nos quinze anos do Vida por vida desse fruto. Preciosidades provenientes do concelho que, em 1853, foi extinto a favor da Régua, fazem parte da pré-história do novo concelho. Nestas circunstâncias, seriam, pois, os Bombeiros a suprir a inexistência de um Museu da Régua, equipamento cultural que o escritor também antecipa em “Fontainhas”. Neste texto de 1958, João de Araújo Correia acalenta ainda o sonho de “uma bibliotecazinha municipal”. Acudindo mais uma vez a uma carência da vila e do concelho, é precisamente pela sua biblioteca que os Bombeiros se impõem na paisagem cultural reguense da segunda metade do século XX.
Ao longo de Pátria pequena, nenhum outro aspecto da vida da corporação ocupa tanto a atenção do escritor como a biblioteca. Tal traduz certamente o relevo que atribui a esta iniciativa, a qual, segundo o autor, numa crónica não coligida neste volume , visa “provocar o amor à cultura, à instrução, à educação das gerações”. Numa região de “Vocações perdidas” “por falta de cultura e ensino técnico perfeito”, compreende-se o entusiasmo do contista com mais esta actividade humanitária dos Bombeiros.

As crónicas que João de Araújo Correia dedica a este tema dão-nos conta de diversos marcos do historial daquela que designa como “a coqueluche dos Bombeiros”. De acordo com “Primórdios”, a sua origem remonta a 1885, isto é, a cinco anos após a fundação da Associação. Embora se desconheça a paternidade da ideia, a sua existência é bem significativa da apetência pela leitura entre os seus sócios e dos valores que os norteavam. Setenta e cinco anos mais tarde, “o velho armário repleto de livros sem catalogação” dá lugar a uma biblioteca propriamente dita, que os Bombeiros pretendem baptizar com o nome de Maximiano de Lemos, “fazendo coincidir o acto inaugural com o centenário natalício do nosso conterrâneo”. Deste modo, para além de promover a ilustração dos habitantes do concelho, a biblioteca perpetua o nome de um reguense ilustre ameaçado de esquecimento, ajudando a sedimentar a memória colectiva. Saliente-se, a este respeito, que, de acordo com “Alvíssaras”, terão sido os Bombeiros o motor das “comemorações do primeiro centenário natalício do professor Maximiano de Lemos”, pois, seguindo-lhe o exemplo, outras entidades se agregaram a esta homenagem. A actividade cultural dos bombeiros realiza-se, deste modo, de diversas maneiras. Ela vem a ser outra das concretizações do já referido espírito bairrista que, segundo o escritor, anima a corporação.

Três anos após a inauguração da Biblioteca Maximiano de Lemos teve lugar outro acontecimento importante da sua história. Nesta altura, recebeu ela “uma valiosa colecção de livros oferecidos pela benemérita Fundação Calouste Gulbenkian”. A biblioteca inaugurada em 1960, constituída sobretudo por espécimes provenientes do antigo armário-estante e por ofertas particulares, vê-se assim ampliada e actualizada. O aumento do acervo bibliográfico e o alcance social desta obra dos Bombeiros tornam manifesta a necessidade de organização, sugerindo o escritor a criação de um regulamento. Tal como a respeito da aquisição da nova ambulância, considera ainda que a Associação dos Bombeiros deve, também neste domínio, ser auxiliada pela sociedade civil. Apela por isso à colaboração dos “reguenses dados à leitura” e propõe a fundação do “Grupo dos Amigos da Biblioteca Maximiano de Lemos”. Esta é uma das múltiplas associações cuja semente lançou ao longo da sua colaboração no Vida por vida, visando acrescentar vida cultural à “vila comercial” que a Régua então era.

Com este repto lançado aos seus conterrâneos terminou João de Araújo Correia a sua batalha nas páginas do boletim da Associação em prol da biblioteca humanitária. Volta, no entanto, a convocar a intervenção dos Bombeiros no texto “Música de Poiares”: “Bombeiros e outros grémios devem apadrinhar a ressurreição da música de Poiares”. Deste modo, a missão cultural dos soldados da paz alargaria consideravelmente o seu âmbito ao estender-se a um domínio artístico específico e a uma aldeia do concelho da Régua. Ao permitir recuperar uma banda que era “a mais antiga, a mais perseverante e, há tantos anos, única música do nosso concelho”, esta parceria entre os Bombeiros e outras entidades impediria o empobrecimento cultural da “pátria pequena”. Se isto não bastasse, os benefícios da Música justificariam só por si o empenho no ressurgimento da banda poiarense: “Não é preciso inculcar a ninguém o valor da Música. Todos o sentimos. Como educadora do povo rude, é inestimável. Desperta-lhe sentimentos bons adormecidos, desvia-a de recreios perigosos. É imprescindível para suavizar índoles bravias”. De novo João de Araújo Correia implica os Bombeiros numa causa “A bem da humanidade”.

Esta viagem pelo Pátria pequena à boleia dos soldados da paz ficaria incompleta sem uma referência ao Vida por vida, não por ser este o depositário original dos textos que deram origem àquela obra, mas por causa do que ele representa. Na pequena nótula introdutória surge a mais extensa referência a este mensário, relativa ao seu historial. Os seus breves dezoito anos de existência expressam talvez a vitalidade da Associação a que dá voz, num período particular. Avançando para o interior do volume, passagens como “folhinha privativa de uma Associação de Bombeiros”, “pequena tribuna”, “cantinho” ou “recanto da Imprensa Portuguesa” colocam a tónica na modéstia do jornal. No entanto, a sua discrição não é sinónimo de inoperância, pois ele é também “luzinha numa espécie de serração espiritual”, “guia” para “espíritos ávidos de claridade”. O humilde periódico ocupa, portanto, um lugar especial no panorama reguense, ao mesmo tempo que confere novas valências à actuação da Associação em proveito da comunidade em que se insere.

É este espírito de serviço ao seu semelhante que subjaz à porfiada colaboração de João de Araújo Correia nas páginas do Vida por vida. Se aponta os males da sua “pátria pequena”, também indica as terapias para os debelar e assim melhorar a vida dos seus conterrâneos. Não será por isso descabido dizer “Ditosa pátria que tal filho teve!”.

O autor de Cinza do lar não tem olhos apenas para as coisas negativas da sua terra. A corporação de Bombeiros merece-lhe particular carinho e atenção, desde logo pela sua resistência num meio onde tudo parece destinado ao fracasso. Enquanto representante dos valores humanitários que eram tão caros ao nosso escritor, procura alargar o âmbito de acção da corporação a domínios de grande relevância para a comunidade. Sublinha, ao mesmo tempo, que o auxílio dos Bombeiros à colectividade depende do apoio que dela receber, mostrando que ambos estão interligados. Afinal, os Bombeiros, como a Régua, dependem da colaboração de todos. Para além de tudo isto, João de Araújo Correia apresenta-nos os Bombeiros por dentro, relatando alguns dos seus hábitos e um ou outro dado da sua história. Se lhe fosse possível regressar ao seu torrão natal, ficaria certamente contente por saber que “os nossos Bombeiros” estão a caminho do seu 133º aniversário, sem perderem o garbo e a juvenilidade que lhes conheceu. Simpatizaria, sem dúvida, com o “Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua” do Arrais, jornal a que, de diversas maneiras, esteve ligado em vida e onde também publicou crónicas sobre os seus Bombeiros.
Agradar-lhe-ia também a notícia de que alguns episódios da longa e proveitosa vida da corporação se encontram já fixados num livro, constituindo a primeira resposta ao seu apelo ao registo escrito da história dos Bombeiros locais. Nada está perdido. Quem sabe de que outras propostas de Pátria pequena não se encarregará o futuro?

1* - Referimo-nos ao texto “A Biblioteca dos Bombeiros”, encontrado pelo Dr. José Alfredo Almeida no Vida por vida de Dezembro de 1960, do qual gentilmente nos forneceu uma cópia. Embora assinado com as iniciais A.D., pelo estilo e pelo ardoroso apelo que encerra, é, sem dúvida, da autoria de João de Araújo Correia.

*Crónica escrita pela drª. Ana Ribeiro, Profª. da Faculdade de Letras da Universidade do Minho em volta do escritor  reguense João de Araújo Correia.
Clique nas imagens para ampliar. Fotos e texto cedidos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Março de 2013.  Também publicado no jornal semanário regional "O ARRAIS" edição de 27 de Março de 2013 (1ª parte). É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Heitor Gama

Ser bombeiro faz parte do imaginário de qualquer criança, mesmo antes de aprender a ler, fazer contas e de desenhar. Nas brincadeiras, os mais novos gostam de se imaginar como bombeiros. Para cada missão fardam-se a rigor e entram pelo quartel adentro aos primeiros toques da sirene. E de lá saem no pronto-socorro, empolgados para conseguirem salvar vidas em perigo. Se for necessário tanto combatem o mais pequenino como combatem o maior e o mais temível incêndio, arriscando mesmo a sua vida.

As crianças vestem a farda de bombeiro como se vestissem a farda de um dos seus heróis. Nunca pensam numa qualquer recompensa ou receber uma medalha. Apenas querem imitar os verdadeiros bombeiros e, seguindo os seus exemplos, crescerem como homens altruístas, corajosos e generosos. Quem não ouviu da boca de uma criança esta frase: “Quando eu for grande… quero ser bombeiro!”.

Como todas as crianças, o Heitor Gama deve ter sonhado ser bombeiro. Mas, se nunca sonhou ser bombeiro, deve ter ouvido ao avô materno algumas histórias relacionadas com os bombeiros, a sua coragem, o seu altruísmo e a sua abnegação. E, com esse seu avô que foi um antigo director da Associação, deve ter presenciado os aprumados desfiles dos bombeiros, ao som estridente de uma fanfarra, em direcção ao Jardim do Cruzeiro, onde paravam e, perfilados em continência, colocavam um ramo de flores diante da estátua ao Comandante Afonso Soares.
Mas, o Heitor Gama guarda do tempo da sua infância um desenho numa folha A4 que traça com fiel rigor os aspectos de uma cerimónia em que os bombeiros homenagearam o seu avô, a título póstumo, pela sua dedicação à causa ao voluntariado.

Não conhecia aquela sua preciosidade infantil, com um traço rudimentar e inocente, mas cheio de ternura e generosidade, que muito me sensibilizou quando mo mostrou. Olhando para as figurinhas por aí retratadas, recordei a cerimónia de homenagem e de gratidão ao seu avô Heitor Gama, que aconteceu no Largo da Igreja Matriz, no dia 28 de Novembro de 1999, no 119º Aniversário da Associação.

O desenho para mim estava perfeito, fazia-me recordar, sem a ajuda de nenhuma fotografia para comparar, o rosto tímido da criança de nove anos, debruçada sobre o carro de fogo nos braços do Comandante Manuel Gouveia, ansiosa por destapar uma placa de metal gravada com o nome do avô. Bastou-me olhar para o desenho para compreender que as simpáticas figurinhas que saiam seu desenho, se identificavam com pessoas que ali compareceram para testemunhar o acontecimento. A começar pelo próprio, que se auto-retratou acompanhado pelo seu  pai e a avó, que seguiam com atenção o que ali faziam o velho  Comandante, os bombeiros de machado em punho e, por fim, o senhor padre  a benzer o carro com a  água benta.
Mais tarde, reparei que naquele desenho faltava a presença de uma figurinha, do presidente da direcção…! Melhor dito, faltava a minha pessoa. Mas, não estranhei que tivesse passado despercebido. O mais certo era que não soubesse que também existiam bombeiros sem farda.

Ora, o seu avô tinha sido um grande bombeiro sem farda, um director zeloso, dedicado, rigoroso em tudo o que fazia, que, durante muitos anos, serviu, mesmo com sacrifício para a sua vida pessoal, uma causa de interesse público. Não tive a sorte de conhecer o senhor Heitor Gama, antigo funcionário administrativo da Casa do Douro, mas coube a mim fazer-lhe a devida e merecida homenagem. Quem, hoje, ainda o recorda, elogia-o como um cidadão exemplar e um abnegado director que, em tempos de grandes dificuldades, muito se dedicou à vida da associação e do seu Corpo de Bombeiros.

No verão passado, o jovem Heitor Gama entrou, mais uma vez, no majestoso Quartel Delfim Ferreira para representar, num palco improvisado, com os alunos da Universidade Sénior da Régua, a belíssima e inteligente peça de teatro D. Antónia - Uma Mulher Fora do Seu Tempo. Como não podia deixar de ser, lembrou-se que o seu avô tinha sido também um bombeiro sem farda, um director que muito contribuíra que qualquer missão dos soldados da paz fosse bem desempenhada.

Desta vez, envergando a velha farda que pertenceu ao primeiro Comandante, Manuel Maria de Magalhães, compreendeu que os voluntários, quer usem ou não uma farda, são necessários para apagar todos os fogos... ou socorrer em qualquer tragédia da vida.

Sem que tenha seguido o exemplo do seu avô, o Heitor Gama, pelo teatro, conseguiu ser um bombeiro. Talvez, um dia mais tarde, ao se lembrar também da farda que usou, possa ainda dizer: “Quando eu for grande… não quero esquecer-me de que fui criança e… um bombeiro da Régua”.
E assim nunca esquecerá o exemplo cívico do seu avô, o bom cidadão reguense Heitor Gama, um bombeiro sem farda.

- José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Dezembro de 2012
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.


Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS", edição de 5 de Dezembro de 2012. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Memórias do Comandante Lourencinho

Num aditamento ao texto que escrevi há três ou quatro semanas e que aqui se publicou, eu disse que o mesmo ia ser escrito no português da minha escola. Pois o texto de hoje obedece aos mesmos princípios, seja pela idade que vou tendo, seja pelo respeito aos bons dicionários que tenho na biblioteca. Adiante…

Depois da escola que me ensinou a ler Camilo ou o sermonário do padre António Vieira, continuei os estudos na Faculdade de Medicina do Porto, rés-vés o hospital de Stº. António. Foi por esse tempo que conheci o senhor Lourenço Pinto Medeiros, o Lourencinho, de boa memória. Também por esse tempo, nas férias grandes ou pequenas, eu deixava para trás o casão da Faculdade e vinha para a casa paterna, ou avoenga, casa de quinta, no lugar de Remostias. No Porto ficavam os livros de estudo, anatomias, patologia geral, embriologia, obstetrícia, propedêuticas, e por aí fora, todos eles em repouso e entregues a si mesmos, como se cada qual fosse uma leira de terra em pousio.

Gostava de trazer comigo, a boa companhia do tratado de Fisiologia, só para continuar os estudos em dias feriados… O funcionamento do corpo humano, os seus segredos e interrogações, até alguns milagres, tudo isso me fascinava e tudo isso chegou a ser tema de amenas conversas com o Lourencinho, ali na tabacaria de meu pai, na rua de Serpa Pinto.

Era nas férias grandes, naquelas manhãs ou tardes de um verão canicular que muitas vezes eu deixava para trás a meia-encosta de Remostias, toda ela com sucessivos quadros de uma natureza aprimorada, e vinha por aí abaixo até ao centro da Régua, mesmo no Agosto que dia- a-dia se ia chegando às vindimas, já com tantos e tantos cachos aflorados de oiro e de pintor. Feito vádio, modo de dizer, vinha até à Régua, eu e o tratado de Fisiologia, a fazermos uma pousada na tabacaria de meu pai. Era ali que se encontrava quase sempre o Lourencinho, sempre bem vestido, fato de bom talhe, gravata a condizer, sapatos brilhantes de bom lustro.

Na tabacaria, no espaço destinado ao público, havia um banco corrido de três ou quatro lugares, encimado por um largo espelho de cristal e ladeado por duas estantes expositoras, coisa rara e talvez única em qualquer outro estabelecimento da Régua. Meu pai, um diletante, de mais a mais com um apurado sentido da cultura, entendeu que o comércio de tabacos por junto, era negócio de toma lá dá cá, negócio nada marralheiro e a pedir algum espaço de descanso e de convívio.

O banco, sendo corrido, naturalmente rectangular, passou a ser um círculo de diálogo e de cultura. Era o banco do Lourencinho, afora um ou outro freguês que nele descansasse de uma longa caminhada. Sentado no banco o Lourecinho fazia horas e fazia-as diariamente, cioso de algum sossego, sei lá se de alguma secreta solidão e a deitar contas à vida. Fumava cigarros atrás de cigarros e olhava a rua com olhos distantes, mesmo inexpressivos, como se a retina estivesse virada para dentro de si mesmo.

Tirando os dias de feira, o quotidiano da rua era o habitual, um sobe e desce de automóveis, carros de bois, carretas de mão e gente que ia à sua vida, novos e velhos, cada qual integrado no andamento do mundo.

Muitas vezes eu subia ao andar da Associação Comercial a estudar Fisiologia. Depois vinha fazer horas de espera junto do Lourencinho que logo me perguntava: - Então, já estudou? Continue… continue, não desista. Conversávamos então sobre vários aspectos da fisiologia humana, coisas que ele gostava de ouvir e que lhe ateavam um fogo de curiosidades. De espanto em espanto, como que se deslaçava nele uma qualquer timidez que, se não era medular era própria da sua postura intimista.

O bombeiro Lourencinho, já comandante da Corporação, não era atreito a exibicionismos nem a protagonismos, muito menos a fogo de vistas. Mas amava os bombeiros no seu todo e gostava de se sentar no banco da tabacaria a conversar com meu pai.

Assim enraizado, é crível que fosse o Lourencinho quem convenceu meu pai a escrever uma qualquer peça de teatro, peça que, levada à cena, poderia render dinheiro bastante para dar seguimento às obras do quartel.

E, de facto, meu pai escreveu a letra e a música da opereta O Milagre do Cruzeiro que, logo na estreia, foi um sucesso, um acontecimento artístico a despertar por aí além muito entusiasmo e muitos aplausos.

Foi uma sugestão do Lourencinho? Talvez… talvez... isto nos animosos tempos que já lá vão e nos bons propósitos de um espaço que já não é.
- Manuel Braz de Magalhães
Clique  nas imagens para ampliar. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Também publicado no semanário regional "O ARRAIS", edição de 7 de Novembro de 2012. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Uma instituição, um escritor e um dirigente

Nem todas as profissões/actividades geram consensos. Sempre de faca afiada para cortar em casacas alheias, de língua mais vocacionada para dizer mal do que bem, o nosso povo é implacável, parecendo mais feliz a valorizar os defeitos do que a exaltar as virtudes dos cidadãos incumbidos, cada qual no seu posto, de servir a comunidade.

Salvam-se os bombeiros! Em desespero de causa, os que necessitam do seu auxílio, por vezes acusam-nos de demorarem muito tempo a chegar, desabafo justificável em quem se rege por um relógio cujos ponteiros avançam ao ritmo da sua ansiedade. Há que compreender o desespero de quem vê os seus bens, por vezes tão suados e tão parcos, à mercê de labaredas assassinas ou de quem, em perigo de vida, aguarda a chegada de uma ambulância salvadora.

Falar da acção filantrópica e abnegada dos bombeiros é repetir palavras gastas. Eles sempre foram, e ainda são, os ídolos da pequenada, os heróis e o orgulho das populações. Com farda de gala parecem generais. De equipamento de trabalho, limpo à saída do quartel e em estado imprevisível no regresso, impõem-se sem pretensões, agem como super-homens. Não têm tempo de olhar para o lado. Todas as energias se concentram na resposta aos apelos que lhes chegam.

Não posso falar especificamente dos Bombeiros Voluntários da Régua. Conheço um pouco da sua história através da palavra escrita e imagino a sua dinâmica ao ver o “brilhozinho nos olhos” do Dr. José Alfredo Almeida quando deles fala. Também cheguei até eles conduzida pela mão segura e pelo espírito apaixonado do Dr. João de Araújo Correia cujas crónicas são manuais de cidadania, de defesa do património humano, cultural e identitário da região duriense.

Em Pátria Pequena, na crónica “Biblioteca Maximiano de Lemos”, o autor escreve, dividido entre o pessimismo e o optimismo: “Na Régua, é tradição que falhem todas as iniciativas. Falharam as touradas, as exposições fotográficas, o teatro de amadores, o orfeão, a parada agrícola, os desportos náuticos e até o carnaval inventado pelo Chico Pulga. Tudo falhou, menos a Associação dos Bombeiros Voluntários, fundada em 1880, e de ano para ano, mais florescente”.

É do mesmo escritor a avaliação da sua terra feita na citada colectânea de crónicas: “A Régua, donde quer que se aviste, é uma jóia. Mas, o que lhe dá realce é o estojo, isto é, a concha em que assenta, a bacia da Régua, com as suas montanhas, as suas colinas e o seu rio. Tocada de perto, sem escrínio à vista, desfaz-se-lhe o encanto. É uma jóia de chumbo ou, quando muito, de plaqué.”

Esta apreciação, feita em 1959, não perdeu actualidade. A exemplo do que vem acontecendo um pouco por este país, as cidades têm crescido anarquicamente, obedecendo a estereótipos urbanísticos para os quais o conceito de identidade é um anacronismo caturra. Vão resistindo à demolição, libertando-se da lei da morte, além de monumentos de interesse histórico, alguns edifícios de autor, com marcas de determinada época, contraponto risonho à construção de imóveis incaracterísticos, preço alto pago à explosão demográfica.

O edifício do quartel dos bombeiros da Régua é uma pedra preciosa incrustada em colar de pechisbeque. A sua frontaria merece uma paragem no passeio oposto para que possa ser devidamente gozada esteticamente. A harmonia cromática, aliada à elegância e ao bom gosto dos motivos escultóricos, singularizam este exemplar ímpar de arquitectura urbana não residencial.

Se o meu coração está preso, por razões familiares, logo afectivas, aos Bombeiros da Cruz Branca de Vila Real, a minha simpatia abrange, em abraço fraterno, todos quantos, no país e no mundo, assumem como prioridade das suas vidas a defesa de vidas outras.

Termino este sucinto testemunho com uma palavra de apreço pela acção desenvolvida em prol dos Voluntários da Régua pelo Dr. José Alfredo Almeida, enquanto entusiasta presidente da sua direcção e também como investigador incansável da história da Corporação, bem patente no seu livro Memórias dos Bombeiros Voluntários da Régua, exaustiva análise de factos e de figuras que lhes deram corpo.
- M. Hercília Agarez*.

* - M. Hercília Agarez (Vila Real, 1944). Professora e escritora. É autora do livro de crónicas A brincar que o digas (2001), do ensaio Miguel Torga, a força das raízes (2007), na área da ficção de  Histórias que o Povo Tece - Contos do Marão (2011) e do ensaio Dois Homens um só rosto - Temas Torguianos (2013). Desenvolve também uma notável acção cultural, dedicando-se em especial ao estudo de Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, João de Araújo Correia e Luísa Dacosta.

Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2013. Texo e imagens cedido s pelo Dr. José Alfredo Almeida. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Júlio Pomar inspira-se em paisagem duriense durante o Douro Film Harvest


Júlio Pomar é convidado para a próxima edição do Douro Film Harvest, que decorre de 5 a 11 de Setembro. O pintor vai criar um quadro, inspirando-se num cenário único e inesquecível: a paisagem duriense, uma verdadeira paleta de cores em plena época de colheitas. Júlio Pomar é um dos maiores nomes da arte europeia. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e passou pelas Escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, sem ter, no entanto, frequentado aulas de pintura. Ao longo da sua carreira expôs em galerias por todo o mundo, fez desenho, gravura, escultura, ilustração, tapeçaria, azulejo, cerâmica e assemblage. (In Douro Film Harvest que decorre de 5 a 11 de Setembro, em Alijó, Pinhão, Favaios, Vidago e Penedono)

O pintor é convidado para a próxima edição do Douro Film Harvest, que decorre de 5 a 11 de Setembro, em Alijó, Pinhão, Favaios, Vidago e Penedono. Júlio Pomar vai criar um quadro, tendo como inspiração um cenário único: a paisagem duriense, tela de cores em plena época de colheitas que este ano celebra uma década de elevação a Património da Humanidade pela Unesco. Verdadeira plataforma cultural e enoturística, além de uma selecção especial de filmes, o DFH sugere exposições e espectáculos, com Sophie Madeleine, Ricardo Imperatore e os boTECOeletro a actuarem no Douro.
Sendo um dos nomes maiores da arte europeia, Júlio Pomar estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e passou pelas Escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, sem ter, no entanto, frequentado aulas de pintura. Ao longo da sua carreira expôs em galerias por todo o mundo, fez desenho, gravura, escultura, ilustração, tapeçaria, azulejo, cerâmica e assemblage. Hoje dedica-se sobretudo à pintura e à escrita e, em 2004, criou a Fundação Júlio Pomar.

Ricardo Imperatore, boTECOeletro e Sophie Madeleine no Douro - Nesta edição dedicada ao Brasil, com o realizador Cacá Diegues e o actor José Wilker como convidados, a música não poderia faltar. Por isso, a praia do Pinhão vai tornar-se palco para a musicalidade contemporânea de Ricardo Imperatore, dos boTECOeletro, com inspiração tradicional. O espectáculo é gratuito e aberto ao público, e tem duas sessões marcadas: no dia 7 de Setembro, às 22h00, e no dia 9 de Setembro, às 22h30.Ricardo Imperatore actua também com os boTECOeletro na festa oficial do Douro Film Harvest®, a Harvest by Night, no Vintage House Hotel, no Pinhão, na noite de 10 de Setembro. O projecto boTECOeletro resulta da pesquisa feita durante dois anos por Ricardo Imperatore, que reuniu sonoridades da música tradicional brasileira, samples, percussão e instrumentos acústicos. Lançado em 2004, o primeiro disco venceu o Prémio Tim de Música 2005 na categoria de Melhor Álbum Electrónico do ano. O tema CoconutzMass registou um enorme sucesso, sendo incluído na banda sonora do jogo FIFA Soccer 2006. A Harvest by Night conta ainda com a voz distinta da cantora e compositora Sophie Madeleine, ao som do ukelele, instrumento de cordas tradicional do Havai. O disco de estreia, Love.Life.Ukulele, foi apresentado em Itália, Alemanha, Estados Unidos da América e Reino Unido, o que lhe valeu, para além de uma legião de fãs, recordes de vendas em 27 países. Em Julho lançou um segundo álbum, The Rhytm you started, que explora novos ritmos e batidas, rompendo com os arranjos mais tradicionais do primeiro trabalho. DFH apoia a candidatura do Fado a Património da Humanidade Como apoiante da candidatura do Fado a Património da Humanidade, o Douro Film Harvest® integra no programa deste ano a exposição “Fados”, que pode ser vista no auditório de Alijó, com entrada gratuita, a partir do primeiro dia do certame, 5 de Setembro. Desde a génese até à internacionalização nos grandes palcos do mundo, a mostra “Fado” percorre partituras, cartazes, jornais, fotografias – de teatro de revista, gravações discográficas, emissões radiofónicas, cinema e televisão.Organizado pela Turismo do Douro, o DFH é presidido por Manuel Vaz, tem direcção do produtor e realizador Ivan Dias, o apoio do Turismo de Portugal e co-financiamento do programa Operacional da Região Norte (ON2).
22-08-2011 - In 'Notícias de Vila Real'