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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Ser bombeiro

Com apenas doze anos, entrei para sócio dos nossos Bombeiros, então instalados na Rua dos Camilos, com o intuito de frequentar a sala de jogos. Convivendo diariamente com os bombeiros, desde o quarteleiro Zé Pinto ao Comandante Lourencinho (como era conhecido), passando pelos irmãos Castelo Branco, todos fizeram nascer em mim a veia voluntária que ainda hoje possuo. Éramos uma família e eu sentia-me em casa.

O patrão Álvaro e o Manuel Carteiro eram os meus companheiros na ida ao futebol, algum tempo ainda no Campo das Figueiras e depois já no Artur Vasques.

Situando-me na época, recordo o incêndio da Rua de Medreiros e da Casa Viúva Lopes, onde faleceu o João dos Óculos, como era conhecido.

Vivia-se a luta pela conclusão do novo quartel, na Avenida Sebastião Ramires, projeto do mestre pedreiro Anastácio, que chegou a vender bens pessoais para concluir a sua obra que ainda hoje perpetua a sua arte e também a sua memória.

Acompanhei e participei nesta campanha para a construção do novo quartel que foi feita ao longo de uma década. Realizavam-se cortejos, peditórios, festas e até bailes que chegaram a rivalizar com “O Carolina” de Vila Real. Os reguenses entregavam-se entusiasticamente aos cortejos alegóricos, de destacar os Irmãos Clemente e o mítico Figueiredo, que, montado no seu alazão, atraía e entusiasmava grandemente a população e os seus visitantes.

Foi a partir daqui que os nossos bombeiros ganharam fama, sendo considerada uma das melhores corporações do país. O mérito deve-se ao Comandante Cardoso e à presidência de Júlio Vilela, que integrava na sua direção pessoas de grande valor como o Baptista, também fundador do Jornal Vida por Vida, entre outros.

Mais tarde, em 1974, o então presidente da Câmara Municipal e também Presidente da Assembleia dos Bombeiros, Manuel Gouveia, convidou-me, segundo ele mesmo, por indicação do Manuel Montezinho, então secretário da Direção. É claro que aceitei de imediato e até lhe lhe sussurrei que desejava fazer mais do que o exercício do cargo de diretor impunha. Garantiu-me o seu total apoio e o convite foi oficializado em janeiro de 1974, com a tomada de posse no dia catorze desse mesmo mês.

O desejo de aumentar o quartel dos bombeiros era uma prioridade. Para tal, impunha-se a aquisição de uma casa vizinha, pertencente à EDP. Dada a minha boa relação com alguns responsáveis desta empresa, especialmente com o chefe das expropriações, Manuel Monteiro, consegui a aquisição da propriedade gratuitamente. Em simultâneo, o meu amigo Caveiro, topógrafo da ITEL, fez o respetivo levantamento, também graciosamente.

Em abril de 1974, surgiu a Revolução dos Cravos e com esta o saneamento do Presidente da Câmara, que veio a ser substiuído pelo Dr. Cândido Bonifácio. Foi no mandato deste amigo que numa reunião de todas as Câmaras do distrito de Vila Real, presidida pelo Dr. Montalvão Machado, tive a oportunidade de apresentar a pretensão do alargamento do quartel dos Bombeiros. O Gabinete de Estudos de Vila Real comprometeu-se a fazer o projeto, através do seu diretor, Engenheiro Arménio.

Também presente, na reunião, estava o Engenheiro Valente, que garantiu desde logo dar provimento não só a este projeto de urbanização, mas igualmente a outros dois por mim apresentados: as obras do parque desportivo do Clube de Caça e Pesca e a construção das piscinas termais das Caldas do Moledo. Todas estas obras foram financeiramente contempladas.

Todo o desenvolvimento da obra do quartel foi da responsabilidade do Manuel Dias Montezinho, então secretário da Direção dos Bombeiros, devidamente apoiado pelo fiscal, Engenheiro Né.

Em janeiro de 1977, tomei posse como vereador da Câmara Municipal. Assim, tive a oportunidade de contatar com uma equipa de técnicos do Fundo de Fomento de Habitação que na altura se deslocaram à Régua para dar seguimento à construção do Bairro Verde. É a este organismo do Fundo de Fomento de Habitação, com sede em Lisboa, que eu me dirijo, alguns dias depois, para concorrer à construção de um bairro social para habitação dos nossos bombeiros. Inteirado da viabilidade, foi-me recomendado dirigir-me à sua Delegação do Norte, no Porto, onde tudo acabou por ser tratado.

No dia um de agosto de 1980, por despacho do Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, é autorizada a comparticipação de trinta mil contos aos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua, destinada à construção de trinta fogos. O auto de construção é assinado em outubro do mesmo ano, pela firma José Ermida Lopes e Irmão e pelo secretário dos bombeiros da Régua, Manuel Montezinho. Esta obra, que arrancou em janeiro de 1981, paralisou ao fim de dez meses, o que obrigou a Direção dos Bombeiros a tomar posse administrativa da mesma para proceder a novo concurso. É a firma Eusébio e Filhos que assume a construção do bairro, então já adjudicada por quarenta e cinco mil contos. Salinte-se a disponibilidade do Engenheiro Né, não só enquanto fiscal da obra, mas também pela colaboração em diversos casos e situações problemáticas que esta construção implicou. Esta só viria a ficar pronta em 1984, ano em que fui afastado da Direção, e entregue aos seus legítimos utentes apenas cinco anos depois...

Lamento não ter podido completar tudo aquilo a que me propus. Congratulo-me, no entanto, por, para além das obras citadas, ter podido ainda, durante o meu mandato, participar na criação da Fanfarra, mérito do amigo António Dias; na criação do museu, mérito de Pedro Macedo, e na reativação da Biblioteca, entre outras atividades que ficaram pelo caminho...

Enquanto Presidente da Direção, quero aqui deixar o meu agradecimento a todos os colegas que em muito contribuíram para todo o trabalho executado.

Como sócio, quero continuar a manter a minha grande amizade aos nossos bombeiros.
- António Bernardo Pereira, antigo Presidente da Direcção


PROBLEMA RESOLVIDO EM CASA
Desde criança que sou admirador e amigo dos Bombeiros Voluntários. O meu tio mais velho, Eduardo Menezes, irmão de minha mãe, era bombeiro e foi, durante alguns anos, comandante dos bombeiros de Alpiarça.

Uma vez por ano, na véspera do 5 de Outubro, vinha jantar a casa de meus pais, onde ficava para no dia seguinte comemorar com os seus correligionários a implantação da República. Quando conheci o nosso Comandante Carlos Cardoso, alto e aprumado, lembrava-me muitas vezes do meu tio.

Ao ser sondado para concorrer às eleições como candidato a presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários aceitei imediatamente com alegria, ainda que sentido a responsabilidade do esforço que tal tarefa, a concretizar-se, me exigiria. Se é verdade que tinha trinta e poucos anos, pensava também que já era pai de quatro filhas e advogado com uma intensa atividade.

Fui eleito e comecei logo a trabalhar com dedicação e empenho. Queria ser digno da memória do meu saudoso tio Eduardo e dos meus ilustres predecessores doutor Júlio Vilela, Vieira de Castro, Camilo Araújo Correia, Abel Almeida e tantos outros.

A Direção a que tive a honra de presidir, teve logo a coragem de acabar com uma escondida salinha de jogo que funcionava na sede da nossa associação.

Foi uma realidade com a qual não contava até ao dia em que uma senhora me falou do vício do seu marido, que eu estimava, com verdadeira amizade, e acrescentava que não percebia como é que uma pessoa, “como o senhor doutor”, referindo-se a mim, podia permitir uma mesa de jogo nos Bombeiros. Não queria acreditar no que ouvia mas depois de informado, convenci-me que era verdade. Na reunião seguinte, coloquei o problema e todos os dirigentes acordaram a por termo a tal prática. Uma Associação tão respeitável e respeitada como a nossa não podia viver com receitas desta espécie.

Tivemos sócios que não concordaram com a nossa decisão, invocando que tais proventos faziam falta aos Bombeiros mas defendemos que a Associação não podia também permitir uma casa de prostituição para os arranjar. O dinheiro dos “amigos”, que se entretinham a gastá-lo no jogo, fazia mais falta nas suas casas para as necessidades dos filhos e das esposas. Assim se acabou com o jogo ilícito na sede dos Bombeiros.

A partir daí, a nossa Associação tornou-se mais forte e realizou algumas obras que, até então, pareciam um sonho longínquo: a ampliação do quartel dos Bombeiros e sede da Associação e o bairro dos Bombeiros. Com esta posição da Direção a nossa Associação tornou-se mais humanitária e mais próxima de todos os reguenses.

Vila Real, 16 de Novembro de 2012
- Aires Querubim de Meneses Soares
Clique  nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Actualizado em Dezembro de 2013. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Também publicado no semanário regional "O ARRAIS", edição de 21 de Novembro de 2012. 

domingo, 24 de novembro de 2013

SER BOMBEIRO

Ser bombeiro. Eis o sonho de qualquer rapaz, pelo menos do tempo dos meus verdes anos. Guiar camiões também não era desejo ausente nas nossas cabeças de imaginação sem limites e de vidas imaginadas como eternas, mas ser bombeiro é que era.    

O aperalto das fardas e o reluzir dos capacetes eram de todo o encanto. Mas o toque da sirene, o rodopio aflito dos homens que impulsivamente obedeciam ao seu som e o estridente arranque dos carros em direcção à adivinhada tragédia faziam brotar a certeza absoluta de que um dia podiam contar connosco.

Ir-se para bombeiro era, ao fim de contas, concretizar-se em adulto algo que em criança se desejou. Bastava que, com o devir os anos, a flor do querer nascida na imaginação não fenecesse por falta de alimento, ou porque outros anseios lhe ocuparam entretanto o lugar.

Do conjunto destes sonhos e destas capacidades de imaginação, entrelaçados com a vontade de servir quem a dado momento mais necessita, nasceram as associações humanitárias destinadas ao valor supremo da solidariedade, inequivocamente o sentimento que diferencia os homens dos restantes seres vivos deste nosso planeta azul.

Foi o caso da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, em boa hora surgida no já longínquo dia 28 de Novembro de 1880. Era então a vila, seu berço, uma das mais luzidias de todo o interior de Portugal, mercê das suas potencialidades naturais e do labor dos seus habitantes, homens de visão e de forte empenhamento empresarial e cívico.

Foi, sem sombra de dúvida, um acontecimento marcante na vida de todos nós, quer na dos que nos antecederam, quer na dos que nos seguirão num tempo que não viveremos, mas que nos compete garantir.

Não testemunhei em presença, como é óbvio, os momentos do nascimento da corporação dos bombeiros da Régua. No entanto, quase consigo imaginar as horas, os dias, e os meses em que se pensou e se preparou tão feliz acontecimento. Tive o gosto e o privilégio de rebuscar documentos que singelamente organizei de forma a lhe dar alinhamento em livro, e bem sei das canseiras que então se viveram. Nada me custa pois, então, garantir a justiça de qualquer homenagem feita ou a fazer, mais não seja pelo exemplo de todos os que, ao longo de décadas, dispensaram tempo e canseiras a tão insigne obra.

Graças a eles, na segunda metade da centúria de mil e oitocentos, a vila do Peso da Régua ficou dotada de forma pioneira com um corpo activo de bombeiros abnegados, briosos e altruístas.

A comunidade agradeceu-lhes e soube, podemos hoje testemunhar, louvá-los com a renovação humana de um conjunto de elementos que em tempo algum se negou ao auxílio e à acção em prol dos outros, sempre com sacrifício e por vezes até com a própria vida. Até hoje, os exemplos de antes servem de suporte e de molde orientador aos que agem e servem recebendo em troca muito pouco ou nada, garantindo, no presente, um futuro que, já não sendo o que era, não pode mesmo assim ser encarado sem optimismo e sem esperança.

No decurso de século e meio de vida, pouco falta, pelos lados dos bombeiros da Régua viveram-se, como em tudo na vida, momentos mais tristes e mais complicados, mas viveram-se também momentos de alegria e de festa. Quer nuns, quer noutros, nunca mingou a coragem e sempre imperou a dignidade.    

Diz-nos a História que a A. H. B. V. Peso da Régua sempre esteve na vanguarda sem conhecer a inércia ou o comodismo. Instalou-se a sede primeiramente ao cimo da Rua Serpa Pinto, passou-se para a Rampa Dr. Dias, e depois, ia o século XX a meio, deu-se forma ao actual quartel, um dos mais belos e emblemáticos edifícios da cidade reguense. Equipamentos materiais, esses, sempre foram do mais moderno e melhor, para acção que nunca faltou.

Para memória, ficaram-nos os testemunhos de acontecimentos, entre outros, como a enorme derrocada nas Caldas do Moledo em 1904, que destruiu edifícios e arrastou trinta pessoas até às águas do rio Douro, além das inúmeras cheias do rio que nos dá o ser e cujos humores nos habituamos a respeitar com desassombro, pois sabemos com quem podemos contar. Na região duriense, em Lamego, em 1911 e em 1918; em Mesão Frio, em 1916 e em 1957; em Laurentim, em 1929, e noutros locais, sempre os bombeiros da Régua, souberam dar testemunho da sua valentia. Mas também na Régua, como não podia deixar de ser, a sua acção foi de elevada índole e de ímpar brio. Em 1915, aquando da revolta popular que incendiou a repartição das Finanças; em 1919, quando as forças revoltosas e monárquicas incendiaram o edifício do Asilo José Vasques Osório; em 1937, no terrível incêndio que lavrou no edifício da Câmara Municipal; em 1956, quando foram consumidos os armazéns de uma firma de vinho do Porto na Avenida Dr. Manuel Arriaga, e em 1953, quando ardeu por completo o empório de secos e molhados “Casa Viúva Lopes”, e em cujo combate pereceu o bombeiro João Figueiredo, conhecido por João dos Óculos.      

Para a história dos momentos grandiosos, ficou a organização, em 1980, do 24º. Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, que trouxe à Régua milhares de bombeiros e dirigentes, à semelhança do que sucedeu recentemente em 28 a 30 de  Outubro de 2011.

Ser bombeiro é, pois, um sonho de qualquer criança. Mas ser bombeiro da Régua será inquestionavelmente um motivo de orgulho de todo o adulto que, mesmo não envergando tão distinto uniforme, bem pode ver-se como elemento de tão altruísta associação cívica.
- Manuel Igreja. Actualizado em Novembro de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2013. Actualizado em Novembro de 2013. Imagem e texto cedidos pelo Dr. J. A. Almeida para este blogue. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Heitor Gama

Ser bombeiro faz parte do imaginário de qualquer criança, mesmo antes de aprender a ler, fazer contas e de desenhar. Nas brincadeiras, os mais novos gostam de se imaginar como bombeiros. Para cada missão fardam-se a rigor e entram pelo quartel adentro aos primeiros toques da sirene. E de lá saem no pronto-socorro, empolgados para conseguirem salvar vidas em perigo. Se for necessário tanto combatem o mais pequenino como combatem o maior e o mais temível incêndio, arriscando mesmo a sua vida.

As crianças vestem a farda de bombeiro como se vestissem a farda de um dos seus heróis. Nunca pensam numa qualquer recompensa ou receber uma medalha. Apenas querem imitar os verdadeiros bombeiros e, seguindo os seus exemplos, crescerem como homens altruístas, corajosos e generosos. Quem não ouviu da boca de uma criança esta frase: “Quando eu for grande… quero ser bombeiro!”.

Como todas as crianças, o Heitor Gama deve ter sonhado ser bombeiro. Mas, se nunca sonhou ser bombeiro, deve ter ouvido ao avô materno algumas histórias relacionadas com os bombeiros, a sua coragem, o seu altruísmo e a sua abnegação. E, com esse seu avô que foi um antigo director da Associação, deve ter presenciado os aprumados desfiles dos bombeiros, ao som estridente de uma fanfarra, em direcção ao Jardim do Cruzeiro, onde paravam e, perfilados em continência, colocavam um ramo de flores diante da estátua ao Comandante Afonso Soares.
Mas, o Heitor Gama guarda do tempo da sua infância um desenho numa folha A4 que traça com fiel rigor os aspectos de uma cerimónia em que os bombeiros homenagearam o seu avô, a título póstumo, pela sua dedicação à causa ao voluntariado.

Não conhecia aquela sua preciosidade infantil, com um traço rudimentar e inocente, mas cheio de ternura e generosidade, que muito me sensibilizou quando mo mostrou. Olhando para as figurinhas por aí retratadas, recordei a cerimónia de homenagem e de gratidão ao seu avô Heitor Gama, que aconteceu no Largo da Igreja Matriz, no dia 28 de Novembro de 1999, no 119º Aniversário da Associação.

O desenho para mim estava perfeito, fazia-me recordar, sem a ajuda de nenhuma fotografia para comparar, o rosto tímido da criança de nove anos, debruçada sobre o carro de fogo nos braços do Comandante Manuel Gouveia, ansiosa por destapar uma placa de metal gravada com o nome do avô. Bastou-me olhar para o desenho para compreender que as simpáticas figurinhas que saiam seu desenho, se identificavam com pessoas que ali compareceram para testemunhar o acontecimento. A começar pelo próprio, que se auto-retratou acompanhado pelo seu  pai e a avó, que seguiam com atenção o que ali faziam o velho  Comandante, os bombeiros de machado em punho e, por fim, o senhor padre  a benzer o carro com a  água benta.
Mais tarde, reparei que naquele desenho faltava a presença de uma figurinha, do presidente da direcção…! Melhor dito, faltava a minha pessoa. Mas, não estranhei que tivesse passado despercebido. O mais certo era que não soubesse que também existiam bombeiros sem farda.

Ora, o seu avô tinha sido um grande bombeiro sem farda, um director zeloso, dedicado, rigoroso em tudo o que fazia, que, durante muitos anos, serviu, mesmo com sacrifício para a sua vida pessoal, uma causa de interesse público. Não tive a sorte de conhecer o senhor Heitor Gama, antigo funcionário administrativo da Casa do Douro, mas coube a mim fazer-lhe a devida e merecida homenagem. Quem, hoje, ainda o recorda, elogia-o como um cidadão exemplar e um abnegado director que, em tempos de grandes dificuldades, muito se dedicou à vida da associação e do seu Corpo de Bombeiros.

No verão passado, o jovem Heitor Gama entrou, mais uma vez, no majestoso Quartel Delfim Ferreira para representar, num palco improvisado, com os alunos da Universidade Sénior da Régua, a belíssima e inteligente peça de teatro D. Antónia - Uma Mulher Fora do Seu Tempo. Como não podia deixar de ser, lembrou-se que o seu avô tinha sido também um bombeiro sem farda, um director que muito contribuíra que qualquer missão dos soldados da paz fosse bem desempenhada.

Desta vez, envergando a velha farda que pertenceu ao primeiro Comandante, Manuel Maria de Magalhães, compreendeu que os voluntários, quer usem ou não uma farda, são necessários para apagar todos os fogos... ou socorrer em qualquer tragédia da vida.

Sem que tenha seguido o exemplo do seu avô, o Heitor Gama, pelo teatro, conseguiu ser um bombeiro. Talvez, um dia mais tarde, ao se lembrar também da farda que usou, possa ainda dizer: “Quando eu for grande… não quero esquecer-me de que fui criança e… um bombeiro da Régua”.
E assim nunca esquecerá o exemplo cívico do seu avô, o bom cidadão reguense Heitor Gama, um bombeiro sem farda.

- José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Dezembro de 2012
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.


Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS", edição de 5 de Dezembro de 2012. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.