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quinta-feira, 19 de março de 2015

Cartas de longe: Lembrando o PAI, o cidadão, o jornalista Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Testemunhos do tempo
À memória de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Era Março de 1971.

Moçambique vivia os anos de brasa do conflito armado, em plena guerra colonial.

No batalhão militar de Pemba, constituído, na sua quase totalidade por jovens do recrutamento local, ia processar-se a graduação de um furriel em alferes.

Como convinha, na sua perspectiva, para incentivo e psico exploração junto das forças vivas locais, o comando militar preparou uma pequena cerimónia para a qual , além de muitas individualidades civis e militares, convidou as delegações dos órgãos de comunicação social.

Entre estes últimos encontrava-se um homem por demais conhecido na cidade, onde a par do seu trabalho na Sagal, desde que em 1957 viajara das terra durienses para aquele torrão africano, vinha promovendo através do diário (*Diário de Lourenço Marques-Página de Cabo Delgado) de que era representante, a cidade, os seus valores, os seus anseios, as suas gentes. Fazia-o de forma discreta, sem alardes, ele que era um homem discreto, adverso a fúteis protagonismos, mas com uma garra e uma capacidade de trabalho e dedicação, que não passava despercebido o seu espírito de iniciativa e labor em prol da urbe que o acolhera.

Tinha nome esse grande Homem: JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO, ele que era o chefe natural duma família de bem com nome gravado naquele chão macua; naquele chão que foi de luta, mas também de trabalho, de suor e lágrimas, mas também de alegrias e felicidades.

E foi este homem que me deixou na memória aquilo a que eu chamo um “pormenor” de comportamento, gravado na memória do tempo, desde esse dia, tão distante e tão próximo, da cerimónia no batalhão militar, na bela cidade, então Porto Amélia.

Findas as formalidades oficiais da cerimónia castrense de imposição de galões ao jovem alferes, o comandante convidou todos os presentes para um lanche/convívio no bar de oficiais.

Todos acorreram solícitos, inclusive todos os outros representantes dos órgãos de comunicação social, distribuindo os habituais sorrisos e lindas palavras de circunstância com as entidades civis e militares presentes.

E foi com alguma surpresa e interrogativos pensamentos que o jovem oficial, viu o senhor Gabão– como o conhecia, – em passada larga, denotando inusitada pressa, abandonar o local, sem se dispor a tomar parte no convívio e repasto “elegante” que se seguiu.

Inicialmente, estranhou a atitude e não conseguiu divisar o real motivo de tão apressado debandar.

Não questionou ninguém, mas também não seria necessário. A resposta concreta, sem palavras ou justificações circunstanciais, chegou-lhe logo no outro dia: o jornal diário do nosso repórter Gabão foi o único a publicar a reportagem do acontecimento. Os outros deram-no à estampa dois ou três dias depois.

O nosso homem, mais uma vez, fez jus àquilo que a cidade lhe já conhecia: primeiro a obrigação, o trabalho, depois a devoção. Melhor, primeiro a profissão, depois o camarão, os whiskys, os eventos de fachada.

Foi este o tal “pormenor”, que poderá sugerir uma banalidade circunstancial, mas que o jovem alferes não deixou escapar da sua memória, e que mais se foi avivando na medida em que foi aprendendo no tempo a reconhecer onde no concreto residem os valores das pessoas.

E por julgar um dever, aqui o deixa relatado para lembrar mais um grande homem que, por quase duas décadas, foi do Pemba, do Cabo Delgado, do Moçambique, que, como nós, aprendeu a amar.

Hoje, lembrei-me de ti, JAIME FERRAZ GABÃO...
- Em 14 de Janeiro de 2003 - por Francisco José Branquinho de Almeida Portugal.

Vamos, Jaime, vamos...

Faz um ano que me deixaste. O 18 de Junho é mais uma data da minha memória. Como este Mundo ainda não me arrancou o coração do peito nem me chupou o sangue onde ferve a minha alma, aqui estou a escrever-te para que me ouças na transcendência da comunicação espiritual que os laicos materialistas não entendem, mas fingem aceitar quando lhes interessa para o alcançar das efémeras ambições urdidas na penumbra das intrigas.

Venho convidar-te para irmos ao outro lado do mar, esse mar das Descobertas, do escorbuto, dos sofrimentos e da morte. Vamos revisitar a África onde uma geração caminhou, lutou e morreu sem saber que, um dia, o seu sacrifício seria espezinhado nas alcatifas dos sapatos de pelica.

Anda, Jaime, vamos a Porto Amélia, à cidade ondulada, a mirar-se no espelho do Ìndico, tão linda e tão calma que nem a tempestade lhe arranca as palmeiras. Vamos à praia das areias prateadas, mergulhar nas águas mornas e transparentes, com os corais ali à mão e o sal lá em frente, na linha do horizonte, quase a querer dormir, acariciando-nos os corpos. Caminharemos pela estrada de terra vermelha enquanto, ao longe, na temba isolada junto ao farol, o tam-tam do batuque vai crescendo, num frenesim de sensualidade e de suor, de crença e de dor, de delírio e de espanto.

Vamos a tua casa ver se ela ainda está rodeada de acácias, se a porta se abre e se há mesa para comermos papaias e mangas e ananases e cocos e toda a fruta nascida da virgindade do mato.

À noite, com a lua iluminando a baía, daremos uma volta pelo bairro, diremos "Olá" aos cipaios, tomaremos um café no "Polo Sul" e conversaremos sobre a Régua e as suas gentes, o meu Pai teu companheiro de Escola, as saudades das uvas com broa.

O cais estará vazio porque não é dia de S. Vapor, apetece-nos uma "Laurentina" no Marítimo, passaremos pelo Niassa até nos quedarmos no pequeno terraço da Pensão Miramar com os teus Amigos a contarem histórias do algodão e a fumarem "LM". Então, o cacimbo, virá como um nevoeiro, do lado do mar; o Paquitequete encher-se-á de ruídos e de corridas labirínticas, o Gary Cooper não dará mais tiros aos índios no barracão cinema dos monhés, subiremos a Rampa ou as Escadinhas e saudar-nos-emos com um abraço "Até amanhã".

Anda, Jaime, não hesites, vamos lá, a Porto Amélia, onde ficaram as lágrimas da tua despedida, obrigado a partires quase sem nada, fazeres as malas à pressa porque não querias ver os teus amigos de ontem transformados, repentinamente em revolucionários de sempre, porque te enojou a cobardia de uns tantos que julgavam ser possível apanhar o maximbombo do novo poder.

Vamos a Moçambique gritar que nós não temos culpa do que fizeram uns senhores que chegaram a Lisboa feitos heróis, idolatrados como salvadores, que nunca vestiram uma farda nem sabiam onde ficava África; que, por ideologias e parentescos internacionais, voltaram as costas a milhares de Portugueses que julgavam ter merecido a dignidade e a honra de reconstruirem nas matas e nas cidades a grandeza de uma Pátria.

Vamos, Jaime, vamos a Porto Amélia, dizer àqueles que, muito depois de teres vindo, te continuaram a escrever cartas de estima, que a culpa não é nossa, que não fomos refractários nem desertores, que não os abandonamos, mas nos impuseram o abandono.

Vamos, Jaime, vamos...
- Por M. Nogueira Borges-Porto-1992

QUEM FOI JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO

Nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924. Com 68 anos, depois de uma vida plena de altruismo, na alegria de fazer e conservar Amigos, dedicado à família e à sua terra, a cidade de Peso da Régua, mesmo quando residente em Moçambique, em Porto Amélia, onde ganhou o respeito, a admiração e a gratidão de todos - pelo que sempre a recordava como um apaixonado - Jaime Ferraz Gabão, Delegado do nosso jornal naquela cidade, faleceu a 18 de Junho, Dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, há uns dois meses, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica.

Era casado com D. Nailde Soutelinho Vieira Ferraz Gabão; pai dos srs. Jaime Luis V. Ferraz Gabão (Brasil) e Júlio Manuel Ferraz Gabão (Régua); irmão de Margarida Ilharco Ferraz (falecida Porto), António Jorge Ilharco Ferraz (falecido-Régua) e Henrique Ferraz R. Gabão (Costa da Caparica); avô de três netas e um neto.

Jaime Ferraz Gabão, decano dos jornalistas da Imprensa Regional (em Trás-os-Montes e Alto Douro), começou carreira na Imprensa do Douro, tendo colaborado em jornais como "Jornal da Régua" (extinto), "Noticias do Douro" (Régua), "Noticias da Beira" (Beira-Moçambique), "Diário de Moçambique" (Beira-Moçambique), "Diário de Lourenço Marques" (Lourenço Marques-Moçambique), etç. Era delegado de "O Jornal de Matosinhos" (Matosinhos) e do "Primeiro de Janeiro" (Porto), e redactor de "O Arrais" (Régua) e de "A Voz de Trás-os-Montes" (Vila Real).

Funcionário da Estação Vitivínicula do Douro, diretor de vários clubes desportivos em Porto Amélia, foi distinguido como Sócio de Mérito do Sport Clube da Régua e homenageado pela Câmara Municipal de Porto Amélia, onde colaborou no Emissor Regional de Cabo Delgado.

Foi ainda agraciado com um "Diploma de Louvor" da Presidência do Conselho de Ministros (sob proposta do nosso jornal), com um "Diploma da Cruz Vermelha Portuguesa", pelo seu trabalho na Delegação da Régua e homenageado pelo Clube de Caça e Pesca do Alto Douro e pelo Rotary Clube da Régua, etç.

Vida, assim, intensamente vivida, em exemplaríssima dedicação à Comunidade, bem merece que o seu nome seja perenizado na sua Cidade-Berço. De resto, parece ter sido esse o sentir da multidão que o acompanhou à última jazida, depois da Missa de Corpo Presente, na Igreja Matriz, a que presidiu, por deferência do Pároco, sr. P. Gouveia e do seu Coadjutor, Sr. P. Vital (que celebrou), o Director de "A Voz de Trás-os-Montes", particular e dedicado Amigo de Jaime Ferraz Gabão.
- A Voz-de-Trás-os-Montes de 25 de Junho de 1992.

(Transferência de arquivos do sitio "Peso da Régua" que será desativado em breve)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Cartas de longe: Lembrando o cidadão e o jornalista Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

 ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DURIENSE
Quase em simultãneo, e, já lá vão nove anos, morreram nesta cidade, dois excelentes e prestimosos colaboradores do "Notícias do Douro" : - JAIME FERRAZ GABÃO e Engº. Técnico Agrário, JOSÉ CASTANHEIRA PELOTAS.

O primeiro colaborador antiquíssimo, vinha já dos primórdios deste semanário, mas recomeçou com mais assíduidade na Direcção do nosso querido e saudoso Amigo, NOGUEIRA GOMES, então Provedor do velho hospital, sediado no Peso.

Nesse recuado tempo, o nosso JAIME FERRAZ, escrevia muito, sobretudo sobre o Sport Club da Régua, tendo posteriormente ocupado um lugar de destaque nos corpos directivos. Foi funcionário do Posto Vitivínicula da Régua, como então se designava, sob a égide de um competentíssimo Engº. Agrónomo: - TABORDA DE VASCONCELOS. Todavia na ânsia legitíma de dar melhores condições de vida a seu agregado familiar, com a anuência de outro Engº. Agrónomo, GUEDES DE PAIVA, rumou às terras de Moçambique (Porto Amélia, hoje Pemba), e, por lá se conservou alguns anos. Um dia encontramo-nos casualmente na Avenida dos Aliados, aqui no Porto, ele vinha em gozo de férias, mas o tema da nossa conversa foi inevitavelmente a Régua e as suas gentes, que tanto idolatrava.

Com o 25 de Abril, após a "descolonização exemplar", como ele gostava de referir este termo nos seus artigos, recomeçou a sua colaboração sempre oportuna, neste semanário, como aliás também o fazia de Moçambique, de quando em vez, sobretudo quando as saudades da Terra se faziam sentir...e talvez por este seu apego notável ao "Notícias do Douro", ocupou o "topo" da pirâmide: - Foi nomeado seu Director.

Nos últimos tempos da sua existência, de passagem pela Régua, estivemos no seu "escritório de sempre": - A oficina deste semanário na rua da Ferreirinha. Notei seu semblante muito carregado, mas sempre com a caneta e o bloco (as suas armas) prontas para disparar, e, assim dar começo a mais uma crónica jornalística, mas...suas mãos, já trémulas, não iam ao encontro do seu grande sonho de sempre: - A Notícia Aqui e Agora, para o semanário que ele devotadamente serviu ao longo de algumas décadas: O SEU NOTÍCIAS DO DOURO.

OBRIGADO, JAIME.
- Carlos Ruela - Porto/Setembro/2001

Meu à parte: - Pouco convívi ao longo do tempo com esta personalidade típica da Régua e da inesquecível Rádio Alto Douro que dá pelo nome de Carlos Ruela.

A vida traçou rumos diferentes para todos nós. Mas, em minha infância, antes de partir no navio "Pátria" (1957) para Moçambique (Porto Amélia) com meus Pais, onde estivesse e chegassem as ondas dessa Rádio, também chegava o entoar dinâmico, exclusivo do Carlos Ruela... Não tinha paralelo em dedicação nem concorrente que o suplantasse nessa época de tecnologia antiquada para os padrões de hoje (com as inovações tecnológicas atuais, é fácil ser locutor de rádio). Sua voz era a verdade sem edições e encenações, do amor à Rádio Alto Douro.

Porque aprendi a admirá-lo através de minha infância e de meu saudoso Pai, tomei a liberdade de transcrever para a home "Régua" este "Recordando" enviado por meu Irmão Júlio Gabão e que inícia espaço dedicado ao, acima de tudo, jornalista JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO.

Obrigado CARLOS RUELA... Lamentávelmente a memória dos homens de agora é curta. Mas a nossa não !
- Jaime Luis Gabão - Março de 2002.

O Jaime

Com a chegada do Outono, das primeiras chuvas e de uma friagem a despertar as alergias, inicio o meu luto do Verão. Atenuo a saudade nos arquivos da minha memória e atraco ou aterro nos lugares do sol. Deixem-me aterrar, por hoje, no Moçambique inesquecível.

Era um fim de tarde de um Março de sessenta e oito. O velho DAKOTA da DETA, com óleo a espirrar nos parafusos das asas, vindo de Nampula, fazia a aproximação a Porto Amélia, cidadezinha plantada numa escarpa sobranceira ao Índico. Desenhou um arco para apreciar a baía e, desacelerando sobre o Paquitequete, apontou ao Aeroporto, designação pomposa para um casarão ao lado (e mais ou menos a meio) de uma fita vermelha de terra batida, qual picada de capim aparado. Descemos por um escadote que me lembrou aqueles que, antigamente, se encostavam aos carros de bois para levar os almudes até às pipas. A noite caía com um pôr do sol arrebatador sobre as águas de Wimbe. Em África os dias acordam cedo e esplendorosos como um grito de felicidade e adormecem envoltos numa plangência que angustia as almas mais empedernidas. Cem anos que eu durasse nunca - mas mesmo nunca - esqueceria aqueles anoiteceres com os chiricos e os barucos silenciados pelo concerto das cigarras e uma ferida de sangue inocente a despedir-se do mundo.

Eu viera à frente, feito explorador de logística, na companhia do Pires, furriel alentejano, esfuziante e solidário, sem futurar (mos) a sua morte numa curva da Serra do Mapé, nas terras de Macomia, deixando-me, estupidificado, com o seu fio de ouro no bolso que, numa trágica premonição, me confiara. O resto da tralha e do pessoal chegaria no Pátria(*), aproveitando a sua passagem por Nacala, em rota, desde Lisboa, carregado com mais um contingente.

Foi em Porto Amélia - esqueçamos más recordações - que conheci um dos grandes Amigos da minha vida: o JAIME. Para os leitores deste semanário, a quem devotou o melhor da sua colaboração, e dos reguenses em geral, a quem prestou variados préstimos: o JAIME FERRAZ GABÃO. Labutava nos escritórios de uma empresa algodoeira - a Sagal - e como correspondente, para toda a província de Cabo Delgado, do DIÁRIO (de Lourenço Marques). Com ele reencontrei as minhas (as nossas) raízes e mutuamente nos amparamos nas saudades delas. Saído da Capital Vinhateira em busca de uma vida mais desafogada... Pertencia aos cabouqueiros de África que se misturavam com as raças e as etnias numa confraternização de que só duvidavam os que nunca tiveram a oportunidade de serem felizes naquelas paragens. Não me admirava, assim, que, mesmo com a lembrança dos socalcos, ele desejasse morrer na terra onde readquiria a dignidade, acariciado pelas manhãs claras e as noites cacimbadas.

Passamos horas, nas cadeiras da pensão Miramar, ouvindo "estórias" das savanas, bebemos cerveja no Marítimo e café no Pólo Sul derramando o olhar para o pequeno cais à espera de um dia de "S. Vapor", vimos "E o Vento Tudo Levou" no cinema-barracão, subimos e descemos as escadinhas que ligavam a parte alta à Jerônimo Romero do comércio, abriu-me a porta e sentou-me à mesa de sua casa sem horas nem lugares marcados, relacionou-me na sociedade civil e facilitou-me as páginas do seu jornal sem uma censura ou "sugestão".

Mal sabia ele que haveria de acabar os seus dias na terra que o viu nascer, obrigado ao regresso por uma descolonização exemplar, com os olhos húmidos pelas lembranças dos corais da praia dos coqueiros e dos campos de algodão.

Quando vou ao Peso(**) visitá-lo, trago comigo o seu sorriso moçambicano.
- Por M. Nogueira Borges - In Arrais de Novembro de 2003

 (*) Pátria - Navio de passageiros português da antiga Companhia Colonial de Navegação e que fazia o transporte de cargas e passageiros entre o continente europeu (Lisboa) e a costa Africana (antigas colônias de Portugal).
(**) Peso - Parte alta da cidade de Peso da Régua. Ali se localiza o cemitério onde Jaime Ferraz Rodrigues Gabão está sepultado.

(Transferência de arquivos do sitio "Peso da Régua" que será desativado em breve) 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

RECORDAR É VIVER…

(clique na imagem para ampliar)

Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Embora amasse muito meus pais o certo é que como meus avós maternos vivessem perto, estava, sempre a “fugir” para junto deles.

Ali recebi a minha educação juvenil e recordo com imensa saudade o amor que me dedicavam. Foi com meu avô que conheci o “Clube da Régua” por cima do estabelecimento do saudoso Sr. Zé Pinto.

Levava-me consigo e ainda me lembro que a sua distracção preferida era o “dominó”. Os parceiros eram uns amigos; um, o Sr. Rocha, outro o Sr. Magalhães e às vezes o Padre Aureliano da Costa Pinto, figura de prestígio e que exercia as funções de Conservador do Registo Civil.

Noutras mesas guardo na lembrança de ver os Sr. António Correia (pai do médico e escritor João de Araújo Correia) o Sr. Figueiredo, sogro do Sr. Zé Pinto, Sr. Lourenço Almeida Medeiros, João Bonifácio, Camilo Guedes Castelo Branco e seus filhos António e Jaime Guedes, Dr. José Meireles da Costa Pinto, Joaquim Guedes da Silva, Alberto e Artur Gonçalves Martinho, Domingos Figueiredo, Artur Carvalho, Arnaldo Monteiro e tantos e tantos outros reguenses que eram pessoas muito consideradas na então Vila da Régua.

Eu gostava de “brincar” com as bolas de bilhar e assim me entretinha muitas tardes. Mas meu avô, Luís Maria da Cunha Ilharco, que havia sido Bombeiro, à noite, ia até ao quartel da briosa corporação ou, então, até à Associação Comercial (que era já onde hoje está).

Meu tio, José Vicente Ferreira da Cunha também era um dos parceiros do meu avô, onde também não faltavam os mais novos, como Arnaldo Vicente Ferreira da Cunha, João da Silva Bonifácio Júnior, Gastão Mirandela, Jerónimo Vasques, etc...

Os Doutores Antão de Carvalho, Júlio Vasques, Afonso de Oliveira. Soares, Francisco Leite Pereira, Antão, Alberto e Acácio Lemos, José Avelino (Pai) e José Avelino (Filho) e muitos outros frequentavam, também, alguns daqueles locais. A todos conheci e recordo no meu espírito.

Aos Domingos e Dias Santos meu Avô levava-me sempre à missa à Capela do então Asilo José Vasques Osório. E se estava um dia bonito, na companhia da minha avó, íamos até à Avenida da beira do rio e dávamos a volta, depois, pela Rua das Vareiras.

Aqui residiam minha Avó paterna e duas tias. Meu Avô - Jorge Gabão - já havia falecido. De origem “Vareira”, meus avós paternos construíram a sua residência naquela rua que, ainda hoje, ali se encontra e onde tenho direito, um dia, a receber uma telha como herança...

Vivia com meus Avós maternos, meu irmão José Luís Ferraz. Ajudava-os muito no seu estabelecimento e era o “menino bonito” dos avós. Este meu irmão foi um dos fundadores do Futebol Clube do Porto e Régua, do Orfeão Reguense e outras colectividades.

Tinha a simpatia geral e com o João de Almeida Morais e Manuel Matos Rodrigues (Né), faziam um “terceto” inseparável. Isto durou até que meu irmão, apenas com 19 anos de idade, veio a falecer com uma tuberculose (nessa altura ainda não havia os recursos aos medicamentos que hoje existem para essa doença).

Foi um desgosto profundo para meus pais e avós e para tantos e tantos dos seus amigos, Meus avós, passado pouco tempo e devido ao desgosto da perda do seu neto tão querido, faleceram ambos e, por coincidência, os dois em 9 de Abril, embora em anos diferentes.

A morte de meu irmão e avós foi a decadência da minha família. Meus pais tiveram de fechar o seu estabelecimento e passaram horas das mais amargas.

Anos mais tarde meu pai conseguiu, já com mais de 50 anos, ser admitido como fiscal da Casa do Douro, onde se manteve até à hora da sua morte (aos 69 anos).

Não posso deixar de recordar quanto meu pai sofreu perante chefes que eram autênticos “ditadores” e não respeitavam, a idade e o passado de quem quer que fosse.

Estávamos numa época em que predominava o despotismo e a vingança pessoal. Meu pobre pai morreu amparado pelos cuidados de minha saudosa mãe, e irmãos; quando já me encontrava fixado em Moçambique.

O que é verdade era que o espírito da família era evidente. País, irmãos, filhos, avós, todos viviam imanados no mesmo amor paternal, coisa que, infelizmente, hoje já não se encontra com facilidade e até deixou de existir em muitos casos...

Notas:
  1. Esta bela crónica de Jaime Ferraz Gabão foi publicada no jornal O Arrais, em 25 de Abril de 1991.
  2. O seu autor fala com sentimento da sua infância e ainda com muito carinho de seus familiares, grandes amigos e algumas figuras ilustres e respeitáveis da sociedade reguense, entre as quais recordou também grandes bombeiros, como os Comandantes Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco e Lourenço Medeiros, os Chefes António Guedes e Gastão Mirandela e – para meu desconhecimento - o seu avô Luís Maria da Cunha Ilharco, também bombeiro da Régua, com o qual chegou a frequentar o Quartel, o que se situava na Rua dos Camilos.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.
RECORDAR É VIVER - Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Março de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)

Recordar é viver

Obs. - Acrescento minha amizade e gratidão ao Dr. José Alfredo Almeida  por oferecer e me permitir ler esta crónica escrita por meu saudoso Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Como bem diz caro J A Almeida, é um jóia perdida no tempo de uma Régua que já acabou e que deixa saudades... de uma Régua que levou consigo Familiares, Amigos, lugares, cores inesquecíveis que fazem falta. E que me emocionou diversas vezes enquanto editava o texto e a imagem que ilustra este post. Mas RECORDAR É VIVER... ou RENASCER!  Muito obrigado mais uma vez! - Jaime Luis Gabão, 4 de Novembro de 2010.

terça-feira, 22 de março de 2011

RECORDAR É VIVER…

(clique na imagem para ampliar)
(Também publicado aqui em 4 de Novembro de 2010)

Não viva para que a sua presença seja notada,
mas para que a sua falta seja sentida...

Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Embora amasse muito meus pais o certo é que como meus avós maternos vivessem perto, estava, sempre a “fugir” para junto deles.

Ali recebi a minha educação juvenil e recordo com imensa saudade o amor que me dedicavam. Foi com meu avô que conheci o “Clube da Régua” por cima do estabelecimento do saudoso Sr. Zé Pinto.

Levava-me consigo e ainda me lembro que a sua distracção preferida era o “dominó”. Os parceiros eram uns amigos; um, o Sr. Rocha, outro o Sr. Magalhães e às vezes o Padre Aureliano da Costa Pinto, figura de prestígio e que exercia as funções de Conservador do Registo Civil.

Noutras mesas guardo na lembrança de ver os Sr. António Correia (pai do médico e escritor João de Araújo Correia) o Sr. Figueiredo, sogro do Sr. Zé Pinto, Sr. Lourenço Almeida Medeiros, João Bonifácio, Camilo Guedes Castelo Branco e seus filhos António e Jaime Guedes, Dr. José Meireles da Costa Pinto, Joaquim Guedes da Silva, Alberto e Artur Gonçalves Martinho, Domingos Figueiredo, Artur Carvalho, Arnaldo Monteiro e tantos e tantos outros reguenses que eram pessoas muito consideradas na então Vila da Régua.

Eu gostava de “brincar” com as bolas de bilhar e assim me entretinha muitas tardes. Mas meu avô, Luís Maria da Cunha Ilharco, que havia sido Bombeiro, à noite, ia até ao quartel da briosa corporação ou, então, até à Associação Comercial (que era já onde hoje está).

Meu tio, José Vicente Ferreira da Cunha também era um dos parceiros do meu avô, onde também não faltavam os mais novos, como Arnaldo Vicente Ferreira da Cunha, João da Silva Bonifácio Júnior, Gastão Mirandela, Jerónimo Vasques, etc...

Os Doutores Antão de Carvalho, Júlio Vasques, Afonso de Oliveira. Soares, Francisco Leite Pereira, Antão, Alberto e Acácio Lemos, José Avelino (Pai) e José Avelino (Filho) e muitos outros frequentavam, também, alguns daqueles locais. A todos conheci e recordo no meu espírito.

Aos Domingos e Dias Santos meu Avô levava-me sempre à missa à Capela do então Asilo José Vasques Osório. E se estava um dia bonito, na companhia da minha avó, íamos até à Avenida da beira do rio e dávamos a volta, depois, pela Rua das Vareiras.

Aqui residiam minha Avó paterna e duas tias. Meu Avô - Jorge Gabão - já havia falecido. De origem “Vareira”, meus avós paternos construíram a sua residência naquela rua que, ainda hoje, ali se encontra e onde tenho direito, um dia, a receber uma telha como herança...

Vivia com meus Avós maternos, meu irmão José Luís Ferraz. Ajudava-os muito no seu estabelecimento e era o “menino bonito” dos avós. Este meu irmão foi um dos fundadores do Futebol Clube do Porto e Régua, do Orfeão Reguense e outras colectividades.

Tinha a simpatia geral e com o João de Almeida Morais e Manuel Matos Rodrigues (Né), faziam um “terceto” inseparável. Isto durou até que meu irmão, apenas com 19 anos de idade, veio a falecer com uma tuberculose (nessa altura ainda não havia os recursos aos medicamentos que hoje existem para essa doença).

Foi um desgosto profundo para meus pais e avós e para tantos e tantos dos seus amigos, Meus avós, passado pouco tempo e devido ao desgosto da perda do seu neto tão querido, faleceram ambos e, por coincidência, os dois em 9 de Abril, embora em anos diferentes.

A morte de meu irmão e avós foi a decadência da minha família. Meus pais tiveram de fechar o seu estabelecimento e passaram horas das mais amargas.

Anos mais tarde meu pai conseguiu, já com mais de 50 anos, ser admitido como fiscal da Casa do Douro, onde se manteve até à hora da sua morte (aos 69 anos).

Não posso deixar de recordar quanto meu pai sofreu perante chefes que eram autênticos “ditadores” e não respeitavam, a idade e o passado de quem quer que fosse.

Estávamos numa época em que predominava o despotismo e a vingança pessoal. Meu pobre pai morreu amparado pelos cuidados de minha saudosa mãe, e irmãos; quando já me encontrava fixado em Moçambique.

O que é verdade era que o espírito da família era evidente. País, irmãos, filhos, avós, todos viviam imanados no mesmo amor paternal, coisa que, infelizmente, hoje já não se encontra com facilidade e até deixou de existir em muitos casos...

Notas:
  1. Esta bela crónica de Jaime Ferraz Gabão foi publicada no jornal O Arrais, em 25 de Abril de 1991.
  2. O seu autor fala com sentimento da sua infância e ainda com muito carinho de seus familiares, grandes amigos e algumas figuras ilustres e respeitáveis da sociedade reguense, entre as quais recordou também grandes bombeiros, como os Comandantes Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco e Lourenço Medeiros, os Chefes António Guedes e Gastão Mirandela e – para meu desconhecimento - o seu avô Luís Maria da Cunha Ilharco, também bombeiro da Régua, com o qual chegou a frequentar o Quartel, o que se situava na Rua dos Camilos.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.
RECORDAR É VIVER - Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Março de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Recordar é viver
Obs. - Acrescento minha amizade e gratidão ao Dr. José Alfredo Almeida  por oferecer e me permitir ler esta crónica escrita por meu saudoso Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Como bem diz caro J A Almeida, é um jóia perdida no tempo de uma Régua que já acabou e que deixa saudades... de uma Régua que levou consigo Familiares, Amigos, lugares, cores inesquecíveis que fazem falta. E que me emocionou diversas vezes enquanto editava o texto e a imagem que ilustra este post. Mas RECORDAR É VIVER... ou RENASCER!  Muito obrigado mais uma vez! - Jaime Luis Gabão, 4 de Novembro de 2010.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Em tempo de festas de Nossa Senhora do Socorro na Régua: Recordando...

A casa onde nasci e vivi até os meus 10 ou 12 anos, situava-se na principal rua da Régua. Própriamente na Rua dos Camilos. Quando se aproximava o mês de Agosto já o meu espírito em mais nada pensava senão nas festas em honra de Nossa Senhora do Socorro. Era tudo que de mais belo existia para mim. E, então, quando os ornamentadores iniciavam a sua tarefa, abrindo buracos nas ruas para colocar os mastros, jamais largava as varandas de onde assistia a todos esses trabalhos e que eram, afinal, o início de tudo que se iria realizar. Acompanhava tudo de princípio ao fim. Nada descurava. Os arcos, com os desenhos alusivos e algo que se ligasse com a Régua, as bandeiras que flutuavam ao vento no cimo dos mastros, vermelhas, verdes, azuis, amarelas e outras cores.

Depois era a iluminação que surgia de noite e dava à minha rua um aspecto radioso, que me deixava uma alegria intensa. Por minha vontade ficava ali, na varanda, toda a noite. Era preciso que a minha saudosa Mãe me obrigasse a ir para a cama.

Mas, de manhã, corria logo para o meu “posto”. Dali via passar, depois, as bandas de música, os gigantones e cabeçudos.

Naqueles dias, mesmo com o intenso calor que se fazia sentir, o movimento de forasteiros era enorme.

Ainda não existiam tantos veículos motorizados como hoje. Os forasteiros Juntavam-se em grupos e, acompanhados de bombos, ferrinhos e outros instrumentos, davam largas à sua alegria, cantando e dançando.

A maior parte trazia os seus cestos merendeiros à cabeça, pelo menos no dia do arraiai do rio, onde procuravam o melhor lugar para comerem o seu bocado de carneiro assado e arroz de forno, e onde não faltava a boa “pinga”.

O “nosso rio”, nesses tempos, era diferente. Havia areais por onde se podiam espalhar à vontade milhares de pessoas. Os barcos, como o da Felisbela , levavam de um lado para o outro os que gostavam de ir para “Além-Douro”.

As barracas de melancia e de melões faziam sempre bom negócio. Regateava-se o preço e a qualidade, mas tudo se vendia.

Entretanto anoitecia e as bandas de música, nos seus coretos, faziam-se ouvir e toda aquela gente dançava e bailava!

Tudo era animado e tudo apenas terminava quando era lançada a última partida de fogo do ar e aquático. E diga-se que o fogo escolhido era sempre dos melhores pirotécnicos do norte do país. Eram horas e horas de encanto e pode afirmar-se que arraial como o da Régua era difícil de igualar.

Tudo isso se efectuava após a “Procissão” ter percorrido as principais ruas da então vila e que saía em triunfo da igreja Matriz.

E se deixei para o fim este número da Festa, é porque, para mim, era um “sonho” tudo o que meus o!hos presenciavam. Os andores, os anjinhos eram a coisa mais brilhante a que assistia. Da varanda da minha casa assistia àquele cortejo maravilhoso.

E minha Mãe ia-me indicando o que representava cada uma das figuras que crianças, já a vislumbrarem no seu rosto o cansaço e o calor de tão longo trajecto, apresentavam. Surgia, finalmente, o andor com a Nossa Senhora do Socorro, Toda a gente se ajoelhava.

Olhos cheios de lágrimas se viam em muitas das pessoas. Mãos erguidas dirigidas em direcção a quem parecia sorrir e deitar um olhar de amor aos que lhe faziam os seus pedidos, lançavam as suas preces.

E minha saudosa mãe também chorava e as lágrimas corriam-lhe pelas suas faces. Só hoje compreendo porque choravam as pessoas quando Nossa Senhora do Socorro surgia ali mesmo, num andor repleto de flores.

E só hoje compreendo porque, já no fim duma vida em que estarei perto da Eternidade, também as lágrimas se soltam de meus olhos, lembrando entes queridos desaparecidos, lembrando o sofrimento de tantos. Que Nossa Senhora do Socorro nos abençoe, nos perdoe das nossas faltas. Como tudo era diferente nos meus tempos de criança!...
- Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão** – In Boletim das Festas de Nossa Senhora do Socorro de 1991. Texto gentilemente cedido por J. A. Almeida-Régua.

**Jaime Ferraz Rodrigues Gabão nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924. Faleceu a 18 de Junho de 1992.

sábado, 18 de junho de 2011

Jaime Ferraz Rodrigues Gabão partiu há 19 anos

Por que choras, Pai?
Pelo teu sangue que vai,
Na lonjura dos céus,
Sobre terras e sobre mares,
Impedido de dares
Um beijo dos teus,
Um beijo de amor
Que esquece qualquer dor,
Escancara a alegria
E ressuscita o dia?
Querias a certeza
De viver sem a ausência
Do riso e da voz da tua paixão?
Sentir-lhe a permanência
Como um único coração
A bater por duas vidas,
Sem chegadas e partidas?
Tudo num só olhar,
Tudo num só abraço,
Sem razão para chorar
E sem este dorido cansaço
Que lentamente te mata;
Sem saber quando desata
Este nó aflito,
Este violento grito
Que encolhes para lá dos limites,
Para além do que existes?
Pai, por que choras?
Querias viver sem estas horas
Consumidas como uma eternidade?
Querias que a felicidade
Estivesse sempre na tua mão
Como uma flor que brotasse,
Feita reincarnação
- Ou reinvenção -
De uma criança que nunca se afastasse?
É longa a saudade,
Tão longa e infinita,
Que não há, em boa verdade,
Uma palavra que, mesmo bem escrita,
Traduza a dimensão desta realidade:
Que o amor pelos que nascem de nós
É tão físico e tão forte,
Não se apaga na morte,
Em nenhuma terra se esquece,
Em nenhum sono desaparece.

- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". O livro "O Lagar da Memória" foi apresentado  dia 12 de Março último na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia . Informações para compra aqui.

Nota: Dedico este trabalho poético de M. Coutinho Nogueira Borges à memória de meu saudoso Pai - Jaime Ferraz Rodrigues Gabão.

QUEM FOI JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO:
Nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica.
Uma de suas paixões era Porto Amélia/Pemba.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Nair Vieira Soutelinho Ferraz Gabão - Cinco anos de infinita saudade...

Peso da Régua - Portugal - Lembrando a Mãe Nair Vieira Soutelinho Ferraz Gabão, nascida em Pereiro de Agrações - Vidago/Chaves em 07/NOV/1925 e que nos deixou no dia de 06/DEZ/2011, em Aveiro-Portugal.
D. Nair, como por todos era conhecida, era esposa do saudoso jornalista Jaime Ferraz Rodrigues Gabão (também já falecido) e Mãe de Júlio Manuel Vieira Ferraz Gabão e Jaime Luis Vieira Ferraz Gabão. Residiu em Porto Amélia (hoje Pemba) - Moçambique de 1957 até 1974, data em que regressou com a família a Portugal, fixando residência na cidade de Peso da Régua.
Seus últimos anos de vida foram passados em uma clínica de Aveiro (S. João de Loure) onde, acarinhada e com a possível qualidade de vida que lhe era dispensada, se procurou minimizar o sofrimento e os tristes efeitos da doença que a acometeu.

Vai pois em paz, alma querida. A saudade tornar-se-á um bálsamo em nossos corações, e a luz que deixaste sempre nos trará, além de grandes emoções, um grande alento à alma ferida.
Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

- Poema de Cazuza
Em memória de D. Naílde
O mar de PEMBA - Imagem de Inez Andrade Paes
ao Jaime e ao Júlio

mar quebras macio
nos areais do Índico
e manso e morno

leva a tua mão a dar
quem te aguarda

é o Senhor

Inez Andrade Paes - "Contos de Fadas não de Reis", 6 de Dezembro de 2011
Clique na imagam para ampliar
- Em homenagem (e com dolorosa saudade) a minha querida e eternamente lembrada Mãe Nair Vieira Soutelinho Ferraz Gabão, nascida em Pereiro de Agrações - Vidago/Chaves em 07/NOV/1925 e que nos deixou no dia de  06/DEZ/2011, em Aveiro-Portugal.

Clique  nas imagens para ampliar. Imagem-título de autoria de Jaime Luis Gabão. Imagem 'O mar de Pemba' de autoria de Inez Andrade Paes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Também publicado neste blogue em 6 de Dezembro de 2011 e no blogue 'Contos de Fadas não de Reis' em 6 de Dezembro de 2011. Actualizado em 6 de Dezembro de 2014. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

FOLHA CAÍDA - Ao Jaime Ferraz

Peso da Régua antiga
Em homenagem ao Jornalista do Douro e de Moçambique, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
Jaime Ferraz Rodrigues Gabão nos:
Para mim o Douro é...
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Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Maio de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Falar sobre os Bombeiros da Régua


Jaime Luis V. F. Gabão

Falar sobre os Bombeiros da Régua não é difícil para as gentes da Régua. Ao longo da vida e do tempo acompanham-nos em um quotidiano repleto de episódios reveladores de abnegação, doação ao semelhante, generosidade desinteressada, modelos de coragem, sacrifício e por aí adiante. Difícil é para quem como eu, nado e criado até aos 9 anos de idade na sempre estimada Peso da Régua e posteriormente emigrou por força do destino e das circunstâncias para lugares distantes que juntam África, Europa e América do Sul, detalhar o caminho grandioso e beneficente para com o povo vareiro, traçado por essa Instituição já centenária em período no qual, sem abandonar espiritualmente as raízes, só vivenciei fatos da Régua por notícias, por cartas e testemunho de meu saudoso Pai, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão quando vivo, também por estadias curtas no berço pátrio para colmatar saudades ou ainda por relatos de Amigos.

No entanto, apesar dessa ‘ausência’, dois acontecimentos marcam nitidamente a minha memoria. Um é o ‘grito’ angustiado da sirene instalada no característico ‘quartel antigo’ dos bombeiros, que ecoava tristemente por toda a Régua na minha meninice feliz, chamando os soldados da paz, ‘grito’ quase desesperado, representativo do acontecer de algum drama em algum lugar, como tantos que o Amigo Dr. José Alfredo Almeida vem descrevendo no Escritos do Douro e vou absorvendo-editando aqui pelos trópicos como se na Régua estivesse fisicamente, fruindo deste ‘milagre’ da comunicação e da informação que é a internet e que tanto nos aproxima. De tal forma ficava apavorado e trémulo em minha ingénua meninice, que buscava aconchego nos braços de minha Querida Mãe Nair ao ouvir essa sirene aflitiva, assim ela me contava... E o segundo, refere o dramático e tantas vezes evocado incêndio da Casa Viúva Lopes, já assim descrito por mim: “Na dramática noite do dia 8 de Agosto de 1953 eu estava lá, em frente à estação da Régua, junto ao muro que dá para o rio Douro, a assistir ao dantesco espetáculo. Com seis anos de idade na época, acompanhava meu Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Nunca saiu de minha memória a beleza assustadora e dramática das chamas envolvendo o edifício enorme da Casa Viúva Lopes. Foi experiência que marca minhas lembranças com nitidez impressionante até aos dias de hoje!”. Dessa data e desse espetáculo belo, dantesco e triste emoldurado pelas sombras de uma noite de verão há 58 anos passados, resultou a morte do Bombeiro João Gomes Figueiredo, também conhecido por João dos Óculos e que o  mestre da escrita do Douro, João de Araújo Correia, homenageou em “HISTÓRIA DE UM SONETO” que pode ser lido aqui (Escritos do Douro).

Em outras paragens, os Bombeiros são-no por profissão. Auferem salário e a isso se dedicam inteiramente. Na Régua não, contava-me meu Pai, ainda em Porto Amélia-Moçambique, enquanto redigia as suas ‘Cartas de Longe’ para o ‘Notícias do Douro’ publicadas nos anos 60/70 ou à mesa de nossa casa africana, em refeições com sabor a Douro e Trás-os-Montes, elaboradas pela mão atinada de minha Querida Mãe e compartilhadas por reguenses como meu estimado Irmão Júlio Gabão, o Guedes tipógrafo, o marinheiro de fragata Zagalo, o Major Leite Pereira, ou mais destacados nas letras como o alferes Manuel Coutinho Nogueira Borges, o tenente médico Dr. Camilo de Araújo Correia (filho de João de Araújo Correia, escritores já falecidos). Todos eles, pela guerra colonial de então ou em busca de uma vida melhor, iam parar em terras de Cabo Delgado e em nossa sala de visitas sempre hospitaleira e de portas franqueadas, amenizando saudades em longas conversas dulcificadas e entremeadas por saborosos cálices de Porto e acepipes culinários, nas tardes domingueiras ensolaradas ou anoiteceres quentes de cacimbo africanas.
Pois e como dizia acima, na Régua os bombeiros são-no por amadorismo e doação desinteressada. Uns trabalham no campo, outros são empregados de balcão, outros sapateiros, comerciantes e assim para diante. E, sem proveito material adicional, nas horas vagas ou, quando avocados pela tal sirene, são Bombeiros da Régua e de todos que precisam de socorro e ajuda. Como ininterruptamente aconteceu afinal, quando no antigo e hoje abandonado cinema sentíamos a segurança tranquila da sua presença física durante as projeções, quando as velhas bancadas de madeira do campo de futebol do Peso, nos anos 50, desmoronaram (e eu junto) repletas de adeptos do SC da Régua, quando de plantão para qualquer eventual acidente em corridas de motos realizadas na beira-rio (organizadas também pelo SC da Régua de que meu Pai era diretor), quando o autocarro com estudantes se despenhou da ponte, quando as ainda existentes casas construídas à moda antiga em esqueleto de madeira se incendeiam, quando os pinhais e montes são desgastados pelo fogo do estio, quando alguém submerge no rio Douro ou quando o mesmo rio Douro, corre farto lá de Espanha e estende com indiferença fria suas águas, transformando em leito as ruas e caminhos da Régua, quando algum automóvel se acidenta nas encostas do Marão, quando alguma pessoa adoece e precisa de uma ambulância que o leve à saúde num hospital do Porto ou mais distante até, quando acompanham à última morada pessoa querida, quando e ainda hoje (assim lemos na internet) acodem um barco de turismo avariado, repleto de viajantes admiradores das belezas do recanto fluvial duriense...,  tudo e sempre num comportamento de grandeza e generosidade, sem diferenças sociais, que sobrevém ao longo de nossas vidas desde que, em “1842, a Câmara Municipal do Peso da Régua resolveu enviar um representante à Câmara dos Deputados a solicitar a concessão de uma bomba, para que na vila se pudesse acudir aos incêndios que por cá deflagrassem” e, mais tarde, quando em “28 de Novembro de 1880, nascia a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua ou Real Associação Humanitária, comandada por Manuel Maria de Magalhães”...

E tivesse eu a sabedoria atilada e conhecimento de meu querido, saudoso Pai e de Amigos que pela Régua e arredores pelejam e escrevem, permaneceria horas a fio ‘falando’ sobre os Bombeiros da Régua, contando a ode de seres anônimos, de parentes, de heróis em feitos exemplares, já fenecidos como seres físicos, mas não esquecidos como entes imortais participantes da minha vida, de muitas vidas, da História da Régua e de um dos seus maiores patrimônios, num hoje ininterrupto, estruturado e continuado na pujança de jovens Bombeiros sempre Voluntários.
Portanto, repetirei e para terminar este meu ‘desabafo’ provocado pelo Amigo José Alfredo Almeida, que é para eles e por tudo que representam minha inabalável admiração!
30 de Julho de 2011
Texto e edição de Jaime Luis Gabão. Colaboração de imagens do Dr. José Alfredo Almeida para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
Falar sobre os Bombeiros da Régua
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 11 de Agosto de 2011
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sábado, 17 de julho de 2010

Poema a PORTO AMÉLIA

(Clique na imagem para ampliar) 

POEMA A PORTO AMÉLIA
(À Memória de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, escrito em Junho/70)

Terra suada pelo fogo do sol e esquecida lá no norte,
onde tantos ganharam a coragem para refazer a vida
e teimam em ficar, unidos e em comunhão com os lá nascidos.
Terra que ouve tiros ecoando na selva
e sepulta corpos vestidos com sangue de guerra,
poetas gritando justiça e paz, mesmo que ninguém os ouça,
nem os que trincam a alma no amanho da machamba,
nem os que mastigam o tempo no amanho da esperança.
Terra vermelha com cemitério debruçado sobre o mar,
cruzes escurecendo no desfilar da memória,
epitáfios de números e de nomes esquecidos além.
Terra que sente os espaços limitados,
as angústias das palmeiras seculares,
abrigando a sombra de olhos fixos nos corais
e suspirando horizontes na quietude triste de um cais.
Terra que ajudou a criar o poeta, a fazer o poema
e a construir a filosofia do abraço e do sorriso.
Terra que também é minha porque nela chorei de solidão,
chorei amigos que foram mortos sem razão
e nela joguei sem deserções o xadrez da vida;
vi crianças de olhos esbugalhados pelo espanto
e homens hipnotizados pelo minuto seguinte.

Ó terra excitada pelos batuques das gentes negras,
sons perdidos na cumplicidade das tembas!
Eu te lembro deste continente que se chama Europa,
meto o poema numa carta e pergunto quantos selos leva,
sem selos a palavra escrita não salta mares,
deito-a num saco de correio azul – azul como o teu céu
e espero, meu AMIGO, que me respondas do outro lado.
Seria bom – ó terra dos ecos nocturnos! – voltar às tuas manhãs de luz,
aos teus entardeceres como quem fecha os olhos para sonhar,
perder-me nas picadas de fins ignorados e ouvir o eco do meu grito,
aliviar o meu alvoroço oprimido e poder dizer: «Viva a vida!».

M. Nogueira Borges* – Porto, Junho/1970
  • Outros post's neste blogue que falam de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, cidadão português nascido na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924, falecido em 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus e sepultado no Cemitério do Peso.
  • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor e poeta do Douro-Portugal. Nasceu no lugar de S. Gonçalo, freguesia de S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 12.10.1943. Frequentou o curso de Direito de Coimbra, cumpriu o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial mil.º e enveredou pela profissão de bancário. Tem colaboração dispersa por diversos jornais, nomeadamente: Notícias (de Lourenço Marques); Diário de Moçambique (Beira), Voz do Zambeze (Quelimane), Diário de Lisboa, República, Gazeta de Coimbra, Noticias do Douro, Miradouro, Arrais e outros. Em 1971 estreou-se com um livro de contos a que chamou "Não Matem A Esperança". (In 'Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses', coordenado por Barroso da Fonte. Manuel Coutinho Nogueira Borges está no Google. Pode ler também os textos deste autor no blogue ForEver PEMBA. Outros textos de Manuel Coutinho Nogueira Borges neste blogue!
POEMA A PORTO AMÉLIA
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quinta-feira, 30 de abril de 2009

CONFISSÃO por António Reis Baia

(Clique na imagem para ampliar)

No meu tempo de rapaz havia tão poucas máquinas fotográficas que até se sabia quem as tinha. Eu tive uma emprestada… E foi com ela que, muito cedo, comecei a interessar-me pela fotografia.

Mas, só em 1944, ano em que entrei para a Casa do Douro, me encontrei verdadeiramente com a arte fotográfica. Devo esse encontro ao meu chefe de secção senhor Arnaldo Monteiro que, já nessa altura, era considerado um amador de muito mérito. No seu modesto laboratório e com os seus valiosos ensinamentos tomei consciência da profissão que me esperava.

Perdido o meu primeiro mestre e não havendo em Portugal qualquer curso de fotografia, mandei vir de Espanha os livros que por lá se editavam sobre a matéria que tanto me seduzia.

Tive o meu primeiro atelier nas Caldas do Moledo, onde iam “tirar o retrato” as pessoas das redondezas, da Régua na sua grande maioria. Por minha conveniência e dos clientes, montei, logo que pude, um estúdio e laboratório num 2º. andar da Rua da Ferreirinha. Com melhores condições e maiores exigências da clientela foi possível ir melhorando a qualidade do meu trabalho.

Entretanto, como a arte fotográfica se fosse alargando em complexidade e fechando em segredos cada vez maiores, vi-me na necessidade de me deslocar a Lisboa e frequentar os laboratórios da Filmarte. Foi como se um novo mundo se abrisse à minha curiosidade e insatisfação. A partir daí a minha objectiva jamais se contentou com os retratos do ganha pão. E tudo me tem servido: paisagem, flores, animais, estações do ano e do homem.

Se aqui venho com o que foi mais querido ao meu espírito e ao meu coração é por me terem dito que valia a pena repartir convosco estas recordações de TRINTA ANOS DE REVELAÇÃO. Caí na vaidade de acreditar.
- Autor: António Reis Baía - texto inédito escrito pelo fotógrafo para o catálogo de uma exposição de seus trabalhos - "30 anos de revelação" que decorreu no Salão Nobre da Casa do Douro entre 11 e 17 de Agosto de 1986. Infelizmente, foi a última.

  • António Reis Baía nasceu no belo lugar de Caldas do Moledo, freguesia de Fontelas, a 28 de Março de 1921 e faleceu em 7 de Março de 2004 em Peso da Régua onde sempre trabalhou e onde retratava com esmero figuras locais, instituições, sua natureza e povo. È pena que o seu espólio fotografico particular não tenha ficado á guarda de uma instituição pública local para que as novas gerações pudessem aprender cultuando sua arte e pessoa de artista do Douro. Grande parte das fotos publicadas neste blogue sobre a História dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua são de autoria de António Reis Baía.(Dados e imagem gentilmente cedidos por J. A. Almeida)

Uma nota - Por volta de 1957 meu saudoso Pai, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão partiu para Moçambique (Porto Amélia) em busca de um futuro melhor, mais digno, para seus Filhos e Esposa. Seis meses de saudade depois, tivemos de nos preparar para partir ao seu encontro. E, nessa época era moda e precaução salutar contra os fortes raios solares dos trópicos usar "capacete" bem ao jeito de "caçador africano"... Pois lá fomos até ao Porto onde, em casa especializada do agitado centro, creio que pela Rua de Santa Catarina se a memória não me engana, encomendamos dois dos tais "capacetes": um para mim e outro para meu Irmão Júlio Gabão... Mas e deixando rodeios desnecessários, é importante frisar que, de posse dos tais "adornos" coloniais, não poderiamos embarcar para a África de nossa adolescência feliz sem umas fotos que "gravassem" ou perpetuassem o quanto eles nos deixavam com ar de aprendizes a "senhores da selva". E, naturalmente só poderiamos recorrer ao "Sr. Baia". Este, acolhedor e habilidoso sem deixar de manter seu ar sério, conseguiu pois retratar-nos admirávelmente entre palavras e recomendações de Amigo, afugentando nossa aprensão de criança com medo do desconhecido do outro lado do mar...

Em 1975 "retornamos" a Portugal e à nossa Régua. E lá encontramos o Sr. Baía, no mesmo local, do mesmo jeito, com alguns cabelos e bigode grisalhos e com o mesmo acolhimento... Trocamos algumas poucas vezes, idéias simples sobre as "fotos do capacete" que ainda guardo, sobre a África que ficara para trás e na memória, sobre o novo Portugal repleto de encantos e desencantos político-sociais e sobre a então nova preocupação quanto ao horizonte futuro de filhos e netos... Depois, o destino trouxe-me para longe da Régua do Sr, Baía, da Régua de minha Família e da Régua de minhas raízes... mas nunca para longe da Régua das lembranças eternas de criança e da Régua da nostalgia de momentos e Amigos como o Sr. Baia. - Jaime Luis Gabão, 30 de Abril de 2009.