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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Relembrando - UM DE NÓS - Em Memória de Jaime Ferraz Gabão

Em Memória de Jaime Ferraz Gabão
Nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica. Portanto hà 23 anos!

UM DE NÓS !
Morreu Jaime Ferraz Gabão. Morreu um de nós, os do ARRAIS. Morreu, por ventura, o colaborador que mais lhe respeitava uma das linhas mais vincadas do seu carácter, bem definida no primeiro número. Dizia-se na apresentação, ENCONTRO NA RUA, que "um jornal é também a história e a consciência de uma terra". Ora, na grande maioria das suas crónicas, Jaime Ferraz Gabão foi a história e a consciência da Régua. Recordou acontecimentos longínquos, quando ao presente lhe pareceram oportunos, e sublinhou o dia a dia, sempre que lhe adivinhava a utilidade de algum eco no futuro. São incontáveis as figuras e figurinhas que desfilaram nas suas memórias da Régua antiga. Trouxe á luz dos jornais, famílias inteiras, quase extintas, o que sempre provocava nos descendentes uma onda de simpatia e gratidão, Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam. 
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista espontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento patriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima, Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompor da enorme frustração, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

Pelo seu desinteressado altruísmo, Jaime Ferraz Gabão veio a merecer da Cruz Vermelha Portuguesa a "Medalha de Agradecimento" e a "Medalha e Cruz de Mérito". O Sport Clube da Régua, distinguia-o ,desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.

A Régua mais Régua, a Régua de Jaime Ferraz Gabão, sentiu bem e logo a sua perda, acompanhando-lhe o féretro ao cemitério do Peso, com recolhida pausa na Igreja Matriz, para celebração de missa de corpo presente. Foram celebrantes os padres António Maria Cardoso e Vital Capelo, por ausência inevitável do padre Luis Marçal.
Toda a cerimónia foi um profundo adeus a Jaime Ferraz Gabão. Um adeus, que as eloquentes palavras do Dr. António Maria Cardoso, seu velho e querido amigo, souberam prolongar no coração e no espírito de toda a gente. Foi uma evocação circunstânciada e sentida. Tão sentida que pôde acender as primeiras saudades de Jaime Ferraz Gabão, pouco antes da terra, da sua terra o tirar, para sempre, da nossa companhia.
- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*
*Agradeço a José Alfredo Almeida os recortes do Arrais oferecidos e que me permitiram a transcrição integral deste artigo do também já saudoso, companheiro e Amigo Dr. Camilo de Araújo Correia.
  • Em tempo de festas de Nossa Senhora do Socorro na cidade da Régua, recordo Jaime Ferraz Rodrigues Gabão!  
  • Jaime Ferraz Rodrigues Gabão citado no portal do Sport Club da Régua - Aqui!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

UM DE NÓS - Em Memória de Jaime Ferraz Gabão

Em Memória de Jaime Ferraz Gabão
Nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica. Portanto hà 18 anos!

UM DE NÓS !
Morreu Jaime Ferraz Gabão. Morreu um de nós, os do ARRAIS. Morreu, por ventura, o colaborador que mais lhe respeitava uma das linhas mais vincadas do seu caráter, bem definida no primeiro número. Dizia-se na apresentação, ENCONTRO NA RUA, que "um jornal é também a história e a consciência de uma terra". Ora, na grande maioria das suas crónicas, Jaime Ferraz Gabão foi a história e a consciência da Régua. Recordou acontecimentos longínquos, quando ao presente lhe pareceram oportunos, e sublinhou o dia a dia, sempre que lhe adivinhava a utilidade de algum eco no futuro. São incontáveis as figuras e figurinhas que desfilaram nas suas memórias da Régua antiga. Trouxe á luz dos jornais, famílias inteiras, quase extintas, o que sempre provocava nos descendentes uma onda de simpatia e gratidão, Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam. 
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista expontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento pátriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima, Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompôr da enorme frustação, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

Pelo seu desinteressado altruísmo, Jaime Ferraz Gabão veio a merecer da Cruz Vermelha Portuguesa a "Medalha de Agradecimento" e a "Medalha e Cruz de Mérito". O Sport Clube da Régua, distinguia-o ,desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.

A Régua mais Régua, a Régua de Jaime Ferraz Gabão, sentiu bem e logo a sua perda, acompanhando-lhe o féretro ao cemitério do Peso, com recolhida pausa na Igreja Matriz, para celebração de missa de corpo presente. Foram celebrantes os padres António Maria Cardoso e Vital Capelo, por ausência inevitável do padre Luis Marçal.
Toda a cerimónia foi um profundo adeus a Jaime Ferraz Gabão. Um adeus, que as eloquentes palavras do Dr. António Maria Cardoso, seu velho e querido amigo, souberam prolongar no coração e no espírito de toda a gente. Foi uma evocação circunstânciada e sentida. Tão sentida que pôde acender as primeiras saudades de Jaime Ferraz Gabão, pouco antes da terra, da sua terra o tirar, para sempre, da nossa companhia.
- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*
*Agradeço a José Alfredo Almeida os recortes do Arrais oferecidos e que me permitiram a transcrição integral deste artigo do também já saudoso, companheiro e Amigo Dr. Camilo de Araújo Correia.
  • Em tempo de festas de Nossa Senhora do Socorro na cidade da Régua, recordo Jaime Ferraz Rodrigues Gabão!  
  • Jaime Ferraz Rodrigues Gabão citado no portal do Sport Club da Régua - Aqui!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Em tempo de festas de Nossa Senhora do Socorro na Régua: Recordando...

A casa onde nasci e vivi até os meus 10 ou 12 anos, situava-se na principal rua da Régua. Própriamente na Rua dos Camilos. Quando se aproximava o mês de Agosto já o meu espírito em mais nada pensava senão nas festas em honra de Nossa Senhora do Socorro. Era tudo que de mais belo existia para mim. E, então, quando os ornamentadores iniciavam a sua tarefa, abrindo buracos nas ruas para colocar os mastros, jamais largava as varandas de onde assistia a todos esses trabalhos e que eram, afinal, o início de tudo que se iria realizar. Acompanhava tudo de princípio ao fim. Nada descurava. Os arcos, com os desenhos alusivos e algo que se ligasse com a Régua, as bandeiras que flutuavam ao vento no cimo dos mastros, vermelhas, verdes, azuis, amarelas e outras cores.

Depois era a iluminação que surgia de noite e dava à minha rua um aspecto radioso, que me deixava uma alegria intensa. Por minha vontade ficava ali, na varanda, toda a noite. Era preciso que a minha saudosa Mãe me obrigasse a ir para a cama.

Mas, de manhã, corria logo para o meu “posto”. Dali via passar, depois, as bandas de música, os gigantones e cabeçudos.

Naqueles dias, mesmo com o intenso calor que se fazia sentir, o movimento de forasteiros era enorme.

Ainda não existiam tantos veículos motorizados como hoje. Os forasteiros Juntavam-se em grupos e, acompanhados de bombos, ferrinhos e outros instrumentos, davam largas à sua alegria, cantando e dançando.

A maior parte trazia os seus cestos merendeiros à cabeça, pelo menos no dia do arraiai do rio, onde procuravam o melhor lugar para comerem o seu bocado de carneiro assado e arroz de forno, e onde não faltava a boa “pinga”.

O “nosso rio”, nesses tempos, era diferente. Havia areais por onde se podiam espalhar à vontade milhares de pessoas. Os barcos, como o da Felisbela , levavam de um lado para o outro os que gostavam de ir para “Além-Douro”.

As barracas de melancia e de melões faziam sempre bom negócio. Regateava-se o preço e a qualidade, mas tudo se vendia.

Entretanto anoitecia e as bandas de música, nos seus coretos, faziam-se ouvir e toda aquela gente dançava e bailava!

Tudo era animado e tudo apenas terminava quando era lançada a última partida de fogo do ar e aquático. E diga-se que o fogo escolhido era sempre dos melhores pirotécnicos do norte do país. Eram horas e horas de encanto e pode afirmar-se que arraial como o da Régua era difícil de igualar.

Tudo isso se efectuava após a “Procissão” ter percorrido as principais ruas da então vila e que saía em triunfo da igreja Matriz.

E se deixei para o fim este número da Festa, é porque, para mim, era um “sonho” tudo o que meus o!hos presenciavam. Os andores, os anjinhos eram a coisa mais brilhante a que assistia. Da varanda da minha casa assistia àquele cortejo maravilhoso.

E minha Mãe ia-me indicando o que representava cada uma das figuras que crianças, já a vislumbrarem no seu rosto o cansaço e o calor de tão longo trajecto, apresentavam. Surgia, finalmente, o andor com a Nossa Senhora do Socorro, Toda a gente se ajoelhava.

Olhos cheios de lágrimas se viam em muitas das pessoas. Mãos erguidas dirigidas em direcção a quem parecia sorrir e deitar um olhar de amor aos que lhe faziam os seus pedidos, lançavam as suas preces.

E minha saudosa mãe também chorava e as lágrimas corriam-lhe pelas suas faces. Só hoje compreendo porque choravam as pessoas quando Nossa Senhora do Socorro surgia ali mesmo, num andor repleto de flores.

E só hoje compreendo porque, já no fim duma vida em que estarei perto da Eternidade, também as lágrimas se soltam de meus olhos, lembrando entes queridos desaparecidos, lembrando o sofrimento de tantos. Que Nossa Senhora do Socorro nos abençoe, nos perdoe das nossas faltas. Como tudo era diferente nos meus tempos de criança!...
- Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão** – In Boletim das Festas de Nossa Senhora do Socorro de 1991. Texto gentilemente cedido por J. A. Almeida-Régua.

**Jaime Ferraz Rodrigues Gabão nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924. Faleceu a 18 de Junho de 1992.