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terça-feira, 22 de março de 2011

RECORDAR É VIVER…

(clique na imagem para ampliar)
(Também publicado aqui em 4 de Novembro de 2010)

Não viva para que a sua presença seja notada,
mas para que a sua falta seja sentida...

Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Embora amasse muito meus pais o certo é que como meus avós maternos vivessem perto, estava, sempre a “fugir” para junto deles.

Ali recebi a minha educação juvenil e recordo com imensa saudade o amor que me dedicavam. Foi com meu avô que conheci o “Clube da Régua” por cima do estabelecimento do saudoso Sr. Zé Pinto.

Levava-me consigo e ainda me lembro que a sua distracção preferida era o “dominó”. Os parceiros eram uns amigos; um, o Sr. Rocha, outro o Sr. Magalhães e às vezes o Padre Aureliano da Costa Pinto, figura de prestígio e que exercia as funções de Conservador do Registo Civil.

Noutras mesas guardo na lembrança de ver os Sr. António Correia (pai do médico e escritor João de Araújo Correia) o Sr. Figueiredo, sogro do Sr. Zé Pinto, Sr. Lourenço Almeida Medeiros, João Bonifácio, Camilo Guedes Castelo Branco e seus filhos António e Jaime Guedes, Dr. José Meireles da Costa Pinto, Joaquim Guedes da Silva, Alberto e Artur Gonçalves Martinho, Domingos Figueiredo, Artur Carvalho, Arnaldo Monteiro e tantos e tantos outros reguenses que eram pessoas muito consideradas na então Vila da Régua.

Eu gostava de “brincar” com as bolas de bilhar e assim me entretinha muitas tardes. Mas meu avô, Luís Maria da Cunha Ilharco, que havia sido Bombeiro, à noite, ia até ao quartel da briosa corporação ou, então, até à Associação Comercial (que era já onde hoje está).

Meu tio, José Vicente Ferreira da Cunha também era um dos parceiros do meu avô, onde também não faltavam os mais novos, como Arnaldo Vicente Ferreira da Cunha, João da Silva Bonifácio Júnior, Gastão Mirandela, Jerónimo Vasques, etc...

Os Doutores Antão de Carvalho, Júlio Vasques, Afonso de Oliveira. Soares, Francisco Leite Pereira, Antão, Alberto e Acácio Lemos, José Avelino (Pai) e José Avelino (Filho) e muitos outros frequentavam, também, alguns daqueles locais. A todos conheci e recordo no meu espírito.

Aos Domingos e Dias Santos meu Avô levava-me sempre à missa à Capela do então Asilo José Vasques Osório. E se estava um dia bonito, na companhia da minha avó, íamos até à Avenida da beira do rio e dávamos a volta, depois, pela Rua das Vareiras.

Aqui residiam minha Avó paterna e duas tias. Meu Avô - Jorge Gabão - já havia falecido. De origem “Vareira”, meus avós paternos construíram a sua residência naquela rua que, ainda hoje, ali se encontra e onde tenho direito, um dia, a receber uma telha como herança...

Vivia com meus Avós maternos, meu irmão José Luís Ferraz. Ajudava-os muito no seu estabelecimento e era o “menino bonito” dos avós. Este meu irmão foi um dos fundadores do Futebol Clube do Porto e Régua, do Orfeão Reguense e outras colectividades.

Tinha a simpatia geral e com o João de Almeida Morais e Manuel Matos Rodrigues (Né), faziam um “terceto” inseparável. Isto durou até que meu irmão, apenas com 19 anos de idade, veio a falecer com uma tuberculose (nessa altura ainda não havia os recursos aos medicamentos que hoje existem para essa doença).

Foi um desgosto profundo para meus pais e avós e para tantos e tantos dos seus amigos, Meus avós, passado pouco tempo e devido ao desgosto da perda do seu neto tão querido, faleceram ambos e, por coincidência, os dois em 9 de Abril, embora em anos diferentes.

A morte de meu irmão e avós foi a decadência da minha família. Meus pais tiveram de fechar o seu estabelecimento e passaram horas das mais amargas.

Anos mais tarde meu pai conseguiu, já com mais de 50 anos, ser admitido como fiscal da Casa do Douro, onde se manteve até à hora da sua morte (aos 69 anos).

Não posso deixar de recordar quanto meu pai sofreu perante chefes que eram autênticos “ditadores” e não respeitavam, a idade e o passado de quem quer que fosse.

Estávamos numa época em que predominava o despotismo e a vingança pessoal. Meu pobre pai morreu amparado pelos cuidados de minha saudosa mãe, e irmãos; quando já me encontrava fixado em Moçambique.

O que é verdade era que o espírito da família era evidente. País, irmãos, filhos, avós, todos viviam imanados no mesmo amor paternal, coisa que, infelizmente, hoje já não se encontra com facilidade e até deixou de existir em muitos casos...

Notas:
  1. Esta bela crónica de Jaime Ferraz Gabão foi publicada no jornal O Arrais, em 25 de Abril de 1991.
  2. O seu autor fala com sentimento da sua infância e ainda com muito carinho de seus familiares, grandes amigos e algumas figuras ilustres e respeitáveis da sociedade reguense, entre as quais recordou também grandes bombeiros, como os Comandantes Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco e Lourenço Medeiros, os Chefes António Guedes e Gastão Mirandela e – para meu desconhecimento - o seu avô Luís Maria da Cunha Ilharco, também bombeiro da Régua, com o qual chegou a frequentar o Quartel, o que se situava na Rua dos Camilos.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.
RECORDAR É VIVER - Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Março de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Recordar é viver
Obs. - Acrescento minha amizade e gratidão ao Dr. José Alfredo Almeida  por oferecer e me permitir ler esta crónica escrita por meu saudoso Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Como bem diz caro J A Almeida, é um jóia perdida no tempo de uma Régua que já acabou e que deixa saudades... de uma Régua que levou consigo Familiares, Amigos, lugares, cores inesquecíveis que fazem falta. E que me emocionou diversas vezes enquanto editava o texto e a imagem que ilustra este post. Mas RECORDAR É VIVER... ou RENASCER!  Muito obrigado mais uma vez! - Jaime Luis Gabão, 4 de Novembro de 2010.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

RECORDAR É VIVER…

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Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Embora amasse muito meus pais o certo é que como meus avós maternos vivessem perto, estava, sempre a “fugir” para junto deles.

Ali recebi a minha educação juvenil e recordo com imensa saudade o amor que me dedicavam. Foi com meu avô que conheci o “Clube da Régua” por cima do estabelecimento do saudoso Sr. Zé Pinto.

Levava-me consigo e ainda me lembro que a sua distracção preferida era o “dominó”. Os parceiros eram uns amigos; um, o Sr. Rocha, outro o Sr. Magalhães e às vezes o Padre Aureliano da Costa Pinto, figura de prestígio e que exercia as funções de Conservador do Registo Civil.

Noutras mesas guardo na lembrança de ver os Sr. António Correia (pai do médico e escritor João de Araújo Correia) o Sr. Figueiredo, sogro do Sr. Zé Pinto, Sr. Lourenço Almeida Medeiros, João Bonifácio, Camilo Guedes Castelo Branco e seus filhos António e Jaime Guedes, Dr. José Meireles da Costa Pinto, Joaquim Guedes da Silva, Alberto e Artur Gonçalves Martinho, Domingos Figueiredo, Artur Carvalho, Arnaldo Monteiro e tantos e tantos outros reguenses que eram pessoas muito consideradas na então Vila da Régua.

Eu gostava de “brincar” com as bolas de bilhar e assim me entretinha muitas tardes. Mas meu avô, Luís Maria da Cunha Ilharco, que havia sido Bombeiro, à noite, ia até ao quartel da briosa corporação ou, então, até à Associação Comercial (que era já onde hoje está).

Meu tio, José Vicente Ferreira da Cunha também era um dos parceiros do meu avô, onde também não faltavam os mais novos, como Arnaldo Vicente Ferreira da Cunha, João da Silva Bonifácio Júnior, Gastão Mirandela, Jerónimo Vasques, etc...

Os Doutores Antão de Carvalho, Júlio Vasques, Afonso de Oliveira. Soares, Francisco Leite Pereira, Antão, Alberto e Acácio Lemos, José Avelino (Pai) e José Avelino (Filho) e muitos outros frequentavam, também, alguns daqueles locais. A todos conheci e recordo no meu espírito.

Aos Domingos e Dias Santos meu Avô levava-me sempre à missa à Capela do então Asilo José Vasques Osório. E se estava um dia bonito, na companhia da minha avó, íamos até à Avenida da beira do rio e dávamos a volta, depois, pela Rua das Vareiras.

Aqui residiam minha Avó paterna e duas tias. Meu Avô - Jorge Gabão - já havia falecido. De origem “Vareira”, meus avós paternos construíram a sua residência naquela rua que, ainda hoje, ali se encontra e onde tenho direito, um dia, a receber uma telha como herança...

Vivia com meus Avós maternos, meu irmão José Luís Ferraz. Ajudava-os muito no seu estabelecimento e era o “menino bonito” dos avós. Este meu irmão foi um dos fundadores do Futebol Clube do Porto e Régua, do Orfeão Reguense e outras colectividades.

Tinha a simpatia geral e com o João de Almeida Morais e Manuel Matos Rodrigues (Né), faziam um “terceto” inseparável. Isto durou até que meu irmão, apenas com 19 anos de idade, veio a falecer com uma tuberculose (nessa altura ainda não havia os recursos aos medicamentos que hoje existem para essa doença).

Foi um desgosto profundo para meus pais e avós e para tantos e tantos dos seus amigos, Meus avós, passado pouco tempo e devido ao desgosto da perda do seu neto tão querido, faleceram ambos e, por coincidência, os dois em 9 de Abril, embora em anos diferentes.

A morte de meu irmão e avós foi a decadência da minha família. Meus pais tiveram de fechar o seu estabelecimento e passaram horas das mais amargas.

Anos mais tarde meu pai conseguiu, já com mais de 50 anos, ser admitido como fiscal da Casa do Douro, onde se manteve até à hora da sua morte (aos 69 anos).

Não posso deixar de recordar quanto meu pai sofreu perante chefes que eram autênticos “ditadores” e não respeitavam, a idade e o passado de quem quer que fosse.

Estávamos numa época em que predominava o despotismo e a vingança pessoal. Meu pobre pai morreu amparado pelos cuidados de minha saudosa mãe, e irmãos; quando já me encontrava fixado em Moçambique.

O que é verdade era que o espírito da família era evidente. País, irmãos, filhos, avós, todos viviam imanados no mesmo amor paternal, coisa que, infelizmente, hoje já não se encontra com facilidade e até deixou de existir em muitos casos...

Notas:
  1. Esta bela crónica de Jaime Ferraz Gabão foi publicada no jornal O Arrais, em 25 de Abril de 1991.
  2. O seu autor fala com sentimento da sua infância e ainda com muito carinho de seus familiares, grandes amigos e algumas figuras ilustres e respeitáveis da sociedade reguense, entre as quais recordou também grandes bombeiros, como os Comandantes Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco e Lourenço Medeiros, os Chefes António Guedes e Gastão Mirandela e – para meu desconhecimento - o seu avô Luís Maria da Cunha Ilharco, também bombeiro da Régua, com o qual chegou a frequentar o Quartel, o que se situava na Rua dos Camilos.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.
RECORDAR É VIVER - Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 24 de Março de 2011
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Recordar é viver

Obs. - Acrescento minha amizade e gratidão ao Dr. José Alfredo Almeida  por oferecer e me permitir ler esta crónica escrita por meu saudoso Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Como bem diz caro J A Almeida, é um jóia perdida no tempo de uma Régua que já acabou e que deixa saudades... de uma Régua que levou consigo Familiares, Amigos, lugares, cores inesquecíveis que fazem falta. E que me emocionou diversas vezes enquanto editava o texto e a imagem que ilustra este post. Mas RECORDAR É VIVER... ou RENASCER!  Muito obrigado mais uma vez! - Jaime Luis Gabão, 4 de Novembro de 2010.

sábado, 17 de julho de 2010

Poema a PORTO AMÉLIA

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POEMA A PORTO AMÉLIA
(À Memória de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, escrito em Junho/70)

Terra suada pelo fogo do sol e esquecida lá no norte,
onde tantos ganharam a coragem para refazer a vida
e teimam em ficar, unidos e em comunhão com os lá nascidos.
Terra que ouve tiros ecoando na selva
e sepulta corpos vestidos com sangue de guerra,
poetas gritando justiça e paz, mesmo que ninguém os ouça,
nem os que trincam a alma no amanho da machamba,
nem os que mastigam o tempo no amanho da esperança.
Terra vermelha com cemitério debruçado sobre o mar,
cruzes escurecendo no desfilar da memória,
epitáfios de números e de nomes esquecidos além.
Terra que sente os espaços limitados,
as angústias das palmeiras seculares,
abrigando a sombra de olhos fixos nos corais
e suspirando horizontes na quietude triste de um cais.
Terra que ajudou a criar o poeta, a fazer o poema
e a construir a filosofia do abraço e do sorriso.
Terra que também é minha porque nela chorei de solidão,
chorei amigos que foram mortos sem razão
e nela joguei sem deserções o xadrez da vida;
vi crianças de olhos esbugalhados pelo espanto
e homens hipnotizados pelo minuto seguinte.

Ó terra excitada pelos batuques das gentes negras,
sons perdidos na cumplicidade das tembas!
Eu te lembro deste continente que se chama Europa,
meto o poema numa carta e pergunto quantos selos leva,
sem selos a palavra escrita não salta mares,
deito-a num saco de correio azul – azul como o teu céu
e espero, meu AMIGO, que me respondas do outro lado.
Seria bom – ó terra dos ecos nocturnos! – voltar às tuas manhãs de luz,
aos teus entardeceres como quem fecha os olhos para sonhar,
perder-me nas picadas de fins ignorados e ouvir o eco do meu grito,
aliviar o meu alvoroço oprimido e poder dizer: «Viva a vida!».

M. Nogueira Borges* – Porto, Junho/1970
  • Outros post's neste blogue que falam de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, cidadão português nascido na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924, falecido em 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus e sepultado no Cemitério do Peso.
  • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor e poeta do Douro-Portugal. Nasceu no lugar de S. Gonçalo, freguesia de S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 12.10.1943. Frequentou o curso de Direito de Coimbra, cumpriu o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial mil.º e enveredou pela profissão de bancário. Tem colaboração dispersa por diversos jornais, nomeadamente: Notícias (de Lourenço Marques); Diário de Moçambique (Beira), Voz do Zambeze (Quelimane), Diário de Lisboa, República, Gazeta de Coimbra, Noticias do Douro, Miradouro, Arrais e outros. Em 1971 estreou-se com um livro de contos a que chamou "Não Matem A Esperança". (In 'Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses', coordenado por Barroso da Fonte. Manuel Coutinho Nogueira Borges está no Google. Pode ler também os textos deste autor no blogue ForEver PEMBA. Outros textos de Manuel Coutinho Nogueira Borges neste blogue!
POEMA A PORTO AMÉLIA
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