sexta-feira, 1 de maio de 2009

1º de Maio de 1911

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Nesta curiosa foto que, foi tirada à entrada do magnífico Jardim do Peso, no dia 1 de Maio de 1911, aos bombeiros voluntários do Peso da Régua, a qual regista o início de um inédito cortejo, organizado com o objectivo - pensamos nós - de angariar fundos para a aquisição de material de combate aos incêndios.

Esta surpreendente iniciativa terá sido organizada pelo Comandante José Afonso de Oliveira Soares (1893-1927) como forma de chamar a atenção da população para as dificuldades que a instituição estaria a atravessar resultantes, em parte, da grave crise económica que afectava, nesse período de instabilidade política, toda a região duriense, devido, segundo o historiador Gaspar Martins Pereira, à "permanência de uma conjuntura comercial depressiva, com baixas exportações, face às quantidades produzidas e com preços baixos".

Deste insigne Comandante sabemos que exerceu funções de chefe da secretaria na Câmara Municipal. Todavia, era homem mais conhecido e admirado pelos seus talentos - um dotado artista que escrevia, desenhava (em 1925 desenhou o primeiro projecto do Quartel dos Bombeiros que, caso fosse escolhido, em nada perderia para o actual), fotografava e pintava.

Não estaremos longe da verdade, ao admitir que ele terá idealizado e concretizado a concepção figurativa do carro alegórico (conduzido pelo chefe de esquadra José Maria Leite), que pretendia simbolizar, através recriação de casa a ser salva das chamas do fogo, pelos bombeiros em cima de uma escada, umas das suas mais nobres missões mais que lhe são acometidas.

Mas esta bela imagem, reúne outros pormenores significativos a título de subsídios para a história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. Realce-se, por exemplo, a dedicação e o altruísmo subjacentes à presença dos bombeiros que acompanham o cortejo; o importante apoio da população expresso na assistência; e, ainda, o orgulho em servir uma causa, facto estampado na dignidade do pessoal formado, entre o qual o porta-estandarte, cuja firmeza como transporta o símbolo máximo da associação traduz o mais sério compromisso institucional na protecção das vidas e bens da comunidade ali representada.

O Comandante José Afonso Oliveira Soares, perto dessa data, no seu livro “Apontamentos para a História da Vila de Peso da Régua”, publicado em 1907, no capítulo dedicado às origens da Associação, refere que “o corpo activo da associação era composto de três esquadras e possui mais meios e melhor material, que adquiriu logo que, com o abastecimento de águas da vila foram estabelecidas as bocas de incêndios municipais”.

E, como conhecia as origens da Associação e os seus primeiros anos de vida, confessa em tão notável livro, mais tarde convertido no manual da história da cidade: “ (…) apesar das diligências que alguns dos seus sócios activos têm empregado, ainda não tem o material que de um momento para o outro lhe pode ser necessário”.

Em homenagem ao comandante e para que fiquemos a conhecer melhor a respectiva personalidade, citamos o grande escritor duriense João de Araújo Correia, segundo a crónica intitulada "Configurações", do seu livro "Horas Mortas", na qual faz o retrato do homem e do artista:

“José Afonso Oliveira Soares, faleceu a 21 de Outubro de 1939, com oitenta e sete anos de idade completos, tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas, não foi só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor. Tinha mãos e espírito suficientes para ir muito longe, no caminho da glória, se não tivesse vivido em sáfaro de escolas, estímulos, entusiasmos…Também lhe empeceu, diga-se a verdade, o feitio dispersivo. Foi diletante. Comprazia-se em volitar, de flor em flor, no campo da cultura. Homem sereno, risonho e comodista, seria incapaz de esforço orientado em sentido único. Foi ainda um notável entre vizinhos comerciais -ele, que foi artista. Barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, na vila de Peso da Régua, que sem lhe quis bem, porque o Senhor Soares, à parte os seus talentos, tinha o dom da bonomia inalterável.

Não sei em que jornal antigo publicou o Senhor Soares uma espécie de ensaio que intitulou Configurações. Nele deu conta de diversas figuras desenhadas pelo vento, pelo calor e pela humidade em paredes velhas. Uma dessas figuras que reproduziu no seu estudo era um guerreiro de lança em punho, elmo emplumado e viseira caída.

(…)

Não me lembram outras figuras que acompanhavam o ensaio, a prosa despreocupada do Senhor Soares. Lembra-me o guerreiro – e é quanto basta.”


Depois das palavras de João de Araújo Correia, nada mais há a acrescentar sobre este grande comandante dos Bombeiros do Peso da Régua, exceptuando a referência de que a sua memória se encontra perpetuada através de um busto, erguido no Jardim do Cruzeiro, o qual não só honra o passado dos bombeiros como a história da própria cidade do Peso da Régua.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

CONFISSÃO por António Reis Baia

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No meu tempo de rapaz havia tão poucas máquinas fotográficas que até se sabia quem as tinha. Eu tive uma emprestada… E foi com ela que, muito cedo, comecei a interessar-me pela fotografia.

Mas, só em 1944, ano em que entrei para a Casa do Douro, me encontrei verdadeiramente com a arte fotográfica. Devo esse encontro ao meu chefe de secção senhor Arnaldo Monteiro que, já nessa altura, era considerado um amador de muito mérito. No seu modesto laboratório e com os seus valiosos ensinamentos tomei consciência da profissão que me esperava.

Perdido o meu primeiro mestre e não havendo em Portugal qualquer curso de fotografia, mandei vir de Espanha os livros que por lá se editavam sobre a matéria que tanto me seduzia.

Tive o meu primeiro atelier nas Caldas do Moledo, onde iam “tirar o retrato” as pessoas das redondezas, da Régua na sua grande maioria. Por minha conveniência e dos clientes, montei, logo que pude, um estúdio e laboratório num 2º. andar da Rua da Ferreirinha. Com melhores condições e maiores exigências da clientela foi possível ir melhorando a qualidade do meu trabalho.

Entretanto, como a arte fotográfica se fosse alargando em complexidade e fechando em segredos cada vez maiores, vi-me na necessidade de me deslocar a Lisboa e frequentar os laboratórios da Filmarte. Foi como se um novo mundo se abrisse à minha curiosidade e insatisfação. A partir daí a minha objectiva jamais se contentou com os retratos do ganha pão. E tudo me tem servido: paisagem, flores, animais, estações do ano e do homem.

Se aqui venho com o que foi mais querido ao meu espírito e ao meu coração é por me terem dito que valia a pena repartir convosco estas recordações de TRINTA ANOS DE REVELAÇÃO. Caí na vaidade de acreditar.
- Autor: António Reis Baía - texto inédito escrito pelo fotógrafo para o catálogo de uma exposição de seus trabalhos - "30 anos de revelação" que decorreu no Salão Nobre da Casa do Douro entre 11 e 17 de Agosto de 1986. Infelizmente, foi a última.

  • António Reis Baía nasceu no belo lugar de Caldas do Moledo, freguesia de Fontelas, a 28 de Março de 1921 e faleceu em 7 de Março de 2004 em Peso da Régua onde sempre trabalhou e onde retratava com esmero figuras locais, instituições, sua natureza e povo. È pena que o seu espólio fotografico particular não tenha ficado á guarda de uma instituição pública local para que as novas gerações pudessem aprender cultuando sua arte e pessoa de artista do Douro. Grande parte das fotos publicadas neste blogue sobre a História dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua são de autoria de António Reis Baía.(Dados e imagem gentilmente cedidos por J. A. Almeida)

Uma nota - Por volta de 1957 meu saudoso Pai, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão partiu para Moçambique (Porto Amélia) em busca de um futuro melhor, mais digno, para seus Filhos e Esposa. Seis meses de saudade depois, tivemos de nos preparar para partir ao seu encontro. E, nessa época era moda e precaução salutar contra os fortes raios solares dos trópicos usar "capacete" bem ao jeito de "caçador africano"... Pois lá fomos até ao Porto onde, em casa especializada do agitado centro, creio que pela Rua de Santa Catarina se a memória não me engana, encomendamos dois dos tais "capacetes": um para mim e outro para meu Irmão Júlio Gabão... Mas e deixando rodeios desnecessários, é importante frisar que, de posse dos tais "adornos" coloniais, não poderiamos embarcar para a África de nossa adolescência feliz sem umas fotos que "gravassem" ou perpetuassem o quanto eles nos deixavam com ar de aprendizes a "senhores da selva". E, naturalmente só poderiamos recorrer ao "Sr. Baia". Este, acolhedor e habilidoso sem deixar de manter seu ar sério, conseguiu pois retratar-nos admirávelmente entre palavras e recomendações de Amigo, afugentando nossa aprensão de criança com medo do desconhecido do outro lado do mar...

Em 1975 "retornamos" a Portugal e à nossa Régua. E lá encontramos o Sr. Baía, no mesmo local, do mesmo jeito, com alguns cabelos e bigode grisalhos e com o mesmo acolhimento... Trocamos algumas poucas vezes, idéias simples sobre as "fotos do capacete" que ainda guardo, sobre a África que ficara para trás e na memória, sobre o novo Portugal repleto de encantos e desencantos político-sociais e sobre a então nova preocupação quanto ao horizonte futuro de filhos e netos... Depois, o destino trouxe-me para longe da Régua do Sr, Baía, da Régua de minha Família e da Régua de minhas raízes... mas nunca para longe da Régua das lembranças eternas de criança e da Régua da nostalgia de momentos e Amigos como o Sr. Baia. - Jaime Luis Gabão, 30 de Abril de 2009.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Projeto MARES - Informação e convite para a cerimónia de abertura

A cerimónia de apresentação terá lugar na Sala do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa (Paços do Concelho) às 18h30 do dia 5 de Maio.

Haverá uma breve actuação de Rão Kyao e a presença de várias individualidades ligadas à cultura e à língua portuguesa.

Leia mais sobre o Projeto MARES - Aqui!

Apresentação:
- Download da apresentação do projecto - Aqui!

Para mais informações:
- Lserpa@mares-olhares.com

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Homens que caminham para a história dos bombeiros.

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Uma imagem de Setembro de 1980 com três protagonistas do 24ª Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, realizado no Peso da Régua, a caminharem pelas ruas da cidade, à frente do desfile dos estandartes dos Corpos Bombeiros das associações humanitárias do país, que teve uma forte adesão da população, num sinal incondicional de apoio a todos os “soldados da paz” presentes.

São eles, o General Ramalho Eanes, Presidente da República, que presidiu as cerimónias do encerramento do congresso, o Padre Vítor Melícias, que exercia as novas funções de presidente do Conselho Coordenador do Serviço Nacional de Bombeiros e o anfitrião Renato Aguiar, presidente da Câmara Municipal (1976-89), o primeiro autarca reguense eleito após o 25 de Abril de 1974.

Destas três notáveis figuras, recordamos Renato Aguiar que, durante os seus mandatos de autarca, desempenhou na Associação o cargo de Presidente da Assembleia-geral. Natural da freguesia de Barcos, no concelho de Tabuaço, Renato Aguiar era professor do 1º ciclo, mas a sua acção salientou-se no campo do poder político, como Presidente de Câmara do Peso da Régua. Faleceu novo, com muito para dar na vida, num acidente de viação em 1998.

Considerado por muitos um autarca influente e determinante na afirmação a nível nacional deste concelho duriense, fortemente ligado ao turismo e aos negócios vinho e da vinha, foi agraciado com o grau de Comenda da Ordem do Infante, pelo General Ramalho Eanes, em 1979.

No exercício do poder local marcou a história do concelho do Peso da Régua que, no início do regime democrático do país, apresentava índices elevados de carências sociais e de falta de infra-estruturas de vários níveis. A ele se devem a realização das primeiras grandes obras para satisfação das necessidades básicas dos cidadãos reguenses.

Pelo seu espírito solidário e fraterno, o presidente Renato Aguiar nunca deixou de apoiar os bombeiros do Peso da Régua, destacando-se a sua cooperação na construção de 30 fogos de um bairro de habitação social, como se comprova na mensagem que escreveu na revista comemorativa do 100º aniversário da Associação (1980), da qual recordamos estas suas interessantes ideias:

“Desde longa data que as populações se organizaram para se defenderem contra inimigos e males, como fizeram para resolver os seus problemas e satisfazer suas necessidades locais, longe que estavam os poderes constituídos.

E deste modo que por iniciativa municipal surge a primeira organização de Bombeiros (1646) o que prova bem como eles estão ligados ao poder local.

Se o poder local for forte, organizado, constituído e democrático é certo que as populações serão mais facilmente realizado o que mais desejam, sendo que os Bombeiros Voluntários, neste caso, como organizações espontâneas e de serviço comunitário, se podem considerar a extensão humanitária do Município, já prestam serviços nas maior parte dos países àqueles são cometidas.

Têm em Portugal os Bombeiros e em especial os Voluntários, sido um verdadeiro exemplo de organização popular, dando no dia a dia provas de alto valor humanitário, de bravura e altruísmo que nos podem deixar orgulhosos de com eles algum dia ter colaborado.

Não pode qualquer Município alhear-se desta realidade, deve sim ter em mente os valores reais e os serviços prestados pelos Bombeiros, Soldados da Paz, da Amizade, da Fraternidade e clara e firmemente apoiar as suas iniciativas, criando condições para que eles possam desempenhar a sua missão.

Nesta hora e da nossa parte vai para todos os bombeiros a gratidão, mas também a nossa palavra de confiança e alento a todos os que queiram continuar esta obra que só é digna dos grandes Homens

Aos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, com os quais nos identificamos, queremos deixar aqui expresso o nosso profundo reconhecimento e a certeza do nosso incondicional apoio.”

Na história da Associação, o nome do Comendador Renato Aguiar (em 1999 foi-lhe prestada uma singela homenagem ao atribuir-se o seu nome ao veículo desencacerador) tem de estar o seu, como um dos grandes Homens, que muito ajudou a “continuar” a obra dos bombeiros do Peso da Régua.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
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  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
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  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
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  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

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  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
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