segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crónica - O Cimo da Régua.

Hoje em dia, já não se usa muito entre nós a designação toponímica de Cimo da Régua.

Como foi com ela que me criei, ainda hoje me sabe bem ouvi-la ou vê-la escrita.

O Cimo da Régua ia, mais ou menos, do Valente Novo à Casa da Fortuna, de um lado. Do outro, estendia-se da Valente Velho às lojas de ferragens do João Guerra e Domingos Figueiredo. Perpendicularmente, na Rua Serpa Pinto, chegava à loja do Antão, frente a frente com a Associação Comercial.

Pelo seu intenso e variado comércio, o Cimo da Régua era, pode dizer-se, a nossa "Baixa". Toda a gente se via, toda a gente comprava isto e aquilo no Cimo da Régua.

O ponto nevrálgico desta nossa "Baixa" era a loja do Zé Pinto, onde se podia comprar do melhor arroz ao melhor café, do melhor papel de carta à melhor escova. Também se podiam engraixar os sapatos em cadeirão episcopal montado num pequeno estrado.

O "Vintecinco", mesmo com um grãozinho na asa, engraixava a preceito, dava as novidades e vendia as cautelas delicadamente.

Era na loja do Zé Pinto que se encontravam os figurões da Régua para longas cigarradas e longas conversas, a que não faltava uma pontinha de má língua local e nacional. O Zé Pinto, dentro do balcão, saía da conversa para atender os fregueses. Mesmo aos que apertava a mão com efusiva fraternidade, não deixava de apertar os preços do que viessem comprar. Implacável até ao tostão!

Fora da loja o Zé Pinto era a pessoa mais magnânima do mundo. Num passeio de amigos gostava de pagar tudo a toda a gente.

Muito perto do Zé Pinto, ficava o Quartel dos Bombeiros. Aí se reuniam estudantes, empregados e artífices. Além de mesas de jogo, havia um bilhar e uma grande estante de bons livros. As instalações eram de tal maneira exíguas que os carros se viam e desejavam para sair e entrar. Quando tocava o fogo, toda a gente que andasse por ali se juntava para assistir às manobras. O globo de entrada era tão baixo que o Justino Nogueira, garboso porta-estandarte, o partiu algumas vezes com a ponta do mastro.

-Ó Justino! Ó Justino... agacha-te! - avisavam os companheiros.

Junto dos Bombeiros ficava a oficina do João Latas. A oficina era de latoaria, mas tinha uns prateleirões até ao teto, onde adormeciam os mais variados artigos de ferragem. Pelo seu temperamento e pela sua longa história de estranhas atitudes, o João Latas era, como então se dizia, um maduro. Foi das primeiras pessoas da Régua a lidar com automóveis, dando pelas escabrosas estradas de então grandes passeios com as pessoas gradas da terra. Chegavam a ir à Galiza o que, na altura, era longe e arriscado como ir ao fim do mundo. São muitas e pitorescas as aventuras que se contavam do Joâo Latas ao volante.

De tão maduro que era, tanto podia responder como não corresponder aos cumprimentos de quem lhe entrasse na oficina. Também podia ter toda ou nenhuma paciência com os fregueses:

-Boa tarde, senhor João !

- ... ... ...

-Tem desandadores assim, assim...?

-Tenho... tenho... Faltam-me ele desandadores desses! Olhe, estão lá em cima a ouvi-lo... - E apontava uma prateleira lá do alto.

-Faça o favor de me dar um...

-Disso está você bem livre! Tenho o escadote lá para trás... não estou para o ir buscar - respondia, continuando o tam-tam na lata que estava a afeiçoar.

E o freguês lá ia embora a resmungar, lamentando não ter ido ao João Latas em melhores dias...

-Bom dia, senhor João!

-Bom dia, ora viva o meu amigo! Que o traz por cá?

-Ando, desde o Porto, à procura de uma navalha espanhola, de duas lâminas e...

-Tenho ainda umas ou duas... - cortava o João Latas.

-Quero uma.

-Se tiver dinheiro para a levar!

- Ó senhor João... então não hei-de ter!?

-Pode não ter... pode não ter... eu lhe digo... estas navalhas são de antes da guerra... feitas as contas ao preço actual...

O João Latas caía, então, numa folha de costaneira, a fazer contas sobre contas, até afirmar, peremptório:

-A navalha está-lhe em 200$00 e pico.

-Ó senhor João... mas isso é uma fortuna!

-É pegar ou largar!

0 freguês largava, com o fogo no rabo, sem a desejada navalha e sem compreender tamanho desconchavo.

O João Latas era também um caso único a mandar as contas aos seus fregueses. Tanto as mandava logo, com a solda ainda quente, como depois de muita insistência de quem lhas pedia.

Uma vez, mandou à Senhora D. Branca Martinho, por quem, como toda a gente, tinha o maior respeito, a seguinte conta:

-Um fundo novo numa cafeteira de litro - grátis.
-Um pingo numa panela - grátis.
-Soldar a asa de um funil - grátis.
-Mão nova num regador velho - grátis.
-Total: 4 serviços grátis a 2$50 - 10$00.

...Aquele Cimo da Régua... ... ...
- Camilo de Araújo Correia - In Villa Regula de Março de 1999.
- Transcrito do site "Régua - Página 2"

Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses.

(Clique na imagem para ampliar)

Esta grande imagem é de Setembro de 1980 e assinala uma data histórica para os bombeiros de Peso da Régua.

São os momento do desfile motorizado de viaturas dos bombeiros portugueses de todo o país que foi realizado nas principais ruas da cidade, que marcou o encerramento do 24ª Congresso dos Bombeiros Portugueses, das comemorações dos 50º aniversário da Liga dos Bombeiros e do 100º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua.

Foi um acontecimento ímpar para a cidade duriense, reconhecida como a “Capital do Douro” e inesquecível para a história dos bombeiros de Peso da Régua, que festejavam em glória e vitalidade os seus 100 anos de vida ao serviço da população.

Estiveram presentes de representações de bombeiros de todo o país, os principais dirigentes dos bombeiros, como o Padre Vítor Melícias, Eng. João Manuel Palmeirim Ramos, Comandante Manta, o saudoso e nosso amigo Rodrigo Félix, Presidente Direcção da Federação de Vila Real e ainda o Ministro da Administração Interna, Eurico de Melo e o Presidente da República, o General Ramalho Eanes que foram sempre acompanhados pelo carismático prof. Renato Aguiar, Presidente da Câmara Municipal.

Desta imagem, da autoria do fotógrafo reguense Baía Reis, retêm-se a passagem dos carros de pronto-socorro fogo, a demonstrarem muita antiguidade para as suas funções, na sua singela beleza, pela rua da Ferreirinha, com uma presença grande de pessoas a assistirem, o que tornou esta cerimónia não só num verdadeiro êxito de afirmação da capacidade dos “soldados da paz”, como numa festa de cor e alegria.

Este desfile motorizado de Peso da Régua foi atentamente observado pelo jornalista Luís Miguel Baptista, no seu interessante livro “75 Anos a Construir Futuro”, onde com toda a razão afirma o seguinte:

“O desfile apeado e motorizado do Congresso, com a participação de corpos de bombeiros de todo o país, assume a expressão do voluntariado e das potencialidades humanas. Viaturas há muito tempo ao serviço, de características obsoletas, suscitam a necessidade de lançamento de acções para o equipamento, formação e modernização dos bombeiros”.

Hoje sabemos que este 24º Congresso dos Bombeiros Portugueses, realizado em Peso da Régua, marcou uma fase de viragem na vida dos bombeiros portugueses, que passaram a ter uma outra atenção do poder político, reconhecendo-os como os principais agentes da protecção civil, a quem deviam ser dado melhores meios materiais para a realização das suas missões. Isso aconteceu, felizmente, no caso desta Associação que nesse ano de 1980 recebeu um moderno veículo de combates a fogos urbanos, o famoso “Baribi”, um Mercedes que, apresentava como novidade, ter sido carroçado em Itália.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

Os bombeiros no velho Cais Fluvial

(Clique na imagem para ampliar)

Surpreende, nesta fotografia de meados de 1980, a singular beleza de um agradável espaço de lazer e de evasão da cidade, a zona ribeirinha do rio Douro, nas imediações do cais fluvial, que algum tempo mais tarde viria a ser todo modificado com grandes e excelentes obras arquitectónicas de beneficiação e de ampliação, para permitir a chegada de barcos em cruzeiros turísticos, realizadas pelo ex -Instituto de Navegabilidade do Douro, dirigido pelo saudoso Eng. Mário Fernandes, escolhido como o “teatro das operações” para a realização dos exercícios de instrução do Corpo Activo dos bombeiros voluntários da Régua.

Como nesta fotografia chama a atenção do nosso olhar a perfeição das linhas espectaculares do imponente Chevrolet, modelo Viking 60, um grande carro de fogo que foi baptizado com o nome de “S. Faustino”, mas é mais conhecido por todos como o “Nevoeiro”, assim designado pela razão de a bomba ao lançar a água fazer uma espécie de nuvem.

Adquirido à General Motors de Portugal, Lda, em Novembro de 1960, pela avultada quantia de 397 contos. Era considerado, como então se dizia, “um carro que não encontra hoje similar no país”. De origem americana, esse pronto-socorro, com um motor de 4637 cm³ de 8 cilindros, transporta no seu interior dez bombeiros e está equipado com depósito de água de 1.800 litros, material de incêndios e uma potente bomba Darley.

Este pronto-socorro é um símbolo para todos bombeiros. E, para muitos de nós, o “Nevoeiro” pertence às memórias da nossa infância, a esse imaginário de um tempo feliz, quando o contemplávamos ao vê-lo passar a alta velocidade, com a sirene a tocar e as luzes a assinalar urgência.

Devido à sua invejável antiguidade, a completar os 50 anos de vida, pode dizer que já não está já no activo como carro de socorro de combate aos fogos urbanos, (será que alguém nos pode ajudar na reparação da chapa e uma nova pintura?) mas, caso seja necessário, pode entrar em serviço a qualquer momento, como nos seus bons velhos tempos.

Mas, nos tempos actuais, aos bombeiros voluntários exigem-se melhores conhecimentos técnicos, mais formação, cursos de matérias específicas, exigindo-se para a sua eficaz operacionalidade treinos regulares com exercícios de instrução. Só assim, as estruturas operacionais serão cada vez mais qualificadas, competentes, responsáveis e orientadas por objectivos de qualidade.

Os bombeiros devem ser “voluntários por opção, mas profissionais na acção”. A aposta na formação dos bombeiros é ponto fundamental para a sua valorização como expressa o Eng. Álvaro Ribeiro, Comandante dos Bombeiros Voluntários da Cruz Branca, de Vila Real que, num artigo (ligeiramente adaptado), que aqui reproduzimos com a devida vénia:

“Ao longo dos tempos os Corpos de Bombeiros procuram dar respostas às necessidades das populações. Primeiro, com exclusiva participação no combate aos incêndios urbanos e industriais, socorros a náufragos, depois na área da saúde na vertente de transporte de doentes e na emergência pré-hospitalar e, no inicio da década de 80, como responsáveis directos pelo combates aos fogos florestais.
A mobilização dos efectivos operacionais era feitas pelas badaladas dos sinos das igrejas, posteriormente passou-se aos silvos das sirenes e hoje já se utiliza os meios de SMS e outros.
A velha figura do quarteleiro deu lugar a operadores de central de comunicações e aos motoristas que garantem o serviço de saúde e/ou incêndios.
A tecnologia entra facilmente na área da protecção e socorro. São por isso necessários conhecimentos profundos e treinos para manusear equipamentos, alguns com elevada sofisticação.
A sociedade exige um serviço profissional, independentemente de quem o faz, se é sapador ou voluntário.
Para dar resposta a uma sociedade que vive com a informação a todos os instantes, é preciso dispôs de tempo para a formação, treino regular e participar nas actividades operacionais e de representação.”
Por isso, o trabalho dos bombeiros voluntários é reconhecido pela população portuguesa. Numa sondagem recente, divulgada pelo jornal “Público” (09/02/13), os bombeiros foram eleitos no primeiro lugar como “a classe profissional em que os portugueses mais confiam”, obtendo um lugar acima dos médicos e dos enfermeiros.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

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segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Padre Manuel Lacerda - Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua.

(Clique na imagem para ampliar)

Este retrato de Dezembro de 1956 conta várias histórias. Conta, em primeiro lugar, um momento muito significativo dos Bombeiros do Peso da Régua: a sua devoção ao seu santo padroeiro S. Marçal, cujo imagem se encontra em destaque ao fundo do Quartel Delfim Ferreira.

Ele mostra-se uma procissão vinda da Igreja Matriz, onde se tinha realizado a bênção da imagem deste santo, com a mesma a ser transportada em cima de um dos mais emblemáticos carros da Associação, o Buick, adquirido por volta de 1926.

Destaca-se ainda a guarda de honra composta por garbosos bombeiros, acompanhados pelo reverendo padre Miranda Guedes, no momento em que a procissão seguia pela Rua Dr. Maximiano de Lemos, próximo da chegada à entrada principal do majestoso quartel.

Conta e documenta as memórias e as identidades da cidade que, nos últimos 50 anos, cresceu muito urbanisticamente, gerando a descaracterização na silhueta da sua paisagem envolvente, revelada na fraca qualidade arquitectónica das actuais edificações.

As alterações da “fisionomia” da cidade que, a essa data, ainda espelhava beleza nas antigas casas de habitação, com terraços e quintais floridos e cheios de frescura das árvores que, nos tempos actuais, cederam lugar a grandes e volumosas edificações de habitação colectiva, as quais progressivamente cortaram o contacto visual com a bacia do rio Douro.

Quanto aos bombeiros do Peso da Régua, estes tiveram sempre uma ligação à religião católica. Desde os primeiros anos da fundação da Associação que a vertente espiritual foi fortificada nos “sócios-activos”, ou seja, nos primeiros bombeiros do Corpo Activo, por influência do bom Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges que, para além de exercer as funções de director, foi seu capelão durante anos, até à hora da sua morte.

Desde a morte deste insigne sacerdote, o lugar de capelão no Corpo de Bombeiros do Peso da Régua nunca mais esse lugar foi ocupado. E, foi pena…! A sua existência foi logo prevista no art. 3 do primeiro “Regulamento para os sócios activos” juntamente com a de um engenheiro ou arquitecto e a de um farmacêutico.

Recordamos, pois, com saudade a sua pessoa, recorrendo para o efeito às palavras do escritor João de Araújo Correia, que numa crónica publicada no jornal “Vida por Vida”, de Novembro de 1957, sob o título "Recordações de Barro", descreve desta forma magistral, o dia do seu funeral:

“Perdi a ocasião de ver os bombeiros formados quando morreu o Padre Manuel Lacerda. Passou à minha porta o acompanhamento, a caminho do Cruzeiro, mas não o vi. Se passou de manhã, estaria eu ainda na cama ou andaria para o quintal, onde era vivo e morto nas horas forras das primeiras letras - tinha eu sete anos.

Quem me descreveu o enterro foi minha irmã mais velha, imediata de minha mãe na minha iniciação em espectáculos novos. Disse-me como tinha sido, mas só o fixei, de mo dizer muitas vezes, que o Borrajo levava a bandeira e ia a chorar.

O Padre Manuel Lacerda foi, de todos, o mais benquisto dos reguenses. Morreu de repente, enlutando num pronto a Régua toda. Lembro-me do o ver conversar com pai. Que fisionomia! Era uma espécie de coração visto por fora para melhor se adorar. Meu pai, que não era homem de muitas lágrimas, nunca o recordou, pela vida fora, com os olhos absolutamente secos.

Não se pode dizer que o Padre Manuel Lacerda, como padre, tenha sido talhado pelo figurino que os cânones exigem. Mas, como homem, foi um santo homem, um homem alegre, que não podia ver pessoas mal dispostas nem arrenegadas umas com as outras. Onde soubesse que havia desavindos, fazia uma festa, promovia um banquete, fosse lá o que fosse, para os congregar. Deixou, na Régua, essa tradição benigna.

O Padre Manuel Lacerda foi capelão dos bombeiros. Por isso o acompanharam, de bandeira enlutada, no último passeio. O Borrajo, porta-estandarte, ia a chorar…”

Não chorou só por ele o bombeiro Borrajo.

Choramos todos nós, pela alma do nosso bom capelão, o padre Manuel Lacerda, acreditando que lá na imensa eternidade, onde andará a espalhar mensagens celestiais de concórdia, nos espera a sorrir, para um grande e festivo banquete.
- Peso da Régua, Abril de 2009, José Alfredo Almeida.

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