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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Boas Novas: Posto de Emergência Médica do INEM na Régua

A partir de 1 de Outubro de 2012, INEM monta Posto de Emergência Médica e atribui uma nova Ambulância de Socorro aos Bombeiros da Régua.

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua (representada pelo Presidente da Direcção, José Alfredo Saraiva Almeida) assinaram um protocolo para constituição de um Posto de Emergência Médica.

Assim, já a partir do próximo dia 1 de Outubro, este Corpo de Bombeiros passa a assumir um papel activo na emergência médica, operacionalizando assim uma ambulância de socorro do INEM que se destina a prestar cuidados pré-hospitalares à população do concelho.

Para constituição do Posto de Emergência Médica nos Bombeiros Voluntários do Peso da Rega, o INEM cede uma ambulância de socorro  e o  respectivo equipamento, procedendo ao pagamento de um prémio de saída por cada serviço prestado, bem como à atribuição de um subsídio trimestral fixo. Por sua vez, os Bombeiros da Régua asseguram a operacionalidade do meio e a respectiva tripulação para cumprimento das missões de emergência médica determinadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM.

Esta nova ambulância de emergência que ficará brevemente ao dispor do serviço de transportes dos Bombeiros da Régua - que no passado foi denominado de CRUZ D'OURO - é destinada à estabilização e ao transporte de doentes que necessitem de assistência durante o transporte até às unidades de saúde e cuja tripulação e equipamento permitem a aplicação de medidas de Suporte Básico de Vida.













Entre esse velho e glorioso Corpo de Saúde dos Bombeiros Voluntários da Régua, que teve o bom nome de CRUZ D'OURO, e o moderno Posto de Emergência Médica decorreram  perto de 100 anos no serviço de transportes de doentes que evoluiu sempre para garantir mais qualidade à população do concelho do Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cruz de Ouro

Os bombeiros da Régua, desde a sua criação, tiveram como missão principal o socorro às populações, em incêndios e outros sinistros, o que consta dos primeiros estatutos, elaborados pela Comissão Instaladora, liderada pelo Comandante Manuel Maria de Magalhães.

Com o decorrer dos tempos, a Direcção e o Comando depressa se aperceberam de que havia carências no socorro aos doentes e sinistrados. Faltava uma estrutura de serviço de saúde para responder às maiores exigências de assistência às pessoas.

Por volta de 1900, foi organizado um serviço de saúde, integrado no seio do Corpo de Bombeiros, com a designação de “Cruz de Ouro”. Compunha-o pessoal voluntário que trajava uniforme próprio, mas estava sujeito às ordens e regras disciplinares do Comandante. Este serviço de saúde respondia às exigências de assistência à população, cada vez maiores e mais frequentes.

Não temos informação segura sobre a escolha do nome de “Cruz de Ouro” para este serviço de saúde, até porque as corporações de bombeiros de Vila Real adoptaram respectivamente o nome de Cruz Verde e Cruz Branca. Pensamos não andar longe da verdade ao admitir que o serviço de saúde dos bombeiros da Régua, que usavam cor de ouro em volta da cruz, terá aparecido como ideia alegórica à região e do rio Douro, onde se situa o concelho da Régua.

O primeiros dois quartéis dos bombeiros da Régua – o do Largo dos Aviadores e o da Rua dos Camilos - por se encontrarem estabelecidos em velhas casas de habitação e comércio, nunca reuniram as condições mínimas para instalação dum posto médico fixo.

O serviço de saúde, a “Cruz de Ouro” dos bombeiros da Régua, começou por estar equipado com um serviço de macas que serviram para transportar os doentes para as instituições hospitalares. Mais tarde, avançou para macas rodadas, que marcavam uma evolução considerável nos equipamentos usados e maior rapidez e eficiência no socorro. Em 1928, o progresso traduzia-se na primeira auto-maca, uma ambulância de marca Rolly-Pillan e, em meados dos anos 30, na moderna e mais bem equipada Ford V8 (actualmente peça de museu).

Nas suas memórias, o Chefe António Guedes, alistado no Corpo de Bombeiros da Régua, em 3 de Outubro de 1911, filho do distinto Comandante Camilo Guedes Castelo Branco (1927-1499), revela-nos que este serviço de saúde foi altamente eficaz na luta contra a epidemia da gripe pneumónica, em 1918. A colaboração com as autoridades de saúde local não se ficou pelo transporte dos doentes infectados. Para cuidar dos tratamentos foi montado um “hospital” provisório, no Asilo José Vasques Osório, dirigido por um médico dos bombeiros.

Mas acabamos de encontrar documentos inéditos, de grande valor histórico, que permitem saber como, depois de 1928, o serviço de saúde passou a funcionar no Corpo de Bombeiros da Régua. Esses documentos provam que a Direcção, já nesse tempo, levava muito a sério a instrução - ao que hoje se chamaria formação - dos seus bombeiros voluntários.

Na verdade, hoje como antigamente, a formação dos bombeiros voluntários continua a ser de grande importância para o competente desempenho profissional em qualquer missão de socorro.

Na sessão de 10 de Novembro de 1928, a Direcção da Associação entendendo que havia deficiências no serviço de saúde, analisada toda a situação, e já que iria proceder a alterações, deliberou realizar um “Curso de Instrução para o Serviço de Saúde”. A frequência era obrigatória para os patrões – actuais chefes - e facultativa para os restantes bombeiros do corpo activo.

Na opinião do médico Mário Bernardes Pereira, também Vice-Presidente da direcção, encarregado de organizar e de preparar o programa das lições teóricas do curso, destinava-se “a tornar útil o auxilio dos bombeiros nos primeiros socorros a sinistrados, feridos e doentes de urgência, tornando eficaz o seu transporte, permitindo acudir aos mais iminentes perigos, e bem assim facilitar o papel que a instituições desta natureza está reservado durante as epidemias e alterações da ordem”.

Na primeira aula teórica seriam abordados as situações, em que o serviço de saúde de bombeiros é chamado a intervir, ideias gerais sobre o tipo de transporte, à mão - vulgo na cadeirinha - nas macas improvisadas, macas de ombros e mão, macas rodadas e ainda nas moto-macas e auto-macas.

No fim do segundo capítulo do programa, o médico fazia a observação ainda actual no nosso tempo: “a velocidade não deve ser uma preocupação sistemática: só as condições especiais do momento a podem regular”. O capítulo seguinte era relativo à matéria da entrega dos clientes no hospital, que concluía com este aviso: “a assistência dos bombeiros mantém-se até que o médico a dispense”.

Por fim, o programa teórico encerrava com o tema do valor do bombeiro durante as epidemias e alterações de ordem pública e lembrava um princípio sagrado e universal de ajuda a qualquer pessoa que esteja doente ou ferida: “Vão-se buscar os feridos onde eles estiverem. A colocação de braçal apaga do espírito toda a noção de partidarismo; socorre-se o semelhante sem atender às ideias que o moveram. A caridade não conhece partidos nem sentimentos individuais de indiferença ou ódio”. O aproveitamento fazia-se com o nível de assiduidade às aulas teóricas e práticas.

Este valioso documento dá-nos a saber que a Direcção aproveitava também o momento para remodelar profundamente o serviço de saúde no corpo de bombeiros.

Assim, tendo em conta certamente motivos de ordem operacional e eficácia, tomava a decisão de suprimir o serviço de saúde como uma secção autónoma, que tinha a graciosa designação de “Cruz de Ouro”. Desde então, os membros que faziam parte exclusiva do serviço de saúde ingressavam no quadro activo, ficando a haver, dentro da Associação, um só uniforme. No entanto, a Direcção admitia que aqueles que frequentassem o curso com aproveitamento poderiam vir a usar um distintivo especial, “que consistirá num emblema sobre cuja natureza a Direcção oportunamente decidirá”.

A “Cruz de Ouro” tinha assim o seu fim, mas o serviço de saúde não deixaria de existir nos bombeiros da Régua. Começa um tempo de mudança que impunha alterações ao seu funcionamento, que era melhorado com uma ambulância. A “Cruz de Ouro” deixava de ser o emblema dos primeiros serviços nos bombeiros, contudo, como precursora, o seu nome acabou por não se perder. Definiu um serviço muito importante para as pessoas, a sua assistência na saúde e transporte, o que hoje constitui uma das maiores missões, sempre em crescimento, que os bombeiros da Régua desempenham, quer na área dos transportes de doentes programados, quer na área dos doentes de emergência pré-hospitalar.
Foi pena que os bombeiros da Régua afectos ao transporte de doentes tenham deixado de usar nos seus uniformes o distintivo da “Cruz de Ouro”!

Apesar das mudanças e evoluções surgidas, os bombeiros não podem esquecer que esse sinal marca uma identidade própria da sua história, com um significado que a corrosão do tempo não conseguiu apagar, pelo que seus directores e comandantes bem podem decidir, um dia, fazer ressurgir, no seu moderno e cada vez mais equipado serviço de saúde, a antiga e singela “Cruz de Ouro”.

Pode ser um bom exemplo, um símbolo que marque mais o futuro da associação, e seja uma razão de esperança que volte a reluzir para todos os doentes que precisem dos bombeiros.
- Colaboração de J A Almeida para "Escritos do Douro". Peso da Régua, Maio de 2010
Obs. - Clique nas imagens acima para ampliar.