A apresentar mensagens correspondentes à consulta Linha do Douro ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Linha do Douro ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Não Deixem Morrer a Linha do Douro...

Recordando e relendo
Em 3 de Dezembro de 2007, no Youtube:
Uma viagem de comboio pela espectacular Linha do Douro da Estação de S.Bento (Porto) até ao Pocinho, o actual fim da linha.
O previsível encerramento da linha a partir da Régua é um atentado à nossa inteligência; um acto criminoso que não pode ser cometido.
"A Linha Ferroviária do Douro tem 170 Km de extensão e desenvolve-se na sua maior parte junto às margens do rio Douro, ligando actualmente o Porto ao Pocinho. Foi uma notável obra de engenharia concluída em 1887 após doze anos de intensos trabalhos, vencendo-se inúmeros acidentes naturais, facto comprovado pelos vinte e seis túneis e trinta pontes que nela existem."



(Evite sobreposição de sons desligando o player da "Voz do Douro - Rádio Douro FM" localizado no menu lateral direito, um pouco abaixo deste post.)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Textos que valem a pena...

Textos que vale a pena transcrever, ler e reler (transcrição):

«Roriz, História de uma quinta no coração do Douro»

Gaspar Martins Pereira / Edições Afrontamento, 2011

ÀS VEZES, dava jeito falar de livros que não foram escritos por amigos; editados ou produzidos por amigos. Poderia falar, não com mais liberdade, que é sempre a mesma, mas com mais crédito: ninguém pensaria que digo o que digo por amizade.

Este é um caso desses. O Gaspar Martins Pereira, o João Van Zeller e membros da família Symington estão entre os meus amigos.

Feita esta declaração de interesses, tenho a dizer-vos que este livro é maravilhoso. Por isso não só felicito o seu autor e os seus editores e produtores, como lhes agradeço. Prestaram um excelente e raro serviço à História, ao país e ao Douro.

Permitam-me distinguir, evidentemente, o historiador Gaspar Martins Pereira. O trabalho dele, a meio caminho entre a História social, a História económica a História local, com longos devaneios por outras narrativas, incluindo políticas e familiares, é raro no nosso país. Ele soube pôr em prática o melhor estilo e os melhores métodos da monografia local, com fortíssimas implicações regionais e nacionais, o que não é coisa fácil. Fez tudo isto dentro de uma tradição que ele continuou, enriqueceu e desenvolveu: a da investigação sobre a região do Douro, sobre as quintas do Douro, sobre o Vinho do Porto, sobre o comércio do vinho do Porto. Os mais importantes contributos contemporâneos para esta história devem-se a ele, às equipas que ele animou, ao trabalho que fez, às instituições que criou ou ajudou a criar, tanto no Porto, na Universidade, como na região, designadamente o Museu do Douro. E reparem que não é pouca coisa. Douro e Vinho do Porto representam o mais importante produto do comércio externo português durante talvez dois séculos. Sem eles, Portugal seria hoje diferente.

Neste livro, o Gaspar conseguiu um feito extraordinário: o de quase transformar uma quinta numa pessoa! Por isso eu digo, no breve prefácio, que ele fez biografia de quinta, o que não é comum. Vários exemplos conhecidos da mesma arte ficam-se frequentemente pelas longas listas e elencos de custos e preços, de produções e proprietários. Neste caso, há listas e elencos, pois claro, com minúcia e rigor, mas há sobretudo um protagonista, em volta do qual evoluem e giram personagens e famílias, dramas e alegrias, durante séculos.

A Quinta de Roriz é aqui tratada como se fosse uma jóia de família, o que aliás talvez seja mesmo. Há jóias que passam de mãos em mãos, de gerações em gerações, que por vezes voltam à mesma família, que depois surgem na posse de improváveis proprietários para novamente regressar a nomes conhecidos. Há jóias que provocaram divórcios e casamentos, nascimentos e dramas, alianças e combates. Há jóias que tornam famosos os que as possuem, há jóias às quais vale a pena dedicar atenção, meios e esforços. Nesse sentido, a Quinta de Roriz é uma jóia de família. Que se cruzou com várias famílias e assim vai continuar a acontecer. Até porque as próprias famílias acabaram por se cruzar entre si.

Deste livro, muitas seriam as referências obrigatórias, mesmo numa breve apresentação como esta. Mas ficar-me-ei por alguns pontos concretos. Este é um exemplo da continuidade de uma exploração (não poderei dizer empresa no sentido literal do termo) através dos séculos. Não há assim tantos casos conhecidos. Esta quinta beneficiou de diferentes factores que lhe asseguraram essa longa vida.

O primeiro, o seu equilíbrio, a ecologia, a localização e a paisagem. Os seus contornos, como exploração, ajudaram. A ninguém ocorre desmembrar ou fracturar a quinta.

O segundo, a sua excepcional beleza. Poder-se-á dizer que a estética não é um grande valor para a economia ou a produção. Mas a verdade é que tenho a certeza (e conheço testemunhos) que a sua beleza permitiu a criação de relações muito especiais, nomeadamente sentimentais, entre a Quinta e os seus proprietários.

O terceiro foi uma boa estrela da Quinta. Esta teve sorte. Quase todos os seus proprietários se esforçaram por manter o melhor e melhorar o possível. Um sábio jogo entre tradição e renovação, entre os costumes e a inovação, fez com que a Quinta, mau grado exigir um enorme esforço, nunca se transformasse num fardo. Quem a teve, gostava de a ter e respeitava-a. Eis uma atitude fundamental quando falamos de agricultura, de produção vinícola e de património construído e ecológico.

Em conclusão: o livro que temos diante de nós ilustra da melhor maneira a continuidade da exploração, da entidade “quinta”, graças à capacidade de inovação e de actualização. Sem esquecer o factor sentimental que tantas vezes liga os homens às coisas, às pedras e à terra. E ficámos a perceber melhor que há uma espécie de quinta diferente de todas as outras. Há quintas, há fazendas, há herdades, há montes... Depois, há as quintas de vinho. Que noutros países se podem mesmo chamar château ou domaine! A quinta de vinho é especial. Pela organização, pelo produto, pela continuidade da produção, pela mitologia e pelo sentimento. Este livro é um belo exemplo e uma capaz demonstração do que digo.

Outra referência deste livro diz respeito, como menciono no prefácio, às ligações entre portugueses e estrangeiros, entre portugueses e ingleses, entre a lavoura e o comércio, entre a produção e a exportação. Como se sabe (no Norte, sabe-se de certeza, no Sul e em Lisboa, não é seguro...) o Douro e o Vinho do Porto foram sempre motivo de lutas e preconceitos, de contrariedades e contradições. Sob muitos aspectos, nada de novo. Quotas de exportação, preços, fidelidade de contratos, margens de lucro e qualidade do produto foram e são frequentemente motivo de oposição. Aqui também. Com algumas particularidades. Por exemplo, os comerciantes e exportadores produziam pouco, visitavam pouco a região. Ou então o facto de uma cidade a 100 quilómetros de distância ter obtido o nome do produto, o entreposto, o armazém, o prazo de envelhecimento, a sede das empresas, o emprego e as mais valias! Estes são factos reais, não apenas preconceitos. Finalmente, a circunstância de a parte mais importante do comércio e da exportação estar entre mãos de estrangeiros, nomeadamente ingleses. Sobre estas diferenças, construíram-se mitos e querelas ainda hoje recordados e por vezes acordados. Diz-se que o vinho do Porto foi obra dos portugueses, dos durienses e dos lavradores; e que os ingleses apenas souberam aproveitar o que aqueles fizeram, inventaram e trataram. Mas também se diz que foram os ingleses os verdadeiros criadores do vinho do Porto e que os portugueses, pobres e atrasados, apenas souberam produzir o que lhes mandavam. Esta querela, como tantas outras, é inútil e estéril, mas anima as discussões no Douro e no Porto, nos cafés e na Feitoria! Na verdade, o vinho do Porto, o maior contributo material português para a história da humanidade, é resultado do encontro, da convergência, da oposição e da cooperação entre aqueles todos. Produtores, lavradores, comerciantes, exportadores, portugueses, ingleses e holandeses acrescentaram algo e inventaram alguma coisa para o fabrico deste vinho. E desta região.

A este propósito, uma última referência, talvez não explicitamente inscrita neste livro, mas que está implicitamente da primeira à última página: a força do lugar, a força do sítio, a obra da região. A construção e a vida desta quinta mostram bem que o vinho, sobretudo o de muita qualidade, não é simples fruto da Natureza. É obra do homem. Dos trabalhadores. Dos pedreiros. Dos enólogos. Dos lavradores. Dos proprietários. Dos comerciantes. Dos adegueiros. Dos agrónomos. Dos consumidores, enfim. Por isso, ao longo dos séculos, o vinho foi mudando e adaptando-se. Por isso, o vinho e as quintas foram mudando as terras e a região. Foram feitos muros e socalcos. Fizeram-se plantações. Transformou-se a paisagem. Mas, em troca, a paisagem mudou os homens, criou-lhes hábitos, modelou as suas vidas. Em grande parte, a história desta quinta, tão bem contada neste livro, revela, como se de uma câmara escura se tratasse, a história de uma região, de um vinho e de um povo. Os que fizeram este vinho acabaram por ser feitos por ele. E as quintas estão no centro deste processo de união entre o trabalho e a natureza, entre os homens e as terras.

Uma vez mais, felicito e agradeço ao Gaspar Martins Pereira, ao João Van Zeller, à família Symington e às Edições Afrontamento o que hoje nos ofereceram. Bem hajam.

E termino com duas notas pessoais. A primeira, para saudar os novos proprietários da Quinta de Roriz, a família Symington. Conheço-os do Douro e do Porto. Fui recebido em casa deles, explicaram-se o que faziam, mostraram-me várias das suas quintas. Tenho a certeza que a Quinta de Roriz fica em boas mãos. Uma vez, falando com Peter Symington, noutra quinta maravilhosa, a Quinta do Vesúvio, conversávamos sobre as relações entre portugueses e ingleses. A propósito de alguns preconceitos existentes nas relações entre os dois, nunca esquecerei o que ele me disse, a certo momento, já com um ligeiro sotaque do Porto: “Ó António, nós já somos da prata da casa!”.

A segunda é quase um arrependimento. Por falta minha, nunca visitei a Quinta de Roriz a convite do João Van Zeller. Várias vezes ele tomou essa iniciativa, mas eu, por motivos vários, nunca tive a oportunidade de aceder. Do que me arrependo. Mas a verdade é que, por duas vezes, visitei a Quinta sozinho, por meus próprios meios e iniciativa. Nos anos setenta e nos anos oitenta. Uma vez, andei por lá sozinho, a ver e fotografar. Outra, seguido por amável caseiro que me mostrou parte da vinha. Não entrei dentro de casa, que apenas conheço de fotografias. Mas tive ocasião de verificar o que se dizia: que a Quinta de Roriz tem qualquer coisa de doce e mágico. É realmente de uma beleza inexcedível! E, uma vez mais, não deve o que é apenas à natureza e ao local. Deve também muito, quase tudo, aos homens e as mulheres que a fizeram!
Lisboa, 26 de Outubro de 2011

Luz - Comboio de Vila Real à Régua, Linha do Corgo, 1983

terça-feira, 5 de junho de 2012

Boas novas - Linha do Douro: CP retoma viagens históricas a 30 de Junho

Por Agência Lusa, publicado em 5 Jun 2012 - 09:25 - (transcrição) - A CP retoma a 30 de junho as viagens de comboio histórico na linha do Douro, depois de, no ano passado, ter ameaçado com o fim do serviço por falta de parceiros para o financiamento do projeto.

Entre junho a outubro, a velha locomotiva a vapor vai percorrer os 46 quilómetros que separam o Peso da Régua do Tua (concelho de Carrazeda de Ansiães), numa viagem que tem como paisagem predominante o rio Douro, as vinhas que são Património Mundial da UNESCO e que atrai centenas de turistas a este território.

Fonte da CP disse hoje à Agência Lusa que, em setembro, se realizam também viagens ao domingo de manhã, uma das novidades divulgadas para esta época.

Também pela primeira vez, a CP criou este ano quatro pacotes que incluem a viagem no comboio histórico e as viagens de ida e volta de qualquer ponto do país até à Régua em oferta regular nos serviços Alfa Pendular (em classe Turística), Intercidades (em 2ª classe) ou InterRegional e Regional.

Os preços variam entre os 50 euros para adultos que se desloquem a partir de estações a norte de Coimbra, até aos 80 euros para quem decida efetuar a viagem desde Faro e regresso.

Em todos os percursos, as crianças até aos 12 anos pagam meio bilhete.

No caso de grupos numerosos existe ainda a possibilidade de realização de comboios especiais, mediante condições a acordar com a empresa.

No final da época 2011, a CP ameaçou com o fim do comboio histórico no Douro caso não encontrasse parceiros para ajudar a financiar o serviço. Apesar disso, este ano, resolveu prosseguir com as viagens históricas na Linha do Douro.

Em 2011, os custos superaram os 150.000 euros e a receita registou pouco mais de 90.000 euros.

No ano passado, viajaram no comboio 2.270 pessoas, o que representou uma média de 206 passageiros por viagem (a capacidade total é de 250). Em 2010, viajaram 1.639 clientes, com uma média de 149 por comboio.

A procedência dos clientes nacionais é dominada por Lisboa e pelo Porto e os estrangeiros têm como origens principais Inglaterra, França e Espanha.

O leque de idades situa-se entre os 26 e os 65 anos, com uma distribuição percentual quase equitativa nas várias faixas etárias.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Retalhos da net - Douro é Património Mundial há 11 anos

Transcrição 'Noticias ao Minuto' com a devida vénia - 11:25 - 05 de Dezembro de 2012 | Por Paula Lima

A chefe de projecto da Estrutura de Missão do Douro (EMD), Célia Ramos, afirmou hoje que o Douro "vai conseguir dar resposta e vai conseguir compatibilizar tudo".

"Nós responderemos absolutamente e com toda a convicção a todas as questões que nos forem colocados e que nos estão a ser colocadas", salientou.

O Ministério da Agricultura e Ambiente divulgou em Outubro que o relatório da missão da UNESCO ao Douro concluiu que a construção do aproveitamento hidroeléctrico de Foz Tua, de acordo com o projecto revisto, é compatível com a manutenção do Alto Douro Vinhateiro (ADV) na Lista do Património Mundial".

A organização mundial fez, no entanto, críticas ao processo e exige medidas de mitigação.

A UNESCO concorda com o enterramento da central eléctrica, num projecto do arquitecto Souto Moura, mas exige conhecer e pré-aprovar soluções para a subestação e para a linha de muito alta tensão.

A organização recomendou ainda a criação de um "Plano de Gestão da Zona", com força de lei, que proteja o Douro "dos impactos cumulativos de infra-estruturas como barragens, linhas eléctricas e estradas, como por impactes incrementais resultantes da ausência de políticas de gestão consistentes".

Este plano terá de ser submetido à UNESCO até 1 de Fevereiro de 2013.

"Julgo que, neste momento, com um tremendo esforço diplomático que foi feito, com uma viva e empenhada actuação por parte do Ministério do Ambiente, nós conseguimos vencer esta batalha", sublinhou Célia Ramos.

No dia 14, no Peso da Régua, decorrerá uma cerimónia que culminará as comemorações de uma década de Património Mundial, iniciadas no ano passado, e se comemorará mais um ano após a classificação. O ADV foi reconhecido em 2001.

Os secretários de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, e do Turismo, Cecília Meireles, deverão participar no evento.

As comemorações arrancam com a inauguração do monumento "Feitoria de Alma", da autoria de Gracinda Marques.

Depois, Teresa Andresen, coordenadora do estudo de avaliação do estado de conservação do ADV fará um balanço da paisagem cultural e Célia Ramos falará sobre as linhas de força para os futuros 10 anos.

Será ainda apresentado o projecto da National Geographic, o mapa guia do geoturismo para o Douro.

As comemorações juntam a EMD, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e a Comunidade Intermunicipal do Douro.

Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Retalhos brasileiros - O Douro vai muito além dos Vinhos do Porto

Por Jorge Lucki | De São Paulo - Brasil 
Região que insere Portugal no mapa de grandes regiões vinícolas do mundo tem o que mostrar. (O crescente interesse pelos vinhos de mesa do Douro tem despertado a atenção das principais casas de Vinho do Porto)
(Clique na imagem para ampliar - Imagem original da publicação "Valor Económico")

Fala-se muito hoje sobre os vinhos tintos do Douro, e a coluna da semana passada não fugiu dessa tendência ao dar ênfase a alguns desses rótulos, responsáveis por inserir Portugal, ainda que por ora timidamente, no mapa das grandes regiões vinícolas do planeta. Não se pode, no entanto, esquecer o papel do vinho do porto nessa ascensão, até porque foi o que, historicamente, projetou o país no mercado internacional e é o que distingue a região do resto do mundo.

Apesar de ter um modelo consagrado, no Barca Velha, nascido em 1952, a produção de vinhos de mesa só começou a reunir interessados no final dos anos 80, com a revogação do decreto que impunha que as exportações deveriam partir obrigatoriamente dos armazéns de Vila Nova de Gaia, situação que criava uma divisão clara entre produtores e negociantes. Os primeiros cultivavam suas vinhas, elaboravam o vinho do porto e o vendiam para as grandes casas mesclarem e comercializarem. Com a liberação, abriu-se a possibilidade de engarrafar e comercializar diretamente os vinhos, medida que encorajou os produtores a se tornarem independentes e a se aprimorarem para poder conquistar espaço.

Houve, nesse meio tempo, uma contínua diminuição do “benefício”, um direito concedido ao produtor, definido pelo Instituto do Vinho do Porto, para produzir uvas para vinho do porto, norma que tinha como finalidade regular os estoques do produto — o que ultrapassasse a quantidade autorizada deveria ser direcionado para os vinhos de mesa comuns.

Aos poucos, e cada vez mais, foi se conseguindo encontrar o ponto de equilíbrio entre o que é possível e desejável produzir em termos de vinho de mesa e vinho do porto, e o que é quase obrigatório. Com o tempo, há melhor noção das parcelas com maior vocação para um ou outro, assim como, de eventuais redirecionamentos em função das particularidades de safra. A rigor, a flexibilidade de poder trabalhar os dois é uma benção que só mesmo o Douro tem.

Tanto que essa nova e vitoriosa geração de produtores de vinhos de mesa — Douro Boys, Jorge Serôdio e Sandra Tavares (do Pintas e Quinta da Manoela) e uma série de outros já consagrados — não esquece suas raízes e faz em paralelo, em menor quantidade, uma gama própria de vinhos do porto. Tê-los também em seu portfólio auxilia na distribuição, já que muitos importadores desses tintos e brancos de primeira linha são especializados e não têm estrutura para trabalhar com as grandes casas de vinhos do porto, mas consideram importante ter tais produtos para oferecer.

O crescente interesse dos mercados internacionais pelos vinhos de mesa do Douro tem despertado a atenção das principais casas de vinho do porto, fazendo com que elas invistam também no gênero. Por uma questão de princípios, praticamente o único grupo que até agora se mantém inflexível é o Fladgate Partnership, detentor das renomadas marcas Taylor’s e Fonseca, além da Croft. A Symington, por exemplo, principal produtor de vinhos do porto de categorias especiais — é proprietária da Graham’s, Dow’s e Warre’s (são distribuídos no Brasil por diferentes importadoras) — e dona de 25 quintas, num total de quase 1.000 hectares de vinhas, tem dois tintos de ponta, o Quinta de Roriz e o Chryseia, este em sociedade com o renomado Bruno Prats, que, logo depois de vender sua participação no famoso Château Cos d’estournel, elegeu o Douro para sua reestreia por acreditar que a região tinha grande potencial para produzir vinhos de alto padrão e diferenciados. A primeira safra comercializada do Chryseia foi a de 2000, e Prats está cada vez mais entusiasmado com o projeto, tendo comprado, junto com os Symingtons, mais parcelas no sentido de continuar aprimorando seu vinho.

Não menos importante é a entrada no segmento de vinhos de mesa da Quinta do Noval (importado pela Grand Cru, www.grandcru.com.br), uma das marcas de vinho do porto mais antigas e prestigiadas em termos mundiais, cujas origens datam de 1715, antes, então, da demarcação da região, ocorrida em 1756 pelo marquês de Pombal. Vale ressaltar que o fato de constar o nome “Quinta” implica vinhos elaborados a partir de uvas procedentes de uma só propriedade, no caso a Quinta do Noval, ao contrário do habitualmente praticado no que se refere a portos. É de lá, por conseguinte, que sai o mais raro, caro e almejado vinho do porto, o Quinta do Noval Nacional.

Ele provém de uma pequena parcela de cerca de dois hectares dispostos em quatro terraços mais um trecho em meia lua numa parte privilegiada da encosta, ao lado da velha edificação onde estão os lagares de granito utilizados para sua vinificação. Não são plantas centenárias, como se poderia imaginar. São, na verdade, parreiras plantadas em pé franco, sem enxertia portanto, e tratadas segundo a técnica pré-filoxérica, que consiste em doses de enxofre injetadas no solo com o objetivo de impedir a ação da praga (a filoxera, inseto presente no solo que ataca as raízes). O local, o tipo de tratamento e a implantação em pé-franco levam a cachos e bagos pequenos, o que significa baixos rendimentos — por volta de 12 hectolitros por hectare, em vez de 40 hectolitros por hectare nos demais rótulos — e, por consequência, vinhos ricos e concentrados. São produzidas em média apenas 3 mil garrafas por ano. A primeira safra foi a de 1931, considerada excepcional — e a melhor de todas —, como devem ser, por princípio, todas que permitam obter um Nacional. De lá para cá (a última foi 2003) foram apenas 29. Caso a qualidade não atinja o nível exigido o vinho entra no lote do Quinta do Noval, que, embora tenha um grau de exigência não tão extremo, também não sai todos os anos.

Situada no vale formado pelo rio Pinhão, um afluente do Douro, a Quinta do Noval está numa zona favorável também a grandes vinhos de mesa, como é o caso do Pintas e do Guru (o branco do Pintas) e de algumas parcelas utilizadas em rótulos da linha mais nobre da Niepoort. Com a recente propensão à diversificação, era de se esperar que a Noval não ficasse atrelada só a vinho do porto. Seguindo essa diretriz, foi lançada uma gama encabeçada pelo Quinta do Noval tinto e complementada pelo Cedro do Noval — “homenagem” à belíssima árvore centenária localizada bem à frente da edificação principal e de onde se tem um panorama notável do vale e das vinhas em terraços que a rodeiam — e do Labrador (não conheci o homenageado). O responsável técnico por todo o setor de vinhos, de mesa e do porto, desde 1993, é o competente António Agrellos.

Os vinhos vêm num visível crescendo, ganhando em equilíbrio e expressando um estilo sofisticado, em especial o rótulo principal, o Quinta do Noval. Nas duas versões provadas na recente visita, o 2008, composto de 50% de touriga nacional, 40% de touriga franca e 10% de tinto cão, e o monocasta touriga nacional 2009, apresentaram um belo conjunto, com madeira muito bem dosada, taninos firmes bem integrados, sustentados por adequada estrutura. Dentro do preço mais acessível, o mesmo vale para as duas amostras do Labrador, 2008 e 2009, moldados com syrah. Necessitando de mais tempo de garrafa, não decepciona o Cedro do Noval 2008, que contém 90% de castas portuguesas (50% de touriga nacional, 30% de touriga franca e 10% de tinta Roriz) e 10% de syrah. Os Portos dispensam comentários, inclusive os dois Nacional, 1994 e 1967, que finalizaram a visita.

sábado, 4 de abril de 2009

Os Bombeiros no Largo da Estação.

(Clique na imagem para ampliar)

Magnifica imagem de um dia de festivo para os “soldados da paz” da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que comemorava o seu 75º aniversário, no dia 28 de Novembro de 1955.

Esta imagem é o rosto de uma cidade num tempo da sua história, que aqui mostra o Largo da Estação, um espaço de grandes referência para a vida da cidade do Peso da Régua, o verdadeiro e ainda actual “interface” de comunicações, o lugar das partidas e chegadas das pessoas e mercadorias ligadas ao vinho e à vinha, donde os passageiros partiam em camionetas para outros destinos das Beiras, Trás-os-Montes e Alto-Douro.

Do olhar sobre a imagem ficamos com a beleza do edifício da estação de caminho de ferro e o seu imponente cais de mercadorias, uma rara peça de arquitectura, a ser hoje utilizada para espaços de lazer e restauração, onde o comboio da linha do Douro (1873-1887) chegou em 1879, sendo considerado uma revolução social, económica e humana (se todas fossem assim…) para a região a duriense. Ainda ficamos atentos com a nostalgia dos comboios parados na bela linha do Corgo, um soberbo troço de 25 km, entre montanhas e socalcos do Douro património da humanidade, até Vila Real, inaugurada em 1906 e encerrada em 25 de Março de 2009 (!!!) para se realizarem obras de segurança. Ao fundo da rua, um olhar para a grande casa comercial “Viúva Lopes” com o telhado e paredes consumidas pelo grande incêndio que a atingiu em 1953.

Mas, o nosso olhar na imagem fica preso no grandioso desfile do Corpo de Bombeiros de Peso da Régua, onde estão incorporados bombeiros de associações amigas convidadas, com uma numerosa assistência a ver e apoiá-los, e ainda os carros de fogos que se usavam no tempo, que hoje pela sua fantástica beleza nos fazem sonhar e gostar ainda mais dos nossos soldados da paz. Algumas dessas relíquias, esses carros que povoaram memórias e brincadeiras de infância, os quais podemos ver guardados nos museus dos bombeiros.

Este aniversário de “Bodas de Diamante” da Associação teve um vasto programa de festejos, destacando-se a publicação de uma revista comemorativa, com a colaboração especial do escritor João de Araújo Correia, que escreveu um soneto em memória do bombeiro João dos Óculos, assinalava uma nova fase de crescimento e de modernidade quer em infra-estruturas quer em equipamentos, tudo conseguido por uma Direcção sabiamente dirigida pelo ilustre e prestigiado advogado, Dr. Júlio Vilela e um Corpo de Bombeiros sob a orientação do grande comandante Lourenço Pinto Medeiros (1949-1959).

Para melhor conhecermos esta fase da vida da associação, os seus primeiros setenta e cinco anos de existência, os momentos de sacrifícios e anseios, em que venceu a determinação de todos, transcrevemos um interessante texto assinado pelo Dr. Júlio Vilela, em nome da Direcção, onde diz o seguinte:

“Agradecemos, profundamente sensibilizados, o carinho e o amparo dispensados à velhinha e prestigiosa instituição que temos a honra de representar.

Completa ela agora setenta e cinco anos de existência.

Despida de recursos, a sua vida, tão longa quão prestimosa, é uma soma infindável de dedicações, esforços e sacrifícios.

No entanto, desde o punhado de homens generosos que a fundou e constituiu o seu primeiro Corpo Activo até àqueles que hoje a servem, um pensamento e uma preocupação tomaram o espírito de todos: torná-la cada vez maior e mais eficiente.

Depois de beneficiada com o apetrechamento essencial correspondente à sua importância e às modernas exigências dos serviços de incêndios, inaugura ela, neste momento, o Novo Quartel, primeira e mais premente fase de acabamento do seu edifício-sede, ainda há bem pouco reduzido a um esqueleto que, embora se avizinhasse como projecto de obra grandiosa, era por muitos considerado como a forma definitiva de um sonho.

O sonho, porém, tornou-se dia a dia em realidade, se bem que penosamente.

É outra soma de novas dedicações, novos esforços e sacrifícios irão completar.

A AHBV do Peso Régua sabe, entretanto, e porque julgar continuar a merecer o auxílio de todos, que tal soma vai, mais uma vez, verificar-se”.

Assim, fica-se a saber que a mais bela casa dos bombeiros portugueses, “obra grandiosa” que hoje admiramos, desenhada em 1930, pelo arquitecto portuense Oliveira Ferreira, demorou mais de 20 anos a sair do seu inicial “esqueleto”, caso não fosse essa “soma infindável” de dedicações e sacrifícios de homens bons e generosos, cujos nomes esta Associação terá de escrever em letras de ouro na sua já longa história.

E um deles será sempre, o do Dr. Júlio Vilela.
- Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

domingo, 31 de agosto de 2014

Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Cruzar a linha não é muito fácil, em especial quando não há vantagens ou ganhos em retorno. É nesta hora que você percebe e entende quem tem consideração, quem reconhece!
Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
As cartas enviadas desde Porto Amélia em Moçambique sobre o Sport Clube da Régua.
Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Nasceu na cidade do Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica.

Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam.  
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista espontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento patriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima,Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompor da enorme frustração, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

O Sport Clube da Régua, distinguia-o, desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.


- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*


Conheça algumas das cartas enviadas e publicadas pelo Jornal Notícias do Douro, sobre o SC Régua.
Clique nas imagens acima para ampliar
Transcrito do site - Sport Clube da Régua

Alguém disse: Cruzar a linha não é muito fácil, em especial quando não há vantagens ou ganhos em retorno. É nesta hora que você percebe e entende quem tem consideração, quem reconhece! Minha gratidão imensa ao Dr. José Alfredo Almeida, Amigo sempre presente pela pesquisa dos textos, ao pessoal do Notícias do Douro pela autorização, na pessoa do Dr. Armando Mansilha, salientando também o velho Amigo, funcionário e jornalista Fernando Guedes, que se encarregou de fotocopiar os recortes acima expostos e ao Sport Clube da Régua, a quem meu saudoso Pai ofertou amor e inúmeras horas de dedicação intensa, desinteressadas e permitiu a digitalização-publicação no site do clube. Seu pensamento-coração, mesmo longe, em terras de África (Porto Amélia, hoje Pemba), estavam também no rincão natal. - Jaime Luis Gabão, 4 de Maio de 2011.
    • JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO no GOOGLE !

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sport Clube da Régua - Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
As cartas enviadas desde Porto Amélia em Moçambique sobre o Sport Clube da Régua.
Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Nasceu na cidade do Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica.

Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam.  
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista espontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento patriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima,Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompor da enorme frustração, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

O Sport Clube da Régua, distinguia-o, desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.


- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*


Conheça algumas das cartas enviadas e publicadas pelo Jornal Notícias do Douro, sobre o SC Régua.
Clique nas imagens acima para ampliar
Transcrito do site - Sport Clube da Régua

Alguém disse: Cruzar a linha não é muito fácil, em especial quando não há vantagens ou ganhos em retorno. É nesta hora que você percebe e entende quem tem consideração, quem reconhece! Minha gratidão imensa ao Dr. José Alfredo Almeida, Amigo sempre presente pela pesquisa dos textos, ao pessoal do Notícias do Douro pela autorização, na pessoa do Dr. Armando Mansilha, salientando também o velho Amigo, funcionário e jornalista Fernando Guedes, que se encarregou de fotocopiar os recortes acima expostos e ao Sport Clube da Régua, a quem meu saudoso Pai ofertou amor e inúmeras horas de dedicação intensa, desinteressadas e permitiu a digitalização-publicação no site do clube. Seu pensamento-coração, mesmo longe, em terras de África (Porto Amélia, hoje Pemba), estavam também no rincão natal. - Jaime Luis Gabão, 4 de Maio de 2011.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Recordar o Comandante Afonso Soares (atualização)

Por: José Alfredo Almeida
José Afonso de Oliveira Soares, filho de João de Oliveira Soares e de Josefa Joaquina Macedo, nasceu na freguesia e concelho do Peso da Régua, em 26 de Novembro de 1852 e faleceu de velhice, conforme consta da certidão de óbito, no estado de viúvo de Teresa Bernardes Pereira, em 21 de Outubro de 1939, na rua Marquês de Pombal, onde sempre viveu, com a idade quase completa de 87 anos.


Segundo o escritor João de Araújo Correia, que lhe traçou um breve retrato na crónica “Configurações”, do seu livro “Horas Mortas” este homem cuja vida atravessou três regimes políticos - a monarquia, a república e a ditadura salazarista - foi um “ notável entre vizinhos – ele, que foi artista”, salientado que a “barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, porque o Senhor Soares, à parte os talentos, tinha o dom da bonomia inalterável”.


Da sua actividade profissional, sabe-se que começou por trabalhar com técnico e desenhador nas obras da construção da Linha do Douro do Marco de Canavezes até à estação da Régua. Depois ingressou nos quadros da câmara municipal onde exerceu as funções chefe da secretaria. Já na reforma, foi tesoureiro da filial do Porto do “Banco da Régua”. No regime monárquico ainda desempenhou, por algum tempo, as funções politicas de administrador do concelho do Peso da Régua, mas não foi a politica que o mais seduziu na sua actividade activa e cívica. Para o escritor reguense, que o conheceu e lhe admirou os seus talentos, “tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas não foi, só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor.”


Na verdade, Afonso Soares destacou-se como jornalista na imprensa local, embora também se tenha dedicado à pintura, que ensinou gratuitamente numa escola e deixou vários quadros pintados, entre os quais uma colecção de retratos que se encontram na posse da Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua, à escultura e até à fotografia. Também escreveu e muito, poesia, folhetins e contos, publicados nos jornais, e dois livros, um ensaio sobre turismo e uma monografia da historia da Régua.


Como jornalista, foi director do “Jornal da Régua” (1930), onde publicou o folhetim “ Álvaro -Esboços da Vida Real”. Colaborou em vários jornais como “O Dissidente”, “Cinco de Outubro”, “O Marão” (1926), para o qual desenhou o cabeçalho, “O Transmontano” (1922), e a “A Região Duriense” (1930).


Neste último semanário, assinou um interessante artigo intitulado “A Capital do Douro”, a dar eco à questão duriense. Sobre esse assunto, eis o pensamento, ainda pleno de actualidade: “E enquanto o Douro for Douro não podem os seus filhos esperar outra vida que não seja a defender o seu vinho. Um desfalecimento tem consequências funestas. Ninguém deve esquecer que atrás de uma dificuldade, logo outra aparece. E todas elas se vêem reflectir na sua capital do Douro - a vila do Peso da Régua – a que se tem dado e com razão de “coração do Douro”. (…) A Régua foi, e será o centro desta região privilegiada. Já o era quando, pobre e triste povoação sertaneja, fez parte dos concelhos de Santa Marta e Godim e já era centro consagrado da região quando o governo de D. José criou a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro (…). Em anotação ao texto, o director do jornal, Júlio Vasques agradecia-lhe a sua colaboração: “Honra este semanário este nosso amigo e decano dos jornalistas provincianos com vastíssima erudição que lhe provem do aturado estudo que se tem entregado nas investigações históricas do concelho do Peso da Régua. Os nossos leitores terão mais que uma vez de apreciar os seus artigos cheios de ensinamentos preciosos (…) expondo ao pais e ao estrangeiro a riqueza que o esforço do viticultor duriense soube arrancar das montanhas entre as quais corre tumultuoso o nosso rio Douro”.
Afonso Soares deixou publicadas três obras literárias: “Apontamentos para a História da Vila do Peso da Régua” (1907), o ensaio “Régua - Coração do Douro -Centro de Excursões e de Turismo” (1925) e a “História da Vila e Concelho do Peso da Régua” (1936-38), mandada elaborar pela Comissão Administrativa, em 1936, ao “brilhante jornalista reguense (…) de competência indiscutível desta natureza”. Em 1979, a Câmara Municipal da Régua promoveu uma 2ª edição do livro, que para o presidente Prof. Renato Aguiar significava “dar satisfação aos inúmeros pedidos para nova edição (…) mandou imprimir este brilhante trabalho elaborado por José Afonso de Oliveira Soares.”


A monografia “História da Vila e Concelho do Peso da Régua” é a sua obra mais conhecida. Começou por ser editada em fascículos, impressos na “Imprensa do Douro”. Num artigo publicado no “Noticias do Douro”, o reguense Dr. Sebastião Pinto de Gouveia, advogado no Porto, confirmava que esta sua obra tinha sido “ elaborada a pedido da vereação municipal instalada em 1936. Concluída em 1938, é um trabalho de investigação extenso, e largo estudo, bem ordenado, profusamente documentado, de estilo sóbrio, preciso e elegante. Essas páginas dão-nos uma síntese perfeita da vasta capacidade, preparação e cultura do seu autor. Mais do que a história de um concelho, esse livro é um acto de dedicação e fé a uma causa nobre que soube servir e amar”.


Conhecendo-o por com ele ter convivido e partilhado a escrita nas páginas dos jornais, o escritor João de Araújo Correia, numa crónica publicada, em 1928, no “Jornal da Régua” fazia um retrato psicológico de Afonso Soares, a elucidar um retrato que o periódico trazia na primeira página, para assinalar o aniversário dos seus 82 anos, que pela sua lúcida e perspicaz análise, se transcreve esta parte:


“O retrato do senhor Soares só ficaria fiel pintado a óleo.


Perde-se um modelo digno de Columbano.


(…)


O retrato é mal tirado. Mas a nossa adoração espiritualiza-o. Aos olhos dos devotos não escorrem sangue as feridas mal pintadas dos crucificados? À nossa vista, o Senhor Soares gravado é o Senhor Soares vivo. O fenómeno do riso no octogenário ensilveirado de barbas é um dos encantos do homem que vem, às tardes sentar-se no banco do Zé Pinto, do esteta que procura uma mercearia para espairecer, como há enxovedos que procuram os museus para ressoar. O riso é o triunfo do homem sobre as trivialidades que o circundam. A beleza e fealdade das coisas são reacções interiores. Por isso vemos o Senhor Soares deliciado quando o Afonso Henriques Morrão pesa bacalhau ou o Zé Pinto se põe a esculpir estátuas impressionistas de oiro, com manteiga. Se o amor preleva o senso estético no descobrir em prosa poesia num pelo defumado do cachimbo do Senhor Afonso Soares, veremos o singular indivíduo que vive oitenta anos à sombra de sertanejo campanário, sem prejuízo da harmonia do seu vestir ou pensar. A gravura que encima, esta coluna e, por consequência uma maravilha. Na sua dureza evocamos a ternura, a serenidade, a inteligência, o talento, as armas com que o Senhor Soares tem defendido a epiderme da sujidade mundana. Imediatamente nos evoca também o caminho que a nossa terra polida lhe tributa. A Régua tem coração. Não é verdade que ela se curva para agasalhar, mais do que para cumprimentar, as mãos esguias do Senhor Soares? Na própria ausência do querido pintor e homem de letras, dizemos todos: o Senhor Soares. Consoante o costume local, há quem diga: Senhor Zezinho Soares.


Há muita beleza nisto…


Não é exacto valerem os homens somente pela obra executada. Os homens valem pelo mundo íntimo que abrigam e vem transparecer à flor do olhar, do gesto, da palavra, que é a maneira de pôr a gravata ou o chapéu. O Senhor Soares vale um tesoiro.Com aquelas barbas chamuscadas de fumo, a moeda romana que lhe orna o peito, vale tanto como se houvesse despedido do lar aos vinte anos, com a sua habilidade e seus pincéis e regressasse pelos oitenta, coroado de espinhos loiros, bem granjeado o nome pomposo de Mestre José Afonso”.


No mesmo sentido, o Dr. Sebastião Pinto de Gouveia no seu citado artigo valorizou as qualidades de artista de Afonso Soares: “a sua extraordinária aptidão, ao maravilhoso talento, tudo era fácil. Quadros como a cópia maravilhosa do “Santo Estevão de Van Dick”, a “Cabeça de Cristo”, de tão quente e dolorosa expressão - “ A volta do Salgueiral” – a “ Cabeça da Virgem” são, entre muitos outros, verdadeiros espelhos da alma de Afonso Soares, da sua extraordinária sensibilidade como do seu génio. Dá-los a um largo exame público e a uma demorada apreciação critica é consagrar o artista extraordinário que os produziu e, sobretudo, conceder a todos, numa visão de conjunto da sua obra, momentos de insubstituível prazer espiritual. Legou-nos também Afonso Soares algumas esculturas: o busto do Chico Doido, entre outras, exprime também a eloquência bastante a extraordinária aptidão de Afonso Soares para esta modalidade de arte. Infelizmente são exíguos os seus trabalhos de escultura e desenho”.


Dando realização aos seus princípios humanísticos, não deixou de participar civicamente no movimento associativo, em especial, o voluntariado nos bombeiros.


Afonso Soares não integrou a lista dos cidadãos fundadores que, reunidos numa “Comissão Instaladora”, elaboraram os estatutos e, em 28 de Novembro 1880, “inauguram” a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Régua. Ele, só alguns anos mais tarde, se inscreveu como seu sócio contribuinte.


Como sócio contribuinte tudo fez para que os bombeiros tivessem, logo em 1885, uma pequena biblioteca no seu edifício-sede que ficava, como então se dizia, na “Chafarica”, hoje conhecido pelo Largo dos Aviadores. Muito embora, o escritor João de Araújo Correia, numa das suas crónicas escritas para o livro “Pátria Pequena” tenha afirmado que o anónimo impulsionador que a idealizou nunca foi conhecido, sabe-se agora que essa biblioteca que, não mais seria de uma estante com livros raros, se deveu à sua iniciativa e generosidade. Sendo um homem modesto, na sua monografia da história da Régua não quis revelar como sendo ele o benfeitor, mas num texto não assinado, que se supõe ser da sua autoria, já que o estilo e o conteúdo parecem semelhantes, publicado em 1930, no jornal “A Região Duriense”, está referenciado o seu nome como benemérito.


Em 1893, Afonso Soares foi eleito pelos associados como Comandante dos Bombeiros da Régua, cargo que vai ocupar até 1927, segundo o que está consagrado oficialmente na associação. Mas, essa data pode não coincidir com a realidade. Uma notícia publicada na revista “Ilustração Portuguesa” dá conta que, em 28 de Novembro 1923, nas comemorações do 43º aniversário da Associação, Afonso Soares não seria já o comandante dos bombeiros.
 
Afonso Soares tinha 40 anos quando os sócios reunidos em Assembleia-geral, realizada em 28 de Janeiro de 1893, o elegeram para ocupar vago pela morte súbita do Comandante Manuel Maria de Magalhães, ocorrida em 10 de Outubro de 1892.


Mas, a substituição do primeiro comandante dos bombeiros da Régua não deve ter sido nada pacífica, já que ficou marcada por um conflito entre os associados. Numa primeira eleições, não foi escolhido Afonso Soares, mas o sócio-activo e fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro, negociante influente que, durante a monarquia, integrou a primeira Comissão Municipal Republicana. Acontece que, de imediato, renunciou ao cargo de comandante para que havia sido eleito, através de uma carta dirigida ao presidente da direcção, “agradecendo aos seus colegas de direcção as provas de estima que lhe tinham dado”. Porque razão tomou esta inesperada decisão? Ao certo não se conhecem os motivos, mas da acta da reunião de direcção, o mais provável é que tenham sido os desentendimentos pessoais ou, eventualmente, divergências de carácter político entre os sócios activos. Abordado assunto em reunião de direcção, o seu presidente sugeriu um “voto de sentimento pela saída deste sócio, atendendo não só à leal camaradagem e aos serviços por ele prestados à Associação” e, com alguma diplomacia, aceitou o pedido de renúncia porque “conhecendo a direcção a atendidas razões de pormenor que motivaram a sua saída, abstinha-se de pedir-lhe, como desejava, de ficar nesta associação…”. Na sua intervenção, o director Joaquim Sousa Pinto, 2ª Comandante, ao pronunciar-se sobre a data da Assembleia – Geral para a eleição do novo comandante, denuncia a exigência de conflito, já que foi claro ao manifestar a opinião “que se demorasse por algum tempo a eleição daquele, visto que estando ainda bastante exaltados os espíritos dos sócios-activos, em virtude do conflito que determinara a saída do primeiro comandante, acrescentando que nenhum prejuízo adviria para a Companhia por esse facto”. O presidente da direcção, José Joaquim Pereira Soares dos Santos, mostrava-se incomodado com a situação, pedindo que “se registasse que alguns sócios contribuintes principiavam de ver com desagrado uns pequenos conflitos, sem importância, é certo, mas que pela sua qualidade mal abonavam o bom nome da Associação”. Entretanto, são eleitos novos directores para os órgãos sociais da Associação. O novo presidente da direcção Alberto Rolla, no dia 3 de Fevereiro de 1893, convoca Afonso Soares para prestar o juramento como Comandante dos Bombeiros. Depois de empossado, ele vai exercer o cargo durante um largo período de anos, conturbados para o país, a região duriense e o futuro da Associação. Não se sabe, com certeza e rigor, se abdicou de ser comandante em 1927 ou já, em 1923, para Camilo Guedes Castelo Branco, mas pensa-se que tenha sido antes dessa última data. A sua idade próxima dos 75 anos, e as limitações de saúde, já não lhe permitiam dirigir as missões de socorro.


No seu mandato, Afonso Soares manteve, apesar das limitações do quartel e da falta de material de combate de incêndios, um corpo de bombeiros de bombeiros operacional, composto por briosos cidadãos. Mas, não se pense que foi fácil a sua missão, já que enfrentou dificuldades económicas. Em 1902, a câmara municipal suprimiu a atribuição do subsídio para os bombeiros. Como se entende, esta atitude foi mal recebida e provocou uma contestação, que motivou a realização de uma Assembleia-Geral. Sem financiamento e sem receitas, a Associação atravessa uma crise. Nas suas memórias, o chefe António Guedes, então jovem bombeiro, recordou como os bombeiros a ultrapassaram. Confirma que, por volta de 1910-20, a Associação estava sem receitas para suportar as despesas do quartel. Alguns bombeiros, perante as dívidas que aumentavam, chegaram a propor que as chaves do quartel e o pouco material fossem entregues ao presidente do município. Mas, os velhos e apaixonados bombeiros entenderam não cruzar os braços e não permitiram que a associação se extinguisse. Começaram por se cotizarem com uma quantia dos seus salários, mas mesmo assim não obtinham o suficiente para as principais despesas. Surgiu, depois, a ideia de alguns bombeiros para como actores amadores realizar uns espectáculos de teatro. As peças atraíram a população que pagou o bilhete para assistir. Conseguiram assim, o dinheiro que precisavam para saldarem as dívidas acumuladas, já que câmara municipal, até 1930, atribuía um subsídio demasiado pequeno.


O Comandante Afonso Soares teve a determinação e o mérito de manter vivo o corpo de bombeiro que fazia falta à população reguense. Não descansou para arranjar as melhores condições de trabalho. Pediu à câmara municipal uma parcela de terreno para a construção de um quartel de raiz, mas ninguém o ajudou a realizar o seu sonho. Ele mesmo deu o seu contributo ao fazer o esboço de um projecto para construção do novo edifício. O desenho, felizmente, não se perdeu e está guardado no Museu dos Bombeiros. Nele pode ver-se como Afonso Soares evidencia o seu génio artístico, o rigor técnico e os traços originais de uma ornamentação primorosa.


A Régua, na década de 50, com alguma polémica pelo meio e até de vozes contrárias e discordantes, reconheceu os méritos pessoais, humanísticos, literários e artísticos de Afonso Soares. Nomeada uma comissão de figuras reconhecidas na sociedade reguenses que, com apoio da câmara, mandava erigir um busto, em sua memória, no jardim do Largo do Cruzeiro, próximo da casa onde morou. Esteve presente, para descerrar a placa, o seu bisneto José Afonso Suart-Torrie, ainda criança, e actualmente um negociante de vinhos, residente em França, onde em Rouen é Cônsul Honorário de Portugal.
No seu pedestal está inscrita em sua memória esta mensagem dirigida a todos nós e, em especial, às gerações mais novas: “Talento e bondade/Flor de simpatia/Que nos merecia/ Esta saudade”. Pode parecer pouco, mas esta estátua tem um significado importante: o justo reconhecimento de homem, um cidadão reguense generoso e talentoso que viveu de forma intensa e apaixonada a sua terra. Essa paixão à Régua, confessou-a num dos seus livros: “Mas porque amo a minha terra e me penaliza que as sua belezas continuem tão ignoradas, sem cantar as espalharei por toda a parte, ainda mesmo sem engenho e arte”. Engano seu para nos convencer da sua modéstia: engenho e arte nunca faltaram ao Comandante Afonso Soares!
- Peso da Régua, Março de 2010, J A Almeida. Atualizado em Março de 2012.