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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Parabéns!

Os aniversários são sempre motivo de regozijo; a sua celebração significa que é mais um ano que passa na vida quer das pessoas, quer das instituições. Neste caso, a AHBVPR celebra o seu 133º aniversário, o que faz dela a mais antiga do Distrito e uma das mais antigas do País, motivo de orgulho para todos nós.

Para mim, escrever sobre os Bombeiros portugueses não é tarefa fácil, já que, ao longo da minha carreira profissional, várias vezes tive que fazer reportagens onde os bombeiros foram intervenientes, reportagens essas que em alguns casos me marcaram para sempre. Nunca esquecerei aquele mês de Setembro de 1985, pois coube-me a mim fazer a reportagem para a RTP da grande tragédia que ocorreu em Armamar e da qual resultou a morte de 14 soldados da paz. Foram momentos de grande consternação em que, à medida que avançava, ia encontrando (e obrigado a filmar por dever profissional enquanto as lágrimas me corriam pela face) os corpos carbonizados daqueles homens que deram a sua vida em serviço do próximo.

No dia 15 de Setembro, apenas 8 dias após este triste acontecimento, deu-se o grande incêndio da Serra do Marão que devastou 3.000 hectares de pinheiro bravo, deixando a serrania calcinada e despida de toda a sua vegetação. Foi nesse incêndio que um bombeiro da AHBVPR salvou o veículo automóvel em que me desloquei para a reportagem. O fogo desenvolvia-se em várias frentes e, na ânsia da melhor imagem, eu concentrava-me na sua evolução na zona dos viveiros de trutas, onde punha em risco todo o estaleiro nos quais se guardavam grandes quantidades de combustíveis que poderiam explodir a qualquer momento. Toda a minha atenção se focava neste aspecto enquanto, em cima, o fogo se aproximava do local em que deixara o automóvel, também junto às viaturas dos Bombeiros do Peso da Régua. Nesse interim, o fogo atravessava a estrada nesse local, e o quarteleiro Gouveia, conforme ia retirando os carros da corporação, fê-lo também ao meu, pondo assim a salvo todas as viaturas.

Aproveitando este aniversário, quero prestar a minha homenagem a todos os bombeiros portugueses, que são um exemplo para o Mundo, por vezes pagando com a própria vida esse serviço que prestam à Comunidade, fazendo-o decerto com gosto, mas também sob um perigo constante.
- João Rodrigues, Novembro de 2013

Clique na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos para este blogue pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de texto e imagens de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

NOVO CICLO

Ao folhear O Arrais de 16 de Outubro de 2013, um leitor minimamente atento terá notado uma diferença considerável. A página 5, ou 6, não trazia notícias sobre os Bombeiros da Régua, como vinha sendo habitual, de há uns três anos a esta parte.

Percorrendo os periódicos locais, a presença noticiosa dos nossos Bombeiros não abunda. Anos há em que as suas notícias se reduzem à convocatória da Assembleia-Geral e, repetitivamente, à reportagem da celebração do seu aniversário. Em boa hora, o Dr. José Alfredo Almeida deu início e corpo continuado a uma página de memórias dos nossos Bombeiros. Podemos fazer alguma ideia de quanto trabalho, dedicação e pesquisa essa larga centena de páginas encerra. Para o efeito, criou um formato, um figurino, que se repetiu em cada publicação. É fácil que uma tão longa repetição tenha causado cansaço e tenha desmotivado alguns leitores para a respectiva leitura. Principalmente em tempo de tão acentuada mobilidade, não há nada a lastimar. Estaremos diante dum simples contratempo que levará a repensar, a inovar e a partir para outro tipo de comunicação mais próximo dos leitores.

É bom recordar, é bom ter presente o exemplo dos maiores, mas não deixa de ser bom valorizar o presente, acautelá-lo e preservá-lo. Os homens e mulheres do presente também têm inscritos no seu registo biográfico atos de bravura, desentendimentos que foram capazes de superar, vitórias que os conduziram ao progresso. Pela sua proximidade tornam-se mais palpáveis, mais reais, diremos. Afinal os heróis são de carne e osso iguais aos dos mais novos, sujeitos ao perigo e à morte, que souberam enfrentar, contornar e vencer pela força dum ideal: o voluntariado a favor de pessoas necessitadas. À medida que o tempo vai lançando a sua patine sobre os feitos gloriosos, estes vão dando entrada no mundo da mitologia. Passam a ser mitos, que já carecem da força mobilizadora dos que estão próximos. Precisam de ser reencarnados por gente do nosso tempo, por gente que se pode tocar e abraçar e que também é capaz de realizar atos de nobreza.

Com dedicação igual à que o Dr. José Alfredo Almeida pôs na organização das memórias dos Bombeiros para conhecimento público se poderá encontrar material atual, da actividade do dia-a-dia do Corpo Activo e da Fanfarra, capaz de manter e avivar os fortes laços afectivos que enlaçam os Bombeiros e a população do concelho e lhes granjeiam enorme prestígio em toda a Região e no País.

As celebrações festivas dos Bombeiros fazem pairar no ar um halo de felicidade, de entendimento, de perfeição. Porém, o calcorrear diário do caminho revela os atritos, os desencontros, talvez as desilusões, coisas que sempre houve e sempre haverá em qualquer associação.

Em 1975, pouco mais de um ano após a Revolução dos Cravos, por isso tempo política e socialmente quente, Carlos Cardoso era o comandante dos Bombeiros, José Melo era quarteleiro. Para o tempo, ambos de elevada importância na orgânica da Associação. O comandante era quem tudo decidia, talvez com maiores poderes práticos que o próprio presidente. Pelo quarteleiro passava toda a vida quotidiana do Quartel.

Certo dia, ao que consta, José Melo disse na cara de Carlos Cardoso que ele “era um fascista”, grande ofensa e grande desonra, na altura. Carlos Cardoso levou muito a mal. As posições extremaram-se ao ponto do “ou ele ou eu”, fazendo valer a importância que cada um sabia ter na instituição.

Ora, a ata da reunião da Assembleia-Geral de 10/7/1975 informa-nos que falou muita gente, mas não havia meio de se chegar a uma solução, até que surgiu um grupo de dezassete homens do Corpo Activo que propôs e se comprometeu a integrar uma comissão de entendimento, porque “não se queriam ver privados de nenhum daqueles homens. Eram demasiado importantes para ficarem sem qualquer um deles. Se isso viesse a acontecer, todos eles pediriam a demissão”. Esta comissão assumia o compromisso de conseguir o entendimento entre os dois desavindos, no prazo de trinta dias. As atas deixam ficar o assunto por aqui, mas o conflito veio a resolver-se, pois tanto o comandante como o quarteleiro eram pessoas demasiado nobres para não responderem positivamente ao ato de bravura dos homens do Corpo Activo.

Manuel Gouveia, que foi comandante dos Bombeiros, entrou para a Associação muito novo, subindo, degrau a degrau, até ao topo. Teve como mestre o comandante Carlos Cardoso. A estatura de Carlos Cardoso como comandante era incomparável e inquestionável, o que o levou a exercer o cargo, por vezes, acima dos órgãos eleitos para a Direcção. Manuel Gouveia entranhou esta importância do quadro de comandante. Recebeu muitos louvores, de variados organismos. Acumulou o cargo de quarteleiro. O seu valor como técnico era reconhecido por todos. Incontestável. Quando chegou ao fim do seu mandato, pretendeu ir além da legislação em vigor e da decisão da Direcção. Tinha chegado ao limite de idade. Tanto a legislação como a Direcção eram contrárias à sua continuação como comandante. Aqui, Manuel Gouveia tropeçou. Não conseguiu colaborar com os poderes instituídos na passagem do testemunho para gente mais jovem. Nisto não foi capaz de copiar o mestre.

Apenas dois casos quentes na vida dos nossos Bombeiros, airosa para todos, no primeiro caso, airosa para a instituição, no segundo caso, mas desagradável para o protagonista em causa.

Como estes, muitos mais casos se poderiam trazer à ponderação. O certo é que os Bombeiros têm sabido e têm sido capazes de superar estas situações de desentendimento, têm seguido em frente e têm conseguido progredir. Apesar de todas as dificuldades, apesar de todas as carências e apesar de todas as crises, os Bombeiros da Régua não se têm deixado vencer, sempre têm vencido, têm progredido, crescido e aí está uma corporação de grande valor material e humano. Esperamos que assim vão continuar a ser, no futuro.     
- Damas da Silva, Novembro de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos para este blogue pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de texto e imagens de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Os meus bombeiros

Camilo de Araújo Correia

Os Bombeiros Voluntários do Peso da Régua fizeram cento e dez anos. É um número bonito. Não por ser redondo, mas por traduzir muitos, muitos milhares de horas de trabalho e sacrifício e de quem dirige, de quem comanda e de quem obedece a regulamentos e sentimentos em benefício do mais anónimo dos anónimos - o próximo.

O programa das festas cumpriu-se no dia 2 de Dezembro e com ele a tradição de visitar bombeiros directores, comandantes, sócios e benfeitores falecidos, sepultados nos cemitérios da Régua e de Godim; de assistir à missa na Igreja Matriz; de percorrer em formatura as principais ruas da cidade; de apresentar cumprimentos à Câmara Municipal.

Antes do almoço tradicional, sempre animado, houve imposição de medalhas, cerimónias de tocante significado, em que os silêncios e os aplausos sublinham os méritos distinguidos.

A Direcção e o Comando mantiveram também a tradição de convidar autoridades, afinidades e simpatias mais evidentes, o que sempre corresponde a uma boa apresentação de toda a Régua. E, assim, nos aniversários a cidade fica ainda mais perto dos seus bombeiros. 
Quem já fez uma dezena de anos, ao assistir a estas festas centradas nas magníficas instalações dos nossos bombeiros não pode deixar de recordar o velho e minúsculo quartel do Cimo da Régua. Velho, modesto e pequeno mas muito querido dos seus frequentadores e visitantes fortuitos, sem falar do rapazio, incapaz de passar adiante sem se deslumbrar com o pronto-socorro de cadeirinhas e com a ambulância, uma caranguejola esquinuda, de um branco muito duvidoso e um conforto ainda mais duvidoso... Os carros entravam à justa na porta estreita, sempre com grande vozearia de indicações e avisos.

O quarto do Zé Pinto, o quarteleiro, era também minúsculo e abria para o «parque automóvel». Deste se passava à sala de jogos, por dois degraus. O quartel acabava aqui, se não contarmos uma pequena cozinha lá no fundo. Cozinhava ali a senhora Antoninha, esposa do Zé Pinto, ainda hoje inconformada viúva, e ele próprio preparava os petiscos que os jogadores da noite lhe pediam.

Jogava-se um bilhar muito gozado, um dominó muito batido e umas cartas muito lambidas.

Havia, ainda, uma estante de livros sonolentos, perturbados, muito de longe em longe, por esporádico leitor.
As formaturas só se desfaziam no quartel, à medida que iam entrando. De maneira que a porta estreita oferecia grandes dificuldades para manter o aprumo. As maiores dificuldades ainda eram as do Justino, garboso porta-bandeira de muitos anos. Garboso, mas desastrado… De rígida marcialidade, esquecia muitas vezes o globo da entrada: aquele globo de luz melancólica fendida por uma cruzinha vermelha. A rigidez do corpo e do gesto não lhe permitia baixar suficientemente a bandeira. Zás!... mais um globo. De nada valiam os avisos dos colegas mais próximos, feitos, disfarçadamente, pelo canto da boca: - Ó Justino... Ó Justino… olha o globo! Bumba!... mais um.

Até que um dia o Justino, muito infeliz, propôs que se arranjasse um globo de lata. 
Coitado do Justino. Já lá está, nem sei há quantos anos. Não pôde levar a sua querida bandeira dos Bombeiros da Régua. Ainda bem... Eu sei lá, se com o vagar da Eternidade, nos andaria a quebrar as estrelas, uma a uma.

Notas:
  1. Esta crónica foi publicada no jornal O Arrais, da edição de 6 de Dezembro de 1990.
  2. As fotografias da autoria de Baía Reis fazem parte do arquivo dos Bombeiros da Régua. E dizem respeito à tomada de posse do Senhor Dr. Camilo de Araújo Correia como Presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua. 
Os Meus Bombeiros
Camilo de Araújo Correia
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 10 de Fevereiro de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Os meus bombeiros
Clique nas imagens acima para ampliar. Matéria enviada por J. A. Almeida para "Escritos do Douro 2011". Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro". em Novembro de 2011. Actualizado em 4 de Novembro de 2013.

    quinta-feira, 31 de outubro de 2013

    Uma grande honra

    É para mim uma grande honra ser o Comandante dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, ilustre instituição duriense que a 28 de Novembro de 1880 deu os seus primeiros passos e que brevemente fará 133 anos de existência.

    Ao longo destes seis anos de Comando, foram muitas as dificuldades, os sonhos, os feitos gloriosos, mas permanece bem vivo o desejo de continuar a desempenhar com generosidade e zelo as tarefas da Protecção Civil. Perante os grandes desafios que ainda me esperam, reafirmo que, com a prestimosa colaboração da Direcção, de todo o Corpo Activo, com Reserva e Honra, serão enfrentados todos eles com a dignidade, o profissionalismo e a dedicação de sempre.

    Os Bombeiros do Peso da Régua assumem uma missão insubstituível e estimulam uma cidadania participativa, com base no Voluntariado e no Associativismo, que a região e o País nunca poderão dispensar. Esta disponibilidade para servir o bem público demonstrada pelos “soldados da paz” reguenses granjeou-lhes uma imagem prestigiada e uma identidade singular na região demarcada do Douro.

    Ser Bombeiro da Régua, naquilo que é pertencer a uma Instituição Humanitária, mas ser também cidadão de corpo inteiro, é exercer uma função pedagógica em prol de uma cultura e de um sentimento comunitário de solidariedade. É a esta gente ímpar na generosidade, na devoção e no sacrifício que se presta aqui a justa homenagem.

    Sob pena de ingratidão e de grave injustiça, não poderia deixar de reconhecidamente agradecer a todos os Civis, Sócios e Beneméritos o incansável apoio a esta nossa Associação. Devo também juntar neste agradecimento todos os Assalariados e Voluntários deste Corpo de Bombeiros, os quais, ontem como hoje, de forma generosa, têm feito história nesta terra Duriense pela sua dedicação, empenho e exemplo.

    Por fim, não posso deixar de agradecer ao Dr. José Alfredo Almeida, Presidente da Direcção desta Nobre Associação que, desde 1998, tem vindo a maximizar e a realçar o papel importante dos nossos Bombeiros. Ele que é um Bombeiro sem farda, abraçou esta digníssima causa, demonstrando espírito de equipa, dedicação e companheirismo, enaltecendo a nossa Associação, os seus Sócios, os Beneméritos e os Bombeiros. Os seus livros publicados e as suas crónicas semanais nos jornais Notícias do Douro e O Arrais, aqui na secção intitulada “Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua – As Melhores Imagens da Sua História”, recordam acontecimentos e descrevem os grandes momentos do passado dos briosos Bombeiros da Régua. Não devemos esquecer que a ele se deve a iniciativa de apresentar a candidatura da nossa Associação para que o 41º Congresso da Liga de Bombeiros Portugueses fosse realizado, pela segunda vez, na cidade do Peso da Régua. Foi a capital Douro Vinhateiro, reconhecido há dez anos como Património da Humanidade, que, em Outubro de 2011, acolheu todos os bombeiros de Portugal.

    É, pois, para mim uma grande honra ser o Comandante dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e poder partilhar com os Soldados Paz que comando e os magníficos e dinâmicos corpos dirigentes de uma associação cheia de um glorioso passado o lema do “Vida por vida”, que nos obriga a não desistir e a nunca recusar auxílio àqueles que de nós necessitem.
    - Peso da Régua, 16 de Outubro de 2013, o Comandante António Fonseca.

    Clique na imagem para ampliar. Texto e imagem cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editados para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

    quarta-feira, 30 de outubro de 2013

    Memória dos Nossos Bombeiros - Carta para o Dr. Camilo de Araújo Correia

    Lembrando o Dr. Camilo em 30 de Outubro de 2013, data que evoca o 6º. ano de sua ausência física entre nós. 'Carta' escrita pelo também saudoso M. Nogueira Borges.

    Meu saudoso Amigo:

    Faço votos para que esta o vá encontrar de modo igual ao que costumava ser enquanto por cá andou: sereno mas acutilante, especulativo mas pragmático, de bem com a vida mas adversário do fingimento.

    Agora, em Canelas, não sei  como  será,  mas  idealizo o mesmo. A morte não esquece o que foi a vida quando a lembrança se perpetua, não acha? Fui lá uma vez, pousei uma rosa, falei  consigo, mas  não  me  ligou nada; até pensei que estivesse a mostrar-se amuado por demorar tanto tempo a visitá-lo. Ou, então, estaria muito atento ao que lhe diziam os que estão ao seu lado… Bem - pensei para mim – deve estar por aí a conversar com algum conhecido,  e como não tem relógio esqueceu-se da sua morada. Vim embora porque, mais tarde ou mais cedo, lá chegará a hora de pormos a conversa em dia.

    Mas, sabe, imagino-o a escrever crónicas nos jornais do céu, a causticar os anjos armados em santinhos ou santinhas (ainda ninguém descobriu o sexo deles, não é meu amigo?), todos muito puritanos a dar lições de moral e, nas sombras, a concretizar o adágio dos simulados :  «Olha  para o que eu digo e não para o que eu faço.» Talvez tenha descoberto por aí  daquelas   espécimes  que olham de alto como quem palita os dentes ou arrota postas de vitela, e a tentação de os apontar  seja tanta que não o deixe ficar calado.  Para o céu deve ir – sou eu a pensar, claro – muito tipo de gente, pois a misericórdia divina não tem limites. Por cotejo com o que me ensinaram na catequese (belos tempos!), acho que ele deve ser habitado esmagadoramente pelos honestos, os construtores da palavra , os que fogem da falsidade e do descaramento, os que conhecem a grandeza humana e a  sua antítese,  os que respeitam o medo mas repelem a cobardia, os que não fantasiam  amar os pobres nem pedem publicidade para a oferta, os que sabem que a verdadeira fortuna é ter o  essencial que dê dignidade à vida, à vida de todos. Por isso, deve-lhe meter impressão ver aí de tudo como na farmácia.  Para desenfastiar já deve ter escrito outro Livro de Andanças, viajante que é dessas terras e caminhos etéreos. Deve ser uma pena não haver aí um Palácio da Loucura para uma reedição de Coimbra Minha… Olhe, vá ouvindo umas anedotas do mano João…
    Escrevo-lhe dentro do carro, com o bloco assente no volante, diante do mar, na praia nortenha de que seu Pai mais gostava. Tenho memória recente  de corpos na areia, tostando a celulite ou a silicone (uma pessoa já nem sabe). Ao longe, na linha do infinito, um barco, largado de Leixões, afunda-se na vertigem da lonjura. Recordo-me de África; sei-a do outro lado do mundo, resplandecente e imensa, vermelha e abrasadora. Aquele Moçambique para onde fomos em datas diferentes, a Porto Amélia do Paquitequete e dos corais, da casa do Jaime Gabão e da mesa da D. Nair, daquela fraternidade e daquela mágoa de ver o Lança Pires esticado num Unimog, ele que fora só à Serra Mapé, em Macomia, visitar colegas de escola.

    A sua lembrança, meu saudoso amigo, quando lá cheguei, ainda pairava nos exíguos corredores do hospital, nas esplanadas da Jerónimo Romero, nos serões das lendas do algodão da pensão Miramar e nas gentes que lhe conheceram o jeito e a dádiva. Neste jornal, onde na sua última página escreveu centenas e centenas – sei lá milhares - de crónicas (foi uma pena não ter coligido as principais num volume, como alguns lhe disseram), retratou o esmagamento da savana e a aventura duma caçada, a cumplicidade da temba, o espasmo sanguíneo do pôr-de-sol, o êxtase dos cheiros e dos sons do mato, a sensualidade da mulher africana, o orgasmo do nascer dos dias e  a angústia dos anoiteceres suados.

    Consigo aprendi muito do que é a verticalidade e a honradez intelectual, o horror aos sevandijas e aos excessos dos humanos.  Aprendi que tanto se pode subir até tocar a platina como descer até nos ferirmos no alumínio…

    Mas, perguntará, «este só agora é que me escreve?» Eu digo-lhe: aqui na Régua, terra a que sempre chamou sua apesar de ter nascido na Invicta, andou tudo numa fona por causa de um Congresso de Bombeiros. O José Alfredo Almeida, aquele jovem com um sorriso do tamanho da generosidade, que está, agora, à frente da Associação, tomou a peito a organização, publicou até um livro sobre a História desses homens que dão o corpo ao manifesto – quantos a alma – pela nossa segurança, e tão pouco recebem desta sociedade egoísta, tantas vezes denunciada com a precisão da sua pena. Sabe que foi considerado o melhor acontecimento do género realizado na Pátria? São os que vieram de fora a confirmá-lo sem ciumeiras. Que, diabo,  também somos capazes não é?...
    Lembrei-me muito de si nesta altura,  que,  entre 1964 e 1965, foi presidente da sua Direcção, seu médico, director do Vida por Vida e titular da Medalha de Ouro. E tenho – caramba! – saudades de si. Há dias fui à pasta onde guardo as suas cartas - as lembranças que elas me trouxeram! Piadas de gargalhadas cerebrais, ironias tão subtis que sintetizavam a mordacidade total, tolerância de escrita, protestos cúmplices pelo desaforo social, ideias e conselhos de quem conhecia a literatura, as suas gentes e os seus modos…

    Cai uma chuva triste, de luto pelo Verão que se foi, parece um choro celestial, um gemido dos deuses desgostosos com este mundo comando pela falta de idoneidade, uma saudade enorme daqueles de quem gostámos e nos deixaram do mundo dos sorrisos. O dr. Camilo nota por aí alguma revolta Divina, algum sentimento de pena por estes terráqueos que já se cansaram de lhes irem ao bolso, assaltados à lei (des)armada, como quem limpa fraldas a meninos? Diga-LHE para vir cá abaixo pôr ordem nestes Montes Pintados e nestes Caminhos Velhos e Novos, nestes Assentos e Jurisdições, nestas Sedes e Filiais, nestas Desesperanças e Ódios. E se ELE não vier, que mande um novo Cristo com um cajado na mão para expulsar toda a canalha da Terra. Peça-lhe isso, não se esqueça…

    Vou-me despedir, imitando-o nos momentos de emoção: «RAIO!»


    - Novembro de 2011 - M. Nogueira Borges
    Memória dos Nossos Bombeiros - Carta  para o Dr. Camilo de Araújo Correia 
    Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 10 de Novembro de 2011
    (Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
    Texto de M. Nogueira Borges publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'O Arrais" (10/11/2011). Atualizado em 30 de Outubro de 2013, data que relembra o 6º. ano de sua ausência física entre nós. Clique  nas imagens acima para ampliar. Imagens cedidas pelo Dr. José Alfredo Almeida e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2011. 

    quarta-feira, 23 de outubro de 2013

    Os meus bombeiros

                                                                                                                                José Alfredo Almeida
          
    Lembro-me de ler uns versos de Camilo Guedes Castelo Branco em que evoca a missão heróica dos bombeiros. Li-os escritos sobre uma fotografia a preto e branco onde está retratada a figura de um bombeiro sem que se veja o rosto, fardado a rigor, a sair de uma casa em chamas, com uma criança ao seu colo. São estes os versos: “E eis que em meio trágico do braseiro/surge a figura altiva do bombeiro/ Trazendo ao colo o pequeno ser”.

    Não sei precisar a data em que os escreveu e chegaram a ser publicados. Apenas posso dizer que foram declamados, no verão de 1950, numa brilhantíssima récita de artistas amadores e da Orquestra Reguense, dirigida pelo professor José Armindo, em benefício da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Régua.

    Quando aconteceu essa récita, Camilo Guedes Castelo Branco já não era vivo, falecera em 25 de Agosto de 1949, com 81 anos, mas o seu filho Jaime Guedes era, nesse tempo, o presidente da direcção da associação.

    O poeta Camilo Guedes Castelo Branco não fez parte do grupo dos fundadores da Companhia dos Bombeiros Voluntários da Régua, como então se dizia, mas foi pioneiro ao alistar-se aos 17 anos como bombeiro. Conheceu os principais fundadores da Companhia, aprendeu os ensinamentos do combate aos fogos com os três primeiros comandantes e teve formação com o inesquecível Comandante dos Bombeiros do Porto, Guilherme Gomes Fernandes.

    Na Régua do seu tempo, o poeta ficou mais conhecido como comandante dos bombeiros e pelo seu exemplo de dever cívico, mas é injusto não o recordar pelas outras facetas da sua vida, onde se revelou um cidadão empenhado política, social e culturalmente. Deve ser lembrado como um defensor moderado do ideário político republicano no concelho da Régua, onde exerceu as funções de administrador. Este discreto ajudante de notário foi ainda jornalista na imprensa local e dirigiu jornais importantes que se publicaram na Régua, como o jornal O Cinco de Outubro. Publicou apenas um livro, o Fraternais Dolores (1923), e deixou muita poesia dispersa nos jornais. Por editar ficou o livro Arias Sertejanas, mas isso não impediu que Camilo Guedes Castelo Branco fosse reconhecido como poeta “lírico de altíssimo talento”, como disse João de Araújo Correia, que incluiu na sua Lira familiar uma das poesias do nosso comandante. Os seus dotes literários brilharam também como autor de peças de teatro, destacando-se a opereta As Andorinhas, que foi musicada pelo maestro Almeida Saldanha e popularizada dentro e fora da Régua nos palcos do teatro amador.

    Mas vamos ao que interessa, que são aqueles versos dedicados a um bombeiro sem nome e sem rosto. Quem concebeu a ideia de associar os versos do poeta a uma fotografia de um bombeiro com uma criança ao colo, teve como intenção construir uma imagem apelativa ao sentimento, evidenciando o sentido muitas vezes dramático da missão de um bombeiro, que nunca procura A SUA HONRA NEM A SUA GLÓRIA na hora de salvar uma vida em perigo.

    Pela qualidade literária, pela vibração afectiva e pelo sopro de humanidade que dela se desprende, gostava de lembrar e partilhar a poesia “O Bombeiro”, donde foram retirados aqueles versos:  

    “No silêncio da noite, de repente,
    Ergue-se a voz estrídula dos sinos
          num longo baladar
    E à distância brilhou, sinistramente,
    Um clarão, que tingiu a luz do luar
        de laivos purpurinos.
    “Fogo! Fogo!”-alguém diz com aflição.
    E logo a pobre gente do lugar,
    toda cheia de espanto e de canseira,
    Pôs-se a correr, gritando, em direcção
        da medonha fogueira.

    O incêndio crepitava 
    e, batido do vento, devorava
    Uma pequena casa arruinada.
    E, perto, uma mulher d`olhar aflito
    erguia as mãos ao céu calmo e infinito
    a chorar e a gemer desesperada.
    Ali, em meio da fogueira, tinha
    essa mulher um filho, a criancinha 
    mais bonita da velha povoação,
    e o fogo, em seu horrível avançar, 
    iria dentro em breve transformar 
    o seu pequeno corpo num carvão.

    Metia dó a pobre mãe! Mas como
    Salvar-lhe o louro e cândido filhinho,
        se a labareda e o fumo,
    num espantoso e horrível torvelinho,
    ameaçam devorar rapidamente
    quem se abeirar dessa fornalha ingente?

    Podes chorar, mulher! ninguém te acode.
    Chora, que és mãe; mas vê que ninguém pode
    esse anjinho das chamas libertar.
    Olha: em meio da tétrica fogueira
    anda a morte, feroz e traiçoeira,
        a acenar, a acenar…

    Mas nisto, junto ao prédio incendiado
    surge um homem soberbo de valor.
    A multidão ansiosa solta um brado
        de espanto e terror.

    Ele caminha sempre com a firmeza
    e a intrepidez estóica dos heróis;
    escala a casa em chamas com presteza,
    escala a casa em chamas…e depois…
        depois desaparece.
    E a pobre mãe aflita cai de bruços
    A murmurar baixinho, ente soluços,
        Uma prece…

    Na multidão, silêncio. Só se ouvia
    um secreto rumor, que parecia
    o palpitar de muitos corações…

    Senhor! És pai e cheio de bondade!
    estende lá do azul da imensidade
    O teu olhar repleto de perdões!

    E eis que em meio trágico do braseiro
    surge a figura altiva do bombeiro
    Trazendo ao colo o pequeno ser.
    Passou…desceu…e dentro em pouco, ansioso,
    depositava o fardo precioso
    no regaço da pálida mulher.”

    O poeta sabe do que fala; como velho bombeiro que foi, retirado do corpo activo, parece recordar uma história real de um fogo, um que ele próprio combateu com o seu espírito abnegado e corajoso ou um dos muitos em que comandou. São esses heróis sem tempo, sem rosto e sem nome que, para protegerem as nossas vidas e bens, sacrificam, se for preciso, a sua própria vida. O comandante Camilo Guedes Castelo Branco ensinou o seu lema aos seus bombeiros: “Para se salvar uma criatura de uma morte certa, todos temos a obrigação de sacrificar seja o que for, mesmo que sejamos nós próprios”. 

    Os bombeiros são heróis anónimos. Como está visível na poesia, a medalha mais importante é o bem que fazem; são a sua coragem e o seu altruísmo que nos devolvem nos maus momentos a esperança, a alegria e o sorriso de eternamente gratos pela sua existência.
    …………………………………………………………………………………………………………………………
    As minhas recordações da infância estão povoadas com os primeiros bombeiros que vi a combater um fogo que ameaçou destruir uma velha casa nas Caldas do Moledo, lugar onde nasci e dei os meus primeiros passos. Se não fossem esses corajosos bombeiros, as chamas teriam reduzido a cinzas a vida de uma família pobre e os seus míseros haveres. Nunca soube o nome dos bombeiros que apagaram esse fogo, mas eles ficaram-me retidos nas malhas da memória como heróis.
    Mal sabia eu que, muitos anos depois deste fogo, as voltas do destino me pregavam uma partida e faziam-me ser um bombeiro, sem farda nem capacete, pois que fui convidado para assumir a Direcção da Associação, isto é, tomar conta das contas, dos papéis, das mil e uma burocracias que não os podem ocupar para estarem sempre prontos a responder ao toque da sirene. 
    Tive fortes razões para recusar o convite, mas o apelo das minhas memórias de um fogo fizeram com que aceitasse, com honra, um cargo directivo para o qual não sabia se estava preparado, nem se teria competência para estar ao lado de homens que eu admirava e eram os meus heróis. O certo é que tive de aprender com os bombeiros no activo, e, no meio de muitas tormentas, deixei-me ficar na companhia deles. Quando olho para o calendário do tempo, vejo que já passaram cerca de quinze anos a dirigir os nossos bombeiros. Não são muitos os anos a que me dedico com zelo à instituição se os comparar com a sua longevidade já mais que centenária. Confesso que me limitei a dar um pequeno e humilde contributo para a tornar melhor, como fizeram todos os meus antepassados. Aprendi com os bombeiros lições de sacrifício e solidariedade e actos de muita humanidade.

    Por isso, muitas vezes me recordo daqueles versos de Camilo Guedes Castelo Branco impressos numa fotografia eterna que me não deixa esquecer os meus bombeiros, heróis sem nome nem rosto que continuam a apagar o fogo da minha memória, lá nas ruínas do velho Moledo, cumprindo o espírito da sua missão: VIDA POR VIDA.
    - Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013.
    Nota do autor*: Este título fico a dever por inteiro ao Dr. Camilo de Araújo Correia que, em primeira mão, deu origem a uma sua deliciosa crónica, para nos contar histórias dos tempos em que foi Presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros da Régua.
      • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
      OS MEUS BOMBEIROS
      Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 15 de Dezembro de 2011
      (Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)




      Clique  nas imagens para ampliar. Colaboração de texto e imagens do Dr. José Alfredo Almeida e edição de Jaime Luis Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2011. Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

      segunda-feira, 2 de setembro de 2013

      Bem hajam, Bombeiros do Peso da Régua!

      Num dos exemplos vivos de que a idade aperfeiçoa a capacidade de desempenho, a Associação de Bombeiros de Peso da Régua vem, mais uma vez, dignificar os bombeiros portugueses com outra realização de uma utilidade e oportunidade que temos de reconhecer.

      Tendo promovido há pouco um Congresso dos Bombeiros, que trouxe então à discussão temas bem importantes do sector, é agora posto em cima da mesa o futuro dos bombeiros ou, mais especificamente, os desafios para a gestão das Associações de Bombeiros. E são tantos, como se sabe. São os seguros dos bombeiros, é o modelo de financiamento, é tanto mais.

      É importante este tipo de acções. Os bombeiros portugueses precisam de estar cada vez mais preparados, cada vez mais capazes de gerar confiança em si mesmos, mas de merecerem ainda mais a confiança da população que, todavia, os reconhece já como um dos sectores mais respeitados e de maior confiança – 84%. É justo. Mas queríamos merecer ainda mais. E a Associação de Bombeiros de Peso da Régua tem lutado por isso, dá exemplo, é incansável num esforço que, afinal, outro objectivo não tem do que fazer com que os bombeiros sirvam cada vez melhor a população na salvaguarda de vidas e bens.

      Estamos, de facto, num tempo, em que os desafios são cada vez maiores. Sabem disso o ministro da Administração interna Miguel Macedo e o Secretário de Estado Filipe Lobo Ávila, que têm mostrado uma sensibilidade enorme neste domínio, e que desejamos cada vez mais aliados nos esforços precisos e merecidos numa causa que, realmente, não é só dos bombeiros mas de toda a população que servem, isto é, de todo o povo português.

      Os bombeiros, o Governo e a população precisam de facto de estar unidos perante tantas dificuldades, perante riscos que se mostram cada vez maiores e que não podem deixar de ser enfrentados com competência, com eficácia, com dedicação.

      Vamos a isso.

      Bem hajam, Bombeiros do Peso da Régua!
      - Octávio Machado, Presidente da AH Bombeiros de Palmela
      Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2013. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

      sexta-feira, 5 de julho de 2013

      Ser Bombeiro não é quem quer…

      Poderíamos simplesmente dizer, que ser bombeiro é possuir um treino adequado para combater incêndios, resgatar pessoas em situações de perigo ou socorre-las em situações de doença, e ainda para salvar bens materiais. Mas estaríamos a ser redutores, era como se narrássemos apenas parte deste “história”. A “missão” do Bombeiro é nobre.

      Ser Bombeiro não é quem quer, mas quem pode. Ser Bombeiro é todo aquele homem ou mulher, que é capaz de abraçar o mundo com o seu coração. Ser Bombeiro é ter um coração que bate “desesperadamente” por quem o chama, por quem mais precisa de ajuda. Não é por caso que lema dos bombeiros é “vida por vida”.

      Só é capaz de dar a sua própria vida quem ama verdadeiramente o seu próximo. Numa época em que os valores do altruísmo e amor ao próximo parecem escassear, os bombeiros continuam a ter nestes princípios o seu lema de vida.

      Quando era criança, um pouco antes do Natal, por altura do aniversário dos Bombeiros da Régua, era com grande alegria, que via passar junto da minha porta os Bombeiros com as suas bonitas fardas e reluzentes machados. Esse, era um momento mágico para mim. O desfile em parada destes “soldados” marcou decisivamente a forma como vejo estes Homens.

      Aprendi, que este “exército” da paz são homens e mulheres com uma capacidade de entrega sem limites.

      São seres humanos, que passam pela nossa vida sempre de uma forma discreta, mas deixando sempre em cada um de nós uma marca indelével.

      A todos os homens e mulheres, que diariamente se entregam ao serviço de todos nós, dando, caso seja preciso a sua vida, expresso a minha elevada estima e gratidão.
      - António Manuel Almeida, Julho de 2013.

      Clique na imagem para ampliar. Sugestão de texto e imagem do Dr, José Alfredo Almeida (JASA). Foto de Miguel Guedes, Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2013.Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos. 

      quarta-feira, 19 de junho de 2013

      A Bem da Humanidade

      A relação do homem com o fogo remonta a tempos milenares. A sua descoberta pelos nossos antepassados garantiu-lhe a sua e a nossa sobrevivência e assim se abriram caminhos novos para a humanidade. Quando a vida começou no Mundo, o fogo era uma criação divina. Conta a mitologia grega que Prometeu roubou aos deuses o segredo do fogo e o deu ao homem para tornar a vida mais confortável. Por tal atrevimento, Prometeu foi severamente castigado, mas permitiu ao homem libertar-se das trevas.

      O homem bem pode agradecer a ajuda de Prometeu, que lhe possibilitou um horizonte de esperança. Se o seu semelhante primitivo era frio, agressivo e hostil, a nova geração de humanos tornou-se mais afectuosa e com mais tempo para a convivência social, que, com as centelhas do fogo, nele despertam grandes paixões amorosas e românticas. O amor foi a sua espécie de fogo que os nossos ancestrais descobriram e hoje, quando os poetas falam do fogo devorador do amor ou das chamas que ardem sem se ver, não podemos ignorar a importância do fogo na vida humana.  Ao lado do outros elementos -  terra,  ar,   água -   o fogo tornou-se, em certa medida, o   mais poderoso de todos. Ele é, por si só, capaz de originar o mal, de se tornar numa ameaça à segurança e à tranquilidade do homem e até de causar destruição e morte.

      Perante tais ameaças, o homem preveniu-se do fogo indesejado e, para o combater, apareceu o primeiro bombeiro que, diante o medo do seu concidadão, se distinguiu pelo seu espírito abnegado, corajoso e altruísta como um verdadeiro herói anónimo. Por isso, a acção do bombeio passa a atrair também os poetas, que o reconhecem como um símbolo de generosidade, de entrega à causa do bem e ao serviço de ajuda ao próximo. Depois das chamas do fogo dominadas, os poetas descobrem o bombeiro para nos seus versos evocar a gratidão e o reconhecimento. Quando todos fogem, o bombeiro avança e enfrenta sozinhos os medos e  todos os perigos para salvar bens e vidas, mesmo que tenha que morrer. O seu único lema é servir o seu semelhante.

      Lembro-me de uns versos intitulados O Bombeiro que foram  escritos por Camilo Guedes Castelo Branco, um  carismático e respeitado comandante dos bombeiros da Régua, apreciado por quem sabia, ao seu tempo, como um poeta de raro talento. Se quando vestiu a farda vivenciou os dramas e as tragédias que o fogo pode causar, como poeta soube melhor sintetizar a grandeza de um Soldado da Paz: “E eis que em meio trágico do braseiro/surge a figura altiva do bombeiro/Trazendo ao colo o pequeno ser”. Esta é a mais comovente evocação da figura do bombeiro que conheço. Um bombeiro, na sua humanidade, nunca procura nenhum acto heróico para  promover a sua condição nem obter honrarias para a sua pessoa. Em cada sua missão, o bombeiro quer salvar vidas indefesas dos perigos do fogo, mesmo que para tal tenha de sacrificar a sua.

      Já menos conhecidos, lembro-me de outros versos publicados nas páginas do Vida Por Vida, escritos pela D. Maria Elvira Pereira Guedes. Quem conheceu esta reguense na década de 60, e as vivências culturais na pacata vila duriense, tratava-a carinhosamente apenas por Bita. Os versos são dedicados aos Bombeiros da Régua e eles são um espelho da sua devotada admiração aos “bombeiros da velha guarda”, entre os quais o seu tio Comandante Lourencinho, que ela conheceu quando o quartel era uma velha casa, sem condições nenhumas, emprestada pela generosa Margarida Vilela, que até meados dos anos 50 ficava no início da rua dos Camilos, ou, como então se dizia, no Cimo da Régua.Eis os versos da D. Bita que os briosos bombeiros da sua terra lhe inspiraram:

      “Na noite fria e brumosa
      Silvo agudo rasga o ar;
      É a sereia impiedosa
      Que o bombeiro `stá a chamar.
      E o bravo só olha os Céus
      E vai em louca corrida, 
      Sem se despedir dos seus,
      Sem dizer um só adeus, 
      Sem fazer caso da vida…
      Valente Bombeiro!
      És o primeiro
      No bem fazer
      Salvar os amigos
      E inimigos,
      É teu dever
      Soldado da Paz,
      Forte e audaz
      Nobre e leal;
      Tua coragem não tem rival!
      Não há temor, ò guerreiro
      Desse batalhão tão forte!
      Se o dever está primeiro
      Que te importa a própria morte?
      A tua divisa é bela,
      Traduz amor e bondade,
      Ó bombeiro, pensa nela!
      Sabeis vós o que diz ela?
      - “A Bem da Humanidade”!

      Para a bondosa poetisa, a divisa maior dos bombeiros é o bem que prestam à humanidade, a nós, seres frágeis a quem os fogos, em cada momento, podem levar a vida, as florestas e os bens pessoais. Confesso que estes simples versos me encantam. Traduzem a afectividade de alguém que confirma  grandeza à missão do bombeiro que é reconhecida  não pelos  actos heróicos, mas pelo seu serviço ao bem comum.

      Na luta do bombeiro contra o fogo, o bom bombeiro acabou por se tornar num exemplo de cidadania, solidariedade e fraternidade no Mundo egoísta, mais expectante com os avanços das modernas tecnologias do que com a sobrevivência e a felicidade do ser humano no Mundo em que hoje vivemos. Mas creio que ainda são os poetas que atiçam as centelhas de um novo fogo e, assim, iluminam a vida de um homem singular que, para lá dos nossos olhos, faz mais do que apagar fogos! Na verdade, são os bombeiros, heróis sem rosto e sem nome gravados na galeria dos notáveis que, desde a minha infância, povoam os meus sonhos como seres especiais e únicos, que na sua luta abnegada por um inquebrantável ideal, apenas trabalham para o Bem da Humanidade!

      - José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Junho de 2013

      *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras actividades  escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

      Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagem de JASA. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

      quarta-feira, 22 de maio de 2013

      Prémio Bombeiro de Mérito 2012

      Atribuído o Prémio Bombeiro de Mérito 2012

      O bombeiro de 2.ª da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais, Idálio Simão, foi o escolhido pelo Júri do Prémio como Bombeiro de Mérito 2012 por, com risco evidente da própria vida, ter protagonizado e coordenado uma equipa de bombeiros e agentes da PSP que evitou o suicídio de uma mulher do 10º andar de um edifício situado no Bairro do Rosário, em Cascais.

      O Prémio é mais uma vez patrocinado pela Fundação Montepio.

      Idálio Simão, que além de bombeiro voluntário é também agente da Divisão de Cascais da PSP, liderou a força conjugada e abnegada do conjunto de bombeiros e colegas da PSP envolvidos.

      Nas categorias “Menções Honrosas”, coube à Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos receber a distinção destinada a autarquias.
      Na categoria de dirigente associativo o Júri do Prémio elegeu José Alfredo Almeida, presidente da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e antigo presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Vila Real.

      Na categoria de quadro de comando a menção honrosa foi atribuída ao comandante do Corpo de Bombeiros da Associação Humanitária de Águas de Moura e dirigente federativo.

      Manuel Pinto Soares Machado, comandante do Quadro de Honra dos Bombeiros Voluntários de Aveiro – Velhos, e antigo comandante distrital de socorro da ANPC foi o escolhido na categoria personalidade da sociedade portuguesa.

      Na categoria personalidade empresarial ou empresa a escolha recaiu na “Baía do Tejo, S.A.” por tudo o que manifestamente tem dado à Associação Humanitária de Sul e Sueste do Barreiro, Setúbal.
      O Prémio Bombeiro de Mérito 2012 e respectivas menções honrosas serão entregues no próximo dia 26 de Maio, às 10h30, em Fátima (Avenida D. José Alves Correia da Silva – Fátima, frente ao quartel da AHB Fátima), no decorrer das comemorações do Dia do Bombeiro Português.

      Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Maio de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

      quinta-feira, 18 de abril de 2013

      Retalhos da net - OS ENCANTOS DO DOURO

      Há cerca de 2 anos comecei a deslocar-me com regularidade à cidade da Régua, para desenvolver as acções inerentes à organização do Congresso Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, realizado nesta cidade em Outubro de 2011. Nestas deslocações tive oportunidade de descobrir os encantos desta cidade e do Douro.

      Para esta descoberta contribuiu o meu amigo José Alfredo Almeida, na ocasião Presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e da Federação de Bombeiros de Vila Real. Na verdade devo-lhe a ele os vários roteiros que fiz por essas terras de sonho, onde a harmonia do rio Douro com as encostas verdejantes que o ladeiam nos fascina os olhos e ilumina a alma.

      Com frequência recebo fotos da Régua, tiradas pelo José Alfredo com a câmara do seu Telemóvel, em várias horas do dia e em situações climatéricas diferenciadas.

      São fotos, como a que insiro neste texto, que revelam um talento muito particular para a arte da fotografia, uma vez que, com um suporte limitado, o José Alfredo consegue documentar a privilegiada beleza de uma região, que a UNESCO reconheceu como perola universal, ao classifica-la como Património da Humanidade.

      Sinto necessidade de programar umas férias nestes lugares, que me conquistaram de forma singular. Sinto necessidade de me deter em contemplação sobre as imagens que as fotos do José Alfredo me revelam. Sinto necessidade de reviver a emoção que esta região fantástica do nosso país me provoca, pela mensagem de vida que ela representa. Quero lá voltar!
      - Postado por Duarte Caldeira às 09:00 - 18/04/2013 em 'Repórter Caldeira'.
      Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Transcrição do blogue "Repórter Caldeira". Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.