Estão presentes, nesta foto de 17 de Maio de 1964, tirada na vila de Resende, três vultos da história dos bombeiros do Peso da Régua: o Comandante Carlos Cardoso dos Santos, Alfredo Luís Baptista, Noel de Magalhães e Teófilo Clemente, acompanhado do seu jovem filho José Manuel Clemente, que estavam a convite da associação humanitária local para assistirem a uma cerimónia de homenagem aos bombeiros.
Como não podia deixar de ser, do ilustre bombeiro de farda, o Comandante Carlos Cardoso dos Santos já aqui deixamos vários apontamentos da sua vida e dos seus 31 anos de serviço nos bombeiros da Régua.
Quanto aos bombeiros sem farda já se distinguiu Noel de Magalhães. Mas, apenas por falta de oportunidade, nada se disse dos directores Alfredo Luís Teixeira Baptista e Teófilo Clemente.
O primeiro destacou-se nas direcções presididas pelo Dr. Júlio Vilela e o Dr. Camilo de Araújo Correia, sendo o principal responsável pelo acabamento das obras do quartel, cuja construção é de 1931, pela aquisição de novos carros para os incêndios e pelo aparecimento do jornal da associação “Vida por Vida” (publicou-se ente 1956-1974), o qual chegou a dirigir.
Quanto ao segundo foi um grande chefe de material. O melhor que a associação teve nesse sector fundamental para a actividade operacional dos bombeiros. Mas foi um dos grandes beneméritos que teve a associação. Se o velho Buick ainda hoje circula, isso se deve aos cuidados e à generosidade do Senhor Teófilo Clemente. Foi ele que o mandou reparar e lhe deu um motor novo, que fui retirar de um carro da sua firma de transportes. O seu filho José Manuel Clemente, que o acompanhava na sua juventude, é actualmente o sócio mais antigo da associação, sem nunca ter sido director, herdou do seu pai o gosto de ajudar os bombeiros.
Estes dois homens fazem parte de história dos bombeiros da Régua. Os seus nomes são exemplos a apontar como ensinamento de cidadania. Como membros directivos da associação, o empenhamento e dedicação cívica de Alfredo Luís Teixeira Baptista e de Teófilo Clemente teve um reconhecimento, quando a Liga dos Bombeiros Portugueses os distinguiu com a Medalha de Ouro de duas estrela
Desde facto, o jornal “Vida por Vida”, em Novembro de 1964, com o título “Duas Condecorações: uma honra para a nossa Associação”, deu conta do significado destas distinções para estes ilustres cidadãos reguenses nestes termos: “Se certo que estes dois elementos não esconderam o regozijo por tão honrosa distinção, a verdade é que a mesma reveste de elevado sentido para a própria Associação, pois que se o seu nome não fosse um nome que se impõe ao respeito e admiração de todos em geral, certamente que não conquistavam estas duas distinções para dois elementos que há mais de 10 anos têm prestado o seu concurso para uma maior valorização dos bombeiros.”
Estas duas medalhas para estes dois cidadãos são a prova que os bombeiros sem farda têm a sua importância. A eles cabe-lhes o papel de defender os seus interesses do colectivo e zelar pelas melhores condições do cumprimento das missões de socorro de todos aqueles que vestem a farda de bombeiro.
Nos primeiros estatutos da associação, datados de 1880, os associados constituíam-se em quatro classes: honorários, contribuintes, activos e auxiliares. Os activos eram os bombeiros voluntários. Os sócios auxiliares eram os que prestavam auxilio à companhia de incêndios. Os sócios honorários eram aqueles que pela sua posição social ou pelos serviços prestados lhe foi conferida essa honra. Os restantes associados pertenciam à classe aos sócios contribuintes, ou seja, todos aqueles que não vestem farda. Teve a sorte esta associação de nessa classe se inscrever a famosa viticultura do Douro, a bondosa D. Antónia Adelaide Ferreira, a nossa ilustre Ferreirinha.
Como associados, os bombeiros sem farda são todos aqueles que exercem cargos sociais nos órgãos da instituição: na Assembleia-geral, no Conselho Fiscal e na Direcção. Enfim, são outro tipo de voluntários que se preocupam mais com as contas da casa, a sua gestão corrente e o seu funcionamento no dia a dia. Eles são responsáveis por toda a dinamização institucional, por vezes, com muitos obstáculos, por vezes com polémicas, outras vezes com brilhantismo, mas estes directores constituem um pilar do associativismo.
Em 1980, na revista comemorativa do 100º aniversário da Associação, o Dr. Camilo de Araújo Correia, na crónica “Uma volta cá por dentro”, contou-nos com o seu sentido de ironia, o papel de um “bombeiro de escritório”, que ele próprio desempenhou com brilhantismo, na qualidade de Presidente de Direcção, desta enternecedora maneira:
“Relacionam-se com os nossos bombeiros as memórias dos meus primeiros raciocínios.
Estivesse onde estivesse, a brincar, a comer ou a dormir, logo acorria ao ruído marcial da sua passagem.
Toda a gente me dizia que os bombeiros, mal tocavam a fogo os sinos do Peso e do Cruzeiro, acorriam, sem demora, à casa que estivesse a arder. Mas…como podiam correr, assim, em duas fileiras e com aquele passo? O que mais me intrigava era a limpeza das fardas. É que eu, com duas voltas no quintal, sem apagar fogo nenhum, ficava logo com o bibe a merecer umas surras da minha mãe.
Receio bem que o meu desejo de ser bombeiro não tenha sido tão puro como o de todas as crianças do mundo. Lembro-me perfeitamente de quando me apeteceu ser bombeiro. Foi logo a seguir a um grande ataque de inveja. È melhor contar tudo inteirinho…
É certo que neste mundo é que elas se pagam…Deus, na sua infinita ironia, acabou por me fazer bombeiro, cerca de trinta depois do meu ataque de inveja. Vim a ser Presidente da Direcção por entusiasmo e crédito de um punhado de amigos. Não pensaram na minha desesperada falta de tempo…Tive de abandonar com o dedo imperioso da profissão espetada nas costas.
Tudo acabaria muito bem, se ficasse por aqui. Mas é que eu viria a ter, anos depois, a sobrinha mais travessa que Deus ao mundo deitou!...
Um dia, num chá de certa cerimónia e sem vir a propósito, saiu-se com esta:
- O meu tio já foi bombeiro, mas teve de sair porque não apagava nada!
Os risinhos das senhoras, mal disfarçados, atravessaram-me como alfinetes….
De cada vez que me pregava esta partida, tentava fazer-lhe compreender que o meu papel de Director não era ir aos incêndios, nem apagar fosse o que fosse, por mais que as coisas ardessem à minha volta. Em vão procurei convencê-la de que os bombeiros também têm escritório com secretárias cheias de papéis…
De cara fechada e olhos trocistas dizia sempre:
-Sim…sim…
Paguei bem paga a inveja que me fez o capacete e a machadinha daquele bombeiro de palmo e meio aos ombros de um homenzarrão, numa tarde de calor e de tourada.”
O Dr. Camilo de Araújo Correia foi um dos melhores bombeiros de escritório. Por pouco tempo é certo, como ele o confessa, pelos muitos afazeres de médico anestesista. Mas exerceu essa função com grande paixão de bem servir. Como Presidente da Direcção conheceu e conviveu de perto com muitos bombeiros. Ao lado deles sorriu e deu muitas gargalhadas pelas divertidas peripécias de alguns, como as presenciou na vida do bombeiro Justino, que andará com ele pelos caminhos da Eternidade a inspirar-lhe mais deliciosas histórias, que nos cativem com seu sentido de ironia e de humor fino.
Como no seu tempo……ainda hoje os bombeiros da Régua têm escritório com secretárias cheias de papéis. E, têm umas sobrinhas ainda mais travessas para nos fazerem sorrir da vida. Felizmente que é assim…
Como não podia deixar de ser, do ilustre bombeiro de farda, o Comandante Carlos Cardoso dos Santos já aqui deixamos vários apontamentos da sua vida e dos seus 31 anos de serviço nos bombeiros da Régua.
Quanto aos bombeiros sem farda já se distinguiu Noel de Magalhães. Mas, apenas por falta de oportunidade, nada se disse dos directores Alfredo Luís Teixeira Baptista e Teófilo Clemente.
O primeiro destacou-se nas direcções presididas pelo Dr. Júlio Vilela e o Dr. Camilo de Araújo Correia, sendo o principal responsável pelo acabamento das obras do quartel, cuja construção é de 1931, pela aquisição de novos carros para os incêndios e pelo aparecimento do jornal da associação “Vida por Vida” (publicou-se ente 1956-1974), o qual chegou a dirigir.
Quanto ao segundo foi um grande chefe de material. O melhor que a associação teve nesse sector fundamental para a actividade operacional dos bombeiros. Mas foi um dos grandes beneméritos que teve a associação. Se o velho Buick ainda hoje circula, isso se deve aos cuidados e à generosidade do Senhor Teófilo Clemente. Foi ele que o mandou reparar e lhe deu um motor novo, que fui retirar de um carro da sua firma de transportes. O seu filho José Manuel Clemente, que o acompanhava na sua juventude, é actualmente o sócio mais antigo da associação, sem nunca ter sido director, herdou do seu pai o gosto de ajudar os bombeiros.
Estes dois homens fazem parte de história dos bombeiros da Régua. Os seus nomes são exemplos a apontar como ensinamento de cidadania. Como membros directivos da associação, o empenhamento e dedicação cívica de Alfredo Luís Teixeira Baptista e de Teófilo Clemente teve um reconhecimento, quando a Liga dos Bombeiros Portugueses os distinguiu com a Medalha de Ouro de duas estrela
Desde facto, o jornal “Vida por Vida”, em Novembro de 1964, com o título “Duas Condecorações: uma honra para a nossa Associação”, deu conta do significado destas distinções para estes ilustres cidadãos reguenses nestes termos: “Se certo que estes dois elementos não esconderam o regozijo por tão honrosa distinção, a verdade é que a mesma reveste de elevado sentido para a própria Associação, pois que se o seu nome não fosse um nome que se impõe ao respeito e admiração de todos em geral, certamente que não conquistavam estas duas distinções para dois elementos que há mais de 10 anos têm prestado o seu concurso para uma maior valorização dos bombeiros.”
Estas duas medalhas para estes dois cidadãos são a prova que os bombeiros sem farda têm a sua importância. A eles cabe-lhes o papel de defender os seus interesses do colectivo e zelar pelas melhores condições do cumprimento das missões de socorro de todos aqueles que vestem a farda de bombeiro.
Nos primeiros estatutos da associação, datados de 1880, os associados constituíam-se em quatro classes: honorários, contribuintes, activos e auxiliares. Os activos eram os bombeiros voluntários. Os sócios auxiliares eram os que prestavam auxilio à companhia de incêndios. Os sócios honorários eram aqueles que pela sua posição social ou pelos serviços prestados lhe foi conferida essa honra. Os restantes associados pertenciam à classe aos sócios contribuintes, ou seja, todos aqueles que não vestem farda. Teve a sorte esta associação de nessa classe se inscrever a famosa viticultura do Douro, a bondosa D. Antónia Adelaide Ferreira, a nossa ilustre Ferreirinha.
Como associados, os bombeiros sem farda são todos aqueles que exercem cargos sociais nos órgãos da instituição: na Assembleia-geral, no Conselho Fiscal e na Direcção. Enfim, são outro tipo de voluntários que se preocupam mais com as contas da casa, a sua gestão corrente e o seu funcionamento no dia a dia. Eles são responsáveis por toda a dinamização institucional, por vezes, com muitos obstáculos, por vezes com polémicas, outras vezes com brilhantismo, mas estes directores constituem um pilar do associativismo.
Em 1980, na revista comemorativa do 100º aniversário da Associação, o Dr. Camilo de Araújo Correia, na crónica “Uma volta cá por dentro”, contou-nos com o seu sentido de ironia, o papel de um “bombeiro de escritório”, que ele próprio desempenhou com brilhantismo, na qualidade de Presidente de Direcção, desta enternecedora maneira:
“Relacionam-se com os nossos bombeiros as memórias dos meus primeiros raciocínios.
Estivesse onde estivesse, a brincar, a comer ou a dormir, logo acorria ao ruído marcial da sua passagem.
Toda a gente me dizia que os bombeiros, mal tocavam a fogo os sinos do Peso e do Cruzeiro, acorriam, sem demora, à casa que estivesse a arder. Mas…como podiam correr, assim, em duas fileiras e com aquele passo? O que mais me intrigava era a limpeza das fardas. É que eu, com duas voltas no quintal, sem apagar fogo nenhum, ficava logo com o bibe a merecer umas surras da minha mãe.
Receio bem que o meu desejo de ser bombeiro não tenha sido tão puro como o de todas as crianças do mundo. Lembro-me perfeitamente de quando me apeteceu ser bombeiro. Foi logo a seguir a um grande ataque de inveja. È melhor contar tudo inteirinho…
É certo que neste mundo é que elas se pagam…Deus, na sua infinita ironia, acabou por me fazer bombeiro, cerca de trinta depois do meu ataque de inveja. Vim a ser Presidente da Direcção por entusiasmo e crédito de um punhado de amigos. Não pensaram na minha desesperada falta de tempo…Tive de abandonar com o dedo imperioso da profissão espetada nas costas.
Tudo acabaria muito bem, se ficasse por aqui. Mas é que eu viria a ter, anos depois, a sobrinha mais travessa que Deus ao mundo deitou!...
Um dia, num chá de certa cerimónia e sem vir a propósito, saiu-se com esta:
- O meu tio já foi bombeiro, mas teve de sair porque não apagava nada!
Os risinhos das senhoras, mal disfarçados, atravessaram-me como alfinetes….
De cada vez que me pregava esta partida, tentava fazer-lhe compreender que o meu papel de Director não era ir aos incêndios, nem apagar fosse o que fosse, por mais que as coisas ardessem à minha volta. Em vão procurei convencê-la de que os bombeiros também têm escritório com secretárias cheias de papéis…
De cara fechada e olhos trocistas dizia sempre:
-Sim…sim…
Paguei bem paga a inveja que me fez o capacete e a machadinha daquele bombeiro de palmo e meio aos ombros de um homenzarrão, numa tarde de calor e de tourada.”
O Dr. Camilo de Araújo Correia foi um dos melhores bombeiros de escritório. Por pouco tempo é certo, como ele o confessa, pelos muitos afazeres de médico anestesista. Mas exerceu essa função com grande paixão de bem servir. Como Presidente da Direcção conheceu e conviveu de perto com muitos bombeiros. Ao lado deles sorriu e deu muitas gargalhadas pelas divertidas peripécias de alguns, como as presenciou na vida do bombeiro Justino, que andará com ele pelos caminhos da Eternidade a inspirar-lhe mais deliciosas histórias, que nos cativem com seu sentido de ironia e de humor fino.
Como no seu tempo……ainda hoje os bombeiros da Régua têm escritório com secretárias cheias de papéis. E, têm umas sobrinhas ainda mais travessas para nos fazerem sorrir da vida. Felizmente que é assim…
- Peso da Régua, Junho de 2009, José Alfredo Almeida.
- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:
- Bombeiros Semi-Deuses - Aqui!
- As "madrinhas" dos Bombeiros - Aqui!
- A benção da Bandeira - Aqui!
- Comandante Lourenço de Almeida Pinto Medeiros: Fidalgo e Cavaleiro dos Bombeiros da Régua - Aqui!
- A força do voluntariado nos Bombeiros - Aqui!
- A visita do Presidente da Républica Américo Tomás - Aqui!
- Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
- O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
- 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
- Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
- Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
- Os bombeiros no velho Cais Fluvial - Aqui!
- O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
- A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
- Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
- A Tragédia de Riobom - Aqui!
- Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
- A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
- A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
- O Baptismo do Marçal - Aqui!
- Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
- Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
- Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
- Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
- Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!
Link's:
2 comentários:
UM BOM TEXTO.
Estes sãos apenas alguns dos heróis dos bombeiros da Régua.É curioso saber que o Zé Manuel Clemente é hoje o sócio mais antigo da Associação.Está a merecer um reconhecimento público pela instituição.Seria bonito que isso acontecesse e lembrassem o nome deste homem generoso como seu pai.
E uma grande crónica do saudoso Dr. Camilo de Araújo Correia que o autor bem soube destacar no trabalho, ele é um grande reguense que merece nosso respeito e muita admiração.
Com amizade a todos os bombeiros da Régua.Sejam ou não com farda.
Isabel Coutinho
Um obrigado por complementar a informação referindo figuras distintas dos Bombeiros e do Douro/Régua e por seu carinho pelos mesmos.
Enviar um comentário