segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Não Matem a Esperança de M. Nogueira Borges - Capítulo 1

MÃE: ESTE LIVRO FOI ESCRITO COM LÁGRIMAS, VERDADE E AMOR, NAS TUAS MÃOS O COLOCO.

I
Estirou-se na cama. Cansado, chatiado, triste, muito triste, mais triste que o dia cheio de chuva lá fora.

João era um tipo esquisito. Mesmo antes de ir para África usar arma e camuflado. Sempre fora um idealista. Trincava silêncios poéticos, gemia projectos políticos proibidos, juntava-se a um ou outro da sua condição – até ao momento de ser traído – e conversava longamente, dando murros nas paredes, atirando as pedras dos gritos recalcados. As outras pessoas metiam-lhe nojo. Detestava-lhes a rotina dos gestos e dos actos, a hipocrisia dos fingimentos, o egoísmo de quem quer submeter os outros à sua maneira de viver, ao seu comodismo, à sua falsidade. Achava que elas não viviam. Mentiam. Mas não podia dizer nada, esboçar um protesto. Tinha que calar. As pessoas estavam velhas, preconceituadas, atrasadas em tudo, mas acima de tudo, na cultura e no intelecto. Não sabiam raciocinar ou raciocinavam só para eles, acarretando-lhes a inimizade natural de quem não está para os aturar. Mas calar porquê? Cobardemente? Mas ele não existia só no mundo dos seres humanos. Tinha família e ter família, na maioria dos casos, é um aborrecimento porque uma pessoa tem que se atraiçoar. Refugiava-se dentro da sua concha, como o caracol quando lhe tocam. Vinha para o seu quarto. Um quarto alugado ao mês. Um quarto de uma pessoa única: ele. Ele dentro de quatro paredes frias, sem vida, sem revolta, sem dizerem nada. Fumava. Contava o dinheiro. Fazia contas. Quanto poderia gastar amanhã? E depois? Não lhe chegava? Fazia ginástica. Olhava o tecto, olhava o nada.

João pensava:«Isto é um problema. Um tipo quer trabalhar, ganhar algum para cigarros, fazer alguma coisa de jeito e mandam-lhe um pontapé no traseiro. Anda um tipo dois anos lá fora, estudos parados, a criar vícios e outros hábitos, a aturar este e aquele que nunca viu de lado nenhum e chega vendo tudo ao contrário do que sonhara. As palavras são bonitas e sentimentais. São, são. O pior é o resto. As cartas que se escrevem não têm rosto. Por isso é que as palavras são tão bonitas e sentimentais. Às vezes até dá vontade de voltar para lá. Beber água do coco e comer mandioca como o negro e amendoim como o macaco. Arranjar machamba e derreter os ossos no seu amanho. Deixar-se andar até as pessoas dizerem que um homem está «apanhado pelo clima». E há quem se safe. Vêm cá fazer de ricos. Depois voltam mais uns tempos. Vêm de novo e zás. E regressam. Acabam por lá. O calor obriga à cerveja e ao uísque. As barrigas medram. Pode-se ter um, dois, vinte criados. Sem receio de grandes despesas pois a mão de obra é barata. Há praia todo o ano. Anda-se à vontade, em mangas de camisa, e até de tronco nu, mas com calções se não era uma vergonha. O marisco é barato e acompanha-se com álcool gelado. Há sempre festas e festinhas para se encher a pança, em que o burguês mostra que é mais burguês que o outro, em que se dança com as esposas dos outros dentro do maior companheirismo e seriedade. Mas também se trabalha, lá isso é verdade. Mas aquilo é porreiro. «Sim senhor, Patrão!». Eu se fosse para lá só o mato me interessava. O mato metido lá bem para dentro, onde não me cheirasse aos bifes e aos cosméticos das cidades. Viver com a natureza selvagem. Aprender os dialectos. Construía uma palhota, abraçada a um imbondeiro, casava-me com uma negra (se ela quisesse ir à igreja até nem me importava nada) e devia ser giro eu ter filhos chocolates. Abastecia-me no cantineiro mais próximo e que não me enganasse muito, comprava uma ginga, um portátil, e, nas tardes em que não me apetecesse dormir a sesta, escreveria o meu livro de sucesso, intitulado, por exemplo, «Vai para o mato malandro» ou então «A comodidade selvática». Claro, teria que arranjar uma lavra de qualquer coisa para fazer tudo isso e os filhos não andassem de barrigas inchadas. Mas seria bom. Só queria que os negros não me elegessem chefe, nem por Sufrágio Universal. Se o fizessem mudava de sítio.».

Puxou de um cigarro. Olhou o relógio. O próximo só poderia ser fumado daí a quarenta e cinco minutos.

«Mas porque será que não arranjo um emprego compatível? Claro que não vou servir burgueses nos Restaurantes ou nos Cafés, nem atender clientes a quem tem sempre de se dar razão, mesmo quando não a tenham. Trabalhar seis horas por dia e ganhar dois mil escudos por mês! Isso quase que ganha um empregado qualquer, numa semana, em um daqueles países em que até as greves acontessem. E mais: no fim de um ano, se não servisse, ia para a rua! Bonito, sim senhor. E ainda estão os estudos que tenho que prosseguir para amanhã não andar a pedir esmolas. E se eu fosse para o estrangeiro? Lavar pratos, limpar retretes, cortar as ervas dos jardins, cuidar das crianças dos ricos? Nos intervalos tiraria um curso de línguas e pintaria quadros para expôr às portas dos teatros. Juntar-me-ia a uma sueca ou francesa ou a uma qualquer liberal e faríamos amor no palheiro mais próximo duma quinta abandonada. Seria engraçado até ao dia em que um de nós se saturasse e dissesse: «Good bye». Não. Quero ser mais do que isso.».

Foi à janela. Parara de chover. As ruas estavam semilavadas e os automóveis desciam com cuidado. Um polícia, arrogante e espectacular, comandava o trânsito, no fundo.

«Como as pessoas correm, esquivando-se aos encontrões. Sem ordem, sem método. À balda, sem definição. Dir-se-ia que um frio e calculista cérebro electrónico as move, gozando a seu belo prazer o efeito que resulta de as ter lançado na confusão. Para que fim correrá esta gente? Terão algum objectivo? A angústia de perder os tostões com que se vestem e se alimentam, com que vão aos domingos ver o futebol e possam preencher o totobola. A esperança de que um dia seja melhor. E oxalá que sim. O que é preciso é que não matem a esperança, embora muita gente diga que já morreu no determinismo dum contexto social apócrifo. Mas é necessário continuar a acreditar. A minha fé é esta. Não uma fé pagã. É uma fé lúcida mesmo que, por vezes, se fundamente na ilusão como todas as fés. Só queria saber os pensamentos daquele barbeiro velhote que passa as manhãs à porta da barbearia conservadora, onde nem há sequer um secador de cabelo, fazendo uma barba de quando em vez, lendo a página de desporto do jornal. Que é que ele espera? A morte? Mas isso todos esperamos. A morte ceifa tudo. Até as fragas do silêncio das serras se desfazem na morte dos tempos, do vento e da chuva. E aquele arrumador, vesgo que se farta, que torce a boca quando fala e tem sempre uma perisca na orelha? E aquela mulher feia, com varizes nas pernas, que vende pentes, lapiseiras e preventivos para furtar homens às guerras? A vida é uma maçadoria. As gentes arrastam-se. Arrastam-se como o combatente na selva sempre à espera que um tiro lhe rebente os miolos e diga adeus, por uma vez, a todas as cavalgaduras que inventaram as guerras. Mas, afinal, tudo isto é uma guerra. E as cidades são a selva. Uma selva mais civilizada (se o termo é correcto), talvez, mas, por isso mesmo, mais perigosa. A selva da sociedade com bichos de variada espécie que roncam de modos estranhos e não se fazem rogados para morder um qualquer, achincalhar a sua dignidade, matar o seu pensamento, a sua liberdade. Porra!, o sacrifício que um tipo passa para os aturar. Quando há vontade de os mandar ter com as mães – que, ao fim e ao cabo e bem vistas as coisas, não têm culpa de parir tais bestas – e não se pode? E assim se anda...».

O telefone tocou.

- Tou. Olá pá! Diz lá. O quê? Bolas, estou farto disso, pá! Aparece amanhã e depois conversamos. O telefone é pouco próprio, pá. Adeus.

«Este anda iludido coitado. Julga que está no mar da tranquilidade. Lê de manhã à noite e vai a caminho da maluqueira. Ignora que esta porcaria não se explica – consome-se. Ou se vive assim ou então dá-se um tiro na cabeça. Sei lá se é solução. Ainda não pensei nisso a sério.».

Fechou o rádio, mal uma voz começou a fazer propaganda facciosa. Deu um murro na cabeceira da cama. Sorriu. Tirou o sapato direito e atirou-o ao candeeiro. Nenhuma lâmpada se partiu. Aquele ficou só a marcar segundos como o pêndulo de um relógio de sala, daqueles que assinalam os quartos, as meias e as horas com um fadinho monótono e sonolento. Foi buscar o sapato. Enfiou-lhe metade do pé e lançou-o ao tecto. Foi buscar outra vez o sapato e riu-se. Mirou-se ao espelho e disse: «Estás cada vez mais na mesma. Tens montes de estupidez.». Sentou-se junto da máquina de escrever e acabou o poema que há quinze dias aguardava desfecho com os seguintes versos: «Sorri e fala enquanto és criança / Quando fizeres a barba e usares calças compridas a sociedade calar-te-á.». E ficou satisfeito. Pareceu-lhe viril, duma virilidade triste e irremediável, aquele final. Olhou o relógio: Ainda não podia fumar.

«Apetecia-me nadar. Flutuar nas ondas cansadas duma cansada praia africana onde até o amor é cansado. Caramba!, aqueles noites de calor quando um tipo ia para a baía e, todo nú, com a lua envergonhada a ver tal descaramento, se enfiava por ali fora e deixava que a água salgada entrasse para os ouvidos e a sensação doce e gritante de possuir, naqueles instantes, a liberdade no corpo. Correr depois pela praia aos saltos, aos berros de «aioé», e rir, rir alto para as estrelas, sem nada no corpo, sem nada nos dedos da noite, ouvir as palmeiras a chorar a solidão, o tam-tam do batuque, lá ao longe, no meio do mato, festejando rituais de principiantes, corpos de cores diferentes rebolando-se na areia com risos sufocados pelos prazeres da carne, prazeres adquiridos pelo dinheiro. Noites de descontrole natural pelos ambientes dia-a-dia ruminados, noites de lágrimas em que, olhando-se o longínquo das águas, se lembravam os nossos e se gemia: «Mãe, diz a ela que me espere com uma esperança igual à tua!”. E aquela vez em que me deixei cair e esgadanhei a areia até os dedos serem derrotados e gritei: «Não! Mil vezes não!» Mas que lucrei? Quem me ouviu? O nada sem voz, o silêncio das coisas mortas. E agora? Agora que já só cumprimento quem me apetece, sem ser por obrigação? Que vou fazer? Andar por aí a cuspir palavras, salivar complexos, continuar sendo escravo desta miserável sociedade que me persegue e me quer destruir, sorrir quando a minha vontade era dar murros, acenar-que-sim para poder continuar a sentar-me a uma mesa, sujando-me na incoerência por necessidade, masturbando porcamente os meus princípios, ouvir palavras de fingida comiseração? Pois sim. Acordar todas as manhãs num quarto escuro dum terceiro andar, com a chuva a castigar as vidraças, o movimento dos carros, acelerando, travando, apitando, roncando e as pessoas, de umbelas, fugindo ao choque, dançando o tango pluvial, e eu, cá em cima, sentindo o vazio à minha volta, uma indiferença tão fria como a da máquina de escrever sobre a mesa, um hábito de vida sempre igual em que nada de novo sucede nem um exaltado a oferecer pancada.».

João espirra. Tosse. Escarra no penico. Assoa-se. Abre um livro. Começa a ler. Fuma o cigarro que passaram os quarenta e cinco minutos. Levanta-se para ir buscar o lápis vermelho. Sorri e sublinha: «É mais fácil organizar e dirigir uma sociedade de escravos do que uma sociedade de homens livres.».

João poisa o livro na mesinha. Vira-se para o outro lado e adormece com o seu sonho de esperança, enquanto a chuva recomeça e se faz amor, comprado ou grátis, na cidade-selva.
- Continua.
  • MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES NASCEU EM SÃO JOÃO DE LOBRIGOS, SANTA MARTA DE PENAGUIÃO, EM 1943. É ALUNO DA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. CUMPRIU SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO, COMO ALFERES MILICIANO, NA PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE. COLABOROU EM VÁRIOS JORNAIS: INICIAL, GAZETA DE COIMBRA, DIÁRIO DE LISBOA – JUVENIL, MIRADOURO, NOTÍCIAS DO DOURO, REPÚBLICA-JUVENIL, DIÁRIO (DE LOURENÇO MARQUES), VOZ DA ZAMBÉZIA. NÃO MATEM A ESPERANÇA É O SEU PRIMEIRO LIVRO ESCRITO EM 1970.
«NINGUÉM CONSEGUIRÁ BARRAR O CAMINHO DA VERDADE, E ESTOU PRONTO A MORRER PARA QUE ELA AVANCE.» (SOLJENITSYNE)

«SEJAMOS POIS IMPOPULARES, NO MUNDO DE HOJE, ESSA É A FORMA ÚNICA DE NOS SABERMOS HIPOTÉTICAMENTE CERTOS.» (NELSON DE MATOS)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As palavras de Camilo de Araújo Correia



Quando encontrei esta fotografia do Dr. Camilo de Araújo Correia (1925-2007) - médico, escritor e antigo presidente da direcção dos bombeiros da Régua - perdida das folhas do seu álbum, fora do seu sítio devido e do seu tempo, amontoada com outras que descoravam num velho armário cheio de poeira, tive necessidade de refazer o seu passado e escrever-lhe a sua história.

Sem nada mais saber, comecei por arrumá-la no seu tempo e enquadra-la no seu espaço. De imediato procedi, como se faz nas investigações, à identificação das pessoas que escutavam as palavras de Camilo de Araújo Correia. Encontravam-se na sua mesa presentes pessoas conhecidas no meio da sociedade reguense e dos bombeiros, a começar pelo Eng. Álvaro Mota, presidente da câmara da Régua, Dr. Aires Querubim Governador Civil de Vila Real, Rodrigo Félix, presidente da direcção Federação dos Bombeiros de Vila Real, Guedes de Moura, Inspector Regional dos Bombeiros do Norte e o Comandante Carlos Cardoso dos Santos (1922-2007).

Para começar a sua história, faltava apenas saber o que faziam aquelas pessoas em volta de uma mesa, num dos salões do quartel dos bombeiros da Régua. Pouco me ajudaram as buscas nos meus arquivos. Acreditei na sorte de encontrar publicadas as palavras que Camilo de Araújo Correia lia nesse momento, socorrendo-se da ajuda de um papelinho, a sua prótese da memória, como lhe gostava chamar.

Não satisfeito pelos resultados demorei-me em mais pesquisas na esperança de reencontrar as memórias que pudessem reconstituir esse momento. Os velhos jornais “O Arrais” da época não divulgaram qualquer notícia do acontecimento fotogrado. Ainda pensei que me pudessem valer as lembranças de pessoas amigas, mas não deram mais informações. Contudo, ao reler o opúsculo dedicado ao Comandante Carlos Cardoso dos Santos, da autoria do Manuel Igreja, fui surpreendido pelo relato alusivo ao momento histórico que fotografia documentava e pela transcrição das palavras lidas nessa cerimónia por Camilo de Araújo Correia.



Como estes novos elementos, podia dizer que tinha desvendado o passado esquecido que a fotografia, só por si, não podia revelar. A agradável leitura do discurso de homenagem de Camilo de Araújo Correia, se é assim que lhe posso chamar, deu-me os pormenores que interessavam m para concluir as memórias perdidas e esquecidas nas cores da fotografia. Essa deliciosa crónica – posso a entender como tal - tinha sido escrita para a homenagem ao amigo Carlos Cardoso dos Santos, pelos 31 anos de brilhante e abnegado desempenho ao comando dos bombeiros da Régua. Uma homenagem que, como ele sublinhou, nunca poderia faltar.

Marcada para o dia 3 de Março de 1990, a homenagem ao Comandante Carlos Cardoso dos Santos teve o significado de reconhecimento ao cidadão reguense que, por vontade própria, deixava o seu lugar no comandado dos bombeiros da Régua. O modesto programa abriu com uma sessão solene no salão nobre dos Paços dos Concelho, onde não faltaram os bombeiros, os grandes amigos e as entidades oficiais. Mas, o momento mais emocionante para todos, foi quando o velho comandante passou a última revista aos bombeiros, formados na entrada principal do quartel. Nesse adeus ao comandante, conta-se que viram lágrimas de tristeza nos rostos dos bombeiros.

Depois de servido o almoço de confraternização, coube ao Dr. Camilo de Araújo Correia fazer, e muito bem, o papel de orador principal, para distinguir a brilhante acção humanitária do homenageado. Como seu velho amigo conhecia-lhe o seu carácter e a sua personalidade. Mantinham laços de amizade desde o tempo, em que fora médico no hospital e mais tarde presidente da direcção dos bombeiros. Pelo que só podia sair-lhe do coração, o maior e melhor elogio de gratidão que era merecedor o Comandante Carlos Cardoso dos Santos, que aqui transcrevemos:



“Estivesse onde estivesse, a fazer fosse o que fosse, eu viria a esta homenagem ao senhor Carlos Cardoso dos Santos, pelos seus 31 anos de brilhante e abnegado comando dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.

E viria, vencendo distâncias e afazeres, porque não sou apenas um reguense devoto dos seus bombeiros e grato a quem, ao longo de tantos anos, os disciplinou e dirigiu nos tempos difíceis caminhos da protecção e salvação do próximo. E nós sabemos que essa dificuldade pode ir do sacrifício familiar ao sacrifício da própria vida. Viria porque também sou um velho amigo e um inabalável admirador do forte temperamento altruísta do senhor Carlos Cardoso dos Santos.

Se admitirmos que uma pessoa volta a nascer, quando começa a trabalhar, exercendo a sua profissão que escolheu, pode dizer que sou natural do Hospital D. Luiz I e amigo do senhor Carlos Cardoso dos Santos, desde que nasci…  (…)



E foi com todo esse altruísmo, amadorismo e capacidade de relação, largamente exercidos no Hospital D. Luiz I, que o senhor Carlos Cardoso dos Santos apareceu nos Bombeiros Voluntários da Régua. Não admira, pois, que os 31 anos do seu comando tenham sido de negável eficácia e brilhantismo. E é por isso que aqui estamos com o ruído dos nossos aplausos e o silêncio da nossa gratidão.

O calor do meu brinde não ficara completamente explicado se não lhe dissesse que passei pela Direcção dos Bombeiros da Régua, ao que julgo, por influência ou, pelo menos, franca concordância do senhor Carlos Cardoso dos Santos. Mal chegado de uma penosa mobilização em Moçambique, pode dizer-se que foi uma partidinha dos meus amigos. Uma simpática e honrosa partidinha, devo confessar.

Peço licença para que o meu brinde seja extensivo à esposa do senhor Carlos Cardoso dos Santos e às esposas de todos os bombeiros. No peito de todas a sirene só deixa de tocar, quando o marido regressa a casa molhado, cansado…mas feliz”.

As palavras de Camilo de Araújo Correia, sejam elas no estilo de um discurso de homenagem ou de uma sua elegante crónica, como mais preferirem, deixa qualquer um de nós ainda comovido pela ternura dos sentimentos e do brinde feito ao velho comandante que, acredito tenha sido celebrado com vinho fino! Como são merecedores os grandes homens que viveram para fazer a paz e o bem. Elas são como que o retrato do comandante de corpo inteiro e fardado a rigor, para sempre. E, ao mesmo tempo, guardam um sentimento de admiração que ficou do primeiro dia em que se conheceram…no velho hospital da Régua, ainda instalado no Solar dos Lemos e ao cuidado da Santa Casa da Misericórdia.

Para muitos, se calhar, esta foi a primeira oportunidade de recordarem este grande comandante e mais um discurso inesquecível de Camilo de Araújo Correia e entenderem o testemunho dos seus ideais com nitidez e mais paixão. Mas, para quem sempre os admirou, este momento permitiu um reencontro destes dois grandes homens na história dos bombeiros da Régua.


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Com eles já na Eternidade, cada um de nós deve agora olha-lhos como símbolos de fraternidade e reconhecer-lhe gratidão.
- Peso da Régua, Outubro de 2009, J. A. Almeida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O patrão Álvaro: coragem e valentia


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Ao lado do velho pronto – socorro Ford, o patrão Álvaro Rodrigues da Silva olha-nos com a nostalgia de um velho herói que a Câmara Municipal do Peso da Régua agraciou com a Medalha de Ouro (de valor e altruísmo), durante as cerimónias solenes das Bodas de Ouro da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua – os primeiros 50 anos de existência – celebradas em 30 de Novembro de 1930.

Nascido na Régua em 17 de Julho de 1873, o Álvaro Rodrigues da Silva foi um dos melhores bombeiros. Talvez de sempre. Conviveu com muitos bombeiros da velha que, é como quem diz, com os homens que criaram a corporação. Entrou muito jovem no corpo de bombeiros e, durante muito anos, serviu-o devotamente. Ser bombeiro era uma das suas paixões. Por mérito pessoal atingiu o posto de patrão, que hoje corresponde ao de chefe. Os companheiros apreciavam o seu talento para a chefia e elogiavam-no por ser um poço de valentia - um bombeiro destemido - e muito competente.

Considerado um cidadão simples e honrado, fez toda a sua vida a trabalhar como serralheiro, numa oficina que tinha montada no rés-do-chão de uma casa, a meio da Rua General Alves Pedrosa, hoje conhecida como Rua da Alegria. Faleceu em 12 de Fevereiro de 1952, com a idade de 78 anos, reconhecido meio social reguense como um homem que, ao serviço dos bombeiros, se tornou um dos seus primeiros heróis.

Foi o herói que, em 1930, o presidente da câmara Dr. Mário Bernardes Pereira quis homenagear. O edil, ao lado da distinta benemérita D. Branca Martinho, escolhida para presidir ao acto, e da população que enchia o Salão Nobre dos Paços do Concelho, num eloquente discurso reconheceu que o patrão Álvaro, num justo somatório de brilhantes valores individuais, destacava-se pelo seu espírito altruísta e paixão ao voluntariado. A emoção levou-o a pedir aos presentes que “diante da sua farda devíamos todos descobrir-nos com respeito”.

O patrão Álvaro não era homem que trabalhasse para ouvir elogios. Quem o conhecia, sabia que era um bombeiro que gostava de servir a sua terra e sua corporação. Sentia-se mais à vontade, pela sua maneira de ser, nos teatros das operações de qualquer tragédia humana quer elas fossem causadas por fogos, cheias do rio, acidentes ou calamidades naturais. E, por mais graves que fossem, sempre as enfrentou sem medo. Ele sabia que, quando a sirene tocava, os perigos não seriam obstáculo para deixar de salvar vidas e bens.

O patrão Álvaro socorreu e salvou muitas vidas em perigo. Para as missões de socorro onde era chamado mostrava o génio da sua coragem e valentia. Conta-se que, em algumas delas, foi graças à sua presença, que se evitaram males e desgraças maiores. Conhecemos, pelos relatos das notícias, a seu grande e eficiente desempenho num salvamento e regaste de dois homens que haviam ficado soterrados no fundo de um poço, numa povoação do concelho de Santa Marta de Penaguião. Quando a convicção de todos era de que esses dois chefes de família estavam mortos, e bem mortos, o seu arrojo e estímulo para bombeiros abatidos de cansaço e desânimo, ficou conhecido ao proferir a seguinte expressão: “Mortos os vivos, daqui não sairemos sem os arrancar de lá de baixo”.

A firmeza do patrão Álvaro fez com que os bombeiros que comandava acreditassem a levar até ao fim o salvamento de duas vidas, que pensavam já perdidas, após longas 16 horas de trabalhos de remoção de terras. Melhor do que as nossas palavras, podemos consultar mais pormenores dessa missão de salvamento – ocorrida a 10 de Agosto de 1929 - nas memórias do Chefe António Guedes, publicadas no jornal “O Arrais”, onde esteve também presente, que aqui temos o gosto de transcrever:

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“Se a memória não me atraiçoa, foi em dois ou três de Agosto de 1929, fomos chamados para Laurentim, povoado situada a poucos quilómetros da Régua, onde dois homens haviam fica soterrados num poço de dezoito metros de profundidade e quando procediam ao trabalho de ampliação de uma mina no fundo do mesmo poço.

Seguimos imediatamente para lá, cerca das nove horas da manhã…

Eu e chefe Álvaro analisamos a situação e ficamos com uma vaga esperança dos homens se encontrarem ainda vivos – isto no caso de se refugiarem na mina, na ocasião em que se deu a derrocada. E essa esperança recrudesceu ao depararmos com um cano galvanizado, emergindo apenas dois ou três dedos do solo, pelo que passava quase despercebido. Estaria esse cano ligado à mina? Não custa nada experimentar. E assim, colocamos ali dois bombeiros a fornecer ar, por meio da bomba braçal nº2, ligada ao cano encontrado.

Estávamos presentes dois chefes – Álvaro Rodrigues da Silva e eu, e dois sub-chefes -Armando Vicente e Augusto Costa.

O serviço de salvamento ficou assim estabelecido: no poço, dirigindo e auxiliando os serviços de desaterro, ficaria um dos chefes durante duas horas, no fim das quais outro iria o outro substitui-lo. E, cá em cima, dirigindo e auxiliando os serviços de transporte e descarga de aterro, em sitio que não estorvasse, estavam dois sub-chefes.

Por volta das 11 e meia da manhã, fui abordado por uma simpática velhinha – mãe de um dos homens soterrados - que me disse que desejava falar como o Comandante. Mandei chamar o Chefe Álvaro, a quem como o graduado mais antigo, competia exercer as funções de comando, e a velhinha então, de mão erguidas e o enrugado rosto banhado em lágrimas, suplicou: -Tirem dali o meu filhinho…

O angustiante fervoroso pedido daquela velha e pobre mulher comoveu-nos, emocionou-nos profundamente e dirigimos-lhe palavras de conforto e de esperança. Mas eram muitas toneladas de terra e pedregulhos que era necessário remover e guindar para a superfície…
(…)

Veio a noite e o cansaço estava a apoderar-se de nós. Havia já alguns bombeiros feridos e outros com as palmas mãos transformadas numas chagas autênticas. As dez horas já tínhamos a certeza que os homens estavam vivos, pois que nos falaram através do abençoado cano. As onze hora e um quarto da noite tiramos daquele horrível buraco o primeiro homem. Vinha quase desfalecido e completamente encharcado e enlameado. Logo a seguir tirou-se o outro, que se apresentava em melhores condições físicas mas igualmente coberto de lama.

E chegou então – para mim - o momento mais comovente e emocionante deste drama. A simpática velhinha veio novamente procurar-nos, a mim e ao chefe Álvaro, para nos agradecer o “milagre” de lhes termos salvo o seu filho. Com lágrimas de alegria e reconhecimento…abraçou-nos e beijou-nos com emoção e sinceridade. Considerei-me compensado dos tormentos que naquele dia passei”.

Era assim, cumprida mais uma missão de socorro com sucesso que se ficou a dever a todos os bombeiros que souberam compreender o apelo do seu chefe num momento de desânimo.

Percebemos o que sentiu o chefe António Guedes quando estava terminada a operação de salvamento. Há um sentimento de felicidade que o contagiava pela alegria sentida no rosto de uma mãe, agradecida aos bombeiros que tinha salvo a vida do filho. As suas comoventes palavras mostram a grande satisfação pelo dever cumprido, apesar dos tormentos e aflições de muitas horas de trabalho exaustivo, sem descanso nem alimentação, sob o sol escaldante de um dia de Agosto.

E, também percebemos porque o patrão Álvaro tornou, sem o querer, num herói amável e inesquecível.

Quase 80 anos passados sobre esse acontecimento faz todo sentido recorda-lo como um exemplo do ideal romântico de “Vida por Vida”, o lema que deve estar sempre presente no coração dos actuais bombeiros.

O milagre conseguido por aqueles bombeiros, sob o comando do patrão Álvaro, é uma das páginas mais brilhantes e sublimes da história da Associação, ainda molhadas pelas lágrimas de alegria de uma velha mãe. E, são essas lágrimas que, por anos que passem, nos fazem lembrar – sobretudo as gerações mais jovens de bombeiros - a lição de coragem e valentia do nosso voluntário patrão Álvaro.
- Peso da Régua, Outubro de 2009, J. A. Almeida.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Régua com os bombeiros de Ermesinde


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Em 1 de Maio de 1960, os bombeiros de Ermesinde foram recebidos na vila do Peso da Régua num ambiente de festa.

Eram aguardados na Rua da Ferreirinha, junto à famosa Garagem Janeiro, pelos bombeiros da Régua, numa impecável formatura, pelos directores da associação Alfredo Baptista e Augusto Mendes de Carvalho e pela população que queria assistir à entrega do diploma de sócio - honorário, distinção concedida pelos bombeiros de Ermesinde.

Esta brilhante cerimónia celebrava o princípio de uma união e amizade entre as duas corporações que, desde essa data, é mantida e consolidada com contactos permanentes.

Os bombeiros de Ermesinde, na sua primeira vinda à Capital do Douro, mostravam a sua determinação em unir os homens paz do litoral com os do interior. Fizeram representar-se por uma delegação que incluía o presidente da direcção Adélio de Oliveira e o Comandante Capas Peneda. Para que a cerimónia revestisse de maior brilho, os directores pediram aos associados com viatura própria, para integrarem a caravana com destino à Régua.

O brilho não faltou de nenhum dos lados. Os bombeiros da Régua, sentindo-se honrados com o gesto altivo, acolheram os seus camaradas de Ermesinde e com uma recepção que, seu presidente da direcção, considerou como grandiosa. Como reconhecimento pela honra recebida, aos bombeiros da Ermesinde foi entregue uma medalha privativa da associação reguense, colocada solenemente no seu estandarte, pelo Comandante Carlos Cardoso.

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A cerimónia continuou depois no salão nobre do quartel. Os discursos proferidos salientaram a importância dos laços de união entre as duas associações e, sobretudo, entre os homens que abraçam a causa do voluntariado. Pelas palavras do Comandante Capas Peneda veio o maior elogio de solidariedade. Confessou emocionado que os bombeiros da Régua podiam estar em Ermesinde como estivessem na sua casa. Ora, na verdade, é isso que hoje acontece quando lá vamos. Somos recebidos pelo actual presidente da direcção Artur Carneiro e pelo Comandante Carlos Teixeira como amigos especiais, onde temos sempre um lugar na mesa de honra. Da nossa parte, quando eles nos visitam, damos-lhe as mesmas atenções. Assim, a amizade entre as duas corporações resiste ao tempo e a distância que nos separam!

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Mas esta fotografia aviva as memórias da Régua nos anos 60. Além da oficina dos Janeiros, na rua da Ferreirinha estavam estabelecidos os grandes armazéns e algumas das principais lojas de comércio. Como artéria principal era movimentada e ligava, através da chamada ponte do Bate – Estacas, o centro da vila à vizinha freguesia de Godim. E, servia como a saída e a entrada dos veículos que percorriam a velha estrada nacional nº108 entre a Régua e Ermesinde, um percurso com sinuosos 94 km de distância.

A Régua, nesse tempo, vivia fechada em si e nas suas belas paisagens e pelos cenários de ruralidade que as mãos do homem transformaram em verdadeiros monumento naturais. Os grandes negócios faziam-se no sector dos vinhos.

E, muitas ajudas aos bombeiros vinham das firmas de vinhos, como a da casa comercial inglesa Sandeman que, em 18 de Junho de 1893, ofereceu a quantia de 25 mil réis. Ainda hoje é assim…

Algumas memórias e vivências desses velhos tempos são evocadas na notável crónica “A Botica do Anastácio”, de Joaquim Pires (pseudónimo do escritor Dr. João de Araújo Correia), publicada no jornal “O Arrais”, em ficamos a conhecer o quotidiano de ilustres bombeiros reguenses:

“A Régua actual, tornemos a dizer, não é muita antiga. Nasceu com a Companhia Velha, cujo edifício e armazém, à beira do nosso rio, são uma espécie de quartel-general do país vinhateiro. Era à Régua o foro de capital do Douro.
Mas, por hoje, vamos lá recordar a botica do Anastácio, situada na Rua dos Camilos, defronte da antiga loja do Valente Novo. Loja que mudou de nome português para nome francês, mudando o proprietário. Deus lhe perdoe!
A botica do Anastácio! Já toda a gente lhe chamava farmácia. Mas, o meu pai, amigo de termos velhos ainda lhe chamava botica. Assim como chamava Rua da Bandeira à Rua dos Camilos, porque os terrenos, por ali situados, tinham pertencido aos Portocarreiros, fidalgos da Bandeirinha, lá em baixo, na cidade do Porto.
A Régua não é muito antiga. Mas, já se pode ir falando da Régua de ontem aos actuais reguenses. Como tudo quanto nasceu, também, a Régua vai envelhecendo.
A botica do Anastácio é de ontem. É do tempo em que não havia clubes ou só havia um clube. É do tempo em que os mentideiros, os soalheiros, os centros de cavaco, eram as farmácias ou mercearias. Memorável ponto de reunião foi a botica do Anastácio - como lhe chamava meu pai. Memorável clube improvisado.
Anastácio, de pé, do lado de dentro do mostrador, deitava aos contertúlios, de vez em quando, uma palavra mansa.
Era homem calmo, correcto, farmacêutico limpo e honesto como não havia segundo. Receita aviada por ele saía das suas mãos como obra-prima em forma de garrafa, hóstias ou pomada. Morreu bastante novo, com uma diabete quase fulminante.
Contertúlios reunidos à noite eram aí meia dúzia. Além de meu pai, conto o Dr. Vasques Osório, mais conhecido por Doutor Galego, por ser filho de Domingos, galego de nação; Joaquim Lopes da Silva, homem de grande tino comercial, uma energia oriundo de Ovar; Cardoso Mirandela, então ajudante de notário, homem esperto e positivo; Joaquim de Sousa Pinto, merceeiro bem disposto, dedicado comandante de bombeiros; Joaquim Penhor, a quem chamavam o Tio Rico, e outros.
Conversavam sobre a política do tempo, contavam anedotas recessas, etc.
Tio Rico morava lá em cima, no Poeiro, numa casa que veio a ser residência paroquial. Creio que vivia com mulher e cunhadas. E, como não tivesse filhos, deixou a casa ao Cardoso Mirandela, sobrinho dele por afinidade.
A Régua não é muito antiga. Mas, como se vê, começa a ter que contar”.

Como bem conta o escritor reguense, pela botica do Anastácio passaram muitos homens que fizeram a história da Régua e, em especial, dos seus bombeiros voluntários.

Ficamos a saber que, por volta dos anos 30, nessa tertúlia estavam presentes o Comandante Joaquim Sousa Pinto (1927-30), um dos fundadores da associação, o Chefe Cardoso Mirandela e o pai do escritor que foi bombeiro (António Correia), que gostavam de dar dois dedos de conversa sobre a política do seu tempo…!

Bons tempos dessa Régua de ontem!

Hoje, passados quase 50 anos, quase tudo mudou na Régua.

Os costumes das pessoas e os horizontes da cidade são bem diferentes. As pessoas deixaram de reunir nas tertúlias. A cidade, que nasceu e cresceu nas margens do rio Douro, uma vez mais procura através dele novas formas de desenvolvimento, como é o caso do turismo. Chegam ao cais fluvial milhares de turistas atraídos pelos encantos naturais, pelo vinho generoso, único no Mundo, pelos rituais das vindimas e, ultimamente, pelas descobertas proporcionadas pelo “Museu do Douro”, onde se pode visitar a exposição dedicada à vida de um homem genial - a razão e o sentimento - como foi o escocês Barão de Forrester.

Enfim, a Régua como concelho desde 1837 e os seus bombeiros voluntários, a partir de 1880, estão voltados para o futuro e continuam a crescer ao compasso de um mundo em mudança, mas assente em quatro pilares basilares: o vinho, a paisagem, o turismo e a cultura.
- Peso da Régua, Outubro de 2009, J. A. Almeida.
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