Mostrar mensagens com a etiqueta Sport Clube da Régua. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sport Clube da Régua. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

IDALINO GONÇALVES - Mais uma folha que cai, tocada pelo vento do inverno da vida...

ATÉ QUANDO DEUS QUISER, LÁ NO ALTO, IDALINO !
Por Eduardo Ribeiro in facebook - SC DA RÉGUA CLUBE DO MEU CORAÇÃO - 01 de Agosto de 2014 - "Hoje é um dia triste para o clube do coração de todos os reguenses, SC DA RÉGUA. Faleceu sr. IDALINO GONÇALVES sócio numero 1, homem da terra, humilde e sempre pronto para colaborar com o nosso clube, não se negava a nada, homem muito comunicativo que vai deixar saudades. Permanecera no coração de todos os reguenses. Obrigado por tudo que fez como director nos tempos difíceis e pela sua amizade perante as pessoas que mais conviviam no seio reguense. EU, em nome de toda a família reguense, venho por meio desta mensagem expor todo o nosso sentimento, pela recente perda. QUE DEUS ILUMINE E CONSOLE A VIDA DE VOÇES, SENTIMENTOS PROFUNDOS PARA TODA A FAMILIA... DESCANSE EM PAZ SR. IDALINO."
Clique nas imagens para ampliar

terça-feira, 9 de julho de 2013

Recortes... Domingo de manhã !

Estádio Municipal Artur Vasques Osório, Peso da Régua, ‎domingo, ‎7‎ de ‎julho‎ de ‎2013:
Ensine o seu filho a gostar de Desporto, em vez de o ensinar a gostar apenas de ganhar.
(Anónimo)
No desporto, quem mais perde é quem não o pratica.
(Prof°. Haroldo Falcão)
Competir?... Sim. Mas, acima de tudo, a amizade.
(Inscrição encontrada nos ginásios da China)
Sobre o Sport Clube da Régua neste blogue.

Clique nas imagens para ampliar. Imagens de autoria de J. L. Gabão e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sábado, 20 de abril de 2013

UM ALUNO MEU

Nota - Esta deliciosa crónica - e ainda muito actual no seu tema - a apelar ao sentimento grandioso de humanismo dos bombeiros foi publicada no jornal "Vida por Vida", órgão oficial da A. H. dos Bombeiros da Régua, em 6 de Maio de 1968. O seu autor, um grande professor do ensino primário, um talentoso jogador de futebol do Sport Clube da Régua, um homem bom, que foi um grande e anónimo benemérito da nossa instituição, faleceu, com 80 ano de idade, no dia 14 de Abril de 2013. Ao Professor Eurico, como caridosamente o tratávamos, esteja onde agora estiver, os bombeiros da Régua reconhecem a sua maior gratidão pela ajuda que lhes prestou em toda a sua vida. Que na Eternidade, a sua Alma descanse em Paz.
- José Alfredo Almeida, Abril de 2013
…é que eu gostava muito de ser bombeiro
Professor Eurico A. Patrício

Ao som da sirene, na sua expressão infantil, mas já denotadora de personalidade forte, costumo notar-lhe uma mudança brusca, como que se todo o seu íntimo fosse abalado por frenesim que lhe transmite vida, ânimo, movimento.

A atenção desvia-se-lhe e o seu olhar fita-se para além da janela, abstracto, longínquo, como se aquele som, que nos fere os ouvidos, o chocasse irresistivelmente, o obrigasse a fugir da sua carteira de escola e o atraísse, qual poderoso íman, para o som estridente que se prolonga para além do rio, galga montes e leva a má nova ares além.

Fica inquieto, longe de mim e dos companheiros tão próximos. Noto, porém, que no palmito de cara não há manifesto de medo. Não lhe vislumbro no olhar o estigma do receio, antes lhe brilha na expressão algo corajoso que me diz existir no íntimo daquele meu aluno uma necessidade de ir algures, ajudar, salvar, acudir a quem precisa.

Que sei eu? Nestes momentos tenho a convicção, e que prazer indefinível sinto nisso, que aquele rapaz nervoso, irrequieto, mas bom, há-de um dia ser um homem.

Não o será apenas no corpo, que este é mera e fugaz passagem cá por baixo. Há-de sê-lo em espírito, sentimentos, coragem e humanismo, altruísmo.

Há-de renunciar muitas vezes ao prazer, à comodidade e até à segurança pessoal, para correr ágil, apressado, aflito até, à chamada do toque aflitivo que não o convida à alegria nem ao prazer, mas sim, e ele compreende-o bem, ao sacrifício, à abnegação e até, quantas vezes, à dádiva da própria vida.

Frequenta a 3ª classe o miúdo. Não é um aluno brilhante, excepcional, mas não é todavia um mau aluno.

É regular, um pouco acima da mediania. As suas qualidades impõem-no aos condiscípulos que o admiram e respeitam. É  pontual, metódico, ordenado e está sempre pronto a resolver  qualquer dificuldade ao seu alcance e que um colega menos dotado lhe apresente para solução. É altruísta.

Não se envaidece com a superioridade manifesta em relação a uns, nem se amofina que outros mais dotados o excedam. É modesto.

Sente-se bem nas suas possibilidades, mas procura aperfeiçoar-se e progredir lutando teimosa e persistentemente para alcançar os seus objectivos. Gosto muito dos meus alunos. Mas, perdoe-se-me a franqueza por me sentir um pouco mais inclinado para este a que me venho referindo. As suas qualidades granjearam-lhe do seu professor um lugar de primazia e uma admiração particular.

No quartel dos nossos bombeiros soou há dias, forte como sempre, e a chamar os nossos briosos Soldados da Paz à sua humanitária missão, a atroadora sirene.

Como que pressentindo que algo de anormal se iria passar com o pequeno, observei-o dissimuladamente. A reacção habitual manifestou-se, mas desta vez mais forte, mais excitante e mais intimativa.

Eu, que quase adivinhava o que se passava no íntimo do Joaquim, é este o seu nome, para me certificar de que não me enganava, perguntei-lhe se estava doente, se se sentia mal, se queria ir até lá fora. Que não, que estava bem, dizia-me ele. Dizia-o de boca, que a expressão e o corpo traíam-no sem ele o poder evitar.

Os outros miravam-no atentos e pairava no ar uma expectativa que os mantinha presos ao seu companheiro.

Propus-me aproveitar o momento, que tão oportuno se deparava, e interroguei novamente o Joaquim.

- Que tens rapaz, pareces tão aflito?

- Nada sr. Professor, mas…é que eu gostava muito de ser bombeiro.

Que grande lição de amor ao próximo nos deu nesse dia o pequenito!

E eu, cuja missão é guiar crianças para no futuro serem homens na verdadeira acepção da palavra, senti que a escola pode e deve, ao mesmo tempo, indicar-lhes o espinhoso, mas tão nobre caminho que os eleva acima de todos os egoísmos: 

O caminho que conduz às fileiras dos Bombeiros.
- Peso da Régua, 6 de Maio de 1968, professor Eurico A. Patrício (in memoriam)

Clique na imagem para ampliar. Texto e imagem cedidos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Também publicado no jornal semanário regional "O ARRAIS" edição de 17 de Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sexta-feira, 15 de março de 2013

A Régua de outros tempos…

A transmissão dos conhecimentos que vamos adquirindo ao longo dos anos de vida – conhecimentos de ordem prática, de que cada um recolhe  lições como  as entende – parece-me, realmente, ser um procedimento conveniente. Em resultado das sensibilidades e do entendimento das coisas por cada um, - talvez, até, por vezes, com entendimentos contraditórios, dos mesmos fenómenos – julgo eu que resulta para  cada um de todos os outros e para todos, simultaneamente, um afunilamento de percepções mais ou menos diferentes, mesmo mais ou menos opostas. Apreciadas e amadurecidas pelas sociedades, tais percepções constituem a verdadeira história e conduzem-nos aos conhecimentos certos, em todas as suas formas, considerando as suas causas e permitindo-nos prever melhor as consequências. Estes conhecimentos, vindos de várias fontes, são os que correspondem às realidades vividas em cada tempo, afastam ficções, são menos inexactos, mais merecedores de confiança.

É dentro desta convicção que me abalanço a  relembrar factos que vivi em tempos passados – há mais de meio século – que, por vezes, me sairão tratados com menos acerto, traído que serei pelo muito tempo já decorrido, nunca se podendo esquecer que eu próprio sofri mudanças de entendimento, acompanhando as evoluções tecnológicas, o efeito das modernidades, as influências dos avanços da nossa sociedade. Na verdade, os meus olhos de hoje não entendem as coisas de hoje com o entendimento que, certamente, teriam tido setenta anos antes. Os mesmos factos, passando sobre eles o tempo, evoluem também, por razões de modernidade e de desenvolvimento, por todas as razões que nos cercam.

Ressalvando possíveis adulterações das realidades que vivi naquele tempo, pelas razões tão apressadamente já referidas – ouso relembrar a situação política e social que se atravessava no nosso País no período de 1941 a 1945, andava eu pelos meus 20 anos de idade, quando, então, estava vivendo na Régua, esperando o meu arranque para a vida de trabalho que estava chegada.

Antes de mais, quero destacar que a Régua era marcada pelos acontecimentos nascidos da guerra civil, que pouco antes cessara em Espanha, e pela guerra mundial que acontecia em pleno, logo de seguida à da Espanha.

A pobreza e a modéstia de vida da nossa gente eram uma evidência: - estava instituído o racionamento dos géneros alimentícios e de muitos outros, o que dificultava a vida, principalmente dos homens das vinhas; a tuberculose (a tísica, como lhe chamavam) matava gente aos milhares; os pequenos proprietários das vinhas confrontavam-se com as poucas senhas de racionamento; os “pés-descalços” de mulheres e crianças  passavam abundantemente pelas ruas da vila e das freguesias; o analfabetismo dominava toda a Região; os empregos eram poucos e mal remunerados; os trabalhadores das vinhas, mourejando desde o romper da manhã até ao findar das tardes, recebiam de salário 9$00 diários, quando calhava encontrarem trabalho; comia-se correntemente sardinha salgada, que se comia pela metade, e que se vendia em barricas, mal cheirosas… A Casa do Douro, cujo edifício acabara de ser construído, dava um ar da sua graça, garantindo trabalho regular a alguma gente da Régua e das terras limítrofes, e que, tal como a actividade dos caminhos-de-ferro, na Régua - importantíssima, pelo movimento que trazia para a vila e pelos empregos que garantia - eram as felizes excepções a tão degradada situação. No Largo da Estação, o movimento era também importante, contrastando com as inactividades regionais.

Se os mais desprotegidos conheciam extremas dificuldades, os mais favorecidos não deixavam de conhecer também algumas dificuldades. Toda a população lutava dificilmente para  garantir algum nível de vida, sendo de destacar a actividade comercial, que continuava o seu relacionamento, embora mais limitado, com toda a Região, de que era o centro.

A Juventude, porém, com poucas escolas capazes de ministrar conhecimentos mais desenvolvidos, estudava em cidades próximas, em Lamego e em Vila Real, desenraizando-se da Régua, a sua terra natal. Grande parte desta juventude, menos favorecida, impossibilitada, ficava pelas aldeias, onde imperavam o analfabetismo e o alcoolismo, com as consequências inerentes.

O desporto – uma actividade própria da juventude – era, na Régua, uma actividade de prática quase impossível. Os terrenos que envolvem a Régua eram caríssimos, fora das veleidades dos jovens da nossa terra. Antes da época em que enquadro estas referências, conheci um espaço, na margem esquerda do rio, a que chamávamos um campo de futebol. Estava situado onde está, hoje, o cais de mercadorias. Quase ao mesmo nível  das águas do rio, que corriam no verão, a mais pequena subida das águas impedia qualquer utilização. Sendo assim, também era impedida qualquer utilização regular, pelo que deixou de ser procurado. A Régua não tinha, sequer, um rudimentar campo de jogos, por isto mesmo a juventude, sem possibilidades de bem utilizar os seus tempos livres, sem bibliotecas, perdia-se pelos cafés, pelos bares onde melhor se bebia, nos bilhares, enfim numa vacuidade censurável.

As actividades comunitárias eram de prática rara e mais raras, ainda, para os jovens. Lembro-me, no entanto, do grupo das “Andorinhas”, que foi criado sob a égide da senhora D. Branca Martinho e em que o meu irmão, Júlio Vilela, foi seu principal dinamizador, animando os palcos com canções brasileiríssimas e com bem cantados fados portugueses, dedilhando a viola, representando e dando dois dedos de conversa com o povo. A iniciativa foi viva durante bastante tempo e bem serviu a população da nossa terra, que aderiu em absoluto aos muitos espectáculos realizados.

Mas, por vezes, aparecem surpresas na monotonia das coisas. Na rua da Ameixoeira, um grupo de rapazes, quase todos trabalhadores nas oficinas do Corgo, resolveram juntar-se, para constituírem um grupo de futebol, que ia dando uns pontapés na bola pelos campos das aldeias dos arredores e num bocadinho de terreno, que viria a ser o “Campo das Figueiras”, bem perto do túnel que está entre o Moledo e o Salgueiral. Este grupo, aperceberam-se disso os seus organizadores, era muito desequilibrado, faltando um mínimo de qualidade em vários postos da equipa.

Paralelamente, também eu, com o meu restrito grupo de amigos, tomámos idêntica iniciativa e constituímos igualmente um grupelho para jogar a bola, grupo que enfermava das mesmas falhas do grupo dos Ferroviários, faltava-lhe gente minimamente habilidosa. Um dia, o Fernando, tipógrafo de profissão, e o Manuel, das oficinas do Corgo, vieram-me pedir que passasse a jogar pela equipa ferroviária, com o que vieram ao encontro de constituirmos um grupo único e de melhor qualidade. Prometi-lhes conseguir também a colaboração de outros jogadores do meu grupelho, como eram o Carvalhais, o António Monteiro, propondo-lhes que, partindo desta unidade, nos esforçássemos por legalizar o novo grupo em constituição, mais lhes prometendo conseguir a colaboração, para o efeito, do meu irmão Júlio, e de vários amigos deste, todos eles homens de alguma notoriedade no nosso meio, o que, de certo modo, poderia dar boas asas ao grupo. Foi assim que, realmente, nasceu o Sport Clube da Régua, que, de imediato, no “campo das Figueiras”, obteve muitas e variadas vitórias, incluindo sobre grupos da cidade do Porto, como o Académico (recheado de jogadores estrangeiros, refugiados de guerra), do Boavista, do Salgueiros e de outros, que, embora de menos categoria, deram um certo nome ao Sport Clube.

Não devo esquecer, contudo, que, para a nossa fama, muito contribui o “Peseta”, glória do Boavista e da Académica de Coimbra, que, como regente agrícola, viera servir para a Casa do Douro. Foi treinador da nossa equipa e deu-nos um mínimo de organização e eficiência, pelo que será um nome a nunca esquecer pelo Sport Clube da Régua.

Parece-me, nesta oportunidade, dever relembrar alguns dos companheiros que, comigo, alinharam no novel S.C. da Régua, onde deram o que mais podiam e sabiam, com dedicação, constituindo um grupo muito igual. Não gostaria de distinguir mais uns do que os outros, mas não posso deixar de referir aqueles que mais directamente me protegiam as redes, os meus “backs”, as minhas defesas: o Carvalhais, meu particular amigo, que já vinha de outras lides, como a da caça, um futebolista que tinha o dom de adivinhar as minhas “saídas” da baliza a destempo, logo me substituindo nelas, o que me facilitava a função; o Jerónimo, a minha melhor defesa, um habilidoso, que desarmava facilmente os adversários, elegante, limpo e leal no jogo, funcionava como um aloquete; e o Colega, poderoso, rápido, com muito bons pés, um excelente atleta. Eu, com eles, constituíamos uma barreira difícil de ultrapassar. Merecem-me estas referências, porque me safaram de muitas dificuldades e em todos os jogos me deixavam bem-disposto e confiante.

Mas uma equipa de futebol não eram quatro, mas sim, naquela altura, 11 elementos: os três médios, de que recordo mais o Santos Melo e o Gervásio, bons jogadores em qualquer parte; e os cinco avançados, de que lembro uma importação vinda de Lamego, o Manelzinho (excelente, um “driblador”), outra, o Toni (vinda do Pinhão, possante e que rematava com muita eficácia) e, ainda, o Canário (pequenino, rápido, um excelente extremo). E alguns outros, menos efectivos na equipa, mas sempre capazes, quando utilizados, e que ajudavam à robustez e pujança da nossa equipa. Estes foram os rapazes que fizeram fama, principalmente no campo das Figueiras, talvez por ser um terreno de pequenas dimensões.

Do campo novo, na curva da estrada, com o nome de José Vasques Osório, já dentro da Régua – que foi uma aquisição excepcional e de uma construção gloriosa – guardo também gratas recordações, mas, nele, vim a jogar  por pouco tempo, que a vida, em breve, me levaria para longe, por pouco  tempo para Chaves (onde, ainda, continuei a jogar futebol pelo “Flávia”) e, mais definitivamente, para a Guiné, onde o Comando Militar não me autorizou, “prudentemente”, a jogar…

Ainda no período de criação do S.C. da Régua, fomos fazer um jogo de apresentação a Vila Real, satisfazendo o desejo de confrontação que tínhamos e para nos avaliarmos em relação à valorosa equipa da capital do distrito. Conseguimos, fora de portas, um empate, o que causou grande alegria, quando do regresso à Régua, a toda a gente que se deslocara em comboio especial a Vila Real e, depois, na vila, onde fomos recebidos com foguetes!... A Régua parecia ter acordado.

Também nos exibimos em Lamego, com menos interesse, por menor valor representativo da representação lamecense, mas em outras deslocações que fizemos, por Trás-os-Montes, pelo Minho e pelo distrito do Porto, continuámos sempre na senda dos bons resultados. Ainda hoje guardo algumas boas recordações das nossas deslocações a Mirandela, Bragança, Chaves, Constantim, Fafe, Amarante, Penafiel, Lamego e outros locais.

Mas seríamos muito injustos se não fizéssemos algumas referências à acção dos vários dirigentes do clube. À cabeça, ponho o meu irmão, o Dr. Júlio Vilela, e faço-o mais uma vez com todo o gosto. Presidente do clube, que foi, foi ele também que estudou e preparou os estatutos, foi ele que dinamizou o aproveitamento do terreno de jogo do novo campo, que, na Régua, foi uma verdadeira novidade. Encontrou o meu irmão companheiros que o ajudaram na sua tarefa, como foram o Azevedo (da padaria), um dirigente que me ofereceu do seu bolso umas botas de futebol, e outros, como o Bonifácio, que, semanalmente, apitava e bem, sem reclamações, os jogos que fazíamos, apesar da sua costela ser, à evidência, reguense. E o Mendes de Carvalho. E outros dois, também padeiros, mas cujo nome já não recordo…

Até eu… que tentei arrancar alguns jovens para a prática do basquete e do atletismo, mas sem êxito. Ainda consegui que se fizesse um festival nas traseiras da Câmara, mas não passei daí, que os jovens não aderiram com qualquer interesse.

Foi assim que, naquela época dos anos 40, vimos implantado na Régua o passatempo do futebol, com um espírito saudável, de amadorismo puro, mas com algum relevo. Hoje, homem velho, sinto alguma vaidade pela minha comparticipação em tal motivação útil e saudável. Creio que o futuro do clube está garantido, já tem algum suporte histórico, por ele passou já muita gente que beneficiou da sua existência. Mas o S.C. da Régua não pode viver de memórias, antes tem de se revitalizar todos os dias. Os resultados do clube não se medem pelos resultados dos jogos, mais se avaliam pelo compostura dos seus sócios e dos seus atletas, pela abrangência das suas actividades, pela extensão cívica de toda a sua acção. “Mens sana in corpore sano” - deverá ser um lema cada vez mais a orientar as gentes do S. C. da Régua, vencendo barreiras e dificuldades sem esmorecimentos.

Viva a Régua!
- Peso da Régua, Março de 2013, Abeilard Vilela
Clique nas imagens para ampliar. Imagens e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo AlmeidaEdição de imagem e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Março de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sábado, 31 de dezembro de 2011

O Sport Clube da Régua

Neste último dia do ano de 2011, não esquecemos:  Sport Clube da Régua - Fundada em Novembro de 1944 é a Associação Desportiva com maior representatividade da cidade do Peso da Régua e com a qual a cidade mais se identifica. Muito contribuem para isso as cores vermelho e branco em forma gironada das suas bandeiras assim como os símbolos do Barco Rabelo e do Douro estampados nos seus escudos. "Poderá dizer-se que é o clube do coração de todos os Reguenses - In http://sportcluberegua.blogspot.com/
O distinto causídico Dr. Júlio Vilela, figura inesquécivel do universo reguense...
Botões de Punho...
Emblema de Lapela...
Mais três relíquias dos anos 40, demonstrativas do amor que os fundadores tinham pelo nosso clube. Estes botões de punho e os emblemas de lapela, são o embrião daquilo a que hoje se chama Merchandising. Por isto, vejam o que "à frente" estavam estes dirigentes. O estar "à frente", o ser pioneiro, é uma das grandes características do nosso S.C. Régua.
Palavras para quê? São seis insignes reguenses que fizeram parte de uma direcção dos anos 40/50 tendo à cabeça como Presidente o Exmo. Dr. Rui Machado, também ele médico do clube.
De pé da esquerda para a direita: Abeilard, Carvalhais, Peseta, Nora, Canudo, Jerónimo e Colega.
Em baixo da esquerda para a direita: António Monteiro, Tadeu, Gervásio, Canário e Fernando.
Esta fotografia representa a equipa de 1945, um ano após a formação do nosso clube. De todo o espólio fotográfico de que dispômos é a mais antiga, como consequência têm um valor incalculável. Muitos dos reguenses ainda se lembram destes pioneiros e gloriosos atletas.
Cartas de longe: As cartas enviadas por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, desde Porto Amélia em Moçambique sobre o Sport Clube da Régua.
Uma das cartas:

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Os bombeiros e o Sport Clube da Régua

Esta imagem é dos anos 50 e retrata uma cerimónia solene em que os bombeiros voluntários se faziam representar na sede social do Sport Clube da Régua, que existiu no prédio pertencente ao comerciante Arnaldo Marques, na Rua dos Camilos.

Naquela sala reunia-se gente simples e humilde que criara o clube de futebol, alguns carolas e também figuras notáveis da elite reguense. Discursava de pé um homem generoso, influente e muito respeitado: João Vasques Osório, antigo presidente da câmara e, nesse momento, a exercer o cargo de presidente da direcção do Sport Clube da Régua. Ao seu lado, sentados à mesa, estavam o reverendo José Miranda Guedes, arcipreste do Peso da Régua e Humberto Vasques, funcionário público, junto à porta, o advogado Dr. Júlio Vilela, presidente da direcção da Associação Humanitária, o jovem Homero Marques Vasconcelos, a representar a Mocidade Portuguesa com a bandeira nacional, hoje engenheiro químico, o engenheiro Heitor Vasques e António Ribeiro, comerciante do ramo da relojoaria, e no canto esquerdo, Manuel Braga, conhecido jogador de futebol da equipa. Enchem as primeiras cadeiras um grupo de associados que, por se encontrarem de costas, não os conseguimos identificar. Dando um ar solene e de pompa à cerimónia, os bombeiros garbosamente fardados de capacete e casaco de couro, fazem a guarda de honra, enquanto um deles, o José Clemente, ostentava o estandarte.

Não se sabe ao certo, mas a cerimónia a decorrer seria a comemoração do aniversário do clube. Aquele ambiente invulgar ajuda a entender o que aí aconteceu. Escutado com atenção, João Vasques Osório profere um discurso, escrito numa folha de papel, por certo, a evocar grandes feitos do passado e a enaltecer a dedicação dos atletas, dirigentes e associados. Pode não falar da conquista de taças e troféus que não se encontram exibidos naquela sala, mas tem motivos suficientes para realçar algumas vitórias inesquecíveis contra equipas com a de Valongo ou a rival de Vila Real. Ao lado da bandeira do clube, porém, vislumbram-se as antigas fotografias, a recordarem as primeiras equipas cheias de nomes sonantes e craques como Abeilard Vilela, Jerónimo, Carriço, Canudo, um galhardete do Leixões Sport Club e outro a assinalar um torneio de futebol de 1949.
Na parede da sala sobressai ainda um retrato de João Vasques Osório. Aparenta ter menos idade e, é possível que seja, um retrato ainda do seu tempo de edil. Olhando de repente, entre as duas imagens parece que nunca existiu passado, como se a passagem do tempo se completasse em memórias tecidas por uma única realidade. Aquele homem fez história na Régua, nos anos 30, como um politico que mais trabalhou para o seu desenvolvimento e progresso.

Pertencendo a uma família benemérita da Régua, João Vasques Osório mais tarde, já retirado das suas funções públicas, aproveitando a sua experiência, assumia o desafio de dirigir o Sport Clube da Régua. O clube desportivo fundado em 30 de Novembro de 1944 (nascido da junção do “Ferroviário” e do “Régua e Porto”) caía assim em boas mãos. Ajudado pelo inegável bairrismo dos sócios, este dirigente aproveitava para fazer melhorias no campo de jogos de terra batida, construído, como então se dizia, na “volta da estrada” e não deixava morrer o sonho de tantos e tantos desportistas, ao fortalecer a mística do clube, numa fase de completo amadorismo, mas apostado em dar grandes glórias ao povo.

Com oportunidade, aproveitamos para citar algumas palavras que Abeilard Vilela escreveu numa carta dirigida aos dirigentes dos SCR, a evocar as suas memórias de jogador: “O Sport Clube da Régua nasceu, realmente, de um modo popular e os seus alicerces foram solidificados por trabalhadores humildes e persistentes, que tiveram que recorrer muitas vezes aos seus dinheiros que retiravam dos seus parcos salários. É tempo de os reguenses lhes prestarem as devidas homenagens…”.

Nessa carta, divulgava outras faces da personalidade do Dr. Júlio Vilela, um dos fundadores do clube, que também bem serviu a obra dos bombeiros: ”Quero ainda aproveitar para dar uns pormenores sobre os então directores do clube. Não me levem a mal que lembre especialmente o meu irmão Dr. Júlio Vilela. Eu ajudei a empurrá-lo para se responsabilizar pela legalização da agremiação e para a criação dos estatutos. Advogado de profissão, tinha uma vida sedentária. Pois, na altura das obras lá na volta da estrada, era frequente vê-lo cheio de genica a suar por todos os poros, a ajudar a arrastar um rolo de pedra sobre o terreno em construção, compactando e alinhando o terreno de jogo… Naquele tempo, lembro-vos, não havia caterpilares, que ainda nem sequer tinham chegado às vinhas, quanto mais aos futebóis…”.
A Associação Humanitária e o SCR estiveram sempre ligados por relações que ultrapassam a simples cortesia. Ao longo dos anos, existiu uma colaboração de inter-ajuda permanente. Os bombeiros prestam a assistência pré-hospital no Estádio Artur Vasques Osório, aos atletas lesionados. É assim ainda hoje. Uma ambulância para transportes de doentes e um piquete de bombeiros asseguram um serviço de primeiros socorros, sem qualquer despesa para o clube.
As duas instituições, apesar das dificuldades e dos problemas, resistiram a todas as crises e, com a boa vontade e os gestos beneméritos e altruístas de muitos desconhecidos cidadãos, continuam a dar vida aos seus ideais. Com o contributo de todos procuram realizar os seus fins sociais. O ideal seria que os cidadãos participassem mais na vida associativa, mas acontece que os que gozam de mais responsabilidades sociais abdicaram de ser dirigentes. Se nos bombeiros alguns aparecem para servirem nos órgãos sociais, no SCR poucos revelam essa disponibilidade.

O tempo das figuras locais, tais como comerciantes, médicos, advogados e até o pároco, se envolverem na vida era normal na sociedade dos anos 50. O exemplo mais flagrante era o caso dos presidentes de câmara, pelos estatutos das associações eram sempre eleitos por inerência para a presidente da assembleia-geral, coisa que nos nossos tempos não acontece por politiquices, ou vai-se lá saber porquê…!
(Clique nas imagens acima para ampliar)

Na verdade, fazem falta pessoas simples e generosas às duas instituições. A experiência dos bombeiros ensinou-os a não perderem os elos de ligação à população e, sem desmerecer ninguém, às elites, os melhores cidadãos que estão disponíveis para trabalhar na realização do Bem… de uma sociedade mais solidária!
- José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Julho de 2010.
  •  *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.