Branca Martinho
Deixai-me hoje falar-vos
na Associação dos Bombeiros Voluntários da nossa terra, que tem jus ao nosso
carinho e merece parabéns pelo brilho com que se apresenta, pelos anos que já lhes
passaram em cima, pelos actos de heroísmo a marcar na sua vida, já bem longa,
de benemerências.
É uma das mais garbosas
que conheço. Onde se apresentarem, distinguem-se e fazem figura.
Prestaram ontem
homenagem aos seus mortos que sufragam anualmente, no aniversario da sua
fundação, e honraram todos os vivos com a sua visita, os vivos que os têm
ajudado.
Confesso que me alegrei
ao vê-los tão ufanos da sua auto-bomba, a melhor que conheço e a mais completa,
e bem assim a ambulância onde não se pode exigir mais.
Notei a satisfação
incontida que sentiam pelos maravilhosos carros que possuem.
Louvores portanto, aos
Ex.mos Directores, Comandantes e membros desta Associação.
A todos saúdo e louvo; e
sob o sol que tornava mais viva a cor vermelha dos carros brilhavam os
capacetes que pareciam oiro de irrepreensivelmente limpos.
O amor que os leva a
conservar esta Associação vem de Pais a filhos, e já se comunica aos netos, não
deixa ficar calada a minha alma sempre desejosa de ver progredir a nossa terra.
Mas apesar de
sacrifícios sem conta, temos hoje a Associação de Voluntários dotada dos mais
modernos métodos de trabalho e equiparada às mais brilhantes corporações,
graças também a vários beneméritos que generosamente a teem ajudado.
A nossa terra deve
sentir-se honrada e enobrecida por esta corporação. Todos os seus membros têm
dado boa conta de si, e nos momentos de maior perigo lançam-se às chamas
prontos a arrancar delas, aqueles que estão condenados a morrer.
Os bombeiros da Régua têm
nomeada, e tanta que há dias ouvi uma frase que me fez sorrir…
Ateara-se um incêndio
numa cidade ou vila próxima, mas a primeira coisa que se ouviu aos bombeiros
dessa vila foi: Nós trabalhamos mas não chamem os da Régua.
Não sei se é blague, se
uma graça para elevar os bombeiros da minha terra, mas por aqui se reconhece o
seu valor.
Não queriam nessa terra
que chamassem os bombeiros da Régua, por os saberem valentes.
Quantas pessoas vêem
passar indiferentemente este punhado de homens bravos, enérgicos no perigo,
resolutos na desgraça alheia, prontos a dar sem nada receber?
E no entanto pobres e
ricos, nobres e plebeus, pequenos e grandes, lhe devem um acto heróico, um
esforço extraordinário, uma vontade firme, nunca recusada ao mais humilde.
Têm nome e fama os
nossos bombeiros, e ao vê-los tão perfilados e elegantes nos seus uniformes,
fiquei consolada.
Ainda bem que esta
corporação singra!
Ainda bem que há quem
pratique a caridade sem nada esperar, olhando unicamente o bem da humanidade;
ainda bem que nos tempos que correm há homens de coração e acção.
Já pensasteis, caros
leitores, na abnegação e caridade que representa o seu trabalho, a luta com as
chamas prontas a tirar-lhe a vida, todos os perigos a que se expõem para nos
salvarem e aos nossos haveres?
E vêem eles agradecer!
Nós é que nunca devemos
esquecer a gratidão que nos merecem. Auxiliemo-los na construção do seu quartel
em obras há tanto tempo, e que necessita ser terminado.
Deste modo
reconhecer-nos-emos dos grandes serviços que nos têm prestado até hoje estes
heróis, estes homens de valor.
Quinta de Campanhã, 29-11-1948
Nota: Este texto de D. Branca Martinho, publicado no jornal
Noticias do Douro, edição de 5 de Dezembro de 1948, foi assinado com o pseudónimo de Berta Maria que usava para escrever a sua coluna semanal,
intitulada “Brigada de Caridade”, dedicada aos
assuntos de beneficência,
caridade e as causas de bem fazer e do
voluntariado e das instituições mais acarinhadas por ela, como era o caso da
Associação Humanitária de Bombeiros da Régua, o que a distinta benemérita demonstra
nestas palavras de sentido
respeito homenagem aos bombeiros e
directores, a estes heróis, a estes homens de valor, como ela os distingue que
comemoraram em 1948, o 68º Aniversário da Associação de Bombeiros…
com imensas dificuldades para acabar a “construção do seu quartel em obras há
tanto tempo”. Assim, se faz a história
dos Bombeiros da Régua.
Clique nas imagens para ampliar. Este texto está também publicado na edição do semanário regional "O Arrais" de 8 de Março de 2012. Texto e sugestão de J. A. Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Fevereiro 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.