quarta-feira, 14 de março de 2012

No Aniversário da Associação de Bombeiros

 Branca Martinho

Deixai-me hoje falar-vos na Associação dos Bombeiros Voluntários da nossa terra, que tem jus ao nosso carinho e merece parabéns pelo brilho com que se apresenta, pelos anos que já lhes passaram em cima, pelos actos de heroísmo a marcar na sua vida, já bem longa, de benemerências.

É uma das mais garbosas que conheço. Onde se apresentarem, distinguem-se e fazem figura.
Prestaram ontem homenagem aos seus mortos que sufragam anualmente, no aniversario da sua fundação, e honraram todos os vivos com a sua visita, os vivos que os têm ajudado.

Confesso que me alegrei ao vê-los tão ufanos da sua auto-bomba, a melhor que conheço e a mais completa, e bem assim a ambulância onde não se pode exigir mais.

Notei a satisfação incontida que sentiam pelos maravilhosos carros que possuem.

Louvores portanto, aos Ex.mos Directores, Comandantes e membros desta Associação.

A todos saúdo e louvo; e sob o sol que tornava mais viva a cor vermelha dos carros brilhavam os capacetes que pareciam oiro de irrepreensivelmente limpos.

O amor que os leva a conservar esta Associação vem de Pais a filhos, e já se comunica aos netos, não deixa ficar calada a minha alma sempre desejosa de ver progredir a nossa terra.

Mas apesar de sacrifícios sem conta, temos hoje a Associação de Voluntários dotada dos mais modernos métodos de trabalho e equiparada às mais brilhantes corporações, graças também a vários beneméritos que generosamente a teem ajudado.

A nossa terra deve sentir-se honrada e enobrecida por esta corporação. Todos os seus membros têm dado boa conta de si, e nos momentos de maior perigo lançam-se às chamas prontos a arrancar delas, aqueles que estão condenados a morrer.

Os bombeiros da Régua têm nomeada, e tanta que há dias ouvi uma frase que me fez sorrir…
Ateara-se um incêndio numa cidade ou vila próxima, mas a primeira coisa que se ouviu aos bombeiros dessa vila foi: Nós trabalhamos mas não chamem os da Régua.

Não sei se é blague, se uma graça para elevar os bombeiros da minha terra, mas por aqui se reconhece o seu valor.

Não queriam nessa terra que chamassem os bombeiros da Régua, por os saberem valentes.

Quantas pessoas vêem passar indiferentemente este punhado de homens bravos, enérgicos no perigo, resolutos na desgraça alheia, prontos a dar sem nada receber?

E no entanto pobres e ricos, nobres e plebeus, pequenos e grandes, lhe devem um acto heróico, um esforço extraordinário, uma vontade firme, nunca recusada ao mais humilde.

Têm nome e fama os nossos bombeiros, e ao vê-los tão perfilados e elegantes nos seus uniformes, fiquei consolada.

Ainda bem que esta corporação singra!

Ainda bem que há quem pratique a caridade sem nada esperar, olhando unicamente o bem da humanidade; ainda bem que nos tempos que correm há homens de coração e acção.

Já pensasteis, caros leitores, na abnegação e caridade que representa o seu trabalho, a luta com as chamas prontas a tirar-lhe a vida, todos os perigos a que se expõem para nos salvarem e aos nossos haveres?

E vêem eles agradecer!

Nós é que nunca devemos esquecer a gratidão que nos merecem. Auxiliemo-los na construção do seu quartel em obras há tanto tempo, e que necessita ser terminado.

Deste modo reconhecer-nos-emos dos grandes serviços que nos têm prestado até hoje estes heróis, estes homens de valor.

Quinta de Campanhã, 29-11-1948

Nota: Este texto de D. Branca Martinho, publicado no jornal Noticias do Douro, edição de 5 de Dezembro de 1948,  foi  assinado com o pseudónimo de Berta Maria que  usava para escrever a sua coluna semanal, intitulada “Brigada de Caridade”, dedicada aos   assuntos de beneficência, caridade e as  causas de bem fazer e do voluntariado e das instituições mais acarinhadas por ela, como era o caso da Associação Humanitária de Bombeiros da Régua, o que a distinta benemérita  demonstra   nestas   palavras de sentido respeito  homenagem aos bombeiros e directores, a estes heróis, a estes homens de valor, como ela os distingue que comemoraram em 1948,   o 68º Aniversário da Associação de Bombeiros… com imensas dificuldades para acabar a “construção do seu quartel em obras há tanto tempo”. Assim, se  faz a história dos Bombeiros da Régua.
Clique nas imagens para ampliar. Este texto está também publicado na  edição do semanário regional "O Arrais" de 8 de Março de 2012. Texto e sugestão de J. A. Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Fevereiro 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

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