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quarta-feira, 17 de junho de 2015

BREVE HISTÓRIA DO MONTE DE S. DOMINGOS

BREVE HISTÓRIA DO MONTE DE S. DOMINGOS 
Ex-libris da freguesia o monte de São Domingos, com a sua ermida típica das romarias medievais, é um dos pontos de observação da paisagem duriense mais espetacular, senão mesmo o mais extraordinário. Do miradouro de São Domingos conseguem avistar-se os Municípios de Tarouca, Lamego, Resende, Mesão Frio, Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real e Sabrosa. Mesmo à frente dos olhos ergue-se a imponente Serra do Marão e aos nossos pés o Douro segue calmamente até ao Porto. A oeste, em primeiro plano, avista-se Lamego com o seu santuário da Sra. dos Remédios. Para norte vê-se a Régua e mais ao longe no horizonte vislumbra-se Vila Real. (fonte Wikipédia)
CONTA-SE TAMBÉM:
LENDAS DE S. DOMINGOS - DEFESA DE HONRA
Quando por aqui passaram as hostes romanas de Trajano que acamparam no Castro de S. Domingos, um chefe militar ou lugar-tenente raptou, à passagem por Queimada, uma linda rapariga por quem se apaixonou. Procurou convencê-la a segui-lo para o acampamento. Renitente, acabou por ir à força. A moça tinha sete irmãos que tentaram, em vão, defender a honra da rapariga. Presos, foram degolados. Um deles, segundo a lenda, terá sido o primitivo S. Domingos em honra do qual foi erguida a ermida, no alto do monte do mesmo nome que na altura pertencia ao termo de Queimada, e de onde se avistam os restantes seis irmãos, todos santos e cada um com a sua ermida, aquém e além Douro, como é o caso de S. Leonardo de Galafura. (fonte "Blogue Valdigem")
(Imagens recolhidas da net, Clique nas mesmas para ampliar)

domingo, 24 de novembro de 2013

SER BOMBEIRO

Ser bombeiro. Eis o sonho de qualquer rapaz, pelo menos do tempo dos meus verdes anos. Guiar camiões também não era desejo ausente nas nossas cabeças de imaginação sem limites e de vidas imaginadas como eternas, mas ser bombeiro é que era.    

O aperalto das fardas e o reluzir dos capacetes eram de todo o encanto. Mas o toque da sirene, o rodopio aflito dos homens que impulsivamente obedeciam ao seu som e o estridente arranque dos carros em direcção à adivinhada tragédia faziam brotar a certeza absoluta de que um dia podiam contar connosco.

Ir-se para bombeiro era, ao fim de contas, concretizar-se em adulto algo que em criança se desejou. Bastava que, com o devir os anos, a flor do querer nascida na imaginação não fenecesse por falta de alimento, ou porque outros anseios lhe ocuparam entretanto o lugar.

Do conjunto destes sonhos e destas capacidades de imaginação, entrelaçados com a vontade de servir quem a dado momento mais necessita, nasceram as associações humanitárias destinadas ao valor supremo da solidariedade, inequivocamente o sentimento que diferencia os homens dos restantes seres vivos deste nosso planeta azul.

Foi o caso da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, em boa hora surgida no já longínquo dia 28 de Novembro de 1880. Era então a vila, seu berço, uma das mais luzidias de todo o interior de Portugal, mercê das suas potencialidades naturais e do labor dos seus habitantes, homens de visão e de forte empenhamento empresarial e cívico.

Foi, sem sombra de dúvida, um acontecimento marcante na vida de todos nós, quer na dos que nos antecederam, quer na dos que nos seguirão num tempo que não viveremos, mas que nos compete garantir.

Não testemunhei em presença, como é óbvio, os momentos do nascimento da corporação dos bombeiros da Régua. No entanto, quase consigo imaginar as horas, os dias, e os meses em que se pensou e se preparou tão feliz acontecimento. Tive o gosto e o privilégio de rebuscar documentos que singelamente organizei de forma a lhe dar alinhamento em livro, e bem sei das canseiras que então se viveram. Nada me custa pois, então, garantir a justiça de qualquer homenagem feita ou a fazer, mais não seja pelo exemplo de todos os que, ao longo de décadas, dispensaram tempo e canseiras a tão insigne obra.

Graças a eles, na segunda metade da centúria de mil e oitocentos, a vila do Peso da Régua ficou dotada de forma pioneira com um corpo activo de bombeiros abnegados, briosos e altruístas.

A comunidade agradeceu-lhes e soube, podemos hoje testemunhar, louvá-los com a renovação humana de um conjunto de elementos que em tempo algum se negou ao auxílio e à acção em prol dos outros, sempre com sacrifício e por vezes até com a própria vida. Até hoje, os exemplos de antes servem de suporte e de molde orientador aos que agem e servem recebendo em troca muito pouco ou nada, garantindo, no presente, um futuro que, já não sendo o que era, não pode mesmo assim ser encarado sem optimismo e sem esperança.

No decurso de século e meio de vida, pouco falta, pelos lados dos bombeiros da Régua viveram-se, como em tudo na vida, momentos mais tristes e mais complicados, mas viveram-se também momentos de alegria e de festa. Quer nuns, quer noutros, nunca mingou a coragem e sempre imperou a dignidade.    

Diz-nos a História que a A. H. B. V. Peso da Régua sempre esteve na vanguarda sem conhecer a inércia ou o comodismo. Instalou-se a sede primeiramente ao cimo da Rua Serpa Pinto, passou-se para a Rampa Dr. Dias, e depois, ia o século XX a meio, deu-se forma ao actual quartel, um dos mais belos e emblemáticos edifícios da cidade reguense. Equipamentos materiais, esses, sempre foram do mais moderno e melhor, para acção que nunca faltou.

Para memória, ficaram-nos os testemunhos de acontecimentos, entre outros, como a enorme derrocada nas Caldas do Moledo em 1904, que destruiu edifícios e arrastou trinta pessoas até às águas do rio Douro, além das inúmeras cheias do rio que nos dá o ser e cujos humores nos habituamos a respeitar com desassombro, pois sabemos com quem podemos contar. Na região duriense, em Lamego, em 1911 e em 1918; em Mesão Frio, em 1916 e em 1957; em Laurentim, em 1929, e noutros locais, sempre os bombeiros da Régua, souberam dar testemunho da sua valentia. Mas também na Régua, como não podia deixar de ser, a sua acção foi de elevada índole e de ímpar brio. Em 1915, aquando da revolta popular que incendiou a repartição das Finanças; em 1919, quando as forças revoltosas e monárquicas incendiaram o edifício do Asilo José Vasques Osório; em 1937, no terrível incêndio que lavrou no edifício da Câmara Municipal; em 1956, quando foram consumidos os armazéns de uma firma de vinho do Porto na Avenida Dr. Manuel Arriaga, e em 1953, quando ardeu por completo o empório de secos e molhados “Casa Viúva Lopes”, e em cujo combate pereceu o bombeiro João Figueiredo, conhecido por João dos Óculos.      

Para a história dos momentos grandiosos, ficou a organização, em 1980, do 24º. Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, que trouxe à Régua milhares de bombeiros e dirigentes, à semelhança do que sucedeu recentemente em 28 a 30 de  Outubro de 2011.

Ser bombeiro é, pois, um sonho de qualquer criança. Mas ser bombeiro da Régua será inquestionavelmente um motivo de orgulho de todo o adulto que, mesmo não envergando tão distinto uniforme, bem pode ver-se como elemento de tão altruísta associação cívica.
- Manuel Igreja. Actualizado em Novembro de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2013. Actualizado em Novembro de 2013. Imagem e texto cedidos pelo Dr. J. A. Almeida para este blogue. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Recortes da net - A Casa do Douro e a dignidade regional

Manuel Igreja - In Diário de Trás-os-Montes

A Casa do Douro está sem oxigénio, dizia-se aqui há uns dias em alguns jornais. Está ela sem oxigénio, mesmo a desfalecer se é que já não se finou mesmo, e estamos nós na região com muita falta de vergonha por permitir que assim tratem a outrora pujante casa comum da lavoura duriense.

O Estado quando não mais precisou dela, tratou-a como uma velha criada que se despede por falta de préstimo, e todos os agentes regionais assobiaram para o lado, assim como se semelhante assunto mais não fosse do que do interesse de ninguém. À nossa velha maneira, atiraram-se as culpas para terceiros, dispararam-se à primeira tiros de pólvora seca para alvos indefinidos, e cada qual tratou do seu próprio umbigo. 

Num rosário quem vem sendo desfiada já há duas décadas, governo atrás de governo, nada se tem feito para se tirar a castanha do lume. Ao costume, pelo nosso lado, quando se vem a terreiro, nada mais se diz ou faz, do que endereçar as culpas para Lisboa, com queixumes acerca do abandono a que nos deitam.

Ao longo dos anos, sempre que aportam por aqui os governantes, por sua vez juram-nos o seu amor eterno por causa das belezas paisagísticas que nos envolvem, assim como se a região fosse uma dama muito bela susceptível de arrebatar corações a torto e a direito, mas depois logo esquecem as promessas e as referências às nossas aperreações que afiançam como sendo igualmente suas. 

Nem o facto de por via dos compromissos bancários assumidos o próprio Estado ser parte integrante dos prejudicados, faz com que por parte dos decisores políticos surja medida que se veja tendo-se como finalidade a resolução quer do problema da situação da Casa do Douro, quer da própria e essencial definição da forma de organização da lavoura duriense. 

No Parlamento os legisladores arranjam tempo para tudo e mais alguma coisa, mas não arranjam tempo para legislar acerca dos Estatutos da Casa do Douro. Não estivéssemos em Portugal, e seria de assombro, o haver inscrição obrigatória num organismo moribundo para o exercício de uma actividade profissional, no caso, a de viticultor. Que o seja, não serei conta, mas pelo menos que definam os contornos e o contexto, ajudando a que a organização se erga e caminhe pelo seu pé. 

Por outro lado, pelas nossas bandas, ninguém se tira de cuidados nem deixa de dormir por causa de problemas que mesmo sendo de todos, são sempre tidos como dos outros. Nem o facto de dezenas de pessoas estarem sem ordenados vai para dois anos e meios, faz com que alguma palha se mova, ou alguma brisa agite o remanso do quotidiano a cuidar de videiras e de vinho, julgando-se cada um dono do melhor néctar.

No Alto Douro vinhateiro, consegue-se uma coisa quase sem igual, à semelhança do vinho que é que nem sol engarrafado. A maior e se calhar mais rica, organização profissional do país, não tem quem dela cuide. Se tudo corresse como deve, receberia em quotas uma “pipa de massa”, mais do que qualquer congénere, tem activos que serão rés vez com os passivos se quiserem fazer contas, mas na região prefere-se voltar ao tempo de antigamente, quando se de chapéu na mão, o lavradores mendigava para lhe ficarem com o vinho. 

Ninguém quis fazer ver na União Europeia que numa actividade económica com um produto único que somente concorre com ele mesmo, e na qual meia dúzia de empresas compram o que dezenas de milhar de produtores produzem, se impõe um quadro regulador forte e eficaz. Nem o saber de experiência feito, nem os exemplos mostrados na História, foram suficientes. Podia-se ter argumentado por aí, mas ninguém quis ou soube.

A Casa do Douro começou a mirrar aí, para ir agonizando em sucessivos acontecimentos. Negócios eventualmente bem pensados mas mal sucedidos, promessas de compensações nunca cumpridas mas também tenuemente exigidas, protocolos nunca levados à prática, mais não foram do que golpes em corpo estatelado entre a indiferença de quem é fraco porque se não sabe unir.

Falta-lhe a estocada final. O golpe de misericórdia. Está à tona porque não é barco em mar revolto, mas nada tarda a ir ao fundo, levando consigo a prova provada de uma pobre região, que sendo rica, permite desde que a demarcaram que lhe suguem a riqueza deixando-lhe as migalhas. 

A questão da Casa do Douro é uma questão nacional, deve envergonhar o país, mas é antes de tudo, um assunto regional. Devia motivar-nos, mas parece que não. Pelo menos que nos envergonhe. Será sinal de que ainda temos alguma dignidade.
mail:  Manuel Igreja

Clique na imagem para ampliar. Texto de Manuel Igreja publicado no Diário de Trás-os-Montes. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Fevereiro de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.