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domingo, 24 de novembro de 2013

GERIR O NOSSO TEMPO…

As iniciativas designadas de “projetos que fazemos para a nossa vida” são abundantes, mas nem sempre realizáveis. No quadro lógico, o relacionamento assume maior relevo comparativamente aos elementos isolados e, se bem aplicado, reforça a amizade, e o trabalho produzido a bem de uma causa torna-se mais profícuo, reforçando a legitimidade daquilo para que somos eleitos.

Os projetos são intervenções que devem ser capazes de atestar coerência. Tal é conseguido se não se afastarem daquele que é, ou se assume que deva ser, o fundamento da sua existência, a concretização de um sonho que alimentamos desde criança.Tal situação estimula a seletividade dos nossos pensamentos e torna a avaliação das nossas iniciativas como um fator importante para o desenvolvimento das nossas capacidades.

Numa perspetiva prática para desenvolver um trabalho, não importa ter muitas ideias. Importa ter ideias e capacidade de concretização. Não chega saber-se aquilo que se quer. É fundamental transmitir isso aos outros.

Tive a felicidade de servir em várias causas. Eleito para a Direção do Sport Clube da Régua, desempenhei vários cargos durante anos. Fiz parte de algumas Comissões de Festas de N. S.ª do Socorro. Durante quatro anos exerci o cargo de vereador do Município da nossa terra, tendo, nessa altura, proposto que fosse dado o nome a uma rua do malogrado Bombeiro que morreu tragicamente no incêndio da Casa Viúva Lopes, João Figueiredo, mais conhecido por João dos Óculos, proposta que foi aprovada por unanimidade, estando essa rua localizada no Bairro de N. S.ª do Socorro. Atualmente faço parte da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia. Por fim, quero falar daquilo que não foi a última causa que servi, mas aquela que me marcou mais – fazer parte da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua durante cerca de quinze anos, sempre como primeiro secretário. E digo isto porque, no momento em que o Senhor Doutor Aires Querubim teve que deixar o cargo de Presidente da Direção por ter assumido o de Governador Civil, foi-me proposto pelos meus colegas que o substituísse, o que não aceitei por entender que as minhas aptidões estavam mais viradas para aquilo que desempenhava.

Participei e trabalhei na concretização de vários projetos, sendo que os de maior relevância foram o alargamento do Quartel e a construção do Bairro. Empenhei-me, não só eu, mas também todos os meus colegas de Direção, para que um sonho antigo que já vinha de alguns anos atrás – o bairro – se tornasse numa realidade. Não posso esquecer o momento em que, tendo o Senhor Doutor Aires Querubim sido nomeado para o cargo que exerceu brilhantemente como Governador Civil, lhe pedi para interceder junto do Fundo do Fomento da Habitação para o desbloqueamento do projeto, o que fez com todo o entusiasmo e competência e, assim, tornou realizável aquilo que já se vinha arrastando há longo tempo, anterior mesmo às Direções de que fiz parte. Foi com muita emoção que assinei o contrato para a sua construção.

Também um momento alto na minha passagem pela Direção dos nossos Bombeiros foi aquele em que, com muito entusiasmo e crença, consegui, juntamente com o saudoso Comandante Senhor Cardoso, como eu o tratava, trazer para a nossa terra a realização de um Congresso no ano do centenário da nossa Associação.

Foi um momento alto que vivi aquando da votação para a realização de tão importante e apetecido evento, já que havia outras Corporações interessadas, entre as quais a do Porto, mas foi escolhida a do Peso da Régua. Houve, na altura, quem duvidasse da nossa capacidade, pois era entendimento de alguns que a nossa terra não possuía estruturas capazes de albergar mais de um milhar de participantes, entre Bombeiros com farda e sem farda. É certo que na altura não possuíamos hotéis ou residenciais, tanto aqui como nas redondezas, capazes de albergar tamanho número de participantes.

Mas, como “querer é poder”, conseguimos, com a ajuda de muitos reguenses, que receberam em suas casas alguns elementos diretivos das corporações de quase todo o país, dos Seminários de Godim e de Poiares e de um salão da Real Companhia Velha, onde foram colocados colchões insufláveis que nos foram cedidos pelo Regimento Militar de Lamego, alojar centenas de Bombeiros que vieram no dia anterior ao do encerramento. Tivemos, ainda, a cedência do pavilhão, que na altura ainda estava em final de construção, da Escola João de Araújo Correia, onde foi servido um jantar a todos quantos nos honraram com a sua vinda e foram mais de um milhar.

A abertura do Congresso, que teve lugar no Cine-Teatro Avenida, foi presidida pelo então Ministro da Administração Interna, Eng.º  Eurico de Melo, e ao seu encerramento assistiu o Senhor Presidente da República, General Ramalho Eanes, com um almoço no salão Nobre da Casa do Douro.

Foram momentos que jamais esquecerei, aqueles que vivi naquele dia ao ver desfilar na minha terra centenas de Bombeiros e dezenas de viaturas!

Foi com muito orgulho que, em ambos os momentos, assumi as honras da Casa, por ausência inesperada do então Presidente da Direção, Senhor António Bernardo Pereira. Jamais esquecerei o que, em dada altura, me perguntou o então Presidenta da Liga dos Bombeiros Portugueses, Padre Vítor Melícias, se eu ainda sabia onde ficava o Norte e o Sul do País.

Estive presente em vários Congressos, deslocando-me sempre em representação da Direção e na companhia do nosso tão querido e saudoso Comandante, Carlos Cardoso dos Santos, tais como em Aveiro, Estoril, Guarda, Viana do Castelo e Viseu, mas, como é natural, aquele de que guardo as melhores recordações, é do nosso, feito com muito trabalho e sacrifício de toda a Direção, mas também de vários reguenses e de elementos de outras corporações do distrito que connosco tiveram a amabilidade de colaborar, excetuando-se a de Mesão Frio, que não concordou com a nossa eleição.

Não poderei esquecer, ainda, a colaboração que tivemos do nosso Município, presidido pelo saudoso Professor Renato Aguiar, do qual obtivemos grandes ajudas, inclusive a de fazer coincidir com o Congresso a realização da Feira do Douro, que tanto o abrilhantou.

Sempre me empenhei, com a colaboração de todos os meus colegas de Direção, entre os quais destaco o incansável trabalho desempenhado pelo nosso Tesoureiro, Senhor Heitor Gama, por fazer o melhor que sabia e podia para o engrandecimento e bem-estar dos nossos Bombeiros e da nossa Associação, citando a criação da Fanfarra e a realização das Festas de Natal. Para fazer face às despesas com tais realizações e ainda quando era necessário adquirir uma viatura, lá íamos percorrer todas as freguesias do nosso concelho, levando a cabo peditórios para a recolha de fundos. Sempre fomos recebidos com o maior carinho e boa-vontade, acompanhados pelo Corpo Ativo, que, juntamente com a Direção e o Comando, sempre quis colaborar.

Fui responsável pela saída dos últimos números do jornal Vida por Vida, interrompida pelos seus custos, que se tornaram difíceis de suportar pela Associação.

Por fim, recordo duas situações que vivi, nas quais desempenhei o trabalho de um bombeiro com farda. A primeira foi quando fomos chamados para a extinção de um fogo na Quinta do Castelo, em Medrões. Na falta do Comandante e de Bombeiros que se encontravam em serviço em Moura Morta, tive que conduzir uma viatura transportando para o local, com autorização do Comandante, material e alguns homens que foram desempenhando funções, aos quais se juntaram depois os seus colegas vindos do local onde se encontravam.

O outro foi quando trabalhava na secretaria desempenhando funções que me estavam adstritas. Atendi um telefonema em que era pedida uma ambulância para transportar um acidentado em estado grave em Vilarinho dos Freires. Havia viatura, mas faltava quem a conduzisse. Imediatamente interrompi o que estava a fazer para ir socorrer quem dos Bombeiros necessitava.

E foi assim que passei dos melhores momentos da minha vida, servindo com amor, carinho e abnegação as causas que abracei desinteressadamente.
- Manuel Montezinho. Actualizado em Novembro de 2013

Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2013. Actualizado em Novembro de 2013. Texto e imagem cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A Biblioteca dos Bombeiros

“Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca.”
Jorge Luís Borges

Estou no alto do Quartel Delfim Ferreira, na varanda da Biblioteca dos Bombeiros, no terceiro piso de um dos edifícios mais bonitos da Régua, onde sobressai uma imponente fachada esculpida em granito pela hábil mão de um grande mestre pedreiro, a observar a paisagem do além Douro, as vinhas de cores outonais que serpenteiam o Vale Abraão e, ao fundo do Salgueiral, uma curva do rio a espreguiçar-se, numa manhã intensa de luz.

Quando, há mais de cem anos, se formaram os bombeiros da Régua, equipados de um carro bomba e algum material rudimentar para apagar fogos, estavam bem longe de imaginar que a casa de leitura, que começou numa velha estante de mogno cheia de livros oferecidos, se tornaria, desde então, um lugar cultural de referência na Régua.

Quem ainda conheceu essa velha estante de livros e se deslumbrou com ela foi João de Araújo Correia quando, muito novo, acompanhava o seu pai, ao tempo bombeiro voluntário, ao quartel. Mais tarde, o homem e o escritor, sem sair do seu sagrado eremitério e com a ajuda dos seus amigos de Lisboa, conseguiu convencer a Fundação Gulbenkian, nos inícios dos anos 60, a fazer da velha estante da sua infância uma biblioteca ordenada, catalogada, com mais obras literárias e edições recentes. Se assim o soube idealizar, depressa lhe fizeram a vontade e nasceu a Biblioteca Dr. Maximiano de Lemos, com livros oferecidos pela benemérita instituição, o que, naquele tempo, foi motivo de regozijo para muitos jovens leitores, ávidos de descobrir novos autores.

Também eu frequentei esta moderna Biblioteca dos Bombeiros da Régua no meu tempo de adolescente. A partir dos meus treze anos tornou-se um lugar de passagem obrigatória, três ou quatro vezes por mês. A bem dizer, eu estava a iniciar-me nos livros, em novas leituras e autores desconhecidos que iam despertar a minha imaginação para lá das portas do pequeno mundo que, até àquele momento, estava ao meu alcance e me era visível da varanda da biblioteca. Confesso que, não sendo um admirador de ficção científica, procurei naquela biblioteca, por recomendação de um amigo, um livro com o estranho título de Fahrenheit 451, da autoria do escritor americano Ray Bradbury, de 1953. Mal eu sabia que nele ia encontrar, como personagem principal, um bombeiro encarregado não de apagar os incêndios, mas de queimar livros. Sim, aquele bombeiro de nome Montag tinha a missão de queimar LIVROS…! Para mim, estava muito claro que a função dos bombeiros nunca seria essa. Queimar livros, um acto que resume apagar, incinerar o conhecimento, a ilusão, a magia e a memória do Universo. A princípio pensei que o autor se tivesse enganado, mas percebi que, admirador de livros e de bibliotecas, onde até escreveu aquela sua obra, pretendia fazer uma crítica aos regimes totalitários de então, que viam o livro como um perigo e um inimigo, ao mesmo tempo que satirizava o poder da televisão e a alienação que ela exerce sobre a maioria das pessoas.

Se hoje recordo o livro que fala de uma missão que nunca será a dos Soldados da Paz é porque quero voltar, ainda que fechada a público, à Biblioteca dos Bombeiros, com tempo para revisitar livros raros que ali se guardam, sempre à espera de novos leitores. 
Quero também lembrar o nobre exemplo de cidadania dos primeiros bombeiros e o seu contributo para organizar uma biblioteca como a nossa. Eram homens generosos, sensíveis e que apreciavam a cultura como uma forma de valorizar e enriquecer as suas vidas. Eles foram pioneiros numa atitude que, naquele tempo, foi aplaudida e acarinhada também pela sociedade civil. De uma pequena estante de livros fizeram uma biblioteca preservada e mantida pelas gerações vindouras, que estimulou os hábitos de leitura e que cresceu com a oferta de milhares de exemplares de colecções de livros raros. Sem terem lido o romance Fahrenheit 451, que haveria de ser publicado na nossa época como uma obra que pretendia prever o futuro, os primeiros bombeiros da Régua conheciam o valor dos livros e a importância de ter uma biblioteca. Entre outros, tiveram à sua disposição na velha estante autores portugueses e estrangeiros, os clássicos e os contemporâneos, e até aqueles que, sendo naturais da Régua, tinham sido publicados a nível nacional, como Afonso Soares, Bernardino Zagalo e Mário Bernardes Pereira. Para além de obras esquecidas destes nossos conterrâneos, encontrei um livro do poeta ultra-romântico João de Lemos (1819-1890), celebrizado pela poesia “A Lua de Londres”, que começa com estes memoráveis versos:

É noite. O astro saudoso 
rompe a custo um plúmbeo céu, 
tolda-lhe o rosto formoso 
alvacento, húmido véu, 
traz perdida a cor de prata, 
nas águas não se retrata, 
não beija no campo a flor, 
não traz cortejo de estrelas, 
não fala de amor às belas, 
não fala aos homens de amor.

O livro do poeta reguense intitula-se Canções da Tarde e a sua primeira edição saiu na Typografia Portuguesa, de Lisboa, em 1875. Sobre esta obra em concreto não se sabe como a crítica fez a sua recensão, mas é interessante salientar que a poesia deste autor mereceu apreciações literárias positivas, como esta de J. A. Barreiros: “cantou o amor, Deus, a Pátria, sentimentos íntimos, em versos de acento melancólico e de grande emoção lírica. (…) O ritmo musical, em algumas composições, é de excelente efeito e apropriado à declamação”. O poeta ultra-romântico teve fiéis leitores e, apesar de as suas obras não serem actualmente reeditadas, o seu nome está referenciado nos compêndios da história da literatura portuguesa como um dos poetas mais marcantes da segunda geração romântica.

Costuma dizer-se que “por trás de cada livro há uma pessoa” e por trás daquele exemplar, encadernado numa capa dura, de Canções da Tarde está alguém muito especial, a pessoa a quem pertenceu o livro, uma benfeitora que, depois de o usar, entendeu oferecê-lo à Biblioteca da Real Associação Humanitária dos “Bombeiros Voluntários” do Pezo da Regoa. Essa mulher não quis deixar a sua dádiva no anonimato e, na capa do exemplar, fez questão de a assinalar, escrevendo um “offerece”, a que acrescentou, numa delicada caligrafia em tinta permanente, a sua identificação. Ainda bem que anotou o seu nome, ficamos a conhecer a sua admiração literária pelos versos escritos por um poeta reguense e, porventura, o gosto das senhoras do seu tempo pela poesia. Mas também ficamos a saber que as obras de poesia romântica rechearam a primitiva estante. A senhora que ofereceu um exemplar de Canções da Tarde foi a D. Leonor Cristina Ermida de Magalhães, esposa do Comandante Manuel Maria de Magalhães, ele que publicou versos românticos nos jornais reguenses.
A pequena vila da Régua que, há mais de cem anos, aspirava a ser o centro comercial e vinhateiro do Douro, viu surgir, no velho Quartel do Largo da Chafarica (hoje conhecido por Largo dos Aviadores), de uma velha estante de livros a sua primeira biblioteca pública graças ao espírito empreendedor dos bombeiros, de alguns dedicados directores e à ajuda de muitos beneméritos anónimos.

A criação da Biblioteca Municipal do Peso da Régua não apaga o pioneirismo daquela que hoje persiste hoje como a famosa Biblioteca dos Bombeiros, motivo de orgulho de todos os associados.
- Peso da Régua, 3 de Janeiro de 2013, José Alfredo Almeida*, Presidente da Direcção da AHBV do Peso da Régua. Atualizado em 13 de Novembro de 2013.
- Sobre a "Biblioteca dos Bombeiros" neste blogue.

*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Atualizado em Fevereiro e Novembro de 2013. Também publicado no semanário regional "O Arrais", edição de 6 de Fevereiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Memória dos Nossos Bombeiros - Carta para o Dr. Camilo de Araújo Correia

Lembrando o Dr. Camilo em 30 de Outubro de 2013, data que evoca o 6º. ano de sua ausência física entre nós. 'Carta' escrita pelo também saudoso M. Nogueira Borges.

Meu saudoso Amigo:

Faço votos para que esta o vá encontrar de modo igual ao que costumava ser enquanto por cá andou: sereno mas acutilante, especulativo mas pragmático, de bem com a vida mas adversário do fingimento.

Agora, em Canelas, não sei  como  será,  mas  idealizo o mesmo. A morte não esquece o que foi a vida quando a lembrança se perpetua, não acha? Fui lá uma vez, pousei uma rosa, falei  consigo, mas  não  me  ligou nada; até pensei que estivesse a mostrar-se amuado por demorar tanto tempo a visitá-lo. Ou, então, estaria muito atento ao que lhe diziam os que estão ao seu lado… Bem - pensei para mim – deve estar por aí a conversar com algum conhecido,  e como não tem relógio esqueceu-se da sua morada. Vim embora porque, mais tarde ou mais cedo, lá chegará a hora de pormos a conversa em dia.

Mas, sabe, imagino-o a escrever crónicas nos jornais do céu, a causticar os anjos armados em santinhos ou santinhas (ainda ninguém descobriu o sexo deles, não é meu amigo?), todos muito puritanos a dar lições de moral e, nas sombras, a concretizar o adágio dos simulados :  «Olha  para o que eu digo e não para o que eu faço.» Talvez tenha descoberto por aí  daquelas   espécimes  que olham de alto como quem palita os dentes ou arrota postas de vitela, e a tentação de os apontar  seja tanta que não o deixe ficar calado.  Para o céu deve ir – sou eu a pensar, claro – muito tipo de gente, pois a misericórdia divina não tem limites. Por cotejo com o que me ensinaram na catequese (belos tempos!), acho que ele deve ser habitado esmagadoramente pelos honestos, os construtores da palavra , os que fogem da falsidade e do descaramento, os que conhecem a grandeza humana e a  sua antítese,  os que respeitam o medo mas repelem a cobardia, os que não fantasiam  amar os pobres nem pedem publicidade para a oferta, os que sabem que a verdadeira fortuna é ter o  essencial que dê dignidade à vida, à vida de todos. Por isso, deve-lhe meter impressão ver aí de tudo como na farmácia.  Para desenfastiar já deve ter escrito outro Livro de Andanças, viajante que é dessas terras e caminhos etéreos. Deve ser uma pena não haver aí um Palácio da Loucura para uma reedição de Coimbra Minha… Olhe, vá ouvindo umas anedotas do mano João…
Escrevo-lhe dentro do carro, com o bloco assente no volante, diante do mar, na praia nortenha de que seu Pai mais gostava. Tenho memória recente  de corpos na areia, tostando a celulite ou a silicone (uma pessoa já nem sabe). Ao longe, na linha do infinito, um barco, largado de Leixões, afunda-se na vertigem da lonjura. Recordo-me de África; sei-a do outro lado do mundo, resplandecente e imensa, vermelha e abrasadora. Aquele Moçambique para onde fomos em datas diferentes, a Porto Amélia do Paquitequete e dos corais, da casa do Jaime Gabão e da mesa da D. Nair, daquela fraternidade e daquela mágoa de ver o Lança Pires esticado num Unimog, ele que fora só à Serra Mapé, em Macomia, visitar colegas de escola.

A sua lembrança, meu saudoso amigo, quando lá cheguei, ainda pairava nos exíguos corredores do hospital, nas esplanadas da Jerónimo Romero, nos serões das lendas do algodão da pensão Miramar e nas gentes que lhe conheceram o jeito e a dádiva. Neste jornal, onde na sua última página escreveu centenas e centenas – sei lá milhares - de crónicas (foi uma pena não ter coligido as principais num volume, como alguns lhe disseram), retratou o esmagamento da savana e a aventura duma caçada, a cumplicidade da temba, o espasmo sanguíneo do pôr-de-sol, o êxtase dos cheiros e dos sons do mato, a sensualidade da mulher africana, o orgasmo do nascer dos dias e  a angústia dos anoiteceres suados.

Consigo aprendi muito do que é a verticalidade e a honradez intelectual, o horror aos sevandijas e aos excessos dos humanos.  Aprendi que tanto se pode subir até tocar a platina como descer até nos ferirmos no alumínio…

Mas, perguntará, «este só agora é que me escreve?» Eu digo-lhe: aqui na Régua, terra a que sempre chamou sua apesar de ter nascido na Invicta, andou tudo numa fona por causa de um Congresso de Bombeiros. O José Alfredo Almeida, aquele jovem com um sorriso do tamanho da generosidade, que está, agora, à frente da Associação, tomou a peito a organização, publicou até um livro sobre a História desses homens que dão o corpo ao manifesto – quantos a alma – pela nossa segurança, e tão pouco recebem desta sociedade egoísta, tantas vezes denunciada com a precisão da sua pena. Sabe que foi considerado o melhor acontecimento do género realizado na Pátria? São os que vieram de fora a confirmá-lo sem ciumeiras. Que, diabo,  também somos capazes não é?...
Lembrei-me muito de si nesta altura,  que,  entre 1964 e 1965, foi presidente da sua Direcção, seu médico, director do Vida por Vida e titular da Medalha de Ouro. E tenho – caramba! – saudades de si. Há dias fui à pasta onde guardo as suas cartas - as lembranças que elas me trouxeram! Piadas de gargalhadas cerebrais, ironias tão subtis que sintetizavam a mordacidade total, tolerância de escrita, protestos cúmplices pelo desaforo social, ideias e conselhos de quem conhecia a literatura, as suas gentes e os seus modos…

Cai uma chuva triste, de luto pelo Verão que se foi, parece um choro celestial, um gemido dos deuses desgostosos com este mundo comando pela falta de idoneidade, uma saudade enorme daqueles de quem gostámos e nos deixaram do mundo dos sorrisos. O dr. Camilo nota por aí alguma revolta Divina, algum sentimento de pena por estes terráqueos que já se cansaram de lhes irem ao bolso, assaltados à lei (des)armada, como quem limpa fraldas a meninos? Diga-LHE para vir cá abaixo pôr ordem nestes Montes Pintados e nestes Caminhos Velhos e Novos, nestes Assentos e Jurisdições, nestas Sedes e Filiais, nestas Desesperanças e Ódios. E se ELE não vier, que mande um novo Cristo com um cajado na mão para expulsar toda a canalha da Terra. Peça-lhe isso, não se esqueça…

Vou-me despedir, imitando-o nos momentos de emoção: «RAIO!»


- Novembro de 2011 - M. Nogueira Borges
Memória dos Nossos Bombeiros - Carta  para o Dr. Camilo de Araújo Correia 
Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 10 de Novembro de 2011
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
Texto de M. Nogueira Borges publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'O Arrais" (10/11/2011). Atualizado em 30 de Outubro de 2013, data que relembra o 6º. ano de sua ausência física entre nós. Clique  nas imagens acima para ampliar. Imagens cedidas pelo Dr. José Alfredo Almeida e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2011. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Os meus bombeiros

                                                                                                                            José Alfredo Almeida
      
Lembro-me de ler uns versos de Camilo Guedes Castelo Branco em que evoca a missão heróica dos bombeiros. Li-os escritos sobre uma fotografia a preto e branco onde está retratada a figura de um bombeiro sem que se veja o rosto, fardado a rigor, a sair de uma casa em chamas, com uma criança ao seu colo. São estes os versos: “E eis que em meio trágico do braseiro/surge a figura altiva do bombeiro/ Trazendo ao colo o pequeno ser”.

Não sei precisar a data em que os escreveu e chegaram a ser publicados. Apenas posso dizer que foram declamados, no verão de 1950, numa brilhantíssima récita de artistas amadores e da Orquestra Reguense, dirigida pelo professor José Armindo, em benefício da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Régua.

Quando aconteceu essa récita, Camilo Guedes Castelo Branco já não era vivo, falecera em 25 de Agosto de 1949, com 81 anos, mas o seu filho Jaime Guedes era, nesse tempo, o presidente da direcção da associação.

O poeta Camilo Guedes Castelo Branco não fez parte do grupo dos fundadores da Companhia dos Bombeiros Voluntários da Régua, como então se dizia, mas foi pioneiro ao alistar-se aos 17 anos como bombeiro. Conheceu os principais fundadores da Companhia, aprendeu os ensinamentos do combate aos fogos com os três primeiros comandantes e teve formação com o inesquecível Comandante dos Bombeiros do Porto, Guilherme Gomes Fernandes.

Na Régua do seu tempo, o poeta ficou mais conhecido como comandante dos bombeiros e pelo seu exemplo de dever cívico, mas é injusto não o recordar pelas outras facetas da sua vida, onde se revelou um cidadão empenhado política, social e culturalmente. Deve ser lembrado como um defensor moderado do ideário político republicano no concelho da Régua, onde exerceu as funções de administrador. Este discreto ajudante de notário foi ainda jornalista na imprensa local e dirigiu jornais importantes que se publicaram na Régua, como o jornal O Cinco de Outubro. Publicou apenas um livro, o Fraternais Dolores (1923), e deixou muita poesia dispersa nos jornais. Por editar ficou o livro Arias Sertejanas, mas isso não impediu que Camilo Guedes Castelo Branco fosse reconhecido como poeta “lírico de altíssimo talento”, como disse João de Araújo Correia, que incluiu na sua Lira familiar uma das poesias do nosso comandante. Os seus dotes literários brilharam também como autor de peças de teatro, destacando-se a opereta As Andorinhas, que foi musicada pelo maestro Almeida Saldanha e popularizada dentro e fora da Régua nos palcos do teatro amador.

Mas vamos ao que interessa, que são aqueles versos dedicados a um bombeiro sem nome e sem rosto. Quem concebeu a ideia de associar os versos do poeta a uma fotografia de um bombeiro com uma criança ao colo, teve como intenção construir uma imagem apelativa ao sentimento, evidenciando o sentido muitas vezes dramático da missão de um bombeiro, que nunca procura A SUA HONRA NEM A SUA GLÓRIA na hora de salvar uma vida em perigo.

Pela qualidade literária, pela vibração afectiva e pelo sopro de humanidade que dela se desprende, gostava de lembrar e partilhar a poesia “O Bombeiro”, donde foram retirados aqueles versos:  

“No silêncio da noite, de repente,
Ergue-se a voz estrídula dos sinos
      num longo baladar
E à distância brilhou, sinistramente,
Um clarão, que tingiu a luz do luar
    de laivos purpurinos.
“Fogo! Fogo!”-alguém diz com aflição.
E logo a pobre gente do lugar,
toda cheia de espanto e de canseira,
Pôs-se a correr, gritando, em direcção
    da medonha fogueira.

O incêndio crepitava 
e, batido do vento, devorava
Uma pequena casa arruinada.
E, perto, uma mulher d`olhar aflito
erguia as mãos ao céu calmo e infinito
a chorar e a gemer desesperada.
Ali, em meio da fogueira, tinha
essa mulher um filho, a criancinha 
mais bonita da velha povoação,
e o fogo, em seu horrível avançar, 
iria dentro em breve transformar 
o seu pequeno corpo num carvão.

Metia dó a pobre mãe! Mas como
Salvar-lhe o louro e cândido filhinho,
    se a labareda e o fumo,
num espantoso e horrível torvelinho,
ameaçam devorar rapidamente
quem se abeirar dessa fornalha ingente?

Podes chorar, mulher! ninguém te acode.
Chora, que és mãe; mas vê que ninguém pode
esse anjinho das chamas libertar.
Olha: em meio da tétrica fogueira
anda a morte, feroz e traiçoeira,
    a acenar, a acenar…

Mas nisto, junto ao prédio incendiado
surge um homem soberbo de valor.
A multidão ansiosa solta um brado
    de espanto e terror.

Ele caminha sempre com a firmeza
e a intrepidez estóica dos heróis;
escala a casa em chamas com presteza,
escala a casa em chamas…e depois…
    depois desaparece.
E a pobre mãe aflita cai de bruços
A murmurar baixinho, ente soluços,
    Uma prece…

Na multidão, silêncio. Só se ouvia
um secreto rumor, que parecia
o palpitar de muitos corações…

Senhor! És pai e cheio de bondade!
estende lá do azul da imensidade
O teu olhar repleto de perdões!

E eis que em meio trágico do braseiro
surge a figura altiva do bombeiro
Trazendo ao colo o pequeno ser.
Passou…desceu…e dentro em pouco, ansioso,
depositava o fardo precioso
no regaço da pálida mulher.”

O poeta sabe do que fala; como velho bombeiro que foi, retirado do corpo activo, parece recordar uma história real de um fogo, um que ele próprio combateu com o seu espírito abnegado e corajoso ou um dos muitos em que comandou. São esses heróis sem tempo, sem rosto e sem nome que, para protegerem as nossas vidas e bens, sacrificam, se for preciso, a sua própria vida. O comandante Camilo Guedes Castelo Branco ensinou o seu lema aos seus bombeiros: “Para se salvar uma criatura de uma morte certa, todos temos a obrigação de sacrificar seja o que for, mesmo que sejamos nós próprios”. 

Os bombeiros são heróis anónimos. Como está visível na poesia, a medalha mais importante é o bem que fazem; são a sua coragem e o seu altruísmo que nos devolvem nos maus momentos a esperança, a alegria e o sorriso de eternamente gratos pela sua existência.
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As minhas recordações da infância estão povoadas com os primeiros bombeiros que vi a combater um fogo que ameaçou destruir uma velha casa nas Caldas do Moledo, lugar onde nasci e dei os meus primeiros passos. Se não fossem esses corajosos bombeiros, as chamas teriam reduzido a cinzas a vida de uma família pobre e os seus míseros haveres. Nunca soube o nome dos bombeiros que apagaram esse fogo, mas eles ficaram-me retidos nas malhas da memória como heróis.
Mal sabia eu que, muitos anos depois deste fogo, as voltas do destino me pregavam uma partida e faziam-me ser um bombeiro, sem farda nem capacete, pois que fui convidado para assumir a Direcção da Associação, isto é, tomar conta das contas, dos papéis, das mil e uma burocracias que não os podem ocupar para estarem sempre prontos a responder ao toque da sirene. 
Tive fortes razões para recusar o convite, mas o apelo das minhas memórias de um fogo fizeram com que aceitasse, com honra, um cargo directivo para o qual não sabia se estava preparado, nem se teria competência para estar ao lado de homens que eu admirava e eram os meus heróis. O certo é que tive de aprender com os bombeiros no activo, e, no meio de muitas tormentas, deixei-me ficar na companhia deles. Quando olho para o calendário do tempo, vejo que já passaram cerca de quinze anos a dirigir os nossos bombeiros. Não são muitos os anos a que me dedico com zelo à instituição se os comparar com a sua longevidade já mais que centenária. Confesso que me limitei a dar um pequeno e humilde contributo para a tornar melhor, como fizeram todos os meus antepassados. Aprendi com os bombeiros lições de sacrifício e solidariedade e actos de muita humanidade.

Por isso, muitas vezes me recordo daqueles versos de Camilo Guedes Castelo Branco impressos numa fotografia eterna que me não deixa esquecer os meus bombeiros, heróis sem nome nem rosto que continuam a apagar o fogo da minha memória, lá nas ruínas do velho Moledo, cumprindo o espírito da sua missão: VIDA POR VIDA.
- Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013.
Nota do autor*: Este título fico a dever por inteiro ao Dr. Camilo de Araújo Correia que, em primeira mão, deu origem a uma sua deliciosa crónica, para nos contar histórias dos tempos em que foi Presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros da Régua.
    • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
    OS MEUS BOMBEIROS
    Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 15 de Dezembro de 2011
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    Clique  nas imagens para ampliar. Colaboração de texto e imagens do Dr. José Alfredo Almeida e edição de Jaime Luis Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2011. Versão modificada e actualizada em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

    terça-feira, 8 de outubro de 2013

    MILAGRE

    A JOSÉ AFONSO DE OLIVEIRA SOARES

    Nesse inverno, de tanto chover, as estradas ficaram esbeiçadas. O rio levou pelo pé as vinhas dos nateiros. Das serras tombaram sobre os vales enormes fragas, redondas como jogas de brincar do tempo dos gigantes. Inverno pegado. Pelo Abril dentro, já as árvores se esfoiravam em pétalas brancas e em farrapos de côr, e as abelhas não saíam dos cortiços nem uma borboleta preava nos cálices alagados. Magoava a alma ver afogada em água sombria o sussurro claro do tempo das flores. Tristeza igual só a da cara dos lavradores meanhos quando iam às courelas esburgadas avaloar os estragos do temporal desfeito. Tragédia assim só se podia ler na máscara do cavador crucificado na umbreira dos cardenhos. A Páscoa estava connosco e o céu não se reconciliava com os pobres, nem rogado pelo canto aflitivo das aves. Era só chover, como se Nosso Senhor não tivesse arquitectado o firmamento com mais alegres desígnios.

    Parecia um sinal.

    Como Deus não bota os males todos a um canto, podia-se descontar um bem nesta desgraça. Debaixo dos escombros, que davam à paisagem o aspecto de bulida, aqui e além, por escava- terra vinda das profundas, nem um copo humano ficara sepultado. Tanto a sábios como a pobres de espírito dava isto que cismar. Inverno amaldiçoado e ninguém perecera fora de sua casa. Podiam-se dar louvores a quem manda…

    Muito de admirar era também que certas casas arruinadas, solares antigos, paredes salitrosas de convento, rebutalhados de barbaçãs de guerra dos afonsinhos, permanecessem de pé, inabaláveis como velhinhos recurvos e cobertos de musgo, cuja resistência a todas as doenças causa o espanto dos médicos e a mal rebuçada alegria dos herdeiros.

    Em Covelas havia um pardieiro naquelas condições. Chamavam-lhe a Casa das Mónicas, pedreira que vira expirar quatro senhoras decrépitas na alba do nosso século. Essa casa tinha numa padieira quebrada a certidão de idade: 1665.Todavia, mais que a padieira, rezavam da sua vetustez barrigas e cotovelos dos seus panos cobertos de heradeiras, assim como as órbitas vazadas de varandins e janelas, apenas guarnecidas de gonzos ferrugentos. Sem vislumbre de esquadria, parecida avantesma no acto de levantar vôo ou horsa desconjuntada com tropeção nos jarretes. E não caía… Os mendigos, acossados  dos vendavais, era ali que se refugiavam sem susto. As crianças das escolas eram ali que brincavam. Por chuva e por neve, o seu coito era aquele. De verão trepavam às cornijas aluídas e expulsavam dos buracos os zilros, fazendo competência de gritaria com eles. Nestes perigosos brincos não se magoou nunca rapaz nem rapariga – que as raparigas, nas escaladas do casarão esburacado, eram mais atrevidas que os rapazes.

    Naquele inverno esperava-se que tombasse, que se afundasse de vez a nau desmantelada das Mónicas. As almas piedosas preveniam os mendigos: ó tio homem, vocemecê não se meta em semelhante lora, que morre lá assapado! As mãis proibiam os filhos de se aproximarem daquela ratoeira, armada pelo demo para os castigar, à falsa fé, das suas travessuras.

    - Olhaide! Se vos vejo lá, ponho-vos esse rabo mais negro que esta saia…

    Bem se importavam com os pobres e as crianças! Os pobres continuavam, com grande freima, a coçar as costas, roça que roça, nas esquinas de granito. As crianças não tinham outro recreio senão a Casa das Mónicas. Havia de ser o que Deus quisesse.

    Tempos antes, andara de povo em povo um maluquinho triste, cuja atitude era tôda de protecção a imaginários seres em perigo. Olhos receosos, mãos enconchadas como se estivessem a acariciar a penugem de oiro de crânios infantis, era, por uma pena, a figura alada que vela crianças dormidas à beira de precipícios.

    Uma tal Leopoldina, muito esperteleja para pôr alcunhas, quando o viu em Covelas a primeira vez, baptizou-o logo. É o Anjo da Guarda!

    O apodo pegou de raiz. Frondejou em mil aldeias. Até gentes eclesiásticas, em todo o Cima-Douro, ao avistá-lo, soltavam esta graça: o Anjo da Guarda está connosco.

    Naquele Inverno rigoroso, não se sabia o sumiço que levara o maluquinho. Estaria por lá entre os potes da cozinha de casa rica ou teria morrido. Se tivesse morrido, bem regalado devia estar, à banda de cima das nuvens, com sol do melhor e bons manjares celestes, enquanto os terreanos, de molhados, começavam a criar barbatanas de robalo.

    Ia esquecido o Anjo da Guarda. O mais certo era ter-se lembrado Nosso Senhor de o recolher, porquanto o desgraçadinho andava cá em baixo só para penar.

    No sábado de Ramos desse Inverno assinalado, à chuva juntou-se o trovão e o vento. Parecia o fim do mundo, o dia de juízo. Bem carregados podiam ser os carros no Verão seguinte, já que tão molhados se levavam a benzer os ramos. Que, lá diz o rifão: Ramos molhados, carros carregados.

    Ás três horas da tarde negra – não há memória de negrume igual – esbugalharam-se os olhos dos aldeões, as queixadas dos aldeões descaíram de súbito. Ouvira-se um fragor medonho. As mulheres foram as primeiras que se puseram de alevante. Com os cabelos colados às costas, aderentes as saias às pernas musculosas, convergiram ao sítio donde partira o formidável estrondo.

    A Casa das Mónicas estava por terra.

    – Que é da canalha? O meu Zé? Ah! Fernandes! Filho da minha alma! Ah! Marques! Ah! meu ruço, que te não torno a ver!

    Ficaram calvas algumas de tanto se arrepelarem. Outras ficaram roucas, outras ficaram gagas. Depois, atiraram-se às pedras que supunham ser as lajes da sepultura dos filhos, e aí se desunharam e se ensanguentaram, enquanto os homens, hirtos e pávidos, eram como bois no açougue, com a choupa espetada, antes de ajoelhar.

    Cristo! Daí a pouco, não houve quelho donde não saísse canalha. Ele apareceu o Zé, o Fernandes, o Marques, o Henriques, o Fulgêncio, o Tobias, o Álvaro, quantos rebentos graciosos havia daquelas arrepeladas mães.

    Contaram-se e recontaram-se. Estavam  todos. Nem se quer faltava a Mecias, engano da Natureza, que a fizera menina, devendo sair rapaz. Gritou-se ao milagre, que se podia ouvir no Porto ou em Salamanca. Desorientada, a Zefa Maníaca pôs catadura feroz, fechou os punhos, levou-os à cara do gentio, e disse:

    – Calaide-vos! O Anjo da Guarda está sempre debaixo das sapadas.

    Tresmalhou-se o rebanho. Os rapazes saltavam como cabritos. A Mecias, cabra de chocalho, ia ao chinquelimpé diante do soco materno alçado.

    Do maluquinho triste ninguém se lembrava. O tempo desanuviou-se, assim como as caras dos aldeões se desanuviaram. Brilhou o sol à sua vontade, amadurecendo os poucos frutos vingados. Veio o Junho. Ceifou-se de noite por via do calor. Nas varandas de pau, abriram os cravos e as cravelinas – que rico cheiro!

    Estávamos no pino do Verão – uma beleza. As vinhas começavam a ruçar. Apanhavam-se à mão pássaros estonteados do calor.

    A Casa das Mónicas era um grande moroiço onde se empoleiravam à noite, em mangas de camisa, os trabalhadores suados. Aí se punham a cantar, sem tom nem som, cada um para seu lado, modas nossas e modas raianas, aprendidas nas segadas da Terra - Quente. Ainda foi bem cair a Casa das Mónicas para os cantadores terem poleiro!

    Um dia – foi num domingo – apareceu em Covelas, vindo do Brasil, um sobrinho das Mónicas, dono e senhor daquelas ruínas. Era um chincharra-velho – nem há homem pequeno e magro com quem se compare. Escuro como o chocolate, olhos ígneos como os brilhantes que trazia ao peito, falas poucas e muito sossegadas, aí se põe a sondar, a medir amorosamente as pedras que tinham visto expirar as tias.

    – Quero levantar esta casa. Se houvesse aí um mestre-de-obras que conhecesse a casa como ela era e ma reconstituísse, dava-lhe muito dinheiro.

    Mestre-de-obras não havia outro em Covelas e seus arredores senão o Mestre José Pais. Está por nascer o que lhe há-de levar as lampas em obra de cantaria e de alvenaria. Chamado pelo brasileiro, justa a obra por tuta-e-meia, pois o Mestre José Pais, artista incomparável, nascera para perder e não para ganhar.

    – Vamos a isso quando Vossa Senhoria quiser – foram as suas palavras.

    Começou a remoção do entulho. Num vão, ajeitado em forma de carneiro rico, estava de pé, encostado a uma parede, o corpo do maluquinho triste. Parecia vivo, e dizem que cheirava bem. Daí a pouco, ficou nuzinho em pêlo. Da vestimenta de cotim e do cordovão dos sapatos fizeram-se relíquias...
    - In Contos Bárbaros de João de Araújo Correia

    Clique  nas imagens para ampliar. Texto cedido pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editado para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

    quinta-feira, 3 de outubro de 2013

    Notas soltas e pessoais sobre a Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

    Exerço a profissão de advogado de corpo inteiro, ou, melhor dito, de fio a pavio. Por isso nunca me dediquei à escrita, salvo nos articulados, tal como meu Pai. Já meu avô João de Araújo Correia teve vocação para a escrita, tardia, mas séria.

    Exponho esta minha limitação, por mera cautela, e também pelo respeito devido ao leitor.

    Pediu-me o Dr. Alfredo Almeida umas breves notas escritas sobre a Associação dos Bombeiros da Régua. Ora, os “Bombeiros da Régua” trazem-me sempre à memória  três episódios.

    Em primeiro lugar, o gozo com que o meu Pai  tratava o irmão Camilo, por ter sido Presidente dos Bombeiros. Médico ilustre, o meu tio Camilo nunca por nunca foi pessoa de apagar fogos. Nem devia saber bem o que era uma mata. De modo que aquele cargo foi sempre fonte de piadas entre meu Pai e meu Tio, que terminavam em profunda gargalhada, ora de um, ora de outro.

    Em segundo lugar, recordo a guarda de honra, que presenciei, à porta do edifício dos Bombeiros, prestada ao então Ministro da Cultura, Lucas Pires. Eu contava apenas catorze anos, a democracia tardava em consolidar, de modo que uma visita pessoal do Senhor Ministro a casa de meu avô foi um momento alto da vida da Régua, à qual os Bombeiros se associaram de forma majestosa.

    Em terceiro lugar, o episódio mais divertido, embora com uma pitada de humor negro.

    No ano de 1952 o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra viajou até ao Brasil. Foi, no entanto, uma verdadeira embaixada, pois seguiram alunos, professores, suas esposas e ainda o Reitor. Só para se ter uma ideia, a viagem durou quatro meses, algo que hoje seria impensável.

    O meu Pai  também embarcou, na altura com vinte e três anos. O avô João, inicialmente, não o deixou ir. O Prof. Paulo Quintela teve de interceder pessoalmente junto dele, garantindo-lhe que o Joãozinho, durante a viagem, nunca andaria de avião. O avião era encarado pelo meu avô como um bicho malévolo e perigoso. Mas, com esta garantia, meu Pai fez a mala e lá foi, felicíssimo.

    O TEUC permaneceu no Brasil três meses, sempre em viagem de um lado para o outro, e realizou grandes espetáculos de teatro. Algumas dessas viagens foram de avião,  daqueles com hélices rudimentares. Tinha de ser assim, pois a vastidão do Brasil a isso obrigava. O meu avô nunca sonhou tal coisa, como é evidente.

    Sucede que uma dessas viagens correu muito mal. O avião caía repetidamente em poços de ar, com solavancos terríveis, ao ponto dos ouvidos sangrarem, e de alguns  serem acometidos por desmaios. No meio de semelhante aflição, o Tóssan, actor e humorista, para desanuviar o ambiente,  saiu-se com esta:

    “É pá, não faz mal, se morrermos todos será a nossa grande oportunidade de termos funerais nacionais. Notícias em todos os jornais. Um País a chorar os seus estudantes e professores. As urnas todas arrumadas na Sala dos Capêlos. Fantástico! Não se pode perder isto por nada deste mundo! E depois, claro, vêm os bombeiros de cada terra buscar os seus filhos. Já estou mesmo a ver os Bombeiros da Régua, com as fardas reluzentes e alinhadas,  a virem buscar o Joãozinho.”

    A Associação dos Bombeiros da Régua foi lembrada, lá nas alturas,  há tantos anos e por este motivo!

    Deve, por isso, e por tudo, ser preservada para sempre, pois as memórias do passado tornam-se mais bonitas  no trilho de futuro radioso.
    - Gabriel Araújo Correia.

    Clique  na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editados para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

    terça-feira, 24 de setembro de 2013

    O Quartel dos Bombeiros da Régua - obra benemérita do arquitecto Oliveira Ferreira

    A Associação de Bombeiros Voluntários da Régua, fundada em 1880, teve, desde cedo, a necessidade imperativa de construção de uma sede própria, de forma a substituir as suas exíguas e inoperacionais instalações, primeiro num prédio do largo dos Aviadores e mais tarde, a partir de 1910, na rua dos Camilos. Porém muitos anos se passaram até a ideia se concretizar, num processo complexo e árduo que se prolongou por mais de duas décadas, desde a cedência do terreno na, então, avenida da Liberdade (hoje Dr. Antão de Carvalho), em 1930(1), até à inauguração do quartel em 1955.

    Dois artistas assinam o desenho e execução de tão desejado edifício: o mestre pedreiro Anastácio Inácio Teixeira, reguense e admirável executante, e o arquitecto Francisco Oliveira Ferreira (1884-1957), ligado à cidade por laços familiares(2)  mas também profissionais(3). À data com uma obra extensa, em particular na zona do Porto e Vila Nova de Gaia, Oliveira Ferreira oferece o projecto à Associação, conduzindo à construção daquele que se julga ser um dos primeiros quartéis do país desenhado por um arquitecto e por muitos considerado um dos mais belos de Portugal.
    Imagem 1. O arquitecto Francisco Oliveira Ferreira

    Nascido a 25 de Setembro de 1884, Francisco Oliveira Ferreira inicia a sua formação em arquitectura na viragem do século, ingressando na Academia Portuense de Belas Artes com o seu irmão José (1883-1942)(4), aluno de escultura, e terá como destacado mestre o arquitecto José Teixeira Lopes (1872-1919). Com este colaborará, após a sua passagem pela École Nationale des Beaux-Arts de Paris, em obras como a Casa de Avelino Correia em Vila Nova de Gaia, ou a porta monumental do Museu de Artilharia em Lisboa(5).

    Incluído na geração de arquitectos que, nascidos durante os movimentos românticos de exacerbados eclectismos, foram exemplo de tentativas embrionárias do modernismo no nosso país, Oliveira Ferreira aborda na sua obra os novos desafios programáticos e construtivos que confirmam o processo de modernização da sociedade portuguesa: estações ferroviárias, clínicas, centros de lazer, edifícios comercias e edifícios com representatividade institucional. Dos seus projectos destacamos: o edifício do café A Brasileira(6) (1915) e o Club Os Fenianos (1919), no Porto, os Paços do Concelho de Vila Nova de Gaia (1916), o Sanatório Marítimo do Norte (1916) e a Clínica Heliântia(7) (1926-1929) em Valadares, e o Hotel Astória em Coimbra.

    Preocupando-se com problemas de desenvolvimento urbano, o arquitecto elabora também alguns planos de urbanização que, apesar de nunca chegarem a ser concretizados, não são de menor importância. Deles são exemplo o plano de arruamentos das praias de Valadares (1917), o plano de união de Vila do Conde e Póvoa do Varzim (1929), o plano de urbanização do Monte da Virgem (1929), ou o complemento para o escadório da Senhora dos Remédios em Lamego (1922).

    Porém, Oliveira Ferreira caracteriza-se, sobretudo, pelas trabalhosas mas generosas empresas em que se envolveu, revelando ser um homem de múltiplos interesses, colaborações e preocupações. Neste âmbito destaca-se como: iniciador, impulsionador e membro da Comissão Executiva da Exposição Histórica do Vinho do Porto, realizada em 1932 no salão Silva Porto(8); membro da Comissão Organizadora da Exposição Antonina; fundador do Grupo dos Amigos do Mosteiro da Serra do Pilar, e arquitecto dos primeiros trabalhos de restauro que se fizeram no mosteiro; iniciador e membro da Comissão Organizadora da Exposição de Documentos Artísticos e Scientíficos e de Recordações do Barão de Forrester, realizada na Serra do Pilar em Julho de 1930; e iniciador e membro da Comissão Organizadora da Comemoração do Centenário da Fundação do Município de Vila Nova de Gaia.

    Artista até à medula(9), ocupou igualmente longos e pacientes meses da sua vida a organizar uma colecção vastíssima e valiosa de desenhos, e respectivas maquetas, das pias baptismais das freguesias de Portugal(10), e dignas de leitura são ainda as cartas que dirige, em épocas diversas, a figuras da política, das artes e das letras, em defesa da arte nacional - não fosse sua cartilha pessoal o trabalho de Ramalho Ortigão “O Culto da Arte em Portugal” (1896), levando-o para todo o lado no bolso do casaco.
    Imagem 2. O quartel em construção, anos 30, A.H.B.V.P.R.
    Imagem 3. O quartel concluído, 1955, A.H.B.V.P.R.

    Peça integrante da vasta e variada obra de Oliveira Ferreira, que figura no panorama do norte de Portugal como emblemática de uma época e hoje classificada como valor de património local, o quartel Delfim Ferreira(11) cativa a atenção de quem por ele passe, em particular pela singular beleza da sua fachada principal, embelezada com os granitos trabalhados à mão.

    Pelo exterior o arquitecto, juntamente com o admirável trabalho do mestre pedreiro Anastácio Inácio Teixeira, recorre à sintaxe do classicismo para uma perfeita articulação do edifício com a cidade. Porém, sob um olhar mais atento, note-se a lenta emancipação dos padrões beauxartianos, substituindo-se o formulário academizante por um funcionalismo operante de que é exemplo o grande vão semicircular que, apesar de um tom monumental, permite, sobretudo, a abundante iluminação do salão nobre. Dentro desta lógica o interior não é menos surpreendente, concentrando-se o arquitecto na clarificação e reforço da dimensão utilitária e funcional desejada através de uma concepção espacial racionalista de apurada técnica construtiva.
    Imagem 4. O projecto de ampliação do quartel, anos 80, A.H.B.V.P.R.

    Em 1980 o edifício é ampliado com a adição de um novo corpo, de acordo com o projecto inicial de Oliveira Ferreira, ajustando-se o quartel às necessidades de uma maior área social e operacional. Actualmente no piso de entrada encontramos as variadas viaturas de operações, a central de comunicações e os balneários masculinos e femininos; no 1º andar o amplo salão nobre, a sala de reuniões, a secretaria, gabinetes, bar e o espaço museológico; e por último, no 2º andar, encontramos a biblioteca, com a sua varanda em loggia, outros gabinetes, salas de reuniões, salas de formação, e as camaratas, também masculinas e femininas.

    Este distinto quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua merece a visita de todos nós e deve ser visto, em paralelo com as funções humanitárias desta associação, como importante centro cultural da região duriense, apoiado na sua Biblioteca Maximiano Lemos(12) e no Museu João de Araújo Correia, espaços repletos de objectos e documentos que evocam os nomes, os momentos e o património secular desta instituição.
    - Arqª Ana Isabel Ferreira Pinto

    1 Terreno cedido pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Régua, presidida pelo Dr. Mário Bernardes Pereira, ao presidente da Associação de Bombeiros Voluntários da Régua, o Dr. Ernesto José dos Santos e ao comandante Camilo Guedes Castelo Branco;
    2 Sobrinho do reguense Sr. Pereira da Costa - VALENTE, Alberto. Crónica Penso que não!, in Boletim “Vida por vida”, ano XIII, nº 142, Julho de 1968);
    3 Julga-se ser autor da capela do Asilo José Vasques Osório e do Palacete dos Barretos (actual Biblioteca Municipal da Régua) – GOMES, Paulo Varela. Regresso à Régua, in Jornal de Notícias, 15 Julho 2012; ALMEIDA, Jaime A. O Quartel dos Bombeiros da Régua – notas para a sua história, Peso da Régua, Novembro 2009;
    4 Francisco Oliveira Ferreira tem outros dois irmãos: António Oliveira Ferreira e Rita Oliveira Ferreira; mas é com José que realiza frequentes parcerias, de entre as quais o projecto do notável monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (1909), em Lisboa;
    5 Hoje Museu Militar de Lisboa;
    6 Com uma fachada de características Arte Nova, é um dos poucos exemplares da cidade do Porto;
    7 Considerada a sua obra mais madura, nela estão presentes valores pouco frequentes na arquitectura portuguesa da época. Assume especial relevo o tratamento racional da estrutura, tornada elemento expressivo por excelência;
    8 Com colaboração do pinto Alberto Silva, do comendador António Pacheco da Silva Moreira, do professor Emanuel Ribeiro e do saudoso amigo Dr. Pedro Victorino;
    9 GUERRA, Oliveira. O Arquitecto Oliveira Ferreira, in Girassol, Setembro 1955, Vila Nova de Gaia;
    10 Cerca de 4.000, desenhadas com absoluto rigor e à escala, de modo a poderem ser executadas em quaisquer dimensões;
    11 Curiosamente, Oliveira Ferreira é autor do desenho da capela tumular de Delfim Ferreira, no cemitério do Repouso, no Porto;
    12 Criada pouco após a fundação da Associação e enriquecida em 1960 com o apoio da Fundação Gulbenkian, conta hoje com mais de dez mil livros – in Jornal de Notícias, 15 Março 2011;

    Clique  nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.