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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Grande cancioneiro do Alto Douro. Nas cantigas do Alto Douro.

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O livro GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO de autoria de Atino Moreira Cardoso foi apresentado na nova biblioteca da Régua logo no ínicio de suas atividades.

O primeiro volume contém 600 cantigas em 640 páginas.

- Plano geral da obra:

Volume I - “CANTIGAS DA VINHA“ precedidas de uma tese inicial que liga algumas cantigas á lírica trovadoresca (cantigas populares de amigo), provenientes de Santiago de Compostela, no início da fundação da nacionalidade, com D. Afonso Henriques, em Lamego (e Tarouca).

Volume II - “MÚSICAS DE TUNAS RURAIS, NATAL-REIS, ROMANCES, CANTOS RELIGIOSOS, CANTOS AVULSOS DO TRABALHO, DESGARRADAS.

  • GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO.NAS CANTIGAS DO ALTO DOURO. por Altino Moreira Cardoso - Aqui! (versão integral em "pdf") - 05/09/07.
  • PORTUGAL, DOURO, PESO DA RÉGUA (o site) - Aqui!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Museu do Douro fez apresentação multimédia do "Grande Cancioneiro do Alto Douro"

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Dia 18 de Maio/09 o Museu do Douro recebeu apresentação multimédia do "Grande Cancioneiro do Alto Douro":
O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO é formado por 3 grandes volumes, todos com 640 páginas, num total de 1.920 páginas e 1.200 cantigas (músicas e letras).

Situam-se muitas cantigas num contexto que remonta ao Galego-português, através dos vestígios das Cantigas de Amigo populares (séc. XII); mas alguns rimances são ainda mais antigos, pois remontam ao tempo de Carlos Magno (séc. VIII).

Estuda-se ainda a poética das letras das cantigas, numa perspectiva estética e histórica, etnográfica e sociológica, desde a fundação da Dinastia de Borgonha e a instalação de Cister no Vale do Varosa, integrando-se assim nas comemorações deste ano dos 900 anos de D. Afonso Henriques.

São referidas as principais fontes de difusão das cantigas populares, desde Santiago de Compostela à Senhora da Serra do Marão, do Viso, do Socorro, dos Remédios... Algumas opiniões de vários especialistas (Professores universitários e do Conservatório, compositores...) estão publicadas no início do segundo volume.

A apresentação foi multimédia (PPSX) e inclui dados históricos, paisagísticos e poético-musicais.

  • GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO-NAS CANTIGAS DO ALTO DOURO por Altino Moreira Cardoso - Aqui!
  • Obras editadas - Aqui!
  • Museu do Douro - Aqui!
  • Folclore de Portugal - Aqui!
  • Páginas de Peso da Régua - Aqui!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Os Bombeiros da Velha Guarda de Peso da Régua.

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Aqui estão os alguns dos bombeiros que fizeram as primeiras páginas de uma história de 129 anos de vida: os bombeiros da velha guarda de Peso da Régua.

Nesta imagem, que remonta ao tempo dos sócios activos, ou seja dos fundadores da nossa Associação (28 de Novembro de 1880), podem ver-se os homens do Corpo de Bombeiros do final do século XIX e das três primeiras décadas do século passado (1893-1927), juntos ao seu Comandante José Afonso de Oliveira Soares (de barba branca) eleito em Assembleia Geral, no ano de 1893, depois de Gaspar Henriques da Silva Monteiro, que havia sucedido a Manuel Maria de Magalhães, ter renunciado ao cargo.

Está ladeado ainda do então Chefe Camilo Guedes Castelo Branco (o poeta), vendo-se também dois directores cujos nomes não conseguimos identificar, o 2 º Comandante Joaquim de Sousa Pinto (sócio fundador) e, por ultimo, o grande Chefe de Esquadra José Maria Leite (sócio fundador).

Magnífica fotografia, onde igualmente se destaca uma das primeiras bandeiras da Associação, ainda com o título de “REAL”, atribuído em 1892 pelo Rei D. Luís I.

Não há certeza, mas tudo indica que mesma, da autoria de um desconhecido fotógrafo de nome Jorge José Lehamann, foi tirada antigo Jardim Alexandre Herculano, já que o Quartel se situava ali perto, no Largo dos Aviadores.

Como tributo a esse grupo de bombeiros recuperamos parte de uma bela crónica, intitulada “Bombeiros da Velha Guarda”, do escritor João de Araújo Correia (1899-1985):

“ Fim de Novembro, fazem anos os Bombeiros da Régua. Contam oitenta e cinco, mas parece que nasceram ontem. Nem uma ruga, nem um cabelo branco, nem um desalento…Garbosos até o capacete, fazem do seu garbo agilidade, frescura e força. Que milagre!

Confraternizam, em cada aniversário, os Bombeiros da Régua. Depois das cerimónias piedosas e do desfile nas ruas, sentam-se à mesa e comem. Comem bem e gracejam… Mas talvez que nenhum se lembre, nem bombeiros nem contribuintes de sócios e bombeiros antigos, que também se sentaram, em ágape semelhante para comer e gracejar.

Quem vai contando anos, dos que já fazem mossa, não dos bombeiris, que rejuvenescem, lembra-se da velha bomba e de quem a movia e sustentava. Lembra-se de Afonso Soares, com a sua barba branca; do poeta Camilo Guedes, de gravata à La Vallière; do José Avelino, que comia um boi por uma perna; do José Ruço, que pertencia ao grupo auxiliar; do Joaquim Maria Leite, o Riço, que pertencia ao corpo activo com alma de criança e alma de bombeiro. Mas, de quantos se não lembra ainda? Justino Lopes Nogueira, o Justino, daria um livro de inocentes recordações alegres.

O quartel dos Bombeiros, situado ali em baixo, na Chafarica, largo dos Aviadores, como hoje se diz, era o clube da terra. Havia outro, mas, aristocrático, presidido pelo monóculo do Dr. Costa Pinto. Clube, ponto de reunião sem preconceitos, era o quartel dos bombeiros. Ali se jogava e conversava à vontade. Ali se davam gargalhadas que faziam estremecer o quartel. Guarda-lhe o eco algum ouvido então adolescente….”.

Todos esses gloriosos bombeiros que, o reconhecido prosador e contista invoca, são por nós também lembrados, com orgulho, pelo seu passado que nos souberam tão bem legar.

- Março de 2009, José Alfredo Almeida.
Peso da Régua.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

MILAGRE

A JOSÉ AFONSO DE OLIVEIRA SOARES

Nesse inverno, de tanto chover, as estradas ficaram esbeiçadas. O rio levou pelo pé as vinhas dos nateiros. Das serras tombaram sobre os vales enormes fragas, redondas como jogas de brincar do tempo dos gigantes. Inverno pegado. Pelo Abril dentro, já as árvores se esfoiravam em pétalas brancas e em farrapos de côr, e as abelhas não saíam dos cortiços nem uma borboleta preava nos cálices alagados. Magoava a alma ver afogada em água sombria o sussurro claro do tempo das flores. Tristeza igual só a da cara dos lavradores meanhos quando iam às courelas esburgadas avaloar os estragos do temporal desfeito. Tragédia assim só se podia ler na máscara do cavador crucificado na umbreira dos cardenhos. A Páscoa estava connosco e o céu não se reconciliava com os pobres, nem rogado pelo canto aflitivo das aves. Era só chover, como se Nosso Senhor não tivesse arquitectado o firmamento com mais alegres desígnios.

Parecia um sinal.

Como Deus não bota os males todos a um canto, podia-se descontar um bem nesta desgraça. Debaixo dos escombros, que davam à paisagem o aspecto de bulida, aqui e além, por escava- terra vinda das profundas, nem um copo humano ficara sepultado. Tanto a sábios como a pobres de espírito dava isto que cismar. Inverno amaldiçoado e ninguém perecera fora de sua casa. Podiam-se dar louvores a quem manda…

Muito de admirar era também que certas casas arruinadas, solares antigos, paredes salitrosas de convento, rebutalhados de barbaçãs de guerra dos afonsinhos, permanecessem de pé, inabaláveis como velhinhos recurvos e cobertos de musgo, cuja resistência a todas as doenças causa o espanto dos médicos e a mal rebuçada alegria dos herdeiros.

Em Covelas havia um pardieiro naquelas condições. Chamavam-lhe a Casa das Mónicas, pedreira que vira expirar quatro senhoras decrépitas na alba do nosso século. Essa casa tinha numa padieira quebrada a certidão de idade: 1665.Todavia, mais que a padieira, rezavam da sua vetustez barrigas e cotovelos dos seus panos cobertos de heradeiras, assim como as órbitas vazadas de varandins e janelas, apenas guarnecidas de gonzos ferrugentos. Sem vislumbre de esquadria, parecida avantesma no acto de levantar vôo ou horsa desconjuntada com tropeção nos jarretes. E não caía… Os mendigos, acossados  dos vendavais, era ali que se refugiavam sem susto. As crianças das escolas eram ali que brincavam. Por chuva e por neve, o seu coito era aquele. De verão trepavam às cornijas aluídas e expulsavam dos buracos os zilros, fazendo competência de gritaria com eles. Nestes perigosos brincos não se magoou nunca rapaz nem rapariga – que as raparigas, nas escaladas do casarão esburacado, eram mais atrevidas que os rapazes.

Naquele inverno esperava-se que tombasse, que se afundasse de vez a nau desmantelada das Mónicas. As almas piedosas preveniam os mendigos: ó tio homem, vocemecê não se meta em semelhante lora, que morre lá assapado! As mãis proibiam os filhos de se aproximarem daquela ratoeira, armada pelo demo para os castigar, à falsa fé, das suas travessuras.

- Olhaide! Se vos vejo lá, ponho-vos esse rabo mais negro que esta saia…

Bem se importavam com os pobres e as crianças! Os pobres continuavam, com grande freima, a coçar as costas, roça que roça, nas esquinas de granito. As crianças não tinham outro recreio senão a Casa das Mónicas. Havia de ser o que Deus quisesse.

Tempos antes, andara de povo em povo um maluquinho triste, cuja atitude era tôda de protecção a imaginários seres em perigo. Olhos receosos, mãos enconchadas como se estivessem a acariciar a penugem de oiro de crânios infantis, era, por uma pena, a figura alada que vela crianças dormidas à beira de precipícios.

Uma tal Leopoldina, muito esperteleja para pôr alcunhas, quando o viu em Covelas a primeira vez, baptizou-o logo. É o Anjo da Guarda!

O apodo pegou de raiz. Frondejou em mil aldeias. Até gentes eclesiásticas, em todo o Cima-Douro, ao avistá-lo, soltavam esta graça: o Anjo da Guarda está connosco.

Naquele Inverno rigoroso, não se sabia o sumiço que levara o maluquinho. Estaria por lá entre os potes da cozinha de casa rica ou teria morrido. Se tivesse morrido, bem regalado devia estar, à banda de cima das nuvens, com sol do melhor e bons manjares celestes, enquanto os terreanos, de molhados, começavam a criar barbatanas de robalo.

Ia esquecido o Anjo da Guarda. O mais certo era ter-se lembrado Nosso Senhor de o recolher, porquanto o desgraçadinho andava cá em baixo só para penar.

No sábado de Ramos desse Inverno assinalado, à chuva juntou-se o trovão e o vento. Parecia o fim do mundo, o dia de juízo. Bem carregados podiam ser os carros no Verão seguinte, já que tão molhados se levavam a benzer os ramos. Que, lá diz o rifão: Ramos molhados, carros carregados.

Ás três horas da tarde negra – não há memória de negrume igual – esbugalharam-se os olhos dos aldeões, as queixadas dos aldeões descaíram de súbito. Ouvira-se um fragor medonho. As mulheres foram as primeiras que se puseram de alevante. Com os cabelos colados às costas, aderentes as saias às pernas musculosas, convergiram ao sítio donde partira o formidável estrondo.

A Casa das Mónicas estava por terra.

– Que é da canalha? O meu Zé? Ah! Fernandes! Filho da minha alma! Ah! Marques! Ah! meu ruço, que te não torno a ver!

Ficaram calvas algumas de tanto se arrepelarem. Outras ficaram roucas, outras ficaram gagas. Depois, atiraram-se às pedras que supunham ser as lajes da sepultura dos filhos, e aí se desunharam e se ensanguentaram, enquanto os homens, hirtos e pávidos, eram como bois no açougue, com a choupa espetada, antes de ajoelhar.

Cristo! Daí a pouco, não houve quelho donde não saísse canalha. Ele apareceu o Zé, o Fernandes, o Marques, o Henriques, o Fulgêncio, o Tobias, o Álvaro, quantos rebentos graciosos havia daquelas arrepeladas mães.

Contaram-se e recontaram-se. Estavam  todos. Nem se quer faltava a Mecias, engano da Natureza, que a fizera menina, devendo sair rapaz. Gritou-se ao milagre, que se podia ouvir no Porto ou em Salamanca. Desorientada, a Zefa Maníaca pôs catadura feroz, fechou os punhos, levou-os à cara do gentio, e disse:

– Calaide-vos! O Anjo da Guarda está sempre debaixo das sapadas.

Tresmalhou-se o rebanho. Os rapazes saltavam como cabritos. A Mecias, cabra de chocalho, ia ao chinquelimpé diante do soco materno alçado.

Do maluquinho triste ninguém se lembrava. O tempo desanuviou-se, assim como as caras dos aldeões se desanuviaram. Brilhou o sol à sua vontade, amadurecendo os poucos frutos vingados. Veio o Junho. Ceifou-se de noite por via do calor. Nas varandas de pau, abriram os cravos e as cravelinas – que rico cheiro!

Estávamos no pino do Verão – uma beleza. As vinhas começavam a ruçar. Apanhavam-se à mão pássaros estonteados do calor.

A Casa das Mónicas era um grande moroiço onde se empoleiravam à noite, em mangas de camisa, os trabalhadores suados. Aí se punham a cantar, sem tom nem som, cada um para seu lado, modas nossas e modas raianas, aprendidas nas segadas da Terra - Quente. Ainda foi bem cair a Casa das Mónicas para os cantadores terem poleiro!

Um dia – foi num domingo – apareceu em Covelas, vindo do Brasil, um sobrinho das Mónicas, dono e senhor daquelas ruínas. Era um chincharra-velho – nem há homem pequeno e magro com quem se compare. Escuro como o chocolate, olhos ígneos como os brilhantes que trazia ao peito, falas poucas e muito sossegadas, aí se põe a sondar, a medir amorosamente as pedras que tinham visto expirar as tias.

– Quero levantar esta casa. Se houvesse aí um mestre-de-obras que conhecesse a casa como ela era e ma reconstituísse, dava-lhe muito dinheiro.

Mestre-de-obras não havia outro em Covelas e seus arredores senão o Mestre José Pais. Está por nascer o que lhe há-de levar as lampas em obra de cantaria e de alvenaria. Chamado pelo brasileiro, justa a obra por tuta-e-meia, pois o Mestre José Pais, artista incomparável, nascera para perder e não para ganhar.

– Vamos a isso quando Vossa Senhoria quiser – foram as suas palavras.

Começou a remoção do entulho. Num vão, ajeitado em forma de carneiro rico, estava de pé, encostado a uma parede, o corpo do maluquinho triste. Parecia vivo, e dizem que cheirava bem. Daí a pouco, ficou nuzinho em pêlo. Da vestimenta de cotim e do cordovão dos sapatos fizeram-se relíquias...
- In Contos Bárbaros de João de Araújo Correia

Clique  nas imagens para ampliar. Texto cedido pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editado para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Manuel Maria de Magalhães - O Primeiro Comandante dos Bombeiros de Peso da Régua.

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Manuel Maria de Magalhães, filho de Aires Maria de Magalhães e de Virgínia do Carmo Pereira, nasceu em 21 de Março de 1845, na freguesia de Santa Maria, em Bragança. Faleceu, com apenas 47 anos de idade, no dia 10 de Outubro de 1892, pelas 19.30 horas, em sua casa, na Rua Serpa Pinto, no Peso da Régua, achando-se o seu corpo sepultado, em jazigo de família, no cemitério municipal.

Exerceu as funções de escrivão de direito, no Tribunal da Comarca do Peso da Régua. Mas destacou-se, no meio reguense, por organizar um grupo de cidadãos que pretendiam constituir no concelho uma Companhia de Bombeiros, com o objectivo de ser dada melhor utilização à bomba de incêndios adquirida pela Câmara Municipal, em 1873.

Manuel Maria Magalhães deu resposta aos anseios da edilidade reguense que, preocupada com a frequência e a dimensão dos incêndios nos armazéns de vinhos, ambicionava colocar ao serviço da população um corpo de bombeiros voluntários, preparados e organizados – à semelhança do que estava a acontecer por todo o país - tendo assumindo a liderança de uma “Comissão Instaladora”, para preparar a constituição de uma associação humanitária.

Essa comissão, formada por mais vinte e cinco distintas e famosas pessoas, discutiu aprovou na Assembleia-geral, realizada em 25 de Junho de 1880, os primeiros estatutos (com 44 artigos e em anexo o regulamento interno para os sócios activos) que haviam de reger a instituída Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - é a 13º a ser constituída em Portugal - e confirmados por Alvará de 12 de Agosto de 1880, assinado pelo Dr. José Ayres Lopes, Governador Civil de Vila Real.

Manuel Maria Magalhães tornou-se, com o apoio incondicional dos sócios fundadores, o primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.

Por sua iniciativa, a senhora D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha (1811-1896), uma das personalidades mais marcantes da história do Douro, foi a primeira a assinar o livro destinado à inscrição sócios contribuintes da Associação, grande honra para os bombeiros que receberam também a ajuda desta grande e distinta benemérita, nascida no Peso da Régua.

Manuel Maria de Magalhães, como Comandante da Companhia de Bombeiros - assim se dizia ao tempo - iniciou essas funções no dia 28 de Novembro 1880, que foi a data por si escolhida para realizar na casa da extinta Associação Comercial, sita na então Rua da Boa Vista, os festejos da inauguração da Associação, cessando-as no dia 10 de Outubro de 1892 (e não em 1904 como vinha a constar), isto é, no dia do seu falecimento.

Para o substituir no comando do Corpo de Bombeiros, os sócios activos elegeram na Assembleia-geral o sócio activo e fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro que, por desinteligência com os restantes sócios fundadores, veio a renunciar ao esse cargo, pedido que a Direcção da Associação aprovou, pelas razões invocadas, na sessão extraordinária, realizada no dia 24 de Novembro de 1892.

Após novas eleições para a escolha do comandante, foi escolhido desta vez, José Afonso de Oliveira Soares (1863-1939), que havia sido aceite alguns anos antes, como sócio activo, iniciando funções de comando nos bombeiros, no dia 3 de Fevereiro de 1893.

Da breve pesquisa não conseguimos recolher mais dados biográficos de Manuel Maria de Magalhães, mesmo tendo em atenção os contributos do seu bisneto, o nosso amigo Noel de Magalhães, Crachá de Ouro da LBP, que foi durante muitos anos director da Associação.

Mas, encontramos no Livro de Actas de 1880, a da Sessão Extraordinária de 10 de Outubro de 1892, efectuada no dia do falecimento de Manuel Maria de Magalhães.

Nessa noite, a Direcção reunida, com o seu presidente José Joaquim Pereira dos Santos Soares e os restantes directores, Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges, Camilo Guedes Castelo Branco, Francisco Ferreira Ribeiro e o 2º Comandante Joaquim de Sousa Pinto, fez uma exposição da sua reconhecida grandeza e dos seus feitos, manifestou um sentido de profundo pesar pela sua perda para todos eles e, em especial, para a Associação, que ajudara a fundar e, em último, aprovou alguns actos de carácter público, para assinalar com dignidade a sua cerimónia fúnebre.

Reflectindo essa extraordinária acta o genuíno pensamento dos homens que o acompanharam nos primeiros passos de vida da Associação e que com ele conviveram as primeiras alegrias e as muitas incompreensões no erguer desta grande obra, a permanecer no tempo como uma grande instituição de utilidade pública ao serviço da população, e ainda os sentimentos de camaradagem dos seus amigos, não resistimos em transcrevê-la na íntegra:

“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos e noventa e dois, reunida na sala de sessões toda a direcção, substituindo o primeiro comandante o segundo, foi dito pelo presidente que se atrevera a fazer reunião a esta hora, 10 da noite, visto a urgência do caso a tratar. Acabava de lhe ser comunicado o falecimento do mais representante (seja dito sem ofensa para ninguém) sócio desta Associação o primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães. Com esta perda sofreu esta Associação a perda do sócio, à qual devia a sua vida, pois que ninguém desconhecia que fora ao prestigio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços. Cada um dos sócios perdera um amigo, e esta colectividade um chefe que fora um modelo de louvar. Sem expressão com que pudesse dizer muito que a sua alma sentia, propunha que fosse dado conhecimento a todas as associações do país do falecimento do nosso colega; que fosse lançado em acta um voto de profundo sentimento pela perda sofrida; que se fechasse a Associação por um prazo de oito dias, em sinal de luto que fosse deposta uma coroa no (….) do falecido, em nome desta Associação; que fossem feitas as despesas do enterramento do mesmo, atentas as circunstâncias em que a família ficava, sendo desnecessário expô-las por serem do conhecimento de todos; e por último que fosse representado por esta Associação a todas as Associações congéneres do país, a fim de ser pedido o lugar de escrivão de direito que exercera o finado nesta comarca para o seu filho Alfredo de Magalhães, prestando assim uma última homenagem ao homem que deixe vinculado o seu a uma das instituições mais significativas desta vila. Não punha à discussão esta proposta: parecia-lhe que nem discussão tinha. Foi aprovada por unanimidade. O 2º Comandante (Joaquim Silva Pinto) pediu para que ficasse consignado nesta acta o seu profundo pesar e o da colectividade que comandava. O presidente ficou encarregado de fazer a representação a S. Majestade telegraficamente. Não havendo mais a tratar foi encerrada a sessão.”

Verifica-se que no âmbito do determinado pela mencionada deliberação da Direcção, foram pagas pelas contas da Associação as despesas do enterro do Comandante Manuel Maria de Magalhães.

Esse gasto constituiu uma despesa extraordinária, no valor de 75: 250 réis, como se pode ver documentada no rigoroso “Relatório de Contas”, devidamente apresentado aos sócios da Associação, no dia 21 de Dezembro de 1892, pela Direcção presidida por Camilo Guedes Castelo Branco, que fez expressar um sentido "voto de profundíssimo sentimento pelo seu óbito”.

Até à presente data, foram realizadas pela Associação duas singelas homenagens em memória de Manuel Maria de Magalhães.

A primeira, aconteceu em 1905 na celebração do 25º aniversário da Associação, com a colocação de uma lápide no seu jazigo, assinalando uma “saudosa lembrança” do Corpo de Bombeiros desse tempo.

A outra foi efectuada, em 2006, por ocasião das comemorações do 126º aniversário da Associação, ao “baptizar-se” com o seu nome, um moderno veículo de combate aos fogos urbanos, adquirido nesse ano.

Mas, já em 2005 a Direcção da Associação, entendendo que ele continua a ser o principal rosto e o mais importante dos seus fundadores, a quem se deve toda a grandeza da instituição, elegeu uma fotografia sua, a única que se conhece, para ilustrar a capa do livro da história: “AHVB de Peso da Régua-125 anos da sua História”. Evocam-se nessas páginas, os momentos mais significativos do passado da Associação que, sem margem para dúvidas, deve as suas origens ao esforço abnegado e altruísta do seu primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães.
Esta sensibilidade foi logo patenteada após a sua morte pelos demais sócios fundadores, ao confirmarem “que fora ao prestígio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços”.
-Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!