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quinta-feira, 4 de março de 2010

Recordar o Comandante Afonso Soares

Por: José Alfredo Almeida
José Afonso de Oliveira Soares, filho de João de Oliveira Soares e de Josefa Joaquina Macedo, nasceu na freguesia e concelho do Peso da Régua, em 26 de Novembro de 1852 e faleceu de velhice, conforme consta da certidão de óbito, no estado de viúvo de Teresa Bernardes Pereira, em 21 de Outubro de 1939, na rua Marquês de Pombal, onde sempre viveu, com a idade quase completa de 87 anos.

Segundo o escritor João de Araújo Correia, que lhe traçou um breve retrato na crónica “Configurações”, do seu livro “Horas Mortas” este homem cuja vida atravessou três regimes políticos - a monarquia, a república e a ditadura salazarista - foi um “ notável entre vizinhos – ele, que foi artista”, salientado que a “barba branca e cachimbo simbolizaram a sua distinção, anos e anos, porque o Senhor Soares, à parte os talentos, tinha o dom da bonomia inalterável”.

Da sua actividade profissional, sabe-se que começou por trabalhar com técnico e desenhador nas obras da construção da Linha do Douro do Marco de Canavezes até à estação da Régua. Depois ingressou nos quadros da câmara municipal onde exerceu as funções chefe da secretaria. Já na reforma, foi tesoureiro da filial do Porto do “Banco da Régua”. No regime monárquico ainda desempenhou, por algum tempo, as funções politicas de administrador do concelho do Peso da Régua, mas não foi a politica que o mais seduziu na sua actividade activa e cívica. Para o escritor reguense, que o conheceu e lhe admirou os seus talentos, “tinha merecido o título de decano dos jornalistas de província. Mas não foi, só jornalista. Foi desenhador, gravador, modelador e pintor.”

Na verdade, Afonso Soares destacou-se como jornalista na imprensa local, embora também se tenha dedicado à pintura, que ensinou gratuitamente numa escola e deixou vários quadros pintados, entre os quais uma colecção de retratos que se encontram na posse da Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua, à escultura e até à fotografia. Também escreveu e muito, poesia, folhetins e contos, publicados nos jornais, e dois livros, um ensaio sobre turismo e uma monografia da historia da Régua.

Como jornalista, foi director do “Jornal da Régua” (1930), onde publicou o folhetim “ Álvaro -Esboços da Vida Real”. Colaborou em vários jornais como “O Dissidente”, “Cinco de Outubro”, “O Marão” (1926), para o qual desenhou o cabeçalho, “O Transmontano” (1922), e a “A Região Duriense” (1930).

Neste último semanário, assinou um interessante artigo intitulado “A Capital do Douro”, a dar eco à questão duriense. Sobre esse assunto, eis o pensamento, ainda pleno de actualidade: “E enquanto o Douro for Douro não podem os seus filhos esperar outra vida que não seja a defender o seu vinho. Um desfalecimento tem consequências funestas. Ninguém deve esquecer que atrás de uma dificuldade, logo outra aparece. E todas elas se vêem reflectir na sua capital do Douro - a vila do Peso da Régua – a que se tem dado e com razão de “coração do Douro”. (…) A Régua foi, e será o centro desta região privilegiada. Já o era quando, pobre e triste povoação sertaneja, fez parte dos concelhos de Santa Marta e Godim e já era centro consagrado da região quando o governo de D. José criou a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro (…). Em anotação ao texto, o director do jornal, Júlio Vasques agradecia-lhe a sua colaboração: “Honra este semanário este nosso amigo e decano dos jornalistas provincianos com vastíssima erudição que lhe provem do aturado estudo que se tem entregado nas investigações históricas do concelho do Peso da Régua. Os nossos leitores terão mais que uma vez de apreciar os seus artigos cheios de ensinamentos preciosos (…) expondo ao pais e ao estrangeiro a riqueza que o esforço do viticultor duriense soube arrancar das montanhas entre as quais corre tumultuoso o nosso rio Douro”.
Afonso Soares deixou publicadas três obras literárias: “Apontamentos para a História da Vila do Peso da Régua” (1907), o ensaio “Régua - Coração do Douro -Centro de Excursões e de Turismo” (1925) e a “História da Vila e Concelho do Peso da Régua” (1936-38), mandada elaborar pela Comissão Administrativa, em 1936, ao “brilhante jornalista reguense (…) de competência indiscutível desta natureza”. Em 1979, a Câmara Municipal da Régua promoveu uma 2ª edição do livro, que para o presidente Prof. Renato Aguiar significava “dar satisfação aos inúmeros pedidos para nova edição (…) mandou imprimir este brilhante trabalho elaborado por José Afonso de Oliveira Soares.”
 
A monografia “História da Vila e Concelho do Peso da Régua” é a sua obra mais conhecida. Começou por ser editada em fascículos, impressos na “Imprensa do Douro”. Num artigo publicado no “Noticias do Douro”, o reguense Dr. Sebastião Pinto de Gouveia, advogado no Porto, confirmava que esta sua obra tinha sido “ elaborada a pedido da vereação municipal instalada em 1936. Concluída em 1938, é um trabalho de investigação extenso, e largo estudo, bem ordenado, profusamente documentado, de estilo sóbrio, preciso e elegante. Essas páginas dão-nos uma síntese perfeita da vasta capacidade, preparação e cultura do seu autor. Mais do que a história de um concelho, esse livro é um acto de dedicação e fé a uma causa nobre que soube servir e amar”.
 
Conhecendo-o por com ele ter convivido e partilhado a escrita nas páginas dos jornais, o escritor João de Araújo Correia, numa crónica publicada, em 1928, no “Jornal da Régua” fazia um retrato psicológico de Afonso Soares, a elucidar um retrato que o periódico trazia na primeira página, para assinalar o aniversário dos seus 82 anos, que pela sua lúcida e perspicaz análise, se transcreve esta parte:
 
“O retrato do senhor Soares só ficaria fiel pintado a óleo.
 
Perde-se um modelo digno de Columbano.
 
(…)
 
O retrato é mal tirado. Mas a nossa adoração espiritualiza-o. Aos olhos dos devotos não escorrem sangue as feridas mal pintadas dos crucificados? À nossa vista, o Senhor Soares gravado é o Senhor Soares vivo. O fenómeno do riso no octogenário ensilveirado de barbas é um dos encantos do homem que vem, às tardes sentar-se no banco do Zé Pinto, do esteta que procura uma mercearia para espairecer, como há enxovedos que procuram os museus para ressoar. O riso é o triunfo do homem sobre as trivialidades que o circundam. A beleza e fealdade das coisas são reacções interiores. Por isso vemos o Senhor Soares deliciado quando o Afonso Henriques Morrão pesa bacalhau ou o Zé Pinto se põe a esculpir estátuas impressionistas de oiro, com manteiga. Se o amor preleva o senso estético no descobrir em prosa poesia num pelo defumado do cachimbo do Senhor Afonso Soares, veremos o singular indivíduo que vive oitenta anos à sombra de sertanejo campanário, sem prejuízo da harmonia do seu vestir ou pensar. A gravura que encima, esta coluna e, por consequência uma maravilha. Na sua dureza evocamos a ternura, a serenidade, a inteligência, o talento, as armas com que o Senhor Soares tem defendido a epiderme da sujidade mundana. Imediatamente nos evoca também o caminho que a nossa terra polida lhe tributa. A Régua tem coração. Não é verdade que ela se curva para agasalhar, mais do que para cumprimentar, as mãos esguias do Senhor Soares? Na própria ausência do querido pintor e homem de letras, dizemos todos: o Senhor Soares. Consoante o costume local, há quem diga: Senhor Zezinho Soares.
 
Há muita beleza nisto…
 
Não é exacto valerem os homens somente pela obra executada. Os homens valem pelo mundo íntimo que abrigam e vem transparecer à flor do olhar, do gesto, da palavra, que é a maneira de pôr a gravata ou o chapéu. O Senhor Soares vale um tesoiro.Com aquelas barbas chamuscadas de fumo, a moeda romana que lhe orna o peito, vale tanto como se houvesse despedido do lar aos vinte anos, com a sua habilidade e seus pincéis e regressasse pelos oitenta, coroado de espinhos loiros, bem granjeado o nome pomposo de Mestre José Afonso”.
 
No mesmo sentido, o Dr. Sebastião Pinto de Gouveia no seu citado artigo valorizou as qualidades de artista de Afonso Soares: “a sua extraordinária aptidão, ao maravilhoso talento, tudo era fácil. Quadros como a cópia maravilhosa do “Santo Estevão de Van Dick”, a “Cabeça de Cristo”, de tão quente e dolorosa expressão - “ A volta do Salgueiral” – a “ Cabeça da Virgem” são, entre muitos outros, verdadeiros espelhos da alma de Afonso Soares, da sua extraordinária sensibilidade como do seu génio. Dá-los a um largo exame público e a uma demorada apreciação critica é consagrar o artista extraordinário que os produziu e, sobretudo, conceder a todos, numa visão de conjunto da sua obra, momentos de insubstituível prazer espiritual. Legou-nos também Afonso Soares algumas esculturas: o busto do Chico Doido, entre outras, exprime também a eloquência bastante a extraordinária aptidão de Afonso Soares para esta modalidade de arte. Infelizmente são exíguos os seus trabalhos de escultura e desenho”.
 
Dando realização aos seus princípios humanísticos, não deixou de participar civicamente no movimento associativo, em especial, o voluntariado nos bombeiros.
 
Afonso Soares não integrou a lista dos cidadãos fundadores que, reunidos numa “Comissão Instaladora”, elaboraram os estatutos e, em 28 de Novembro 1880, “inauguram” a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Régua. Ele, só alguns anos mais tarde, se inscreveu como seu sócio contribuinte.
 
Como sócio contribuinte tudo fez para que os bombeiros tivessem, logo em 1885, uma pequena biblioteca no seu edifício-sede que ficava, como então se dizia, na “Chafarica”, hoje conhecido pelo Largo dos Aviadores. Muito embora, o escritor João de Araújo Correia, numa das suas crónicas escritas para o livro “Pátria Pequena” tenha afirmado que o anónimo impulsionador que a idealizou nunca foi conhecido, sabe-se agora que essa biblioteca que, não mais seria de uma estante com livros raros, se deveu à sua iniciativa e generosidade. Sendo um homem modesto, na sua monografia da história da Régua não quis revelar como sendo ele o benfeitor, mas num texto não assinado, que se supõe ser da sua autoria, já que o estilo e o conteúdo parecem semelhantes, publicado em 1930, no jornal “A Região Duriense”, está referenciado o seu nome como benemérito.
 
Em 1893, Afonso Soares foi eleito pelos associados como Comandante dos Bombeiros da Régua, cargo que vai ocupar até 1927, segundo o que está consagrado oficialmente na associação. Mas, essa data pode não coincidir com a realidade. Uma notícia publicada na revista “Ilustração Portuguesa” dá conta que, em 28 de Novembro 1923, nas comemorações do 43º aniversário da Associação, Afonso Soares não seria já o comandante dos bombeiros.
 
Afonso Soares tinha 40 anos quando os sócios reunidos em Assembleia-geral, realizada em 28 de Janeiro de 1893, o elegeram para ocupar vago pela morte súbita do Comandante Manuel Maria de Magalhães, ocorrida em 10 de Outubro de 1892.
 
Mas, a substituição do primeiro comandante dos bombeiros da Régua não deve ter sido nada pacífica, já que ficou marcada por um conflito entre os associados. Numa primeira eleições, não foi escolhido Afonso Soares, mas o sócio-activo e fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro, negociante influente que, durante a monarquia, integrou a primeira Comissão Municipal Republicana. Acontece que, de imediato, renunciou ao cargo de comandante para que havia sido eleito, através de uma carta dirigida ao presidente da direcção, “agradecendo aos seus colegas de direcção as provas de estima que lhe tinham dado”. Porque razão tomou esta inesperada decisão? Ao certo não se conhecem os motivos, mas da acta da reunião de direcção, o mais provável é que tenham sido os desentendimentos pessoais ou, eventualmente, divergências de carácter político entre os sócios activos. Abordado assunto em reunião de direcção, o seu presidente sugeriu um “voto de sentimento pela saída deste sócio, atendendo não só à leal camaradagem e aos serviços por ele prestados à Associação” e, com alguma diplomacia, aceitou o pedido de renúncia porque “conhecendo a direcção a atendidas razões de pormenor que motivaram a sua saída, abstinha-se de pedir-lhe, como desejava, de ficar nesta associação…”. Na sua intervenção, o director Joaquim Sousa Pinto, 2ª Comandante, ao pronunciar-se sobre a data da Assembleia – Geral para a eleição do novo comandante, denuncia a exigência de conflito, já que foi claro ao manifestar a opinião “que se demorasse por algum tempo a eleição daquele, visto que estando ainda bastante exaltados os espíritos dos sócios-activos, em virtude do conflito que determinara a saída do primeiro comandante, acrescentando que nenhum prejuízo adviria para a Companhia por esse facto”. O presidente da direcção, José Joaquim Pereira Soares dos Santos, mostrava-se incomodado com a situação, pedindo que “se registasse que alguns sócios contribuintes principiavam de ver com desagrado uns pequenos conflitos, sem importância, é certo, mas que pela sua qualidade mal abonavam o bom nome da Associação”. Entretanto, são eleitos novos directores para os órgãos sociais da Associação. O novo presidente da direcção Alberto Rolla, no dia 3 de Fevereiro de 1893, convoca Afonso Soares para prestar o juramento como Comandante dos Bombeiros. Depois de empossado, ele vai exercer o cargo durante um largo período de anos, conturbados para o país, a região duriense e o futuro da Associação. Não se sabe, com certeza e rigor, se abdicou de ser comandante em 1927 ou já, em 1923, para Camilo Guedes Castelo Branco, mas pensa-se que tenha sido antes dessa última data. A sua idade próxima dos 75 anos, e as limitações de saúde, já não lhe permitiam dirigir as missões de socorro.
 
No seu mandato, Afonso Soares manteve, apesar das limitações do quartel e da falta de material de combate de incêndios, um corpo de bombeiros de bombeiros operacional, composto por briosos cidadãos. Mas, não se pense que foi fácil a sua missão, já que enfrentou dificuldades económicas. Em 1902, a câmara municipal suprimiu a atribuição do subsídio para os bombeiros. Como se entende, esta atitude foi mal recebida e provocou uma contestação, que motivou a realização de uma Assembleia-Geral. Sem financiamento e sem receitas, a Associação atravessa uma crise. Nas suas memórias, o chefe António Guedes, então jovem bombeiro, recordou como os bombeiros a ultrapassaram. Confirma que, por volta de 1910-20, a Associação estava sem receitas para suportar as despesas do quartel. Alguns bombeiros, perante as dívidas que aumentavam, chegaram a propor que as chaves do quartel e o pouco material fossem entregues ao presidente do município. Mas, os velhos e apaixonados bombeiros entenderam não cruzar os braços e não permitiram que a associação se extinguisse. Começaram por se cotizarem com uma quantia dos seus salários, mas mesmo assim não obtinham o suficiente para as principais despesas. Surgiu, depois, a ideia de alguns bombeiros para como actores amadores realizar uns espectáculos de teatro. As peças atraíram a população que pagou o bilhete para assistir. Conseguiram assim, o dinheiro que precisavam para saldarem as dívidas acumuladas, já que câmara municipal, até 1930, atribuía um subsídio demasiado pequeno.
 
O Comandante Afonso Soares teve a determinação e o mérito de manter vivo o corpo de bombeiro que fazia falta à população reguense. Não descansou para arranjar as melhores condições de trabalho. Pediu à câmara municipal uma parcela de terreno para a construção de um quartel de raiz, mas ninguém o ajudou a realizar o seu sonho. Ele mesmo deu o seu contributo ao fazer o esboço de um projecto para construção do novo edifício. O desenho, felizmente, não se perdeu e está guardado no Museu dos Bombeiros. Nele pode ver-se como Afonso Soares evidencia o seu génio artístico, o rigor técnico e os traços originais de uma ornamentação primorosa.
 
A Régua, na década de 50, com alguma polémica pelo meio e até de vozes contrárias e discordantes, reconheceu os méritos pessoais, humanísticos, literários e artísticos de Afonso Soares. Nomeada uma comissão de figuras reconhecidas na sociedade reguenses que, com apoio da câmara, mandava erigir um busto, em sua memória, no jardim do Largo do Cruzeiro, próximo da casa onde morou. Esteve presente, para descerrar a placa, o seu bisneto José Afonso Suart-Torrie, ainda criança, e actualmente um negociante de vinhos, residente em França, onde em Rouen é Cônsul Honorário de Portugal.
No seu pedestal está inscrita em sua memória esta mensagem dirigida a todos nós e, em especial, às gerações mais novas: “Talento e bondade/Flor de simpatia/Que nos merecia/ Esta saudade”. Pode parecer pouco, mas esta estátua tem um significado importante: o justo reconhecimento de homem, um cidadão reguense generoso e talentoso que viveu de forma intensa e apaixonada a sua terra. Essa paixão à Régua, confessou-a num dos seus livros: “Mas porque amo a minha terra e me penaliza que as sua belezas continuem tão ignoradas, sem cantar as espalharei por toda a parte, ainda mesmo sem engenho e arte”. Engano seu para nos convencer da sua modéstia: engenho e arte nunca faltaram ao Comandante Afonso Soares!
- Peso da Régua, Março de 2010, J A Almeida. Atualizado em Julho de 2010.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Museu do Douro fez apresentação multimédia do "Grande Cancioneiro do Alto Douro"

(Clique na imagem para ampliar)
Dia 18 de Maio/09 o Museu do Douro recebeu apresentação multimédia do "Grande Cancioneiro do Alto Douro":
O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO é formado por 3 grandes volumes, todos com 640 páginas, num total de 1.920 páginas e 1.200 cantigas (músicas e letras).

Situam-se muitas cantigas num contexto que remonta ao Galego-português, através dos vestígios das Cantigas de Amigo populares (séc. XII); mas alguns rimances são ainda mais antigos, pois remontam ao tempo de Carlos Magno (séc. VIII).

Estuda-se ainda a poética das letras das cantigas, numa perspectiva estética e histórica, etnográfica e sociológica, desde a fundação da Dinastia de Borgonha e a instalação de Cister no Vale do Varosa, integrando-se assim nas comemorações deste ano dos 900 anos de D. Afonso Henriques.

São referidas as principais fontes de difusão das cantigas populares, desde Santiago de Compostela à Senhora da Serra do Marão, do Viso, do Socorro, dos Remédios... Algumas opiniões de vários especialistas (Professores universitários e do Conservatório, compositores...) estão publicadas no início do segundo volume.

A apresentação foi multimédia (PPSX) e inclui dados históricos, paisagísticos e poético-musicais.

  • GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO-NAS CANTIGAS DO ALTO DOURO por Altino Moreira Cardoso - Aqui!
  • Obras editadas - Aqui!
  • Museu do Douro - Aqui!
  • Folclore de Portugal - Aqui!
  • Páginas de Peso da Régua - Aqui!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Manuel Maria de Magalhães - O Primeiro Comandante dos Bombeiros de Peso da Régua.

(Clique na imagem para ampliar.)

Manuel Maria de Magalhães, filho de Aires Maria de Magalhães e de Virgínia do Carmo Pereira, nasceu em 21 de Março de 1845, na freguesia de Santa Maria, em Bragança. Faleceu, com apenas 47 anos de idade, no dia 10 de Outubro de 1892, pelas 19.30 horas, em sua casa, na Rua Serpa Pinto, no Peso da Régua, achando-se o seu corpo sepultado, em jazigo de família, no cemitério municipal.

Exerceu as funções de escrivão de direito, no Tribunal da Comarca do Peso da Régua. Mas destacou-se, no meio reguense, por organizar um grupo de cidadãos que pretendiam constituir no concelho uma Companhia de Bombeiros, com o objectivo de ser dada melhor utilização à bomba de incêndios adquirida pela Câmara Municipal, em 1873.

Manuel Maria Magalhães deu resposta aos anseios da edilidade reguense que, preocupada com a frequência e a dimensão dos incêndios nos armazéns de vinhos, ambicionava colocar ao serviço da população um corpo de bombeiros voluntários, preparados e organizados – à semelhança do que estava a acontecer por todo o país - tendo assumindo a liderança de uma “Comissão Instaladora”, para preparar a constituição de uma associação humanitária.

Essa comissão, formada por mais vinte e cinco distintas e famosas pessoas, discutiu aprovou na Assembleia-geral, realizada em 25 de Junho de 1880, os primeiros estatutos (com 44 artigos e em anexo o regulamento interno para os sócios activos) que haviam de reger a instituída Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - é a 13º a ser constituída em Portugal - e confirmados por Alvará de 12 de Agosto de 1880, assinado pelo Dr. José Ayres Lopes, Governador Civil de Vila Real.

Manuel Maria Magalhães tornou-se, com o apoio incondicional dos sócios fundadores, o primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.

Por sua iniciativa, a senhora D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha (1811-1896), uma das personalidades mais marcantes da história do Douro, foi a primeira a assinar o livro destinado à inscrição sócios contribuintes da Associação, grande honra para os bombeiros que receberam também a ajuda desta grande e distinta benemérita, nascida no Peso da Régua.

Manuel Maria de Magalhães, como Comandante da Companhia de Bombeiros - assim se dizia ao tempo - iniciou essas funções no dia 28 de Novembro 1880, que foi a data por si escolhida para realizar na casa da extinta Associação Comercial, sita na então Rua da Boa Vista, os festejos da inauguração da Associação, cessando-as no dia 10 de Outubro de 1892 (e não em 1904 como vinha a constar), isto é, no dia do seu falecimento.

Para o substituir no comando do Corpo de Bombeiros, os sócios activos elegeram na Assembleia-geral o sócio activo e fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro que, por desinteligência com os restantes sócios fundadores, veio a renunciar ao esse cargo, pedido que a Direcção da Associação aprovou, pelas razões invocadas, na sessão extraordinária, realizada no dia 24 de Novembro de 1892.

Após novas eleições para a escolha do comandante, foi escolhido desta vez, José Afonso de Oliveira Soares (1863-1939), que havia sido aceite alguns anos antes, como sócio activo, iniciando funções de comando nos bombeiros, no dia 3 de Fevereiro de 1893.

Da breve pesquisa não conseguimos recolher mais dados biográficos de Manuel Maria de Magalhães, mesmo tendo em atenção os contributos do seu bisneto, o nosso amigo Noel de Magalhães, Crachá de Ouro da LBP, que foi durante muitos anos director da Associação.

Mas, encontramos no Livro de Actas de 1880, a da Sessão Extraordinária de 10 de Outubro de 1892, efectuada no dia do falecimento de Manuel Maria de Magalhães.

Nessa noite, a Direcção reunida, com o seu presidente José Joaquim Pereira dos Santos Soares e os restantes directores, Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges, Camilo Guedes Castelo Branco, Francisco Ferreira Ribeiro e o 2º Comandante Joaquim de Sousa Pinto, fez uma exposição da sua reconhecida grandeza e dos seus feitos, manifestou um sentido de profundo pesar pela sua perda para todos eles e, em especial, para a Associação, que ajudara a fundar e, em último, aprovou alguns actos de carácter público, para assinalar com dignidade a sua cerimónia fúnebre.

Reflectindo essa extraordinária acta o genuíno pensamento dos homens que o acompanharam nos primeiros passos de vida da Associação e que com ele conviveram as primeiras alegrias e as muitas incompreensões no erguer desta grande obra, a permanecer no tempo como uma grande instituição de utilidade pública ao serviço da população, e ainda os sentimentos de camaradagem dos seus amigos, não resistimos em transcrevê-la na íntegra:

“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos e noventa e dois, reunida na sala de sessões toda a direcção, substituindo o primeiro comandante o segundo, foi dito pelo presidente que se atrevera a fazer reunião a esta hora, 10 da noite, visto a urgência do caso a tratar. Acabava de lhe ser comunicado o falecimento do mais representante (seja dito sem ofensa para ninguém) sócio desta Associação o primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães. Com esta perda sofreu esta Associação a perda do sócio, à qual devia a sua vida, pois que ninguém desconhecia que fora ao prestigio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços. Cada um dos sócios perdera um amigo, e esta colectividade um chefe que fora um modelo de louvar. Sem expressão com que pudesse dizer muito que a sua alma sentia, propunha que fosse dado conhecimento a todas as associações do país do falecimento do nosso colega; que fosse lançado em acta um voto de profundo sentimento pela perda sofrida; que se fechasse a Associação por um prazo de oito dias, em sinal de luto que fosse deposta uma coroa no (….) do falecido, em nome desta Associação; que fossem feitas as despesas do enterramento do mesmo, atentas as circunstâncias em que a família ficava, sendo desnecessário expô-las por serem do conhecimento de todos; e por último que fosse representado por esta Associação a todas as Associações congéneres do país, a fim de ser pedido o lugar de escrivão de direito que exercera o finado nesta comarca para o seu filho Alfredo de Magalhães, prestando assim uma última homenagem ao homem que deixe vinculado o seu a uma das instituições mais significativas desta vila. Não punha à discussão esta proposta: parecia-lhe que nem discussão tinha. Foi aprovada por unanimidade. O 2º Comandante (Joaquim Silva Pinto) pediu para que ficasse consignado nesta acta o seu profundo pesar e o da colectividade que comandava. O presidente ficou encarregado de fazer a representação a S. Majestade telegraficamente. Não havendo mais a tratar foi encerrada a sessão.”

Verifica-se que no âmbito do determinado pela mencionada deliberação da Direcção, foram pagas pelas contas da Associação as despesas do enterro do Comandante Manuel Maria de Magalhães.

Esse gasto constituiu uma despesa extraordinária, no valor de 75: 250 réis, como se pode ver documentada no rigoroso “Relatório de Contas”, devidamente apresentado aos sócios da Associação, no dia 21 de Dezembro de 1892, pela Direcção presidida por Camilo Guedes Castelo Branco, que fez expressar um sentido "voto de profundíssimo sentimento pelo seu óbito”.

Até à presente data, foram realizadas pela Associação duas singelas homenagens em memória de Manuel Maria de Magalhães.

A primeira, aconteceu em 1905 na celebração do 25º aniversário da Associação, com a colocação de uma lápide no seu jazigo, assinalando uma “saudosa lembrança” do Corpo de Bombeiros desse tempo.

A outra foi efectuada, em 2006, por ocasião das comemorações do 126º aniversário da Associação, ao “baptizar-se” com o seu nome, um moderno veículo de combate aos fogos urbanos, adquirido nesse ano.

Mas, já em 2005 a Direcção da Associação, entendendo que ele continua a ser o principal rosto e o mais importante dos seus fundadores, a quem se deve toda a grandeza da instituição, elegeu uma fotografia sua, a única que se conhece, para ilustrar a capa do livro da história: “AHVB de Peso da Régua-125 anos da sua História”. Evocam-se nessas páginas, os momentos mais significativos do passado da Associação que, sem margem para dúvidas, deve as suas origens ao esforço abnegado e altruísta do seu primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães.
Esta sensibilidade foi logo patenteada após a sua morte pelos demais sócios fundadores, ao confirmarem “que fora ao prestígio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços”.
-Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Os Bombeiros da Velha Guarda de Peso da Régua.

(Clique na imagem para visualizar em tamanho normal ou ampliar)

Aqui estão os alguns dos bombeiros que fizeram as primeiras páginas de uma história de 129 anos de vida: os bombeiros da velha guarda de Peso da Régua.

Nesta imagem, que remonta ao tempo dos sócios activos, ou seja dos fundadores da nossa Associação (28 de Novembro de 1880), podem ver-se os homens do Corpo de Bombeiros do final do século XIX e das três primeiras décadas do século passado (1893-1927), juntos ao seu Comandante José Afonso de Oliveira Soares (de barba branca) eleito em Assembleia Geral, no ano de 1893, depois de Gaspar Henriques da Silva Monteiro, que havia sucedido a Manuel Maria de Magalhães, ter renunciado ao cargo.

Está ladeado ainda do então Chefe Camilo Guedes Castelo Branco (o poeta), vendo-se também dois directores cujos nomes não conseguimos identificar, o 2 º Comandante Joaquim de Sousa Pinto (sócio fundador) e, por ultimo, o grande Chefe de Esquadra José Maria Leite (sócio fundador).

Magnífica fotografia, onde igualmente se destaca uma das primeiras bandeiras da Associação, ainda com o título de “REAL”, atribuído em 1892 pelo Rei D. Luís I.

Não há certeza, mas tudo indica que mesma, da autoria de um desconhecido fotógrafo de nome Jorge José Lehamann, foi tirada antigo Jardim Alexandre Herculano, já que o Quartel se situava ali perto, no Largo dos Aviadores.

Como tributo a esse grupo de bombeiros recuperamos parte de uma bela crónica, intitulada “Bombeiros da Velha Guarda”, do escritor João de Araújo Correia (1899-1985):

“ Fim de Novembro, fazem anos os Bombeiros da Régua. Contam oitenta e cinco, mas parece que nasceram ontem. Nem uma ruga, nem um cabelo branco, nem um desalento…Garbosos até o capacete, fazem do seu garbo agilidade, frescura e força. Que milagre!

Confraternizam, em cada aniversário, os Bombeiros da Régua. Depois das cerimónias piedosas e do desfile nas ruas, sentam-se à mesa e comem. Comem bem e gracejam… Mas talvez que nenhum se lembre, nem bombeiros nem contribuintes de sócios e bombeiros antigos, que também se sentaram, em ágape semelhante para comer e gracejar.

Quem vai contando anos, dos que já fazem mossa, não dos bombeiris, que rejuvenescem, lembra-se da velha bomba e de quem a movia e sustentava. Lembra-se de Afonso Soares, com a sua barba branca; do poeta Camilo Guedes, de gravata à La Vallière; do José Avelino, que comia um boi por uma perna; do José Ruço, que pertencia ao grupo auxiliar; do Joaquim Maria Leite, o Riço, que pertencia ao corpo activo com alma de criança e alma de bombeiro. Mas, de quantos se não lembra ainda? Justino Lopes Nogueira, o Justino, daria um livro de inocentes recordações alegres.

O quartel dos Bombeiros, situado ali em baixo, na Chafarica, largo dos Aviadores, como hoje se diz, era o clube da terra. Havia outro, mas, aristocrático, presidido pelo monóculo do Dr. Costa Pinto. Clube, ponto de reunião sem preconceitos, era o quartel dos bombeiros. Ali se jogava e conversava à vontade. Ali se davam gargalhadas que faziam estremecer o quartel. Guarda-lhe o eco algum ouvido então adolescente….”.

Todos esses gloriosos bombeiros que, o reconhecido prosador e contista invoca, são por nós também lembrados, com orgulho, pelo seu passado que nos souberam tão bem legar.

- Março de 2009, José Alfredo Almeida.
Peso da Régua.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Grande cancioneiro do Alto Douro. Nas cantigas do Alto Douro.

(Clique na imagem para ampliar)

O livro GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO de autoria de Atino Moreira Cardoso foi apresentado na nova biblioteca da Régua logo no ínicio de suas atividades.

O primeiro volume contém 600 cantigas em 640 páginas.

- Plano geral da obra:

Volume I - “CANTIGAS DA VINHA“ precedidas de uma tese inicial que liga algumas cantigas á lírica trovadoresca (cantigas populares de amigo), provenientes de Santiago de Compostela, no início da fundação da nacionalidade, com D. Afonso Henriques, em Lamego (e Tarouca).

Volume II - “MÚSICAS DE TUNAS RURAIS, NATAL-REIS, ROMANCES, CANTOS RELIGIOSOS, CANTOS AVULSOS DO TRABALHO, DESGARRADAS.

  • GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO.NAS CANTIGAS DO ALTO DOURO. por Altino Moreira Cardoso - Aqui! (versão integral em "pdf") - 05/09/07.
  • PORTUGAL, DOURO, PESO DA RÉGUA (o site) - Aqui!