quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Relembrando: A Liga dos Bombeiros Portugueses reúne o seu 41.º Congresso na cidade da Régua

DA RÉGUA PARA PORTUGAL INTEIRO

As instituições diferenciam-se das organizações que o não são pela sua história, pelos valores que alicerçam o seu fazer quotidiano, pelo património de serviço público de que são depositárias e, também, pela intemporalidade que une o passado ao presente e este ao futuro.
A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) é uma instituição!
Esta Confederação, para ser credora do respeito da comunidade nacional e dos poderes públicos, bastou-lhe ser, apenas, uma instituição representativa de instituições de serviço público.
A LBP ao longo dos seus 81 anos sempre assumiu uma conduta irrepreensível de defesa dos bombeiros portugueses – de todos os bombeiros portugueses! – bem como das entidades onde se integram.
De 28 a 30 de outubro deste ano, a LBP reúne o seu 41.º Congresso na cidade da Régua.
Tendo por inspiração o esplendor do Douro e o espírito de trabalho dos reguenses, os legítimos representantes dos bombeiros portugueses saberão, uma vez mais, rasgar os caminhos do futuro.
Cientes das dificuldades que caracterizam o momento presente, os Bombeiros de Portugal continuarão a estar, como sempre estiveram, ao serviço da defesa da vida e dos bens dos seus concidadãos, com determinação, abnegação e competência.
Esta é a mensagem que o 41.º Congresso da LBP não deixará de transmitir para todos os cantos do nosso Portugal.

Duarte Caldeira
Presidente do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses
“POR UM FUTURO… DE MUDANÇA!”
LISTA CANDIDATA AOS ORGÃO SOCIAIS DA LIGA DOS BOMBEIROS PORTUGUESES
TRIÉNIO 2012/2014
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LIGA DOS BOMBEIROS PORTUGUESES
PROGRAMA GERAL - 41.º Congresso na cidade da Régua:


Comunicação e Relações Públicas - Liga dos Bombeiros Portugueses | Tlf + 351 218421380  Fax + 351 218421389  Tlm + 351 963389645 - mara.jeronimo@lbp.pt | www.lbp.pt

Rua Eduardo de Noronha, 7 | 1700-151 Lisboa - Portugal

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um Século de Vida


Desde que me lembro, a sineta dos Bombeiros sempre despertou em mim respeito e atracção, pois representava o grito ele quem clama por socorro e é ouvido, o símbolo proclamado e praticado de quem, por amor, semeia sem tentar de saber da recompensa ou quem é que vai aproveitar o esforço da sua abnegação.

Há ideais na vida que não passam ele novas intenções, há sinetas que trinem mas ficam sempre de fora, há sirenes que silvam só para fazer barulho e dar nas vistas.

Mas, graças a Deus, que há ainda ideais encarnados e praticados por homens concretos, que são nossos vizinhos e nossos conhecidos. E aí estão, a prova-lo, os bombeiros, os homens da paz tornada possível no seu grande ideal de “vida por vida”.

No pino do verão ou nas noites frias de inverno, indiferente aos perigos e ao seu legítimo descanso, lá vai o bombeiro salvar vidas e haveres. E a pressa com que corre não é ditada por mera emoção ou sentimentalismo piegas, mas antes por reconhecer que é seu próximo quem está em necessidade e clama por socorro. E quando chega ao quartel não pergunta quem é que vai socorrer mas apenas onde é o incêndio ou o desastre.

É um homem, é um seu próximo que grita e ele só se preocupa em chegar quanto mais depressa melhor, sem querer saber se é da sua família, da  sua religião ou da sua política.
Esta é a grande lição do bombeiro, homem sacramento de solidariedade humana. Por isso, o respeito e me sinto atraído pelo seu exemplo e procuro ser também bombeiro, ainda que sem farda.

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua tem cem anos e fez um século de vida. Está em festa e legitimamente porque a sua vida tem sido cheia. Não gosto de festejar vidas vazias, que só se mostram através de foguetes ou bandeiras.

Como Governador Civil e como cidadão apresento à Associação mais antiga do nosso Distrito de Vila Real as minhas felicitações, com o profundo desejo de que o seu exemplo seja fermentado de vitalidade vertebrada em comunhão com as suas congéneres ao serviço do homem próximo e nunca vistas mentalizadas pela vaidade seja de quem for.

Aos Bombeiros de Portugal o meu sentido obrigado.

Aos Bombeiros do Peso da Régua, com ou sem farda, como Presidente da sua Direcção, um abraço apertado, de coração a coração em que palpita o sangue do amor e a linfa da solidariedade que semeando a vida, a colheu ao fim de um século e, repartindo-a no seu dia a dia, a transforma em frutos ele ouro que a ferrugem não corrói.
Neste abraço queria que fosse o meu e o vosso compromisso de transmitir, sempre com honra, aos nossos filhos este século de vida.

Assim seremos eternos, como fruto dos que partiram e semente responsabilizada e responsabilizante dos que nos hão-de continuar.

E a nossa Associação será sinal que anuncia, que significa e produz a Vida pela Vida.
- Aires Querubim de Menezes Soares - Governador Civil do Distrito de Vila Real
Notas:
1- Este texto encontra-se publicado na revista comemorativa do centenário da AHBV do Peso da Régua e tem o valor histórico de evocar uma importante data para os Bombeiros da Régua: 100 anos de vida. Ao mesmo tempo, que os Bombeiros da Régua, festejavam o seu primeiro século de vida, realizou-se, na então vila do Peso da Régua, entre 10 e 14 de Setembro de 1980, o 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, celebrizado na história como o “Congresso da Régua”. Passaram, desde então, já 31 anos, mas o Bombeiros da Régua continuam determinados em afirmar o seu valor e importância no contexto nacional. 

2- O autor assinou o seu artigo na qualidade de Governador Civil do Distrito Vila Real, funções que exerceu entre de 14 de Fevereiro de 1980 a 16 de Dezembro de 1991, muito embora à data o Sr. Dr. Aires Querubim de Meneses Soares fosse também o Presidente da Direcção da AHBV do Peso da Régua. Na verdade, este antigo advogado, que teve escritório no Peso Régua, e também notário de mérito, nascido em 23 de Setembro de 1934, no concelho do Marco de Canavezes, deixa o seu nome fortemente ligado à história da Associação, por ter sido dirigido a Associação desde 1972 a 1980. Não será esquecido pelo Bem que fez a serviço da Associação. Com os seus talentos de vontade e simplicidade, com muita facilidade, se distinguiu na causa do associativismo e do voluntariado e deixou uma importante obra feita (iniciou a construção do Bairro dos Bombeiros e a ampliação do Quartel Delfim Ferreira), o que muito contribuiu para engrandecimento e prestígio da Associação.

Somos um seu admirador e é uma honra e um privilégio tê-lo como Amigo. Do fundo do coração, obrigado Dr. Aires, em meu nome pessoal, como o actual Presidente da Direcção, e dos Bombeiros da Régua.
- José Alfredo Almeida, Outubro de 2011

Clique nas imagens acima para ampliar. Colaboração de texto e imagens do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos doDouro" em Outubro de 2011. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O velho Teatro dos Bombeiros da Régua - O Milagre do Cruzeiro


À memoria de António Rafael de Magalhães


Quando havia a tradição do teatro amador alguns dos principais espectáculos fizeram-se no Teatro dos Bombeiros da Régua.

O Teatro dos Bombeiros pouco tinha como sala de espectáculos. Por assim dizer, não era mais que uma improvisada sala do rés-do-chão do quartel, hoje baptizado com o nome do benemérito Delfim Ferreira, situado na Avenida Antão de Carvalho que, por volta de 1950, não passava ainda de uma modesta construção em estado muito inacabado.
As pessoas na Régua sempre tiveram uma devoção pelo teatro. Os antigos apreciavam-no num salão que ficava na Rua 1º. de Dezembro, mas umas das maiores cheias do rio Douro destruiu-o e acabou com o culto das artes cénicas e, durante muito anos, a Régua não teve  mais nenhuma sala. Depois, surgiu o Salão Recreativo, ao cimo da antiga Rua das Vareiras, que depois de muitos sucessos, foi abandonada e esquecida lentamente como sala digna e respeitável de espectáculos culturais. Quem sabe, diz que aí se fizeram exibições notáveis de peças de teatro e representaram actores com nome consagrado a nível nacional.

Hoje as coisas não são assim. A cidade não tem sequer uma casa para a reapresentação teatral. Os actores profissionais deixaram de aparecer nos palcos da Régua. Os actores amadores perderam o gosto pela figuração. O teatro deixou de fazer parte da vida cultural da cidade. Restam para estudo, as memórias desse antigo teatro. Algumas encontram-se historiadas nas crónicas de João de Araújo Correia, publicadas nos seus livros e, algumas, pelos antigos jornais.

Mas, há mais memórias do teatro amador que se fez na Régua para serem contadas. Por exemplo, está por narrar o sucesso que fizeram as sucessivas representações da peça “O Milagre do Cruzeiro”, opereta de quatro actos e um quadro, com letra e música da autoria de António Rafael de Magalhães.
A sua primeira representação desta opereta aconteceu no dia 18 de Outubro de 1950, no palco do Teatro dos Bombeiros da Régua. Embora fosse anunciada para ser levada à cena uma semana antes dessa data, na verdade não chegou a acontecer por ter adoecido um dos actores. Na sua primeira representação, a opereta obteve um extraordinário êxito, o que obrigou a fazerem sete representações consecutivas e, a última, teve lugar no palco do Cine-Teatro Avenida. Chegou também a ser representada no Teatro do Casino Afifense, em Tabuaço no Teatro Luís de Freitas e em Favaios no Teatro António Augusto Assunção, sempre com as casas cheias de espectadores e aplausos merecidos para quem a escreveu e a representou.

A opereta foi escrita para satisfazer um pedido de um grupo de jovens que tocavam na “Orquestra Reguense” dirigida pelo professor José Armindo Ribeiro. Pretendiam representar uma peça de teatro inédita, para com o dinheiro das receitas do espectáculo comprarem novos instrumentos musicais. O autor aceitou o pedido e, em contrapartida, exigiu que uma parte daquelas receitas deveria ser em benefício de uma instituição humanitária carenciada, os Bombeiros Voluntários.
O tema do enredo dessa opereta é simples de contar. Para quem não o conhece faz-se o seu resumo para compreender o motivou tanto sucesso. Segundo o seu autor, baseava-se na vida da aldeia. Como figura dominante da acção está uma menina órfã, a bondosa Joaninha, recolhida e amparada por uma virtuosa madrinha, a Senhora Morgada, que sendo sensível à miséria e dor alheias, recebe a estima de toda a gente da aldeia, muito especialmente dos pobres que visitita com frequência para lhes levar o seu óbulo acompanhado de lenitivas palavras. A paixão que nasce num encontro com o mestre-escola Fernando, vai prendê-los nas teias do mais puro amor. Outra personagem, o Álvaro, filho do fidalgo dos Cabris, moço alentado da aldeia, lembrou-se de dirigir olhares pecaminosos e palavras intencionais à Joaninha, numa das visitas de devoção ao Alto do Cruzeiro que o maldoso e antipático João Ferreiro aproveitou para os seus turvos intentos, disparando um tiro de morte sobre Álvaro, de forma a que a justiça terrena culpasse com causador do homicídio, o apaixonado de Joaninha. A partir desse momento, esta tragédia despedaça o coração de Joaninha que sofre de luto, dor e desolação. Dirige-se ao Alto do Cruzeiro a implorar protecção do Senhor que sempre a tem ouvido…mas em vez de suplicar exige de Deus, impõe em seu favor. Já resignada aceita o sofrimento e confessa-se pecadora e pede ao Senhor a sua morte. Ao cair inanimada aparecem lá do céu os Anjos que levantam o seu corpo débil e trazem-lhe um clarão de esperança que dissipa o negrume de tamanha infelicidade. O crime é desvendado, e renasce um amor eterno.
Foi este o milagre…!!!

É um retrato de uma época e de um país rural que valorizava os valores de Deus, Pátria e Família, vulgarizados como os pilares de uma sociedade em tornou do qual se movia o regime político do Governo de Salazar.
No livrinho de apresentação, o autor da opereta apresentava-a com um juízo mais modesto e de recorte poético. Expressava que se inspirou num cenário de uma paisagem primaveril campestre de uma aldeia rural, assim descrita: “já com prados verdejantes e enfeitados de boninas, malmequeres, e papoilas. As searas prometendo bom ano de pão! Sentia-se a frescura que a viração espalhava o aroma agreste das relvas e o perfume das flores...; aqui um regato de água cantante; além um rebanho dilacerando as ervas tenras e frescas; acolá, no cimo do monte dominando a brancura duma capelinha realçada por um sol rutilante e creador! De vez em quando uma brisa ténue fazia murmurar a folhagem do arvoredo e aves, chilreando, davam largas ao seu contentamento! Mas era preciso começar e por isso curvei-me para esta mansão florida.(…). O resto, aquilo que não podia abarcar com as mãos, trouxe-o nos olhos e ouvidos”.
A história dessa peça encantou a sociedade reguense dos anos 50. Outros tempos…! Quem a conheceu e a viu representar compreende que hoje ela não se adapta as realidades sociais e às vivências humanas do nosso tempo. Já não há quem se emocione com uma história assente nos valores morais e na beleza idílica das aldeias e muito menos são os que acreditam na fé religiosa como recompensa pelos castigos terrenos e na celestina descida dos Anjos para desfazer as injustiças humanas.
Vivemos em outros tempos e outros valores. Apesar de tudo, “O Milagre do Cruzeiro” era o melhor do teatro de amadores que parecer falta ao quotidiano de uma cidade que desperta para o turismo e aos reguenses que querem fugir ao tédio e a rotinas da vida. A opereta agradou mais tanto pela simplicidade da sua história como pela interpretação dos actores amadores, alguns dos quais encarnam perfeitamente a sua personagem, entre eles o Fernando Vasques de Carvalho, Maria Esmeralda de Almeida, Alzira de Sousa, José Ferreira Gado, Maria Amélia Pinto Reinaldo Miranda, António Teixeira e António Braz Magalhães e o Fernando Braz Magalhães. As músicas originais sobressaíram e entraram com facilidade no ouvido, não fossem executadas pela famosa - mas também já extinta - Orquestra Reguense. A “Marcha da Régua”, uma das muitas músicas que se cantava na opereta, veio a tornar-se o hino da cidade, tocado em festas e em representações oficiais. Os cenários vistosos e coloridos, trabalhados pelo brio de um técnico profissional, do Teatro Sá da Bandeira, do Porto, o credenciado Gaspar Leorne, ajudaram no sucesso e fizeram cativar o público.
O velho Teatro dos Bombeiros da Régua desapareceu e, no seu lugar, não há nada que o recorde. O teatro amador acabou por desaparecer e não há pessoas com vontade de o voltar a representar. Assim, o ditaram as novas modas culturais da sociedade reguense. Com poucas condições, nesse tempo, o quartel foi o único espaço cultural que, na pequena vila da Régua, aproximava as pessoas e lhes permitia os serões e convívios mais divertidos e animados.
Desde então, a Régua muito mudou. Se a missão principal dos bombeiros da Régua permanece igual há mais de um século, o seu quartel uma verdadeira obra-prima da arquitectura, que agrada ao olhar mais atento pela beleza de granito da sua imponente fachada principal, deixou de ser o lugar privilegiado para se fazer teatro amador. Perdeu-se a benigna tradição de naquele num palco improvisado se verem actuar os grandes actores amadores da nossa terra.

- José Alfredo Almeida*, Setembro de 2011.
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O velho Teatro dos Bombeiros da Régua
O Milagre do Cruzeiro
Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 20 de Outubro de 2011
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Clique nas imagens acima para ampliar. Colaboração de texto e imagens do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2011. As fotos acima foram cedidas por Fernando Magalhães, filho do autor desta peça teatral.

  • *O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.

Recortes - RÉGUA, antes... RÉGUA, depois...

Caldas do Moledo - Peso da Régua
(Clique na imagem para ampliar)