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) Era tempo de verão, com a praia da Claridade cheia de veraneantes, num período áureo da mais bela e cosmopolita praia do país, quando na tarde de 30 de Julho de 1961, os bombeiros voluntário da Régua, desfilavam ao som de bombos e clarins - à frente com a velha ambulância Ford V8 e o carro de incêndio Chevrolet - pelas principais e movimentadas ruas da Figueira da Foz.
Este desfile acontecia no fim de uma longa viagem, que tinha começado ao amanhecer na Régua, preparada como uma romagem de gratidão para apresentarem aos bombeiros figueirenses o sincero reconhecimento pela atribuição do título de sócia - honorária à associação humanitária duriense. Com esta honrosa distinção enaltecia-se não só a sua brilhante história como o trabalho e o mérito de uma equipa de dirigentes notáveis e de um jovem comandante cheio de aspirações. A notícia do jornal “Vida por Vida” dizia que os bombeiros da Régua partiram rumo à Figueira da Foz para “agradecerem a honrosa distinção e patentearem o quanto a Régua se sentia cativada pela deferência”.
Ao olhar para as fotografias do desfile, que se revelam pela primeira vez, as recordações desse tempo vêem à memória como se estivéssemos a assistir um filme antigo em que, os nossos garbosos e briosos bombeiros, vão ganhando uma nova vida, encantando-nos com os seus momentos de humanidade. Foram assim os anos de comando de Carlos Cardoso dos Santos. Esta viagem, que ele sonhou, não foi um simples passeio. Seguia na caravana uma representação que ia divulgar o nome da Régua como berço do vinho do Porto. A viagem serviu para os bombeiros levarem na sua bagagem a beleza natural da Régua e da região demarcada do Douro, à altura um destino turístico completamente desconhecido no país, a fama do nosso vinho fino, único no Mundo, e as potencialidades do Alto-Douro Vinhateiro, que foi em 2001 consagrado como património da humanidade, considerado “no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável capaz de assombrar o mundo”.
Deve dizer-se ainda que Carlos Cardoso foi o principal responsável pelo forte dinamismo do Corpo de Bombeiros e pelas relações de amizade e de intercâmbio de saberes e experiências, que se estabeleceram com outras importantes congéneres do país. Depois, como um homem bom, procurou fazer sempre a amizade e fraternidade entre os homens que vivem do bem comum e da solidariedade humana.
Sem saudosismos do passado, gostávamos de voltar a fazer outra viagem à famosa praia da Claridade, com os meus ideais de Carlos Cardoso dos Santos, seguindo os novos itinerários geográficos, para renovar os laços de amizade dos homens ligados ao vinho e à vinha com os das gentes do mar da Figueira da Foz. Uma das melhores coisas da vida é podermos manter estas velhas amizades. As que resistiram à erosão do tempo e nos ajudaram a vencer os momentos de dificuldades.
Para recordarmos melhor este acontecimento, transcrevemos parte da notícia “Romagem de Gratidão”, inserida no jornal “Vida por Vida”, de Julho de 1961, em que nos são contados mais pormenores da vigem, desfile e recepção aos bombeiros da Régua:
“Quis a Corporação dos Bombeiros Voluntários da Figueira, num gesto de penhorante camaradagem, conferir à nossa Associação o grau de sócia honorária. Não se pode um gesto destes, no meio de homens que vivem o ambiente do bem comum e da solidariedade e de solidariedade humana.
Mas, os bombeiros Voluntários da Régua é que não podiam ficar indiferentes a tão cativante atitude. E assim é que, demonstrando a sua gratidão pela honra recebida, se deslocaram à Praia da Claridade, no passado dia 30 de Julho, para em pessoa, agradecerem a honrosa distinção e patentearem o quanto a Régua se sentia cativada pela deferência.
Por Viseu, Aveiro, Praia de Mira, fomos rodando até à grande praia de Portugal – até à hospitaleira terra da foz do Mondego.
Apesar da distância a considerar para um só dia, a caravana compôs-se de dois carros, dois veículos da corporação e vários carros particulares.
Antes da cidade, a caravana parou. Num gesto amigo, a Corporação Figueirense aguardava os visitantes. Eram 16 horas. O tempo urgia, e após os cumprimentos, retomou-se a marcha, agora comandada pelos bombeiros figueirenses.
À entrada da cidade, organizou-se o desfile, comandado pelo Comandante Carlos Cardoso dos Santos, da Régua. Marcialmente, em bom aprumo, ao som clangoroso dos bombos e dos clarins, as duas Corporações desfilaram, seguidos pelas viaturas, até à “domus” dos briosos soldados da paz da linda Figueira da Foz.
Seguidamente, o Senhor Presidente da Direcção dos bombeiros voluntários da Figueira da Foz, leu um interessante discurso em que fez o elogio do voluntariado e se referiu amistosamente aos bombeiros da Régua.
No impedimento do Dr. Júlio Vilela, Presidente da Direcção, agradeceu o Sr. Dr. António Veludo que, num improviso, disse palavras de esplêndido sentimento humano e de aproximação.
Os oradores foram amplamente ovacionados, e o comandante Carlos Santos deu ordem de sentido e destroçar.
Destroçar…Houvesse apetite para “destroçar”! É que, imediatamente, os camaradas figueirenses, com distinção para o seu ilustre comandante, iniciaram a tarefa de conduzir os componentes da caravana reguense, sem excepção, ao salão de festas do grande quartel figueirense. E, ali, em monumentais mesas, encontrava-se servido um riquíssimo copo de água.
Bem hajam - honra vos seja feita camaradas da Figueira da Foz! Ali, no copo de água, usou da palavra o nosso amigo velho Comandante Capa Penedas (do CB de Ermesinde), que sabendo da deslocação, teve a amabilidade de se antecipar à nossa chegada, Em toda a parte, o nosso grande amigo compareceu. Agradecemos.
Honra, pois e glória à velha e simpática corporação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz! A Régua, na primeira oportunidade, espera-vos!”
Não sei se essa primeira oportunidade chegou a acontecer. Não tenho conhecimento nem uma informação segura, mas caso ainda não tenho ocorrido, os bombeiros da Régua tem todo o gosto de receber os seus camaradas da Figueira da Foz na sua cidade, no seu quartel Delfim Ferreira, para saborearem um cálice de Porto, o nosso “vinho fino”, os outros vinhos do Douro, como os tintos Cabeça de Burro e o Tellus da adega cooperativa, navegarem nas águas do rio e se deslumbrarem, em Galafura, com a paisagem que se avista do miradouro de S. Leonardo, como se fosse o capitão de um barco gigantesco de pedra que ali tivesse encalhado para a eternidade.
Como em 1961, repetimos à moderna e activa corporação humanitária dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz: a Régua espera-vos, sempre…!
- Peso da Régua, Setembro de 2009, José Alfredo Almeida.
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