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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Retalhos - O Douro, num passeio de comboio a vapor

Transcrição: O comboio histórico está de regresso aos carris. Até Outubro é possível visitar a região numa autêntica viagem no tempo.
Uma locomotiva a vapor construída em 1925 e cinco carruagens históricas percorrem desde o passado dia 30 de Junho a distância que vai da estação da Régua à estação do Tua. A conhecida viagem no tempo pelos trilhos do Douro proposta pela CP esteve este ano ameaçada por falta de financiamento, mas os apoios chegaram a tempo para poder reabrir o percurso nos meses mais quentes do ano.
É assim que volta a ser possível percorrer num comboio a vapor a paisagem classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Todos os sábados, de 30 de Junho a 13 de Outubro, e nos primeiros quatro domingos de Setembro, o Comboio Histórico do Douro fará este trajecto de cerca de 80 minutos (3 horas e meia, se contarmos com a ida e volta mais paragem). Durante a viagem, enquanto a vista repousa entre as calmas águas do Douro e as vinhas, a CP garante animação a bordo, com cantares regionais ao vivo, oferta de bôla regional e um cálice de vinho do Porto. Já no Tua pode-se observar a inversão na linha da máquina a vapor com recurso a uma placa giratória.
O preço do bilhete é de 45€ para os adultos e 25€ para as crianças (5 aos 12 anos, inclusive). Caso queira juntar ao passeio o percurso até à Régua de comboio, de qualquer outro ponto do país, a CP propõe preços especiais. E se quiser ficar a passar a noite num dos hotéis da zona, saiba que os clientes do Comboio Turístico usufruem de condições preferenciais. A informação mais detalhada está no site da CP.
Horários: Sábados - Partida da estação da Régua às 14:48 e chegada à estação de Tua às 16:05; Regresso: saída da estação do Tua às 17:06 e chegada às 18:22. Domingos – Partida da estação da Régua às 09:45 e chegada à estação de Tua às 11:02; Regresso: saída da estação do Tua às 11:58 e chegada às 13:14.

Contactos: 221 052 503/ 511/ 524

Site: CP 
Outras "linhas" ...
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jornais da Régua

Chegou a ser efervescente, no século XIX, a publicação de folhas periódicas reguenses. Já me passou pela vista um exemplar da Régua em Camisa, vários números da  e, se bem me  lembro, algum número do antigo Douro, fundado em 1863. O novo só muito mais tarde, em 1900, reapareceu.
Valerá a pena a qualquer estudioso, dotado de paciência, estudar meticulosamente o que foi, na Régua, a imprensa periódica no século XIX. Terá, para esse efeito, de recorrer às bibliotecas públicas, a algum particular e ao Instituto do Vinho do Porto. Esta casa, tão importante, deve ter adquirido, in illo tempore, uma boa porção de jornais velhos publicados na Régua.
Diga-se, antes que esqueça, que todos esses jornais, publicados nesta vila e veementes defensores do Douro, provam que a capital do país vinhateiro foi sempre a nossa terra. Valem como pergaminhos comprovativos. Régua, capital do Douro… Assim se disse e há-de dizer sempre.
Mas, vamos lá ao tema desta crónica. Tema particular, será a recordação de jornais que eu conheci, aqui na Régua, no tempo em que me criei.
Foram três bi-semanários, que se chamaram, a contar do mais velho, O Independente Reguense, O Douro e O Dissidente.
O Independente vinha do século passado, o Douro reaparecera em 1900 e o Dissidente, o mais novinho, era então, pode-se dizer, recém-nascido.
Independente e Dissidente entravam em minha casa duas vezes por semana. E eu, rapazinho da escola primária, recebia-os e lia-os com avidez. Neles saboreava as poesias de Camilo Guedes, algum artigo de Pinto Pereira e as eruditas notas de Gabriel Gouveia sobre Camilo, que denominava imortal humorista.
Folhas saídas de prelos arcaicos, movidos a pulso, entravam-me em casa húmidas como se tivessem acabado de tomar banho. E eu, deixem-me assim dizer, respeitava-lhes o pudor. Mal as encarava para as deletrear.
Cada um dos jornais era entregue, em minha casa, pelo rapaz da redacção – rapazinho descalço que eu respeitava e admirava por ver nele alguém que conhecia o segredo de fazer jornais.
Sabedores desse segredo eram homens feitos como o Chico Cego, do Dissidente, e o Luís Ribeiro, do Independente.
Vi algumas vezes, à janela do jornal O Douro o tipógrafo Queirós, homem de rosto magro e cabeleira rica, levantada como trunfa.
Dizia-se que bebia vinho pela medida grande. Dizia-se até que o contacto com os tipos era mais puxavante que azeitonas e bacalhau cru. Mas, nem todos os tipógrafos se deixariam tentar. Luís Ribeiro, do Independente, era morigerado. Já o Chico cego, enquanto compunha, ia molhando a palavra para melhor insultar o aprendiz.
Tudo se perde, em terras de província, quando deixa de se usar. De certo se perderam as colecções dos três bi-semanários. Se não houver quem as procure à luz da candeia, rezem-lhes por alma os antigos leitores das três folhinhas.
Mas, aqueles prelos gementes? Não será possível que o Museu do Douro, agora em formação, venha a possuir, em bom estado, um exemplar desses objectos?
Merece memória quem lidou com eles a favor da Régua e do douro. Mas, os prelos, obedientes ao pulso duriense, também a merecem. Primitivos como eram, não imprimiam mal. Davam de si folhas húmidas muito asseadas.
Como não há museu municipal, cumpre ao Museu do Douro, agora em formação, adquirir velhos jornais da Régua e um exemplar do prelo que os deu à luz. Valeu?

Nota: Esta crónica foi publicada no Boletim “O Alto Douro Cultural”, nº1, de Junho/1883, Ano I,  que  era o  órgão da Associação Cultural do Alto Douro.


Clique na imagem acima para ampliar. Sugestão de J. A. Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2012. Desconhecemos o autor do texto. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.