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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CALDAS DO MOLEDO - O nosso único parque

Simples homenagem ao estimado Amigo Dr. José Alfredo Almeida e ao recanto onde nasceu e que tanto o inspira em suas "prosas" neste blogue, as CALDAS DO MOLEDO.

O vício de ler também obriga a sofrer. Quem lê jornais e revistas fica apavorado com a perspectiva de morrermos todos se continuarmos a poluir o ar, a água e a terra. Automóveis, fogões de gás, fumos de fábrica, poluem o ar. Insecticidas e outros venenos poluem a terra e, por sua vez, todas as águas. Não haverá, dentro de poucos anos, se continuarmos a envenenar o mundo, lugar em que se viva. A Terra, como a Lua, girará pasmada, na sua órbita, como cão morto que quisesse morder o rabo. Imagine-se a tristeza dos anjos e dos bem-aventurados quando a virem passar tão morta como louca. À poluição do ar poderíamos opor, como contra-veneno, o oxigénio proveniente da vegetação. Mas, em vez de semelhante medida, recorremos a outra, que é uma rica vasilha com o fundo virado para cima. Com herbicidas, machado e serrote, destruímos a vegetação. Destruímos as fontes de oxigénio. Não nos passa pela cabeça oca a impossibilidade de vivermos sem ele. Pensamos até que não existe, porque ninguém o palpa. É, porventura, uma quimera de sábios.

Se assim é o homem do povo, se assim é o lavrador, e até o homem medíocre, dotado de instrução elementar, não deve ser assim o homem que governa. Esse, por amor ao oxigénio, bênção de que não duvida, respeitará a árvore onde quer que exista. Se lhe faltar a sensibilidade precisa para se comover diante de uma árvore, suplique-a a Nosso Senhor nas suas orações.

Desapareça o tempo em que os governantes, nas cidades e vilas portuguesas, fizeram de cada árvore uma ré condenada ao patíbulo sem defesa. A olhos de poeta, não há canto de Portugal que não chore, como viúvo, a árvore que o embelezou.

Pelo que toca à nossa terra, são horas de nos iniciarmos no respeito devido a cada árvore - fonte de vida e de beleza. São horas, mais do que horas, de plantarmos o nosso parque, fazermos da nossa zona verde, pura ficção, uma realidade.

Enquanto não houver parque municipal, gozemos e amemos o do Moledo, que também é nosso como principal adorno das nossas ricas termas. Não se diga, por vergonha nossa, que não temos árvore capaz de abençoar e amparar o viajante cansado.
O parque do Moledo é o nosso único parque. Ame-se e defenda-se, enquanto não tivermos outro e depois de termos outro. Quanto mais arvoredo, mais beleza e mais saúde...

- João de Araújo Correia - Agosto de 1970
In “Pátria Pequena”, editado pela Imprensa do Douro (1977)
Do Blogue "Malomil" - Grande Hotel das Caldas do Moledo
Clique nas imagens para ampliar

Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O nosso ninho


  Horácio de Moura Lopes - O nosso ninho
                           
Construirei, além, o nosso ninho!
(A noiva serás tu, romeira linda!)
Mesmo pobre terá luz… graça infinda,
Sem lhe faltar o sol do teu carinho.

Não temas noite escura, desabrida!
Vem comigo, não olhes ao caminho!...
Há-de ser um pombal muito branquinho!
Onde o mal não espreite a nossa Vida.

Eu quero dar-lhe foros de alegria…
Onde se ouça uma prece em cada dia,
Impetrando uma graça lá da Altura!

E, no esplendor da paz e da harmonia,
Habitaremos sós, até que um dia,
Alguém venha dourar nossa ventura.

- Régua, Agosto de 1949
Publicado na revista “Princesa do Douro”
Blogue "O privilégio dos Caminhos" de Júlia Moura Lopes, filha de Horácio Moura Lopes.
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Algumas palavras de José Alfredo Almeida: Homenagem a um cidadão quase desconhecido mas grande poeta há muito falecido. Amou a Régua e as Caldas do Moledo onde gostava de se inspirar na luz dos mágicos  luares do velho parque termal,  para escrever apaixonados e inesquecíveis sonetos como o que hoje recordamos,  que ficaram esquecidos em velhos jornais e revistas, à espera de todos nós, amantes de poesia, de luz e das suas eternas luas de magia...!

 -  Foto de Miguel Guedes, para ilustrar, a entrada do parque termal das Caldas do Moledo. Clique na foto para ampliar. Edição de J. L. Gabão.