João
de Araújo Correia
A
biblioteca de Maximiano Lemos, inaugurada em 1960, ao comemorar-se o primeiro
centenário do seu ilustre patrono, vai ser enriquecida, no próximo Novembro,
com uma valiosa colecção de livros oferecidos pela benemérita Fundação Calouste
Gulbenkian. Diremos, para ser precisos, que vai funcionar, dentro da Biblioteca
de Maximiano Lemos uma das bibliotecas fixas de Fundação Gulbenkian.
Queremos
crer que as duas bibliotecas não briguem uma com a outra, antes se auxiliem e
completem. A de Maximiano Lemos é livraria pobre e livraria velha, herdeira da
primitiva estante dos Bombeiros e acrescida de alguma oferta particular. Mas,
sempre conterá, como velha, embora pobre, alguma espécie rara, útil a
estudiosos ou bibliófilos. A da Fundação, constituída por livros em barba e
todos em folha, será útil ao comum dos leitores. Será própria para os desbravar
e lhes estimular o gosto de leitura.
Uns
e outros livros deverão acautelar-se de inúteis desvios. Não falta quem se
aproprie de livro alheio só para o ter ou deixar perder, nanja para o ler e se
instruir com ele. É como se cultivasse a arte de tirar por tirar.
Ninguém
deve esquecer, aqui na Régua, o que aconteceu à antiga biblioteca municipal,
fundada pelo Dr. Claudino de Morais no século passado. Quando, em 1935, houve
incêndio nos Paços de Concelho, já os livros tinham desaparecido. Oxalá não
suceda o mesmo aos livros da Biblioteca de Maximiano Lemos, agora enriquecida
com a inestimável oferta da Fundação Gulbenkian.
Se
há livros que podem emprestar-se para leitura domiciliária, outros há que não
devem sair para longe da vista do bibliotecário. São livros raros, insubstituíveis.
Em
todos as bibliotecas, há regulamento que protege os livros. Não falte na
Biblioteca de Maximiano Lemos. É indispensável que não falte e que se cumpra.
Só assim haverá quem ofereça à Biblioteca livros preciosos, colecções de
jornais e até manuscritos.
Na
Régua, é tradição que falhem todas as iniciativas. Falharam as touradas, as
exposições fotográficas, o teatro de amadores, o orfeão, a parada agrícola, os
desportos fluviais e até o carnaval inventado pelo Chico Pulga. Tudo falhou,
menos a Associação dos Bombeiros Voluntários, fundada em 1880 e de ano para
ano, mais florescente.
Da vitalidade da Associação dos Bombeiros fiamos a
conservação e o progresso da Biblioteca de Maximiano Lemos. Mas, é
indispensável que a Associação seja acompanhada, neste particular, pelos
reguenses dados à leitura. Espera-se que espontaneamente se organize o Grupo
dos Amigos da Biblioteca de Maximiano Lemos.
- Outubro de 1963
- Outubro de 1963
Nota:
Esta crónica, inicialmente publicada no
extinto jornal “Vida por Vida”, faz
parte do livro Pátria Pequena,
editado pela Imprensa do Douro (1977).
Clique nas imagens para ampliar. Sugestão de texto e imagens feita pelo Dr. José Alfredo Almeida (Jasa). Publicado também no jornal semanário regional "Arrais" em 9 de Agosto de 2012. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2012. Permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.
Sem comentários:
Enviar um comentário