O homem que, em 3 de Dezembro de 1955, discursava no restaurante Borrajo, com o velho Comandante Lourenço de Almeida Medeiros, Pôncio Alves Janeiro, um dos proprietários da Garagem Janeiro e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua, Joaquim Augusto Trindade Rodrigues todos em volta da sua mesa, era o distinto advogado, Dr. Júlio Vilela (1954-1963), um dos melhores presidentes que passou pela Direcção da AHBV do Peso da Régua.
Nesse dia, os bombeiros da Régua festejavam num jantar o 75.º aniversário (Bodas de Diamante) da Associação. O Dr. Júlio Vilela aproveitou a data para na presença dos membros dos órgãos sociais, do comandante Medeiros e seu do corpo activo, onde se destaca o bombeiro Joaquim Sequeira Teles e de alguns beneméritos, fazer um balanço do seu primeiro ano à frente da direcção dos bombeiros.
Na verdade, ele tinha motivos para estar satisfeito com os bons resultados. Abria, na história dos bombeiros da Régua, uma nova página, ao “inaugurar” o novo quartel, que se encontrava inacabado há mais de 25 anos. Realizavam um sonho que muitos não tinham conseguido realizar. Fechava para sempre o velho quartel que, desde 1923, funcionava sem condições numa exígua casa velha no Cimo da Régua. Até então, o edifício-sede estava reduzido a um esqueleto (embora fosse projecto do arquitecto Oliveira Ferreira prometesse uma obra grandiosa) mas, era considerado a forma definitiva de um sonho. A sua determinação conseguiu tornar o sonho numa realidade, ao deixar concluída a actual casa dos bombeiros.
Durante os nove anos que o Dr. Júlio Vilela liderou a direcção, os bombeiros da Régua tiveram uma fase de grande crescimento e de reconhecimento público. Ele, num curto espaço de tempo, conseguiu tornar a Associação cada vez maior e mais eficiente, o que ficou visível pela vasta obra que realizou. E, coube-lhe gerir com cuidado e respeito, a sucessão do velho comandante Lourenço Medeiros, que não foi nada fácil. Escolheu um homem para comandar os bombeiros, Carlos Cardoso (1959), que, com as suas novas ideias, apostou mais na formação dos bombeiros e na modernização dos equipamentos. Infelizmente, o Dr. Júlio Vilela só não fez mais pelos bombeiros porque a morte, de forma abrupta e cruel, lhe acabou aos 52 anos de vida uma brilhante carreira e o seu meritório percurso como um dedicado director associativo.
O Dr. Júlio Vilela foi um cidadão conhecido e respeitado. Quem o conheceu e com ele conviveu admirou-o pelas qualidades morais. Era também um bon vivant, e sobretudo um excepcional advogado, apreciado pelo seu verbo fácil e eloquente. Foi um dos mais famosos do seu tempo, com grande fama na comarca da Régua. Politicamente foi um verdadeiro democrata e um militante activo e envolvido mas causas sociais. Para além, do seu trabalho nos bombeiros colaborou e ajudou a crescer o clube de futebol da sua terra. Admirado pela sociedade do seu tempo, não deixava de conviver com as pessoas mais simples e os pobres, que ouvia atentamente e ajudava. Politicamente foi um verdadeiro democrata. Um desses amigos, era o engraxador “Porrório”, que lhe vendia a cautela da lotaria, entre o contar de anedotas de fazer corar e sorrir e, quando lhe pedia, oferecia-lhe os seus fatos ainda em bom estado e até pares de sapatos.
Faleceu há 47 anos, em 5 de Agosto de 1963. Passando estes longos anos, os bombeiros não esquecem o Dr. Júlio Vilela, a quem já prestaram simples homenagens de gratidão. A primeira aconteceu, ainda em 1963, ao ser descerrada uma sua fotografia, que se encontra exposta na sala-museu. A outra deu-se em 2005, ao baptizar-se o carro de incêndios urbanos com o seu nome, em que foi “padrinho” o irmão Abeilard Vilela.
O enaltecimento de seu carácter humano e fraterno está exposto no seu “In Memoriam”, escrito por alguém que só se identificou pelas iniciais A.D. no suplemento do jornal “Vida por Vida”, de Agosto de 1963, que aqui transcrevemos:
“Inesperadamente, sem que nada pudesse supor o trágico desenlace, finou-se o Dr. Júlio Vilela, prestigioso Presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários da Régua, distinto causídico e reguense altamente cotado pelos seus dotes de bonomia e inteligência, pela sua modéstia que não conseguia ocultar um espírito brilhante – e pelo bairrismo doseado de sensatez e boa compreensão.
A Régua perdeu um dos seus filhos mais queridos e um dos seus mais votados servidores. Sem alardes, sem vaidades balofas, dentro daquela simplicidade de bon vivant que era apanágio, o Dr. Júlio Vilela tinha dentro de si, bem à vista, a alma de um grande reguense. Manifestou-a sempre. Mas, se outros elementos não houvesse a justificar esta asserção, bastaria considerarmos a sua actuação na presidência dos bombeiros, a sua perseverança, a sua boa vontade, o seu senso directivo, o seu amor à Corporação. Já antes de ser director, o Dr. Júlio era um bom amigo dos bombeiros da sua terra. Das suas palavras, das suas atitudes, ressumava, cristalina, sem pretensões, sempre de forma irrefutável, a sua dedicação. Depois, foram nove anos de efectivo esforço, numa colaboração íntima com os seus companheiros de direcção, e durante esse tempo a Corporação conseguiu uma posição brilhante nunca atingida, que a classificou entre as primeiras do país, dentro da sua esfera de acção.
Bastava isto para justificar a gratidão e amizade que lhe devotam os reguenses. Mas nem só isto valia; nem o mais que o Dr. Júlio Vilela tenha feito por qualquer forma, a favor da sua terá. A alma do povo, desde povo rude, humilde e chão, tem rasgos de perspicácia e de compreensão que se não encontra em todas as esferas. E o povo da Régua admirava no Dr. Júlio Vilela o homem probo e simples, inteligente e bom amigo, que tinha uma palavra suasória ou dito de espírito para animar quem quer que fosse – ou um gesto de solidariedade para auxiliar um desventurado.”
Os homens passam e as instituições ficam… mas ficam as marcas dos homens. As marcas do Dr. Júlio Vilela são notórias. Aquele elogio, pode parecer um louvor de circunstância, mas a simplicidade e autenticidade daquelas palavras correspondem à sua personalidade. Em boa verdade, só podem pecar por defeito, isto é, não desvendarem a verdadeira grandeza do homem que foi, sobretudo, um advogado de boas causas...! Aquelas que mais fizeram prosperar a sociedade reguense.
Para os bombeiros da Régua, a memória do Dr. Júlio Vilela está viva. Não dizemos isto só por dizer…! O Dr. Júlio Vilela fará sempre parte de uma obra constante e colectiva, erguida para o bem da Régua. E do seu povo…! Mas, só é possível, como ele dizia, fazer mais e melhor com a soma de todos.
- Peso da Régua, Outubro de 2009, José Alfredo Almeida. Revisto e atualizado em Outubro de 2010.
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4 comentários:
Passados tantos anos voltamos a ter um Presidente à imagem do Dr.Vilela.Obrigado Dr.J.Almeida
Gosto do texto, das fotos. Excelente trabalho de informação.
Parabêns. OBRIGADO.
Um trabalho a continuar sem esmorecer.
Deve-se salientar e perpetuar o património histórico e cívico do Douro e quem o constrói com generosidade e doação.
Já agora gostaria de saber se o antigo Coreto ainda está em "Exposição Pública" no matadouro municipal?
Mónica - São Paulo - Brasil
Respondendo a Mónica Reigada a respeito do histórico e antigo Coreto:
"de: José Gonçalves -josemanuel@cmpr.pt
para: O Coreto -tomaz.alfredo@gmail.com
data: 23 de junho de 2009, 17:11
Assunto: O Coreto Alexandre Herculano
Caro munícipe
Antes de mais quero felicitá-lo pela preocupação que tem com o que se passa na nossa terra.
Em relação ao coreto, quero dizer-lhe que já está adjudicada a uma empresa a sua recuperação, assim como está em projecto a requalificação de um espaço onde o mesmo será colocado.
Com os melhores cumprimentos
José Gonçalves."
In- http://o-coreto-da-regua.blogspot.com/
Promessa é dívida.
Esperamos animados a promessa do representante da edilidade vareira seja concretizada a breve prazo.
Saudações.
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