Exerceu as funções de escrivão de direito, no Tribunal da Comarca do Peso da Régua. Mas destacou-se, no meio reguense, por organizar um grupo de cidadãos que pretendiam constituir no concelho uma Companhia de Bombeiros, com o objectivo de ser dada melhor utilização à bomba de incêndios adquirida pela Câmara Municipal, em 1873.
Manuel Maria Magalhães deu resposta aos anseios da edilidade reguense que, preocupada com a frequência e a dimensão dos incêndios nos armazéns de vinhos, ambicionava colocar ao serviço da população um corpo de bombeiros voluntários, preparados e organizados – à semelhança do que estava a acontecer por todo o país - tendo assumindo a liderança de uma “Comissão Instaladora”, para preparar a constituição de uma associação humanitária.
Essa comissão, formada por mais vinte e cinco distintas e famosas pessoas, discutiu aprovou na Assembleia-geral, realizada em 25 de Junho de 1880, os primeiros estatutos (com 44 artigos e em anexo o regulamento interno para os sócios activos) que haviam de reger a instituída Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - é a 13º a ser constituída em Portugal - e confirmados por Alvará de 12 de Agosto de 1880, assinado pelo Dr. José Ayres Lopes, Governador Civil de Vila Real.
Manuel Maria Magalhães tornou-se, com o apoio incondicional dos sócios fundadores, o primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.
Por sua iniciativa, a senhora D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha (1811-1896), uma das personalidades mais marcantes da história do Douro, foi a primeira a assinar o livro destinado à inscrição sócios contribuintes da Associação, grande honra para os bombeiros que receberam também a ajuda desta grande e distinta benemérita, nascida no Peso da Régua.
Manuel Maria de Magalhães, como Comandante da Companhia de Bombeiros - assim se dizia ao tempo - iniciou essas funções no dia 28 de Novembro 1880, que foi a data por si escolhida para realizar na casa da extinta Associação Comercial, sita na então Rua da Boa Vista, os festejos da inauguração da Associação, cessando-as no dia 10 de Outubro de 1892 (e não em 1904 como vinha a constar), isto é, no dia do seu falecimento.
Para o substituir no comando do Corpo de Bombeiros, os sócios activos elegeram na Assembleia-geral o sócio activo e fundador Gaspar Henriques da Silva Monteiro que, por desinteligência com os restantes sócios fundadores, veio a renunciar ao esse cargo, pedido que a Direcção da Associação aprovou, pelas razões invocadas, na sessão extraordinária, realizada no dia 24 de Novembro de 1892.
Após novas eleições para a escolha do comandante, foi escolhido desta vez, José Afonso de Oliveira Soares (1863-1939), que havia sido aceite alguns anos antes, como sócio activo, iniciando funções de comando nos bombeiros, no dia 3 de Fevereiro de 1893.
Da breve pesquisa não conseguimos recolher mais dados biográficos de Manuel Maria de Magalhães, mesmo tendo em atenção os contributos do seu bisneto, o nosso amigo Noel de Magalhães, Crachá de Ouro da LBP, que foi durante muitos anos director da Associação.
Mas, encontramos no Livro de Actas de 1880, a da Sessão Extraordinária de 10 de Outubro de 1892, efectuada no dia do falecimento de Manuel Maria de Magalhães.
Nessa noite, a Direcção reunida, com o seu presidente José Joaquim Pereira dos Santos Soares e os restantes directores, Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges, Camilo Guedes Castelo Branco, Francisco Ferreira Ribeiro e o 2º Comandante Joaquim de Sousa Pinto, fez uma exposição da sua reconhecida grandeza e dos seus feitos, manifestou um sentido de profundo pesar pela sua perda para todos eles e, em especial, para a Associação, que ajudara a fundar e, em último, aprovou alguns actos de carácter público, para assinalar com dignidade a sua cerimónia fúnebre.
Reflectindo essa extraordinária acta o genuíno pensamento dos homens que o acompanharam nos primeiros passos de vida da Associação e que com ele conviveram as primeiras alegrias e as muitas incompreensões no erguer desta grande obra, a permanecer no tempo como uma grande instituição de utilidade pública ao serviço da população, e ainda os sentimentos de camaradagem dos seus amigos, não resistimos em transcrevê-la na íntegra:
“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos e noventa e dois, reunida na sala de sessões toda a direcção, substituindo o primeiro comandante o segundo, foi dito pelo presidente que se atrevera a fazer reunião a esta hora, 10 da noite, visto a urgência do caso a tratar. Acabava de lhe ser comunicado o falecimento do mais representante (seja dito sem ofensa para ninguém) sócio desta Associação o primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães. Com esta perda sofreu esta Associação a perda do sócio, à qual devia a sua vida, pois que ninguém desconhecia que fora ao prestigio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços. Cada um dos sócios perdera um amigo, e esta colectividade um chefe que fora um modelo de louvar. Sem expressão com que pudesse dizer muito que a sua alma sentia, propunha que fosse dado conhecimento a todas as associações do país do falecimento do nosso colega; que fosse lançado em acta um voto de profundo sentimento pela perda sofrida; que se fechasse a Associação por um prazo de oito dias, em sinal de luto que fosse deposta uma coroa no (….) do falecido, em nome desta Associação; que fossem feitas as despesas do enterramento do mesmo, atentas as circunstâncias em que a família ficava, sendo desnecessário expô-las por serem do conhecimento de todos; e por último que fosse representado por esta Associação a todas as Associações congéneres do país, a fim de ser pedido o lugar de escrivão de direito que exercera o finado nesta comarca para o seu filho Alfredo de Magalhães, prestando assim uma última homenagem ao homem que deixe vinculado o seu a uma das instituições mais significativas desta vila. Não punha à discussão esta proposta: parecia-lhe que nem discussão tinha. Foi aprovada por unanimidade. O 2º Comandante (Joaquim Silva Pinto) pediu para que ficasse consignado nesta acta o seu profundo pesar e o da colectividade que comandava. O presidente ficou encarregado de fazer a representação a S. Majestade telegraficamente. Não havendo mais a tratar foi encerrada a sessão.”
Verifica-se que no âmbito do determinado pela mencionada deliberação da Direcção, foram pagas pelas contas da Associação as despesas do enterro do Comandante Manuel Maria de Magalhães.
Esse gasto constituiu uma despesa extraordinária, no valor de 75: 250 réis, como se pode ver documentada no rigoroso “Relatório de Contas”, devidamente apresentado aos sócios da Associação, no dia 21 de Dezembro de 1892, pela Direcção presidida por Camilo Guedes Castelo Branco, que fez expressar um sentido "voto de profundíssimo sentimento pelo seu óbito”.
Até à presente data, foram realizadas pela Associação duas singelas homenagens em memória de Manuel Maria de Magalhães.
A primeira, aconteceu em 1905 na celebração do 25º aniversário da Associação, com a colocação de uma lápide no seu jazigo, assinalando uma “saudosa lembrança” do Corpo de Bombeiros desse tempo.
A outra foi efectuada, em 2006, por ocasião das comemorações do 126º aniversário da Associação, ao “baptizar-se” com o seu nome, um moderno veículo de combate aos fogos urbanos, adquirido nesse ano.
Mas, já em 2005 a Direcção da Associação, entendendo que ele continua a ser o principal rosto e o mais importante dos seus fundadores, a quem se deve toda a grandeza da instituição, elegeu uma fotografia sua, a única que se conhece, para ilustrar a capa do livro da história: “AHVB de Peso da Régua-125 anos da sua História”. Evocam-se nessas páginas, os momentos mais significativos do passado da Associação que, sem margem para dúvidas, deve as suas origens ao esforço abnegado e altruísta do seu primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães.
Esta sensibilidade foi logo patenteada após a sua morte pelos demais sócios fundadores, ao confirmarem “que fora ao prestígio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços”.
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