terça-feira, 9 de abril de 2013

Recortes - Peso da Régua em 1930

Clique na imagem para ampliar. Imagem original (de autor desconhecido) cedida por JASA. Edição de imagem de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

sábado, 6 de abril de 2013

A minha RÉGUA ! - 63

PRIMAVERA
Fotos que refletem um estado de alma sobre a nossa cidade
Se participa da rede social 'FaceBook', poderá apreciar a coletânea de imagens 'A Minha Réguanos álbuns 'Peso da Régua' e 'Peso da Régua 2', com mais de 1.000 fotos.
Clique  nas imagens para ampliar. Imagens de autoria do Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Reencontro com o monte do Maio

A despeito de uma aposentação tão descuidada como preenchida, volta e meia deixo esta minha pousada de Lamego e vou por aí abaixo até à casa de Remostias. É como se quisesse deitar contas a esta vida transitória, saber ainda das raízes e das seivas elaboradas, de par com outras ideias e outras intenções.

De caminho, é meu costume passar ao lado da Régua-cidade e subir pela variante do Corgo. Meto depois pelas acanhadas ruas do Peso e são elas quem me dá os bons-dias ou as boas-tardes, em jeitos de saudação. Isto se não enfio pelas estreitas e esquinudas ruelas de S. Pedro ou S. João.

Mas, por desfastio ou por obrigação, entrei há dias pelo centro da cidade e quem me saudou foi a Avenida Antão de Carvalho que vi toda entaipada ao longo do passeio e à medida da velha Alameda Municipal.

Disseram-me que ai, na Alameda, se vai construir um centro cultural, ou coisa que o valha. O entaipamento, só por si, acabou por me tolher uma lonjura de cenários mas, vá lá, que será por pouco tempo.

Não sei se a propósito ou a despropósito, quando cheguei à minha casa de Remostias acabei por recuar no tempo, uns poucos de anos e mergulhei numa espécie de nostálgica moleza. Foram essas as minhas ideias e as minhas intenções.

Ao recuar no tempo, feito menino e moço, subi ao monte do Maio, mesmo ao ciminho do monte, ali onde está e permanece um respeitável marco geodésico. O que queria era sondar os horizontes, se assim se pode dizer, e queria sondá-los com olhos límpidos e vivaços, tal como era nos verdes anos da minha mocidade.

Tenho agora diante de mim, um desdobre de belos horizontes. Vistos assim, de frente e a céu aberto, o que vejo eu? Vejo toda a montanha de Loureiro, toda a incisura dos relevos que vai das soalheiras terras de Fontelas ao termo de Medrões e Sanhoane. O miradoiro de S.to António, no cocuruto, manda-me de lá um aceno convivente, talvez retorno de igual encantamento. No fundo, de lado a lado do sopé, é todo o enfiamento da estrada do Rodo, estrada de macadame a levantar grande poeirada à passagem de automóveis e camionetas, e ainda com uma constante chiadeira de um ou outro carro de bois.

Mas é a montanha que me desperta a vivacidade dos olhos deslumbrados. Do casario mais ou menos disperso, mais ou menos aconchegado, pode subir um fuminho das cozinhas, alguns quintalinhos serão de bom fruto e bom amanho, da vinha socalcada partem caminhos de serventia ou de consortes. Avulta, lá no alto, algum bosquedo de castanheiros e pinhal.

Se o vento vem do sul, vento de feição, ouço o palavreado rumorejante que vem lá dos rechãos de Godim e até oiço o silvo do comboio pouca-terra, a despedir-se do apeadeiro do Moledo.

Mas diz-me o sino da Igreja Matriz que são horas de despegar desta espécie de memorial, como que um regresso aos verdes anos da mocidade.
- Por Manuel Braz Magalhães, Abril de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Texto e imagem cedidos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

AS VIRTUDES DOS ANTEPASSADOS - VIRTUTIBUS MAJORUM

O Sr. António Guedes Castelo Branco, nosso conterrâneo, a quem nos liga mútua e velha estima e consideração, as quais se processaram ao longo de larga vivência, a nível de duas famílias quiçá o único sobrevivente de uma geração que, mercê de polifacetadas eclosões espirituosas – a que não foram alheias os manes de Pai Camilo e sua brilhante contemporaneidade -, sacudiram a então pasmaceira provinciana do burgo reguense, vem abordando, em substancial e não menos relevante colaboração, no Arrais, situações inerentes a um passado naturalmente saudoso, para quem ultrapassou os 80 anos de idade.

De passo que fixa e retrata tipos locais dos quais o decantado polícia da Régua é expressão superlativa, inserta na estruturação, revisteira da época, em situações pouco sérias, tocadas de certo sentimentalismo inevitável, em ordem a caracterizar estilo próprio, não lhe é possível abstrair de outros que, com perpassarem, pé ante pé, pelos recôncavos de um feliz anonimato o qual, em todas as épocas, se assinalaram e assinalarão, nas sociedades humanas, não lograram o propósito, neles visceral, dado o rasto luminoso, que deixaram, e se oferecerem à admiração dos coetâneos e vindouros, interessados nos valores culturais dessas épocas.

É o caso de Anastácio Inácio Teixeira, cuja personalidade, impregnada de humildade, só aos eleitos está reservado por condicionalismos predestinatórios, os quais se furtam, por vezes, à penetração do comum dos mortais.

Vimo-lo, de óculos encavalitados no nariz, curvado, em atitude ascética, à maneira do Aleijadinho(1), no Santuário do Congonhas, sobre o bloco de cantaria, com mãos peritas, munidas de escopro e macete, silenciosamente, quase furtivamente, ir afeiçoando aquele aos motivos ornamentais, que enriquecem a fachada do edifício sede dos nossos Bombeiros Voluntários. E quando havia dúvidas técnicas a respeito da exequibilidade de determinado pormenor de obras(2), Anastácio, sentindo em si a firmeza dos obstinados, lá ia prosseguindo na tarefa, a que votara toda a alma, quiçá sorrindo, interiormente, convicto, por longa e profícua experiência e devoção, que dele fez um Artista, de que é no caso, precisamente, que  o sol irradia os revérberos mais fulgentes, até que chegou o momento no qual, parafraseando Afonso Domingues, na Batalha, poderia afirmar – o arco não caiu… o arco não cairá.

Remonta, como é sabido, à pré-história o momento em que o homem, ao adquirir consciência do seu destino, passou a expressar, por via da Arte os anseios quer de ordem material, quer de ordem espiritual.

No âmago das civilizações que no mundo antigo se estabeleceram nas margens dos grandes rios e, posteriormente, na bacia do Mediterrâneo, de par com Artistas cujo nome passou à posteridade, vinculada a obras de  projecção indelével no consumar dos séculos, outros não menos fecundos e relevantes permanecem ignorados. Se é conhecida a paternidade do Partenon, de Pietá e da Mona Lisa, por exemplo, não é a dos templos de Karnak e Luxor, a dos baixos relevos do vale do Nilo, a dos palácios da Babilónia e Assur, a que animou igualmente o fogo sagrado.

Pelo que ao nosso país e, particularmente, respeita à nossa região, solares, cruzeiros, tempos, oleografias e mais partes estéticas, com ir de encontro ao asserto, documentam a capacidade conceptiva de ascendentes os quais, em época pouco propícia ao acesso de artistas consagrados, cuja acção se confinava aos grandes centros populacionais, mormente Lisboa e Porto, e, na verdade, a Capital do Alto Douro, não obstante se afirmar, desde que o vinho brotou dos seus geios, como centro de actividade marcante na economia nacional não passar era, então, modesta Póvoa a qual aponta, hoje, para promoção cabal.

Há qualquer coisa de místico nestes artistas ignorados, que tudo sacrificaram e sacrificam, numa renúncia sobrelevante a paixões materialistas, demiurgos de um idealismo, o qual, nem sempre, se abre à prospecção anímica de quem os observa. E Anastácio, ao jogar, na mesa da consciência, a cartada dos bens adquiridos através de sacrifícios inauditos, para ganhar bens espirituais, polarizados na catedral dos seus sonhos, bem merece que o recordem os vindouros, no local, onde, do holocausto, resultou a obra da qual, irmanados com os nossos Soldados da Paz, nos orgulhamos.

Erguida sob o risco de Oliveira Ferreira sedia-se a Associação Humanitária dos Bombeiros do Peso da Régua, na verdade, em autêntica catedral. Se as outras são catedrais da fé, que revela aos humanos os mistérios da escatologia transcendente, esta é catedral do bem, do qual, no plano terreno, é susceptível de os libertar de paixões mesquinhas e, em contrapartida, de lhe ir buscar ao subconsciente o que de bom lá se encontra oculto, em circunstâncias conjunturais.

À virtude dos nossos maiores! Que a legenda seja farol que guie o deambular dos homens, pelas vereadas do porvir.
- José António de Sousa Pereira - Publicado no jornal o Arrais, edição de 19 de Janeiro de 1979.
  1. - António Francisco Lisboa, o qual, vítima de lepra nervosa, que lhe mutilou as mãos, com os instrumentos de trabalho amarrados aos cotos esculpiu, em pedras de sabão, as estátuas dos doze apóstolos, que adornam o átrio daquele Santuário.
  2. - O pormenor reportava-se ao fecho da corda do grande arco da volta redonda, que realça na fachada, hoje repetido na segunda fase da obra.
Clique nas imagem para ampliar. Imagens e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Edição de imagem e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Março de 2013. Atualizado em 4 de Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.