Não me alarmam revoltados nem desgastados
Não me assustam criminosos de alma podre
Não recuo ao surgirem espíritos cegos e errantes
vagueando no tempo escurecido da frustação...
Não me importam os sem sentido do que são
Não me espantam jovens que ignoram que o são
Não me tocam ofensas que desprezo
Não me abisma a ignorância que falece...
Só me comove a simples, a pura natureza
Só me enternece a infantil geografia do azul celeste
Só me inspiram a quimera, o sonho
Só me impressionam o pranto, o sorriso da inocência
Só me abespinha a desgraça dos que não podem
Só me impacienta a indigência das almas que me cercam,
que estorvam minha indignação, meu desprezo pela presunção
do que não sabem ou alcançam ser!
- J. L. G., 6 de Janeiro de 2011. A imagem ilustrativa acima, recolhida da net livre e editada em PhotoScape, poderá ser ampliada clicando com o mouse/rato.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
GERAÇÂO ESQUECIDA - II
Dos risos nas areias molhadas,
Das noites suadas e serenas,
Fora dos tiros das emboscadas.
Beijei a tua boca em Porto Amélia,
Acariciei os teus seios em Quelimane,
Fiz amor contigo em Lourenço Marques
E chorei por quem ficava,
Do outro lado do mar,
A contar os dias da chegada.
África tão longe
E tão longa,
Corpos ao léu
Em camas de céu,
Amor às claras,
Fremente de vida,
Carne despida
De falsos pudores.
África das anharas,
Dos caminhos da coragem,
Das horas a sonhar
O regresso da viagem;
Negra risonha ao amanhecer,
Mulata dolente ao anoitecer,
Branca namorada de um Maio a nascer.
Terra de fogo, de sangue e de gritos,
Inúteis mortos e feridos,
O sol a ver
Um homem a morrer:
Adeus até ao meu regresso,
Sou este que me despeço.
Fui corpo e, agora, sou alma.
Uma bala me levou.
Finalmente tenho a calma
Que a guerra me roubou.
Recados de condenados,
Bocas espumas de sangue,
Corpos destroçados
Que viveram um instante.
Nacala, Nampula, Molocué, Quelimane,
Namacurra, Mocuba, Chire, Pebane,
Porto Amélia, Mocímboa, Beira,
Mueda, lá em cima, e Macomia perto.
Madrugadas sem eira nem beira,
Olhos de sono, mas sempre desperto.
Que é feito das cruzes enegrecidas,
Símbolos de uma geração sacrificada?
Estão todas desfeitas, esquecidas
A bem da Nação libertada?
- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória".
- Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "ForEver PEMBA". *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. A imagem ilustrativa acima, recolhida da net livre e composta/editada em PhotoScape, poderá ser ampliada clicando com o mouse/rato.
Local:
Porto Amelia, Mozambique
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
As Caldas do Moledo: Um lugar cheio de sentimentos
Regresso sempre às minhas origens, á minha terra, às Caldas do Moledo, quando tenho necessidade de me reencontrar com a minha vida.
Para lá chegar, conheço bem caminhos no mapa dos meus afectos e sentimentos mais íntimos.
Apetece-me voltar, algumas vezes, para respirar aquele ar puro e me encher da paz e serenidade que só aquela paisagem única, povoada de segredos e mistérios, me consegue dar.
Sempre que ali regresso procuro alguém que nunca dali conseguiu sair, o poeta nascido nas Caldas do Moledo, Antão de Morais Gomes que atingiu a Eternidade, o outro mundo, a escrever um pequeno livro de sonetos, esquecido no passar do tempo, a que chamou de "Antão era pastor..." como se procurasse uma parte de mim, que ali ficou na minha infância.
Desta última vez, encontrei-me no meio de rio Douro antigo, um rio que só existe nos mergulhos da minha infância e das aventuras de rapazes que no inicio do verão tinham por hábito colher as primeiras cerejas da Penajóia, aproveitando as ausências e a falta de vigilância dos seus donos.
Coisas de rapazes, mal feitas mas que não chegaram a causar danos e prejuízos maiores a ninguém. Desse tempo, aprendi mais uma verdade simples que registei no meu caderno de apontamentos : "se alguma coisa aprendi com o tempo, foi a respeitar e cuidar de quem mais gosto, mesmo que às vezes me pareça insuficiente".
Para mim, cada regresso que faço às Caldas do Moledo, é como voltar a um lugar onde fui feliz.
Para mim, o meu Moledo não é só um lugar, são todos os sentimentos que ali aprendi e nunca esqueci.
- José Alfredo Almeida, Peso da Régua, Janeiro de 2011. Clique nas imagens para ampliar.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
A Vila da Régua em 1916
Aqui está retratada uma vila da Régua de um passado recente - ano de 1916- que faz ter saudades...!
Nesse tempo, a vila era uma urbe importante e a grandiosa como escreveu Júlio Vilela, na revista ilustração Portuguesa, que destacava a boa qualidade de vida para os seus habitantes, ao referir que tinha: "um caminho de ferro com um movimento espantoso (... ) pode ufanar-se de possuir água canalizada; iluminação eléctrica esplêndida; um bom hospital; uma Associação de Bombeiros Voluntários que é modelar, um edifício camarário (...), um asilo para velhos e, prestes, a inaugurar o "Asilo José Vasques Osório", para a infância dos dois sexos, obra verdadeiramente grandiosa".
Passado quase um século a Régua perdeu quase tudo. Se há água e luz em abundância, já lhe falta um hospital e os comboios na velha estação perderam movimento e a importância de um transporte moderno e rápido. O edifico camarário foi reabilitado e está mais funcional aos seus munícipes. O Asilo José Vasques Osório, agora nas mãos da Santa Casa da Misericórdia, continua a ser uma generosa casa de solidariedade para crianças desprotegidas. E, finalmente, a Associação dos Bombeiros Voluntários... continua sempre modelar. Um exemplo de força invencível para a população reguense que serve com magníficos bombeiros. Com os 130 anos de existência, encontra-se a requalificar todo o interior do belo quartel, desenhado pela mãos do prestigiado Arquitecto Oliveira Ferreira, com obras de beneficiação de vulto e prepara-se para realizar, em finais de Outubro de 2011, com com toda a pompa e circunstância, o 41º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses.
- Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Janeiro de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
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