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sexta-feira, 6 de julho de 2012

EVOCAÇÃO DE M. NOGUEIRA BORGES

Notícias do Douro - SECÇÃO: Opinião
Peso da Régua, 1/7/2012 
Por M. J. Martins de Freitas, Dr.


É com profunda tristeza que começo esta crónica. Faleceu, no dia 27/de Junho último, um amigo: M. Nogueira Borges. Ainda nesse dia me remetera uma mensagem via email! Nada fazia prever a sua morte! Conheço o Nogueira Borges desde 24/07/2011. Repesco a data na dedicatória que então me fez. Nesse dia, fui ao lançamento do seu livro “Lagar da Memória”, na Feira do Livro de Santa Marta de Penaguião, e ficou-me tão agradecido que logo procurou o meu endereço electrónico para me fazer chegar - como fez - um agradecimento.
De então para cá trocamos centenas de emails e foi fácil granjear uma amizade pelas afinidades éticas, sociais e humanas que havia entre nós. A nossa aproximação acabou assim por ser natural. Os emails que trocávamos eram cruzados, algumas vezes, por comentários diversos. Há cerca de um mês convidei-o para um almoço quando passasse na Régua, ao que ele concordou.
Infelizmente, não pude ouvir o que pretendia da sua rica experiência!
Tinha 68 anos e muito para dar ao próximo. Era homem mais do dar do que do ter. Foi um escritor, havendo temas recorrentes na sua escrita.
Afigura-se-me ser um saudosista: um reguense adoptivo e um duriense do Alto Douro morador nos arredores do Porto. Defendia a região do Douro com todas as forças da sua alma.
Como estudante de Direito em Coimbra ficou marcado pela boémia e pela academia da Lusa Atenas. Recordo que me mandava variações do fado de Coimbra, via email, que o fariam rejuvenescer e revelavam o seu carácter nostálgico e emotivo.
Ficou também marcado pela vida militar. Foi mobilizado para o Norte de Moçambique onde foi ajudado pelo reguense Jaime Ferraz Gabão e sua família, aí residentes. Até ao seu falecimento mantinha contactos frequentes com Jaime Luís Gabão, filho daquele, residente no Brasil.
Era deveras sensível às atenções que recebia. Era evidente, para quem o conhecia, que cultivava a flor da gratidão.
Apreciava, literariamente, João de Araújo Correia. Tinha, porém, amizade com o filho Camilo de Araújo Correia. A cada passo, Nogueira Borges parafraseava vocábulos e expressões usadas pelo Dr. Camilo.
Escreveu dois livros: “Não Matem a Esperança” e “Lagar da Memória”.
Foi ainda articulista e cronista em muitos jornais, entre eles, na nossa região: o Arrais e o Noticias do Douro.
Guardo do M. Nogueira Borges a ideia dum Homem emotivo, sensível, afectuoso e inquieto pelo bem do próximo. A memória de M. Nogueira Borges será recordada pelo bom exemplo dos seus actos e pelo ideário da sua escrita.


Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sábado, 15 de outubro de 2011

PATRIMÓNIO CULTURAL: UM RECURSO ESTRATÉGICO


Cada vez mais se ouve falar em património cultural. Ele está, definitivamente, regulado nas leis e tem sido uma preocupação constante de muitos países.
O que é o património cultural? Dentre as várias definições possíveis, escolhi a do francês Pierre-Laurent Frier: “é o conjunto de marcas ou vestígios da actividade humana que uma comunidade considera essenciais para a sua identidade e memória colectivas e que deseja defender a fim de as transmitir às gerações vindouras”.
O património cultural é tão importante que tem consagração na Lei Constitucional, sendo uma das tarefas fundamentais do Estado a sua protecção e valorização (Cfr. Constituição da República Portuguesa, art. 9º, alínea e)).
Acresce que, a nossa Lei ordinária, concebe o património cultural como o conjunto de bens materiais e imateriais, testemunhos de civilização ou de cultura, a merecer salvaguarda especial. E destaca a língua portuguesa como um elemento essencial do património cultural português. 
O património cultural não só exterioriza os valores da memória e da identidade, mas também é um factor de desenvolvimento. De salientar é que já João de Araújo Correia (JAC), há 50 anos, entendia que esse património era um recurso económico. E porquê? Pelas receitas provenientes da sua oferta turística. Numa sua crónica intitulada “Corografia Literária” afirmou: “Muito se cultivam, lá fora, os sítios literários. Lugar onde nasceu ou viveu um escritor é sagrado. Atrai peregrinos como santuário. E, com essas peregrinações, lucram as terras. O espiritual dá de comer e beber ao temporal. Justo é que se acarinhem os sítios em que pôs pé um escritor.” (Correia: Ecos do País, 1ª Edição. Régua: Imprensa do Douro, pp.123-126). De facto, um sítio ou lugar literário deve ser acarinhado pelas populações. E deve sê-lo se quiserem o progresso das suas cidades, vilas e aldeias. O raciocínio é simples. Por virtude do turismo (cultural) o sítio literário é fonte de rendimentos. Devíamos seguir – continua JAC – o espírito da França; apesar de se conhecer o espírito francês, só muito “ronceiramente” é compreendido em Portugal. Em seguida, dá vários exemplos do binómio terra/casa – escritor. A cidade de Tours (França) deixou-se penetrar pela alma de Balzac. O ar de Tours tornou-se balzaquiano. Friúme (Ribeira de Pena) atrai viajantes que procuram a “alma adolescente de Camilo. O escritor passou ali dois anos e ali casou, rapazinho, com uma camponesa. O que o viajante pretende é ver o casinhoto em que noivou”. Santarém anda associada a Herculano que, como lavrador, estanciou, cerca de dez anos, na Quinta de Vale de Lobos. Ovar conserva, para romagem pública, a Casa do Largo dos Campos onde nasceram “As Pupilas do Senhor Reitor” de Júlio Dinis. Afigura-se-me que o exemplo destas e doutras terras pode frutificar na Régua. Na sequência do meu texto publicado, neste prestigiado Semanário, a 29/7/2011, quero nomear a Rua do Dr. Maximiano Lemos como a mais capaz de dar tais frutos. A sua importância – como então lembrei – provém das figuras notáveis que ali nasceram e viveram. Sei que há ruínas a erguer, infra-estruturas a recompor e negociações a realizar. Só lamento que, por ora, a crise económica tolha, de pés e mãos, proprietários, investidores e entidades públicas. Apesar disso, quero expressar o meu voto que essa Rua histórica do Peso da Régua venha a tornar-se num apreciável destino turístico.
- Peso da Régua, 9 de Outubro de 2011 - J. Martins de Freitas, Dr. 

Clique  nas imagem acima para ampliar. Texto do Dr. J. Martins de Freitas publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'Notícias do Douro'. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2011.