Cada vez mais se ouve falar em património cultural. Ele está, definitivamente, regulado nas leis e tem sido uma preocupação constante de muitos países.
O que é o património cultural? Dentre as várias definições possíveis, escolhi a do francês Pierre-Laurent Frier: “é o conjunto de marcas ou vestígios da actividade humana que uma comunidade considera essenciais para a sua identidade e memória colectivas e que deseja defender a fim de as transmitir às gerações vindouras”.
O património cultural é tão importante que tem consagração na Lei Constitucional, sendo uma das tarefas fundamentais do Estado a sua protecção e valorização (Cfr. Constituição da República Portuguesa, art. 9º, alínea e)).
Acresce que, a nossa Lei ordinária, concebe o património cultural como o conjunto de bens materiais e imateriais, testemunhos de civilização ou de cultura, a merecer salvaguarda especial. E destaca a língua portuguesa como um elemento essencial do património cultural português.
O património cultural não só exterioriza os valores da memória e da identidade, mas também é um factor de desenvolvimento. De salientar é que já João de Araújo Correia (JAC), há 50 anos, entendia que esse património era um recurso económico. E porquê? Pelas receitas provenientes da sua oferta turística. Numa sua crónica intitulada “Corografia Literária” afirmou: “Muito se cultivam, lá fora, os sítios literários. Lugar onde nasceu ou viveu um escritor é sagrado. Atrai peregrinos como santuário. E, com essas peregrinações, lucram as terras. O espiritual dá de comer e beber ao temporal. Justo é que se acarinhem os sítios em que pôs pé um escritor.” (Correia: Ecos do País, 1ª Edição. Régua: Imprensa do Douro, pp.123-126). De facto, um sítio ou lugar literário deve ser acarinhado pelas populações. E deve sê-lo se quiserem o progresso das suas cidades, vilas e aldeias. O raciocínio é simples. Por virtude do turismo (cultural) o sítio literário é fonte de rendimentos. Devíamos seguir – continua JAC – o espírito da França; apesar de se conhecer o espírito francês, só muito “ronceiramente” é compreendido em Portugal. Em seguida, dá vários exemplos do binómio terra/casa – escritor. A cidade de Tours (França) deixou-se penetrar pela alma de Balzac. O ar de Tours tornou-se balzaquiano. Friúme (Ribeira de Pena) atrai viajantes que procuram a “alma adolescente de Camilo. O escritor passou ali dois anos e ali casou, rapazinho, com uma camponesa. O que o viajante pretende é ver o casinhoto em que noivou”. Santarém anda associada a Herculano que, como lavrador, estanciou, cerca de dez anos, na Quinta de Vale de Lobos. Ovar conserva, para romagem pública, a Casa do Largo dos Campos onde nasceram “As Pupilas do Senhor Reitor” de Júlio Dinis. Afigura-se-me que o exemplo destas e doutras terras pode frutificar na Régua. Na sequência do meu texto publicado, neste prestigiado Semanário, a 29/7/2011, quero nomear a Rua do Dr. Maximiano Lemos como a mais capaz de dar tais frutos. A sua importância – como então lembrei – provém das figuras notáveis que ali nasceram e viveram. Sei que há ruínas a erguer, infra-estruturas a recompor e negociações a realizar. Só lamento que, por ora, a crise económica tolha, de pés e mãos, proprietários, investidores e entidades públicas. Apesar disso, quero expressar o meu voto que essa Rua histórica do Peso da Régua venha a tornar-se num apreciável destino turístico.
- Peso da Régua, 9 de Outubro de 2011 - J. Martins de Freitas, Dr.
Clique nas imagem acima para ampliar. Texto do Dr. J. Martins de Freitas publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'Notícias do Douro'. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2011.