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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Retalhos da net - A MAGNA CARTA DA HISTÓRIA DO VINHO DO PORTO – a escritura de Cister (1142)

Transcrição - Trabalho descreve características e finalidades do Projecto de Cister no Douro - Esses doze séculos formavam uma grossa cortina de escuridão e ignorância, alimentada pela moleza graxista do emproado ‘magister dixit‘ que tem eivado a investigação da História Medieval. Além das escrituras de S. João de Tarouca (TARAUCAE MONUMENTA HISTPRICA, estabelecidas por A Almeida Fernandes), os historiadores do vinho do Porto podem estudar também os tratados medievais (sete, só até D. Fernando), por ex. os de D. Dinis com a França e a Inglaterra (1290, 1293 e 1304), além das lutas portuárias já de seu pai, D. Afonso III, com o bispo do Porto, que recorreu, sem sucesso, ao próprio Papa, para não ser constituído, já em 1255, o Concelho Municipal de Gaia, que lhe retirava fartos direitos alfandegários. Este trabalho descreve e enquadra a motivação, características e finalidades do Projecto de Cister no Douro, em terras do Aio duriense e integrado na Cruzada ibérica de ajuda a D. Afonso VI, o Conde D. Henrique e D. Afonso Henriques.

A escritura de 1142, de compra da “herdade dos Varais“, integra-se no projecto vitivinícola cisterciense de Cambres, que metodicamente aí acrescenta outras quintas pioneiras, sempre concentradas no eixo do rio Douro: com a foz do Varosa, do Temilobos, do Tedo....

O contexto agrícola dos conventos de Cister de Tarouca e do Varosa garantia uma farta e mimosa subsistência alimentar, mas não permitia o cultivo da vinha, pelo menos com a qualidade licorosa de “vinho de missa“ (16º álc.), em compatibilidade com a sacralidade litúrgica dos cálices de ouro e prata.

A necessidade inicial de prover de ‘vinho de missa’ as múltiplas necessidades diárias da celebração da eucaristia transformou-se fatalmente no desenvolvimento, aperfeiçoamento e expansão comercial[1] desse “vinho cheirante de Lamego“, depois ‘baptizado’ (com mais aguardente vínica) como “vinho do Porto“ (19º álc.), no acto da exportação.

Por isso é tão marcante esta escritura de 1142.

É a MAGNA CARTA.

Que rasga, definitivamente, a citada ‘cortina histórica’ entre o séc. V romano da “fonte do milho“ de Canelas e o séc XVII-XVIII do Marquês.

O “vinho de missa“ licoroso (16º álc.), ou “cheirante de Lamego“ da Ordem de Cister, chamou-se “do Porto“, por daqui ser exportado, pelo menos já desde o reinado de D. Dinis.

A junção de aguardente vínica (entre 13-18 litros/pipa) para exportação, eleva a norma alcoólica do “vinho do Porto“ para 19º álc..

Já bem antes do séc. XVI só a quinta de Mosteirô (Cambres) exportava 15-16.000 almudes, o que pressupõe infraestruturas de muitas décadas, quer relativas ao saibramento e plantação da vinha até se tornar produtiva, quer ao tempo apreciável de envelhecimento do vinho licoroso quer, ainda, ao fabrico dos próprios meios de transporte: carros de bois, barcos, armazéns, vasilhame...

A Alfândega do Porto, em 1741, registou a exportação de 19.000 pipas!

Mas a riqueza do nosso vinho fino é ainda Dádiva e Espírito:

Alma e não apenas Corpo.

Nas funduras da Paisagem os visitantes encontrarão a Essência do nosso Ser colectivo, que no Douro foi criado, por Egas Moniz e Cister de Borgonha, para D. Afonso Henriques, fundando com ele a dinastia borgonhesa e deixando este Património aos Durienses, a Portugal e a toda a Humanidade.

[1] Os regulamentos originais de Cister proibiam a venda de produtos monacais: mas as necessidades económicas da guerra da cruzada e a insistência da procura tornaram irresistível a tentação comercial e a regra foi aligeirada.
Clique nas imagens para ampliar. Imagens e texto autorizadas/cedidos pelo Dr. Altino Moreira Cardoso (AMC). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Retalhos da net: Douro - Investigador alega descoberta do antepassado do vinho do Porto

O investigador Altino Moreira Cardoso defende, num estudo a publicar em Setembro, que a Casa dos Varais, foi «a primeira» a produzir «vinho cheirante de Lamego», no século XII, que posteriormente foi denominado vinho do Porto.

Transcrição de "Café Portugal" | sexta-feira, 10 de Agosto de 2012

A investigação, que parte da descoberta de uma escritura de compra datada de 1142 vai ser divulgada na revista «Douro - Estudos & Documentos», da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e será ainda objecto de uma publicação autónoma, em livro.

Natural de Peso da Régua, Altino Moreira Cardoso tem-se dedicado à história do Douro e da fundação de Portugal. Foi na Torre do Tombo que o investigador encontrou um documento das escrituras do Mosteiro de São João de Tarouca, entre a quais a da compra de uma herdade na foz do Varosa, outorgada pela Ordem de Cister. Esta será a primeira escritura relacionada com o sector da vinha na região.

A propriedade, localizada junto do rio Douro, no concelho de Lamego, pertence actualmente à família de João Azeredo.

Altino Moreira Cardoso defende que foi na Quinta dos Varais que os monges plantaram «os primeiros vinhedos do Douro», com «castas trazidas da Borgonha», de onde era proveniente a Ordem de Cister, bem como o seu mentor São Bernardo e o conde D. Henrique.

«Trata-se, portanto, da primeira quinta a produzir o medievalmente chamado vinho cheirante de Lamego, depois denominado do Porto, por daí ser exportado», avançou.

O responsável associa, por isso, o início da produção de vinho pelos monges de Cister neste território à época do início da nacionalidade, com o Rei D. Afonso Henriques.

Os vestígios da produção de vinho no Douro remontam à época da ocupação romana deste território, de que é exemplo a Fonte do Milho, em Canelas, que está a ser alvo de uma intervenção por parte da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). 


No entanto, com a invasão muçulmana, a produção de vinho e as vinhas foram, segundo o investigador, praticamente abandonados, porque o Alcorão proibia a ingestão de bebidas alcoólicas.

Com a chegada da Ordem de Cister, os monges apressaram-se a plantar vinhas para produzirem o vinho de missa, o qual, de acordo com o investigador, «tinha uma técnica especial de fabrico» que considera ser parecida «com a técnica de produção de vinho do Porto».


Depois, com o aumento em massa da produção a Ordem de Cister terá começado a vender o vinho.

A descoberta desta escritura foi uma surpresa, mas enche de orgulho os proprietários da Quinta dos Varais. A propriedade está na família de João Azeredo pelo menos desde 1700, no entanto, muitos dos documentos históricos foram destruídos num incêndio, ocorrido em 1940.

É motivo de orgulho, mas é também um acréscimo de responsabilidade, já que este estudo vem chamar a atenção para a propriedade.

Com produção de vinho do Porto e DOC Douro, a Casa dos Varais está actualmente de portas abertas ao turismo rural e ao enoturismo.

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Coimbra, Altino Moreira Cardoso já publicou diversas obras como «D. Afonso Henriques – Os mistérios e a lógica», «Afonso Henriques no Douro nascido e criado», ou Grande Cancioneiro do Alto Douro.
Clique nas imagens para ampliar. Imagens cedidos pelo Dr. Altino Moreira Cardoso (AMC). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.