Quando alguém me
diz "aquele é bombeiro", o primeiro julgamento que faço é este:
"se é bombeiro, é boa pessoa ".
Na verdade, as
primeiras palavras que ocorrem ao espírito ao pensar nos bombeiros são "vida por vida", devido naturalmente ao facto de ser um slogan comum entre as
corporações de bombeiros, que se dedicam a salvar o próximo, arriscando a
própria vida, se necessário for, em favor de outrem.
O bombeiro
encontra-se no quadro da minha memória num lugar de destaque, porque realiza um
serviço de alto risco no apoio à comunidade em situação de acidente ou de
incêndio.
Recordo
alguns vizinhos meus que eram bombeiros e que, quando tocava a sirene, corriam
pela rua fora para o quartel, para irem acudir aos que estavam envolvidos em
chamas, a lutar para se
salvarem a si, aos seus familiares e aos seus bens do fogo devorador que em
pouco tempo pode reduzir tudo a cinzas.
Recordo-me
do tempo em que era criança e vivia na travessa da Rua da Alegria, lá no fundo,
junto à Avenida Marginal João Franco. Presto homenagem aqui ao Quim Laranja e
ao Zé Pinto, que Deus tenha em Sua Santa Morada por todos os bons serviços e
sacrifícios que fizeram ao longo da sua longa carreira de Bombeiros Voluntários
da Régua. Muitas vezes os vi a correr pelo nosso quelho abaixo e logo tinham de
enfrentar a íngreme subida da Rua da Alegria, conhecida também por Rua General
Alves Pedrosa. Quando depois vivia na Rua dos Camilos, que tem o nome do meu
pai, talvez o único com esse nome, eu via um número maior de bombeiros de todas
as idades a deixar os empregos e a correr, rua fora, para o quartel,
respondendo à chamada da sirene.
Quando o
Dr. José Alfredo Almeida um dia destes fez questão de, pessoalmente, me mostrar o Museu dos Bombeiros, fiquei surpreendido ao encontrar um
quadro onde estava assinalado o número de badaladas necessárias, do sino da
capela do Cruzeiro, para dar a
conhecer à Régua a rua onde estava a acontecer o incêndio, pois foi o sino a primeira sirene usada
pelos bombeiros voluntários da nossa terra. Claro que me surpreendi, embora não estivesse longe da minha
memória o costume de falar do toque de sinos a rebate, a apelar à ajuda do povo
na luta contra um incêndio, ou para outro acontecimento relevante. É um costume
que ainda está nas nossas memórias, pelo menos nas aldeias por onde passei como
pároco entre os anos 80 e 2003: Sedielos, Vinhós, Vila Marim e Cidadelhe.
No dito
museu, encontrei também a fotografia do padrinho do meu pai, que foi um dos
comandantes desta nobre associação, Camilo Guedes Castelo Branco, e por aqui percebi porque o meu pai era
Camilo. No verão de 2011, por ocasião de um batizado dum descendente, pude retribuir àquele comandante o gesto
que teve para com o meu pai, pois quando me apercebi estava na qualidade de
sacerdote a abrir as portas da Igreja a uma criança, filho do Sr. José Luís
Castelo Branco, com quinta em
Remostias, em cuja capela foi
realizado o ato litúrgico, o que foi para mim motivo de grande alegria.
O slogan "vida por
vida" recorda-me aquele bombeiro João Figueiredo, o João dos Óculos, que
deu a sua vida, aqui na Régua, no ano em que eu tinha apenas dois anos de
idade, em 1953, no incêndio do edifício da Casa Viúva Lopes. Recorda-me todos
os oito bombeiros que este ano de 2013 deram a vida pelos seus semelhantes.
Recorda-me todos os que no mundo inteiro já deram a vida pela mesma causa.
"Vida
por vida" lembra-me ainda o maior de todos os bombeiros que deu a vida
por todos nós, homens, e para nossa salvação, Jesus Cristo, homem e Deus
verdadeiro, modelo de todos os bombeiros, que, sendo Deus, se fez homem e
desceu do Céu para dar a vida por toda a humanidade condenada a perder-se
eternamente no fogo do inferno, onde há choro e ranger de dentes.
Esta
instituição recorda-me o meu querido avô paterno, que me levava muitas vezes na
sua camioneta de aluguer para muitas terras. Um dia em que eu estava em cima
dela na avenida João Franco, vi ao longe o pronto-socorro a tocar a sirene e
baixei-me para diminuir a sensação aflitiva que me causava.
Ao pensar
nos bombeiros penso também no meu pai, que é o sócio número 1956, desde 1994, e
saúdo todos os sócios desta associação e peço a Deus o eterno descanso para
todos os que já partiram deste mundo e fizeram parte desta bendita obra que em
boa hora nasceu na nossa cidade. Que Deus a todos recompense segundo a Sua
promessa: “tudo o que fizerdes a um dos mais pequeninos dos meus irmãos foi a
mim que o fizestes”.
"Vida
por vida" recorda-me todos os que deram a vida por esta associação,
empregando-a nos serviços que prestaram, no tempo que concederam, nos bens que
partilharam, nas bençãos que fizeram descer sobre esta benemérita e centenária
instituição. Uma vez aqui, não posso deixar de lembrar todos os sacerdotes que
a abençoaram em nome de Deus. Recordo com particular afeto o Reverendo Dr.
Avelino Branco, que tive a alegria de ver numa das fotos do arquivo desta casa,
e que foi Pároco desta freguesia de S.Faustino do Peso da Régua no tempo em que
fui para o Seminário de Vila Real e a quem dei o último abraço em Fátima, no pavilhão do Seminário da Consolata, pouco tempo antes de ele ir para o Céu.
"Vida
por vida" recorda-me a referência que Jesus faz no Evangelho quando diz
que não há maior prova de amor do que dar a vida por um amigo. Ele, quando ainda éramos pecadores e seus
inimigos, deu a vida por nós, por isso tem autoridade para nos dizer: amai os vossos inimigos,
abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam para serdes filhos do vosso Pai que está
nos Céus e que faz chover sobre justos e injustos.
Finalmente, a minha homenagem vai para um dos
maiores, o comandante Carlos Cardoso, que o Senhor levou para si há
relativamente pouco tempo. Conheci-o um pouco mais de perto, visitei muitas
vezes a sua casa e a sua família, laços de amizade e fé ligavam as nossas
famílias, deixou-me um valoroso testemunho de fé. Ele foi um dos católicos mais
empenhados desta nossa comunidade, pois estava bem alicerçado em Jesus Cristo. Uma vez convertido num
curso de cristandade, nunca mais abandonou a Jesus; pelo contrário, Jesus era
toda a sua razão de ser, de viver e sofrer, aceitou cristãmente o sofrimento e
adormeceu tranquilamente, confiando e esperando em Cristo e na Sua promessa de
vida eterna feliz para todos os que crêem Nele.
Bem hajam
todos os que deram, dão e hão de dar a vida nas pequenas e grandes coisas desta
benemérita e centenária instituição, que Deus vos sirva em Sua Glória como vós servistes e amastes os
vossos irmãos.
- Padre Zeferino de Almeida Barros. Em 17 de Setembro de 2013, Memória de São Roberto Belarmino, Bispo e doutor da Igreja. (Actualizado em Novembro de 2013)
Clique na imagem para ampliar. Texto e imagm cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2013. Actualizado em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.
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