Desde muito novo que os Bombeiros me fascinam, toda a
panóplia de fardas, equipamentos, viaturas, sirenes, movimentações mais ou
menos militarizadas e saber que estão ali para nos acudir, marcaram no meu espírito
um sentimento de admiração e inveja por não fazer parte, mais tarde, pela
intersecção que a minha vida teve com a corporação da minha terra, também a
gratidão pelo seu trabalho veio ao de cima. Mesmo em dias como os de hoje, onde
tantos valores nos começam a fugir por entre o quotidiano da vida, para mim, o
Bombeiro Voluntário da Régua é um caso à parte.
E a primeira lembrança que tenho dos Bombeiros da
Régua é a de um desfile de Carnaval, em plena rua dos Camilos, era eu muito
miúdo, teria talvez 4, no máximo 5 anos, recordo, já na fase final do desfile,
alguns Bombeiros pendurados no carro que, ainda recentemente, fazia de viatura funerária,
com artefactos pirotécnicos a iluminarem o ambiente. Localiza-os no momento em
que entravam no antigo quartel, ainda na rua dos Camilos.
Se calhar, como muita gente da minha geração, nunca me
esquecerei do pavoroso incêndio que, a 8 de Agosto de 1953, deflagrou nos
antigos armazéns da Viúva Lopes. Com 9 anos vivi este incêndio como pouca
gente, aí morreu um Bombeiro que era amigo da minha família, o João dos Óculos, João Figueiredo de seu
nome. Conhecia-o pessoalmente desde tenra idade e pelo seu feitio alegre e
divertido, tocava muito bem gaita-de-beiços, granjeou a minha amizade.
Este incêndio foi dos maiores incêndios urbanos que
vi, de minha casa na Lousada viam-se as labaredas nos referidos armazéns que
ficavam em frente ao Cais Coberto da Estação da Régua. Muitos dos materiais aí armazenados
eram inflamáveis e a construção do edifício era parcialmente de madeira,
particularmente a nível do 1º andar e no telhado. A sua extinção foi muito
difícil, durou três dias, só o nível de qualidade do comando de então e a
coragem e a determinação de todo o Corpo Activo evitou que o fogo alastrasse à
moagem aí existente. É evidente que este incêndio foi uma autêntica romaria
para a Região, julgo que levado pela minha família passei por lá todos os dias
e mais do que uma vez.
A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de
Peso da Régua foi, e é, uma instituição incontornável ao longo da minha vida já
bem longa. Dos 11 aos 16 anos era rara a semana em que não passasse pelo salão
de jogos existente no Quartel Delfim Ferreira para jogar uma partida de bilhar.
No Carnaval, e não só, sempre que os Bombeiros da Régua organizavam bailes para
angariação de fundos, raramente faltei.
Sem poder precisar a data, mas seguramente em finais
da década de 80, numa bela manhã de Agosto, por altura das festas da cidade,
quando me deslocava para o meu local de trabalho, constato que a sebe feita de
silvas e marmeleiros de uma propriedade minha estava queimada numa extensão de
mais 100 metros. Preocupado ao ver o desastre, conclui que dormi toda a noite
tranquilo enquanto os Bombeiros me apagaram o fogo da sebe. Evitaram que quase
9.000 m2 de vinha ardessem, a vinha tinha levado herbicida recentemente e era
muito possível que não escapasse se não fosse a intervenção dos nossos
Bombeiros.
Mais recentemente, a 27 de Novembro de 2007, num
prédio urbano que tenho na Lousada com 4 habitações contíguas, uma braseira mal
cuidada de uma inquilina pegou fogo á sua habitação tendo esta ardido
totalmente. O prédio é de construção antiga, e ainda que em toda a zona
exterior as paredes sejam em blocos de cimento as divisões interiores são de
taipa revestida com cal hidráulica e gesso, o forro e toda a armação do telhado
são em madeira, o que significa que facilmente todo o prédio poderia ter ficado
destruído. Excelentemente comandados, os bombeiros presentes seguraram o fogo e
impediram a sua propagação ao resto do prédio. Quando vi as chamas a consumirem
as traves e a madeira do telhado, fiquei convencido que iria tudo pelo ar. Do
mal, o menos, só ardeu a referida habitação.
Por tudo isto, aqui fica neste meu testemunho o que
de mais importante me parece ser: o meu
sentimento de gratidão para com os Bombeiros da Régua. Julgo que serei sempre
um homem em dívida.
- Miguel Macedo
- Falar sobre os Bombeiros da Régua
Clique nas imagens para ampliar. Imagens e texto cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 30 de Agosto de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue somente com a citação da origem/autores/créditos.
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