Clique na imagam para ampliar- "A fotografia regista no Salão Nobre do Quartel Delfim Ferreira o acontecimento: no dia 28 de Novembro de 1999, durante as cerimônias do 119º aniversário da Associação, a Liga dos Bombeiros Portugueses reconhecia o exemplo de vida do Comandante Cardoso com a última condecoração que lhe faltava receber, o Crachá de Ouro."
Camilo
de Araújo Correia
A notícia da atribuição do Crachá de
Ouro ao comandante Carlos Cardoso dos Santos, por parte do Conselho Executivo
da Liga dos Bombeiros Portugueses, não me surpreendeu. Teve sim, o condão de me
comover, ao ponto de cerrar os olhos por uns instantes. Instantes que chegaram
para recordar 45 anos de amistosa relação com o senhor Carlos Cardoso Santos.
Há 45 anos era eu um jovem médico e
ele um jovem funcionário do Hospital da Régua, ainda instalado no velho Solar
dos Lemos e ao cuidado da Santa Casa da Misericórdia. Não precisei de muito
tempo para dar conta de que o Senhor Cardoso, assim conhecido por toda a gente,
era a encruzilhada de tudo o que acontecia no Hospital. Mesários, médicos,
irmãs de caridade, doentes e pessoal de serventia, acabavam por ter de falar
com o senhor Cardoso, por isto ou por aquilo… Isto ou aquilo, podia ser
arranjar um remédio com urgência, redigir ofícios, prestar contas, dar uma
explicação sobre os mais variados assuntos, resolver um diferendo, ler uma
carta a um analfabeto, mudar uma lâmpada, ou tratar dos fusíveis…
Mas não e julgue que o inegável
préstimo do senhor Cardoso lhe serviu para se engrandecer aos olhos de alguém.
Tudo fazia natural e discretamente, como se receasse poder vir a receber
qualquer das mais diversas expressões de gratidão. Ainda sem farda, tinha já
alma de voluntário e no peito espaço para as medalhas que aí vinham. E vieram.
Tempos aqueles de vidas tão modestas
que ainda hoje me aquece o bolso o primeiro ordenado. Foram trezentos escudos
que o senhor Cardoso, como funcionário da secretaria, passou das mãos pobres da
Misericórdia para as minhas, ainda a conhecer muito mal a cor do dinheiro.
Quando o Hospital de D. Luiz I se
mudou para modernas e amplas instalações, julguei que o senhor Cardoso se iria
reduzir às suas funções mais específicas. Muito me enganei. De uma vez,
desabafou, assim, comigo o grande Provedor que foi Joaquim Augusto da Trindade
Rodrigues:
- Não sei o que seria desta casa sem
Cardoso…só é pena não ter mais um bocadinho de assento…
- Mas, senhor Trindade, que assenta
pode ter uma pessoa sempre metida num enxame de exigências?
- Pois é… pois é… - concordou o senhor
Trindade.
Não admira que o senhor Carlos Cardoso
dos Santos, com tanta e tão aturada experiência de Misericórdia, viesse a ser
um grande Provedor. Rodeado de um grupo de mesários, tão diligentes como
devotados, deixou obra feita, nela avultando os modernos e carinhosos lares das
nossas crianças e dos nossos velhos mais desprotegidos.
Não conheci tão de perto o mérito do senhor
Carlos Cardoso dos Santos, como devotado Comandante dos Voluntários da Régua.
Mas como reguense, atento e orgulhoso dos seus Bombeiros, posso testemunhar que
nunca a nossa Corporação conheceu tão áureo período de eficiência, disciplina,
diplomacia e expressão humanitária.
A Liga dos Bombeiros Portugueses deixa na honrosa
farda do senhor Carlos Cardoso dos Santos um crachá de ouro. Cada reguense, ao
abraçá-lo, lhe deixa no peito um crachá de fraternidade e gratidão.
Nota: Publicada no Jornal de Matosinhos, na edição de 17 de Março de 2000, esta magnífica crónica, além de ser um tributo à uma velha relação de amizade, é fiel testemunho de quem melhor conheceu as qualidades humanas e os talentos do homem que, durante 31 anos da sua vida, serviu “com eficiência, disciplina e expressão humanitária”, a Corporação de Bombeiros e a comunidade reguense. A fotografia regista no Salão Nobre do Quartel Delfim Ferreira o acontecimento: no dia 28 de Novembro de 1999, durante as cerimônias do 119º aniversário da Associação, a Liga dos Bombeiros Portugueses reconhecia o exemplo de vida do Comandante Cardoso com a última condecoração que lhe faltava receber, o Crachá de Ouro.
Clique nas imagens para ampliar. Sugestão de JASA (Dr. José Alfredo Almeida) para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Fevereiro 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.
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