domingo, 1 de maio de 2011

Imprensa do Brasil - Uma quinta portuguesa com certeza

João Roquette, CEO do grupo Esporão, mostra como é possível realizar o sonho de se tornar dono de uma propriedade vinícola no Douro, em Portugal

Por Márcia Pereira
Quando se conversa com João Pedro Roquette, o jovem CEO de 37 anos da holding Esporão S.A., que controla, entre outras empresas, a vinícola de mesmo nome, baseada no Alentejo, em Portugal, confirma-se a percepção de que fazer vinho é um negócio, antes de tudo, familiar. Mesmo que essa família não tenha décadas ou séculos de expertise no assunto. Ele fala tão tranquilamente dos vinhos da empresa dos Roquette, no mercado há cerca de 35 anos, que parece que a atividade foi passada de pai para filho por várias gerações.
No entanto, João Pedro é representante da segunda geração que assume o comando do empreendimento, iniciado por seu pai, José, em meados da década de 1970, e conta com a participação do irmão e de um tio na gestão. Feliz com a vida que leva entre Lisboa, o Alentejo e agora o Douro, onde os Roquette adquiriram, há três anos, a Quinta dos Murças, João incentiva os que apreciam a arte de Baco a se embrenhar nesse mundo etílico.
Usando como exemplo a nova experiência da holding, a quinta localizada na região vinícola demarcada mais antiga de Portugal, o executivo, de fala empolgada, explica como se entra no seleto território. “A primeira coisa a fazer é, ao escolher a terra, pedir uma avaliação pelo seu valor de reposição”, diz João Pedro. “Foi o que fizemos na região da quinta, onde um hectare chega a valer 40 mil euros.” Nesse preço está embutido o valor dos ativos aplicados na terra, do custo da produção, da mão de obra, da licença para se produzir vinhos na região e da marca da vinícola.
Na Quinta dos Murças, que tem 60 dos seus 156 hectares  plantados com vinhas,  a vinícola estava há cerca de 40 anos num ritmo morno de produção. Portanto, não era dona de nenhuma marca valiosa, o que reduziu o valor de reposição. Um hectare na francesa Borgonha, por exemplo, vale cerca de 1 milhão de euros. “Isso porque quase todo pedaço de terra por lá é ocupado por uma vinícola renomada”, afirma João Pedro, com o típico chiado português. Apesar do alto preço, a rentabilidade dessas terras na França, segundo o empresário,  também é altíssima. Pagam-se com três anos de produção, uma média considerada excelente.
O CEO explica que poderia ter optado pela compra das uvas de alguma vinícola do Douro e transferido a feitura do vinho para a propriedade da família, no Alentejo, onde já tem todo o know-how instalado. No entanto, ele faz ressalvas em relação a esse tipo de negócio. “Dessa maneira, que é até mais barata, não teríamos o total controle da qualidade do produto final”, diz o excutivo, que traz ao Brasil os vinhos Assobio 2009 (R$ 57), Reserva 2008 (R$ 180) e Porto Tawny 10 Anos (R$ 185).
João  Pedro alerta que, apesar de o preço da terra no Douro ser convidativo e acessível à entrada de novos proprietários,  a viticultura de lá é a de montanha. Isso vai demandar um pouco mais de investimento e dedicação. “Porque plantam-se as vinhas ao alto, como dizemos em Portugal.” É um método suíço, da década de 1950, que consiste em acomodar as plantas na escarpa da montanha, obedecendo sua inclinação de cerca de 40º. Essa maneira de manejar a cultura, mais trabalhosa, é a responsável por uma das particularidades do vinho do Douro. Além, é claro, do seu terroir. “Como a videira se fixa inclinada, a água não se concentra tanto nas uvas, o que proporciona vinhos mais concentrados”, afirma o CEO.
Para os recém-chegados ou candidatos a entrar no ramo, o tio de João Pedro, também chamado João (quem disse que em Portugal os homens só se chamam Manoel ou Joaquim?), responsável pela operação da distribuidora da família, a Qualimpor, no Brasil, oferece um conselho precioso. “Coloque, em sua nova bebida, um nome que comece com a letra A”, recomenda.  A razão: nas cartas de vinhos dos restaurantes, seu produto será um dos primeiros a aparecer e pode capturar a atenção do consumidor que não tem muita paciência em explorar todo o rol etílico, por vezes, extenso demais.
- Matéria na íntegra aqui: "ISTO É Dinheiro - Estilo".
- Quinta das Murças (Portal virtual).

quinta-feira, 28 de abril de 2011

UM APONTAMENTO SOBRE A HISTÓRIA do actual Quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua

Aí por volta do ano de 1947, quando por circunstâncias várias - que não vem ao caso relatar -, me vi alcandorado ao lugar de primeiro magistrado do Conce­lho, tive ocasião de ajudar no seu arranque definitivo, o edifico inacabado daquela prestimosa Insti­tuição, situado na que havia de mais tarde chamar-se Avenida Sebastião Ramires.

Tinha-se erguido um esqueleto de aspecto arquitectónico que prometia brilhar no futuro, mas du­rante alguns anos assim se con­servou, sem portas, sem janelas, e sem telhado. Servia unicamente de sentinas públicas mas sem saneamento.

Eu passava por ali poucas vezes - dado que não me fazia jeito pela situação da minha Repartiçao, e só de longe em longe avistava aquela estrutura de pedra estranhamente abandonada em plena avenida que agora mudou de nome mercê do 25 de Abril, como aliás se fez em todo o País para eliminar os nomes de figuras que, de algum modo, re­presentavam o antigo regime que quer queiram quer não, muito fi­zeram por Portugal.

Parece-me não ser a forma mais apropriada, porque a História não se faz com tretas mas sim com factos.

Mas adiante, e retomemos o fio à meada que queremos desfiar.

Quando tornei posse do lugar, passei então a fazer caminho pela Avenida e a deixar o carro em frente da referida obra.

Logo no primeiro dia e por mera curiosidade, entrei nos baixos, para ver o seu interior que contrastava tristemente com aquela magnifica frontaria tão bem trabalhada, revelando o excelente artista que a tinha con­cebido. Fiquei indignado e eno­jado com o que vi! grandes bu­racos abertos junto aos alicerces onde se lançavam as mais varia­das porcarias e muita gente ali fazia as suas necessidades, e de tal maneira, que o cheiro lá dentro era repugnante e pestilento.

Vendo que os Bombeiros esta­vam pessimamente instalados na rua dos Camilos, e ansiavam por ter a sua Sede, tratei imediata­mente de contactar a sua direc­ção, nomeadamente Jaime Gue­des, infelizmente já falecido, mas o principal «motor» da Associação, no sentido dese acabar o Quartel.

Confiei-lhe os meus pensamen­tos acerca do que me parecia mais rápido para acabar a obra e encontrei nele a melhor receptividade.

Falei na mesma altura e tro­quei impressões com o Enge­nheiro Manuel Barreto então Di­rector da Urbanização que logo se interessou pelo assunto e as­sentou-se em pedir a comparti­cipação, ao então Ministro das Obras Públicas, Senhor Engenhei­ro José Frederico Ulrich que daí a pouco viria visitar a Régua.
Quando essa visita se efectuou, levamo-lo a ver aquele espectáculo tão deprimente, e logo o Ministro deu o seu apoio e auxílio ao nosso pedido mas com a condição de se «limpar» a frontaria que não achava bonita. Com­batemos a ideia do Ministro, e passado tempo ele concordou, e a comparticipação veio, e a reconstrução do Quartel principiou.
Mas antes, e é aí que eu quero chegar dado que não havia portas, nem janelas, nem telhado, a Câmara da minha presidência deu aos Bombeiros os materiais retirados da demolição duma Casa que se tinha expropriado em freme da Manutenção Militar, e cujo terreno é que se destinava à construção do Edifício Escolar actualmente ali existente.

Com esses materiais taparam­-se as aberturas das janelas e portas, e cobriu-se o telhado, evi­tando-se assim que algumas pes­soas continuassem a degradar ainda mais o futuro quartel dos Bombeiros.

Depois, em sucessivas fases, se foi acabando e alindando o edifício que é sem dúvida, um dos mais sugestivos e bonitos do País.

A Câmara que acompanhou sempre com carinho a obra insta­lou-lhe a água e a luz. É claro que não se pode dissociar o quar­tel dos Bombeiros sem evocar os nomes das pessoas que tanto trabalharam para que ele se trans­formasse numa realidade. Uns já desaparecidos e que deram tudo à sua querida Associação, como Jaime Guedes, o grande impul­sionado! Álvaro da Silva Rodri­gues, exímio artista serralheiro e meu grande Amigo, Lourenço Medeiros, e ainda vivos, António Guedes, Claudino Clemente, e ou­tros cujos nomes me não ocorrem agora.

Leio sempre com agrado os artigos que o meu amigo António Guedes escreve para o «Arrais» e são quase sempre alusivos à As­sociação dos Bombeiros de que ele foi um dos principais e1ernen­tos, e certamente vai ficar con­tente ao ler estas linhas, recor­dando factos passados vai para 30 anos. E como pertence à mi­nha geração e pode dizer-se que trabalhamos juntos na Câmara, daqui lhe envio um abraço de velho Amigo.
- Manuel Alves Soares

Notas:
  1. Este interessante depoimento do Dr. Manuel Alves Soares – Presidente da Câmara da Régua nos finais dos anos 40 e princípios dos 50 anos - encontra-se publicado neste jornal e pelo seu manifesto interesse para os leitores compreenderem as imensas dificuldades em que foi acabado de construir o actual Quartel dos bombeiros da Régua, aqui se faz na integra a reprodução.
  2. As fotografias permitem ver a evolução que o Quartel Delfim Ferreira que, desde então, sofreu na sua magistral arquitectura, respeitando sempre o projecto original do famoso Arquitecto Oliveira Ferreira, o que está acontecer também com as obras de beneficiação da responsabilidade da actual Direcção e como apoio da Câmara Municipal.
- Matéria enviada por J. A. Almeida em Abril de 2011.

UM APONTAMENTO SOBRE A HISTÓRIA do actual Quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 7 de Abril de 2011
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
UM APONTAMENTO SOBRE A HISTÓRIA do actual Quartel dos Bombeiros Voluntários da R

MORREU JOÃO DE ALGÉS

(Clique na imagem para ampliar)
In Memoriam

MORREU UM AMIGO: JOÃO DE ALGÉS

Morreu o João de Algés, como era conhecido o senhor João Pereira, residente na freguesia de Poiares, com 69 anos de idade, antigo taxista e actualmente comerciante muito conhecido na Régua e mesmo a nível nacional por ser o dono do restaurante “Dois Irmãos” sito na Avenida João Franco, desta cidade, muito frequentado pelo serviço de qualidade das suas refeições diárias e, em especial, por servir um cabrito assado, que a sua esposa Dona Helena confecciona como mais ninguém.

Morreu no dia 24 de Abril de doença súbita, quando se encontrava a iniciar mais um dia de trabalho no seu restaurante.

Homem de carácter, educado e bem-humorado, apesar de lhe ser conhecido um trato, às vezes, de alguma rudeza nas palavras, mas que era inofensiva e, para quem o conhecia ou tinha a felicidade de o conhecer melhor o seu foro íntimo, se tornava numa agradável e comunicativa simpatia.

O João de Algés deixa muitas saudades nos amigos e nos clientes! Foram esses que, em grande número, compareceram no seu funeral e o acompanharam até à sua última morada, o cemitério de Poiares onde certamente repousa na paz eterna.

Apesar do seu feitio muito especial, o João de Algés foi um comerciante que marcou a vida da cidade e deixa uma história de vida que os seus amigos nunca esquecerão. Foi um lutador e sonhador. Admirava os velhos actores de filmes românticos, o Jerry Lewis e o dançarino Fredy Astery, que julgava parecidos na imagem com o teu grande amigo das fotografias, o Ferreira da Foto Baía.

Serás lembrado pelos teus talentos, mas o teu valor foi o de seres um homem simples, humilde e generoso. Um reguense que amava a sua terra e a Régua.

Até sempre amigo JOÃO DE ALGÉS. Acredita que, enquanto cá andarmos, não deixaremos de passar pelo teu restaurante para saborear as refeições cozinhadas pelos dons da tua mulher, os teus vinhos “rebenta fragas”, as tuas aguardentes caseiras e as laranjas doces de Covelinhas escolhidas pelo teu empregada preferida, a Marianinha..!. É pena, depois, não podermos reclamar contigo... Até compreendias que não tinhas sempre toda a razão, amigo.

Descansa em Paz e nas Mãos de Deus.

Peso da Régua, 27 de Abril de 2011,
Os teus amigos JA e FF

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA filmado na Régua

Um filme de Manoel de Oliveira realizado na cidade de Peso da Régua - Douro estreou hoje, 27 de Abril de 2011,  nos cinemas em Portugal.
O Estranho Caso de Angélica é o projeto mais recente do cineasta-centenário-portuguêsManoel de Oliveira. Numa noite chuvosa vemos um homem desesperado para encontrar um fotografo perto das três da manhã, o escolhido é Isaac um jovem judeu que acabara de chegar na cidade e que perambula por ela atrás de fotos de um cotidiano esquecido.
O roteiro dá corpo aos sentimentos de Isaac compondo imagens fantásticas com bom humor, ou seja, vertentes diferentes da sua usual filmografia. Todavia, para compensar essa leveza, o cineasta abusa de ambientes claustrofóbicos, monocromáticos, planos estáticos e semi-mortos, em especial na cena do funeral de Angélica.
Sim, a Angélica do título não está viva, longe disso, ela está morta e Isaac deve fotográfa-la para que a mãe da moça tem uma última recordação. Logo ao chegar na casa da falecida, o fotografo esbarra com a irmã devota que o julga ao ouvir seu nome judaico.
Isaac ignora o desconforto e se depara com algo, ou melhor, alguém que não pode ignorar: Angélica. A imagem captada por ele não sai de sua cabeça (ainda mais quando a fotografia sorri a ele) e é aí que a garota começa a participar do seu cotidiano, através de aparições – incluindo uma viagem pelos céus da cidade ao melhor estilo Mélies.
Contudo, é inevitável para Oliveira não intercalar essa viagem de Isaac com as conversas daqueles que convivem com ele. Evitando um discurso direto o entre “Revelar” (alusão ao Apocalipse) fotos, citações bíblicas (as trombetas dos anjos, interpretação de sinais, etc) e metafísica – a matéria e a anti-matéria (corpo e espírito) – evidenciado pela quebra da poesia da imagem quando a poluição sonora invade os devaneios de Isaac.
Suave e divertido, Manoel de Oliveira nos entrega um filme em homenagem a beleza eterna através de um exercício lúdico sobre  a morte, e – acima de tudo – poética. - In "Vida Ordinária"