Aí por volta do ano de 1947, quando por circunstâncias várias - que não vem ao caso relatar -, me vi alcandorado ao lugar de primeiro magistrado do Concelho, tive ocasião de ajudar no seu arranque definitivo, o edifico inacabado daquela prestimosa Instituição, situado na que havia de mais tarde chamar-se Avenida Sebastião Ramires.
Tinha-se erguido um esqueleto de aspecto arquitectónico que prometia brilhar no futuro, mas durante alguns anos assim se conservou, sem portas, sem janelas, e sem telhado. Servia unicamente de sentinas públicas mas sem saneamento.
Eu passava por ali poucas vezes - dado que não me fazia jeito pela situação da minha Repartiçao, e só de longe em longe avistava aquela estrutura de pedra estranhamente abandonada em plena avenida que agora mudou de nome mercê do 25 de Abril, como aliás se fez em todo o País para eliminar os nomes de figuras que, de algum modo, representavam o antigo regime que quer queiram quer não, muito fizeram por Portugal.
Parece-me não ser a forma mais apropriada, porque a História não se faz com tretas mas sim com factos.
Mas adiante, e retomemos o fio à meada que queremos desfiar.
Quando tornei posse do lugar, passei então a fazer caminho pela Avenida e a deixar o carro em frente da referida obra.
Logo no primeiro dia e por mera curiosidade, entrei nos baixos, para ver o seu interior que contrastava tristemente com aquela magnifica frontaria tão bem trabalhada, revelando o excelente artista que a tinha concebido. Fiquei indignado e enojado com o que vi! grandes buracos abertos junto aos alicerces onde se lançavam as mais variadas porcarias e muita gente ali fazia as suas necessidades, e de tal maneira, que o cheiro lá dentro era repugnante e pestilento.
Vendo que os Bombeiros estavam pessimamente instalados na rua dos Camilos, e ansiavam por ter a sua Sede, tratei imediatamente de contactar a sua direcção, nomeadamente Jaime Guedes, infelizmente já falecido, mas o principal «motor» da Associação, no sentido dese acabar o Quartel.
Confiei-lhe os meus pensamentos acerca do que me parecia mais rápido para acabar a obra e encontrei nele a melhor receptividade.
Falei na mesma altura e troquei impressões com o Engenheiro Manuel Barreto então Director da Urbanização que logo se interessou pelo assunto e assentou-se em pedir a comparticipação, ao então Ministro das Obras Públicas, Senhor Engenheiro José Frederico Ulrich que daí a pouco viria visitar a Régua.
Quando essa visita se efectuou, levamo-lo a ver aquele espectáculo tão deprimente, e logo o Ministro deu o seu apoio e auxílio ao nosso pedido mas com a condição de se «limpar» a frontaria que não achava bonita. Combatemos a ideia do Ministro, e passado tempo ele concordou, e a comparticipação veio, e a reconstrução do Quartel principiou.
Mas antes, e é aí que eu quero chegar dado que não havia portas, nem janelas, nem telhado, a Câmara da minha presidência deu aos Bombeiros os materiais retirados da demolição duma Casa que se tinha expropriado em freme da Manutenção Militar, e cujo terreno é que se destinava à construção do Edifício Escolar actualmente ali existente.
Com esses materiais taparam-se as aberturas das janelas e portas, e cobriu-se o telhado, evitando-se assim que algumas pessoas continuassem a degradar ainda mais o futuro quartel dos Bombeiros.
Depois, em sucessivas fases, se foi acabando e alindando o edifício que é sem dúvida, um dos mais sugestivos e bonitos do País.
A Câmara que acompanhou sempre com carinho a obra instalou-lhe a água e a luz. É claro que não se pode dissociar o quartel dos Bombeiros sem evocar os nomes das pessoas que tanto trabalharam para que ele se transformasse numa realidade. Uns já desaparecidos e que deram tudo à sua querida Associação, como Jaime Guedes, o grande impulsionado! Álvaro da Silva Rodrigues, exímio artista serralheiro e meu grande Amigo, Lourenço Medeiros, e ainda vivos, António Guedes, Claudino Clemente, e outros cujos nomes me não ocorrem agora.
Leio sempre com agrado os artigos que o meu amigo António Guedes escreve para o «Arrais» e são quase sempre alusivos à Associação dos Bombeiros de que ele foi um dos principais e1ernentos, e certamente vai ficar contente ao ler estas linhas, recordando factos passados vai para 30 anos. E como pertence à minha geração e pode dizer-se que trabalhamos juntos na Câmara, daqui lhe envio um abraço de velho Amigo.
- Manuel Alves SoaresNotas:
- Este interessante depoimento do Dr. Manuel Alves Soares – Presidente da Câmara da Régua nos finais dos anos 40 e princípios dos 50 anos - encontra-se publicado neste jornal e pelo seu manifesto interesse para os leitores compreenderem as imensas dificuldades em que foi acabado de construir o actual Quartel dos bombeiros da Régua, aqui se faz na integra a reprodução.
- As fotografias permitem ver a evolução que o Quartel Delfim Ferreira que, desde então, sofreu na sua magistral arquitectura, respeitando sempre o projecto original do famoso Arquitecto Oliveira Ferreira, o que está acontecer também com as obras de beneficiação da responsabilidade da actual Direcção e como apoio da Câmara Municipal.
- Matéria enviada por J. A. Almeida em Abril de 2011.