quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Comemoração do 130º aniversário dos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA

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O convite de 28 de Novembro de 1880
Quando se celebram as cerimónias do 130.º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários recorda-se o convite manuscrito pelo punho do Comandante Manuel Maria de Magalhães dirigido aos Sócios Activos para comparecerem aos festejos da inauguração da Associação Humanitária "Bombeiros Voluntários do Pezo da Regoa" que teria  lugar, pelas 10.00 horas da manhã, na casa da extinta Associação Comercial, sita na Rua da Boavista - hoje a actual Rua Serpa Pinto - para dali saírem fardados em formatura, dirigindo-se à Igreja Matriz, onde assistiriam a uma missa que "há-de celebrar-se para comemorar o acto da inauguração e a benção das bombas".

O resto do programa festivo do 28 de Novembro de 1880 havia de ser apresentado aos mesmos sócios durante a reunião. Só é pena não o conhecermos para aqui o recordarmos como um dia em que a sociedade civil reguense de mão dadas com o poder autárquico, souberam criar uma "instituição tão civilizadora, humanitária e útil"  para a protecção e socorro das pessoas do concelho da Régua, como bem salientou numa intervenção pública o ilustre presidente da Câmara, Dr. Joaquim Claudico de Morais, nesse longínquo tempo.

Conhecido é o convite festivo do 130.º aniversário da Associação que se comemora no próximo dia 28 de Novembro de 2010 e que se dirige a  todos os sócios. Do programa elaborado, a Direcção e o Comando da Associação dos Bombeiros da Régua pedem aos sócios que participem em todos os actos e, em especial, na celebração da Missa a realizar-se na Igreja Matriz, pelas 10.30 horas, em memória de todos os bombeiros e directores que serviram devotadamente a nobre causa do voluntariado.

Será, assim, uma boa maneira de lembrarmos o histórico convite do Comandante Manuel Maria de Magalhães e, o que ele e os restantes 27 sócios fundadores, nos legaram para futuro como grande  exemplo de generosidade.
- J. A. Almeida, Peso da Régua, 24 de Novembro de 2010.
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CONVITE
A Direcção e o Comando da Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários do Peso da Régua têm a honra de convidar V. Ex.ª a
participar nas comemorações oficiais do 130.º aniversário, de acordo
com programa abaixo (27 e 28 de Novembro de 2010):
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Comemorações do 130º Aniversário dos BVPeso da Régua - Convite

O meu barquinho

(Clique na imagem para ampliar. Imagem composta em PhotoScape com fotografia original do Dr. Camilo de Araújo Correia e desenho de um barco rabelo de autoria de Fernando Guichard.)

Por Camilo de Araújo Correia
De tanto lhe namorar o barco, da cada vez que o via, o meu amigo acabou por me dizer: - Se gostas tanto desse barco, podes levá-lo! Ele, afinal, é mais teu do que meu, desde que lhe puseste a vista, em cima...

Um barco rabelo maravilhoso, com a silhueta que tantas vezes ainda pude ver recortada nas águas e nas margens do Douro, quando fugia da escola para me extasiar com o tráfego do rio, no cais do Régua. As mãos que o construíram não quiseram faltar-lhe com a mínima verdade dos rabelos grandes. Todas as tábuas do casco harmoniosamente imbricadas, segredo da resistência do barco que é preciso, respeitar. Espadela e mastro nem mais nem menos compridos que a distância que vai da ponta da proa à ponta da popa. Os ventos e os rápidos, ou pontos, foram ensinando que teria de ser assim. A apegada também exige dimensões e colocação exactas. Lá no alto o arrais tem de movimentar-se no espaço cinético do rabelo, se quiser vencer as fúrias do vento e do rio.

O meu barquinho vinha carregado de pipas e não lhe faltava qualquer apetrecho de navegação e subsistência. Cordame de andar à sirga, remos, varas, caixa do pão e do sal e, à proa, um pote com as tigelas alinhadas para a distribuição do caldo.

Talvez se possa dizer que não há rabelo sem senão. O meu também o tinha - a vela. Não passava de um trapo, sem forma e sem vida, pendente da cruz do mastro. Tão morta que me parecia o sudário de quantos arrais morreram a subir e a descer o rio. Se Joane, o doido da Barca do Inferno, a tivesse visto, não deixaria de dizer na sua linguagem vicentina:

- Caga na vela!

Aquela vela foi, durante muitos anos, o desgosto do meu cantinho etnográfico. Da croça à podoa, da trouxa ao cesto vindimo, do copo de prova ao canado, do argau à tomboladeira do pote às tigelas da aguilhada ao carro de bois, do almude à angoreta, da enxada ao chapéu de palha, do… ao bordão de um mendigo que viveu da caridade das quintas, tudo autêntico, tudo perfeito menos o diabo da vela!

O desgosto acabou, há dias. O meu velho amigo Artur Joaquim (Calceteiro), que andou no rio até lhe escapar por uma unha negra, alegra a sua reforma construindo barcos rabelos à porta de casa. Miniaturas encantadoras do barco que o ia matando lhe saem, agora, da memória e do coração.

Levei-lhe o meu rabelo como quem leva um aleijadinho a urna romaria de fé. Veio curado curado. O meu barquinho tem agora uma vela moldada pelo vento, cheia de sol e de rio.

Peso da Régua, Julho de 1986

Com a arte de mestre Artur Joaquim julguei tratado o último rabelo aleijadinho. Muito me enganei. Se voltasse a este mundo, não lhe faltaria clientela.

Com o desenvolvimento do turismo fluvial, molham agora a barriga nas águas do rio Douro uns rabelos (?) verdadeiramente monstruosos. No espaço que dantes era das pipas, há agora um grande salão, com janelas e cortinas. A apegada parece a torre de comando de um transatlântico. E, ridículo dos ridículos, a espadela parece o rabo cortado de um cão de luxo.

Moliceiro é moliceiro, fragata é fragata, carocho é carocho, saveiro é saveiro… rabelo é rabelo.

O rabelo morreu como um velho a contar os séculos no seu rosário de medos e glórias. É hoje um honroso e comovente símbolo da primeira Eternidade do nosso rio. Não merece que façamos dele uma deprimente fantochada.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.
(Clique na imagem para ampliar - imagem recolhida na internet livre.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PRECE

Volta Jesus Cristo!

Volta a este mundo de sacripantas,
De escárnio e mal dizer.
Volta a esta terra de vaidade,
De desamor e egoísmo,
Fria e vazia como um poço abandonado,
Repleta de Sanhedrins da corrupção
E de Zerahs gananciosos.

Volta Jesus Cristo!

Volta à medula das nossas misérias
Para curares as chagas da inveja,
Perdoar com a serenidade de quem ama,
Limpar todas as Jerusaléns do nosso tempo.
Volta depressa às nossas consciências,
Aquecer a indiferença que nos rói,
Gritar uma esperança para amanhã
- Para sempre -
Não morrermos sozinhos e tristes.

Volta Jesus Cristo!

Vem dar força aos Nicodemus sinceros,
Encorajar os Josés de Arimateia verdadeiros,
Julgar todos os Tibérios modernos
Desprezar todos os Pilatos covardes,
Apontar os Barrabás perdidos.

Volta Meu Senhor e Meu Profeta!

Vamos falar aos que morrem de ambição,
Pregar a doutrina que nos salvará,
Escorraçar os que comem na opulência,
Agasalhar as crianças que tremem de frio,
Sem carinho, abandonadas como destroços.

Volta Jesus Cristo!

Para devolveres às pessoas o riso da vida,
Amar os que nada têm,
Ensinar de novo o que todos esqueceram.
Volta para me enxugares os rios da tristeza,
Nas angústias dos fins de tarde
E me abraçares nas horas de desassossego.

Volta Mestre!

Vamos berrar contra a alegria falsa,
Contra o sorriso falso,
Contra a amizade falsa,
Contra os irmãos falsos,
Contra os políticos falsos,
Contra toda a falsidade.
Quero ir contigo entoar a nossa Fé,
Derrubar os déspotas com a nossa Cruz,
Correr do Poder os que mandam sem saber.

Volta Jesus Cristo!

Eu quero abraçar-Te!

- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória".
  • Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "ForEver PEMBA". *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. A imagem ilustrativa acima, recolhida da net livre e composta/editada em PhotoScape, poderá ser ampliada clicando com o mouse/rato.