sábado, 19 de junho de 2010

RETALHOS DE UM DIÁRIO - Capítulos VIII, IX e X

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Capítulo VIII

Passa pouco das onze. O piloto de terra sobe para bordo. Uma invulgar fiada de espuma, fantasticamente nítida, separa as águas de estrias esverdeadas de outras esbranquiçadas com restos de sujidade espalhando-se aos baldões. Pretos pescam em almadias. O Niassa, depois de descrever uma curva prolongada para fugir dos areais, acosta, empuxado suavemente pela bossa do Maputo, entre o Osaca e o Mar Felice. Familiares, aqui radicados, acenam. Rondas da PM guarnecem o cais. A fanfarra, de predominância negra, toca marchas militares. O pessoal excita-se. A televisão filma para se ver lá no puto. Fotógrafos sobem a guindastes. Arribam fardas da Marinha e do Exército para recepcionarem a carga... Formámos à parte dos fuzileiros que tinham embarcado em Luanda. Arrancámos com um caixa a marcar a cadência. Lá vamos, não cantando e rindo, mas em silêncio garboso, como convém: «Temos que marchar com garra!», dissera-nos o Comandante. Os edifícios são airosos, de traça coeva. Uma pequena multidão negra, branca, mestiça, monhé, china, ao longo dos passeios, observa com cara acostumada. Chega-se à Praça com um garboso Mouzinho de Albuquerque empoleirado num soberbo cavalo. Em frente, a Câmara; à direita, a Catedral de torre pontiaguda, clamando ao Alto; à esquerda, prédios com reclamos de bebidas. Toques de sentido à medida que chegam Mercedes. Ouve-se o hino do Exército. Uma volúpia patriótica aumenta-me o suor. Do cimo da varanda municipal, o General-Chefe tange as cordas do incitamento. No fim, os acordes da Portuguesa, ecoando na amplidão da praça, quase me tolhem. O regresso ao barco faz-se - não me parece encenação - por entre vivas a Portugal.

Eram seis horas quando fui chamado ao Comando para receber e distribuir o correio. Terminei o meu turno de serviço pelas vinte e uma.

Saí com os Furriéis do meu pelotão, trocamos umas notas, nuns mexeriqueiros das imediações portuárias, e fomos em busca de uma cervejaria beber umas bazukas acompanhadas de pratinhos de camarão. O trânsito pela esquerda confunde-me. A Rua Araújo abarrota, satisfazem-se todas as sedes.

Recolho pelas duas da manhã. Trabalhadores, formigas no fundo do porão, colocam caixotes nas prateleiras dos guindastes. A iluminação, que do cais se prolonga cidade fora, dilui-se na morrinha do cacimbo.

Capítulo IX

É o último dia em Lourenço Marques. O barco continua a carregar. Entra tudo, cunhetes de munições e até Unimogs. Quebranta-me uma exalação húmida. Vai ser bonito habituar-me a isto. Vamos dar uma volta pela cidade, sem afastamentos, como quem tacteia, timidamente, o desconhecido. Nem parece que há guerra em Moçambique. Um bulício cosmopolita, esplanadas a abarrotar, lojas movimentadas, consumismo no ar, carros e carrinhas nipónicas, de modelos caros, em trânsito incessante; vivendas rodeadas de jardins, algumas escondidas por muros onde assoma arborização tropical; raparigas, minimamente vestidas, alegres e tostadas; senhoras brancas empurrando carrinhos de rebentos, senhoras pretas levando-os às costas, mistura de raças sem lugares marcados, muitas indianas, de sinal na testa, limpando o chão com as suas compridas e floridas vestimentas; prédios em construção com andaimes aligeirados e os machimbombos, cheios de algazarra, cruzam-se nas amplas avenidas.

Vedadas as saídas, até à hora da largada, entretenho-me, no bar, a ouvir mais um concerto da Orquestra Cotrim, três gastos mas respeitáveis músicos que ganham a vida, enganando a velhice nestas andanças, a entreter contingentes. Afastado da solfa, ao fundo, à volta de uma mesa de pano verde, arrumadas as cartas e os dados, um grupo de milicianos escuta o capitão Silvino que vai comandar um Esquadrão de Reconhecimento na sua terceira comissão. Tem olhos avermelhados, o indicador e o médio da mão direita amarelados, peito cheio, braços ginasticados, voz grossa e tiques de Cavalaria. Fala com fatuidade, beberricando, nas pausas, em goles de experimentado. Conta peripécias dos Dembos angolanos e das bolanhas guineenses, percebe-se que recria factos a seu jeito, adora a iconografia militarista e não descura um certo devaneio imaginário.

O Comandante de Bandeira convida um grupo de Alferes para a sua mesa de jantar e custa-me fazer sala e exercitar etiqueta.

Pelas cinco da manhã, o Niassa, com um grunhido de fera, levanta ferro. O Maputo ajuda o desencorar, ouvem-se duas sinetadas, depois aparta-se. Alguns embarcados, mais resistentes, acenam para o cais e renovam-se promessas de correio. As luzes da marginal encolhem-se sob a neblina.

O mar do Canal de Moçambique não provoca balanço. O Índico, com costa à vista, tem uma tonalidade de azul turquesa. Passa-se ao largo de Inhambane. O barco vai carregadíssimo. Ficaram os fuzileiros, mas vão homens da guarnição provincial. Os convés abarrotam de viaturas, um ar de tralha, balbúrdia de mudança breve. O calor aperta. Nada-se em suor. Cada um já sabe, mais ou menos, para onde vai. Procuram-se os tarimbados, os chicos na linguagem miliciana, em busca de conselhos ou de enganos  para disfarçar receios. Os mapas do Norte saltam de mãos em mãos. Há um indisfarçável nervosismo que se percebe nos rostos, nos gestos, nos mutismos, nos isolamentos, nas altercações pueris, no abuso do álcool.

Sento-me numa cadeira de lona, contento-me com a aragem que amacia a baforada, fumo um LM num depurado prazer, alheio-me da desordem em redor e monologo como quem necessita de acertar contas consigo próprio. O turbilhão, cá dentro, não tem sossego, remoinho da minha impotência. De cada vez que venho à superfície, tomo noção – numa brevidade aflita – de que não me quero afundar na desistência, que devo lutar pela vida, nem que grite por socorro, nem que renove a Deus – com medo de que alguma vez não me tenha acreditado - juras de fidelidade eterna em troca da salvação, nem que grite pela minha Mãe para me deitar os seus braços umbilicais. Construo a armadura invisível para me defender da contrariedade do que sinto e penso, infante dócil às ordens de espadas cintilantes, impossibilitado de lhes fugir, porque quando os soberanos que as usam se auto-nomeiam e prolongam a vida – há quem os suponha eternos – os fugitivos são sempre apanhados, na esquina de um retorno que a carência de um afastamento livre compele, por um castigo dobrado. Sou filho de uma conjuntura sobrevinda numa época de mitómanos ideológicos, podendo ter nascido antes ou depois deles, ou nem ter nascido, ou ter nascido outro, longe (desconhecedor) desta história, como se o acaso, que me mandou ir às sortes, fosse transferível para uma definitiva impossibilidade, pura e simplesmente a inexistência... Uso a realidade para amanhã – se a tiver - requerer a paga, o equilíbrio - nunca equivalente, mas, ao menos, não ingrato ou omisso - entre o despojamento dos sonhos e os riscos forçados. Sem heroísmos e sem fugas, cumpro a sina de uma cigana que, uma noite, numa barraca da Feira Popular do Porto, disse perante a palma da minha mão: «Está aqui escrito que há-de atravessar águas do mar...» Mas porquê e para quê? Uma cigana, mesmo bruxa, não sabe tudo.

Anda, então, arcaico paquete, caravela de novos forçados, galga-me este mar que tenho pressa de regressar à minha utopia de liberdade.

Capítulo X

A selva, pelas quatro da tarde, emerge luxuriante, debruando a enseada de Nacala, duas meias luas como asas de um quiróptero fossilizado. As bagagens amontoam-se nos tombadilhos e os militares, sentados nelas, lembram rafeiros guardando a ração.

- Agora é a sério! – berra um Capitão de olhar malinado.
- Não comece já a meter medo, meu Capitão! Olhe que os cus não têm galões! – retorque, matreiro e com o à vontade de muitos copos, o Marques, conhecido, na oralidade de bordo, pelo Alferes Pinguinhas.

Ameniza-se o nervoso da espera combinando SPMS com os que não desembarcam por seguirem para Porto Amélia e Mocímboa. A chaminé de uma fábrica de cimento («É do Champas!» - dizem alguns) parece um vulcão iluminando a noite que tombou abruptamente. A humidade elanguesce, os barulhos ecoam numa calma de laguna. Um jeep desce veloz para o Cais, deixando para trás nuvens de pó vermelho. Dois ombros estrelados apeiam-se, batem-se continências, o Brigadeiro sobe. Reúne-se na Sala de Jantar com a Oficialidade, debita boas vindas, frases feitas de entusiasmo, após o que inicia os cumprimentos. Ouve-se um rumor de sobressalto, mal compreendido, duas ou três fardas que se afastam, puxando um corpo em convulsões: o Pimentel começara a bater com as botas no chão e uma espuma epiléptica a babá-lo. Os que se aperceberam, disfarçaram, envoltos num espanto depressa devorado pela excitação, como quem abafa um insólito.

Espera-nos um comboio de museu. Por entre corridas e berros, junto o meu pessoal, com todos os pertences, numa Berliet a desfazer-se, e acomodamo-nos, depois de transposta a vereda, numa carruagem com tábuas e cobertores. Em frente, já mais distante, o navio continua a largar carga e homens. Há uma pressa de despacho, luta-se por lugares como se uns fossem melhores do que outros. De algumas casas de alvenaria, que se pensa serem de encarregados da fábrica, há olhos curiosos; nos terreiros das palhotas envolventes fogueiras cozem a mandioca do sustento. Ouve-se um apito. Lanço um adeus derradeiro, numa emoção de fim, ao Niassa e às fardas debruçadas. Voltaremos a ver-nos? Quantos de nós irão, feitos soldadinhos de chumbo ou vivos desarreigados, para o outro lado do mar? Levar-me-ás, velho Niassa, de regresso ao chão de onde sou, onde brinquei e amei e me julgo com direito a morrer? Para onde me leva o destino, essa negação da ousadia, como se a causalidade fosse marcada ao nascer e tudo nela se justificasse, mesmo um mando de estupidez? O esticão do comboio devolve-me à terra. A malta aligeira-se e prepara-se para esquecer no sono as impressões recentes. Pelas janelas vêem-se viaturas escaqueiradas como relíquias de desastres. Um silvo agudo acorda os necrófagos da noite africana.
FIM

- Por M. Nogueira Borges in Lagar da Memória. M. Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. Pode ler também os textos deste autor no blog ForEver PEMBA.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

UM DE NÓS - Em Memória de Jaime Ferraz Gabão

Em Memória de Jaime Ferraz Gabão
Nasceu na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica. Portanto hà 18 anos!

UM DE NÓS !
Morreu Jaime Ferraz Gabão. Morreu um de nós, os do ARRAIS. Morreu, por ventura, o colaborador que mais lhe respeitava uma das linhas mais vincadas do seu caráter, bem definida no primeiro número. Dizia-se na apresentação, ENCONTRO NA RUA, que "um jornal é também a história e a consciência de uma terra". Ora, na grande maioria das suas crónicas, Jaime Ferraz Gabão foi a história e a consciência da Régua. Recordou acontecimentos longínquos, quando ao presente lhe pareceram oportunos, e sublinhou o dia a dia, sempre que lhe adivinhava a utilidade de algum eco no futuro. São incontáveis as figuras e figurinhas que desfilaram nas suas memórias da Régua antiga. Trouxe á luz dos jornais, famílias inteiras, quase extintas, o que sempre provocava nos descendentes uma onda de simpatia e gratidão, Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam. 
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista expontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento pátriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima, Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompôr da enorme frustação, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

Pelo seu desinteressado altruísmo, Jaime Ferraz Gabão veio a merecer da Cruz Vermelha Portuguesa a "Medalha de Agradecimento" e a "Medalha e Cruz de Mérito". O Sport Clube da Régua, distinguia-o ,desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.

A Régua mais Régua, a Régua de Jaime Ferraz Gabão, sentiu bem e logo a sua perda, acompanhando-lhe o féretro ao cemitério do Peso, com recolhida pausa na Igreja Matriz, para celebração de missa de corpo presente. Foram celebrantes os padres António Maria Cardoso e Vital Capelo, por ausência inevitável do padre Luis Marçal.
Toda a cerimónia foi um profundo adeus a Jaime Ferraz Gabão. Um adeus, que as eloquentes palavras do Dr. António Maria Cardoso, seu velho e querido amigo, souberam prolongar no coração e no espírito de toda a gente. Foi uma evocação circunstânciada e sentida. Tão sentida que pôde acender as primeiras saudades de Jaime Ferraz Gabão, pouco antes da terra, da sua terra o tirar, para sempre, da nossa companhia.
- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*
*Agradeço a José Alfredo Almeida os recortes do Arrais oferecidos e que me permitiram a transcrição integral deste artigo do também já saudoso, companheiro e Amigo Dr. Camilo de Araújo Correia.
  • Em tempo de festas de Nossa Senhora do Socorro na cidade da Régua, recordo Jaime Ferraz Rodrigues Gabão!  
  • Jaime Ferraz Rodrigues Gabão citado no portal do Sport Club da Régua - Aqui!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dr. Fernando Bandeira: Um homem que fez obra

Quase ninguém fala do Dr. Fernando Augusto Bandeira, Presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua entre 1957 e 1961, mas nos bombeiros o seu nome é lembrado como um dos dirigentes que mais soube prestigiar o nome e história da instituição.

Nos bombeiros, o Dr. Fernando Bandeira exerceu o cargo de Presidente do Conselho Fiscal e também da Presidente da Assembleia-geral. Só lhe faltou desempenhar o lugar de Presidente da Direcção, muito embora tenha sido candidato numas das mais importantes eleições da Associação.

Os reguenses guardam dele uma boa memória. Consideram que foi um bom e dinâmico presidente de câmara. Apenas fez um mandato à frente dos destinos do concelho, mas não foi o pouco tempo, que o impediu de deixar obra feita e de importância para o desenvolvimento local. O mercado municipal, o tribunal judicial e as escadas monumentais dos correios, a servirem de ligação pedonal da rua dos Camilos à Av. Dr. Manuel de Arriaga e a remodelação do jardim da Alameda são as suas principais obras que deixou em execução ou concluídas. Conseguiu, pela sua influência, que o poder político autorizasse o funcionamento de moderna Escola Técnica, para resolver uma lacuna do ensino público profissional. Não teve a sorte de inaugurar a sua obra mais significativa, à qual o seu nome ficou marcado, mas a sua gestão no município trouxe mais progresso para a terra.

No exercício das suas funções de presidente do município nunca deixou de apoiar o corpo de bombeiros. Como conhecia as contas e as dificuldades da casa, esteve sempre na primeira linha para os auxiliar no que mais estavam carenciados, como melhoramentos nas instalações e a aquisição de equipamentos para o combate aos fogos e transportes de doentes.

Revelando a sua sensibilidade e respeito pela acção dos bombeiros, na qualidade de Presidente do Conselho Fiscal, escreveu na revista comemorativa dos 75 anos da associação, este sentido elogio:

“Quando na vida duma corporação se festejam setenta e cinco anos de existência, o facto não pode deixar de revestir daquela solenidade própria dos grandes actos comemorativos. A AHBVPR festeja neste momento setenta e cinco anos de vida, vida já bastante longa, toda ela votada ao serviço do seu semelhante, na defesa por vezes heróica, das suas vidas e valores.

Ao entrar no último quartel do século, deixa a Associação atrás de si o rasto luminoso duma história esculpida a oiro pelos muitos actos de abnegação, heroicidade e altruísmo dos admiráveis componentes do seu corpo activo. É bem grandiosa a sua história!...E, se o reconhecimento público ainda não envolveu todos estes bravos soldados da paz, no peito de alguns e ao pescoço de outros brilham já medalhas e colares como reconhecimento do Estado para com aqueles que mais de perto seguem a doutrina pregada aos homens por Jesus, filho de Deus.

E na sua bandeira, rota e velhinha, bordada por mão caridosa de mulher, sentem-se perpassar imagens duma história vivida, clarões a iluminar os passos dos novos que entram, chamas que aquecem os corpo já cansados dos que partem com saudade! A bandeira da Associação a todos envolve, a todos acarinha, a todos obriga…

A Régua, melhor dirá, todo o concelho, tem nesse dia a grande e quase única oportunidade para tributar à sua Associação, o respeito, a admiração e a sua estima que sente pelos seus “rapazes”. À singeleza desta deverá juntar-se o muito obrigada de toda a gente, numa exaltação espontânea do muito que lhe quer e do muito que lhe deve.

Estamos certos de que esse punhado de bravos, que garbosamente vai desfilar ante os nossos olhos, há-de sentir um carinho diferente a envolve-los, uma onde de ternura a afaga-los, uma admiração e respeito maiores pelas venerandas cãs da nossa velhinha Associação!...É que, quem da voluntariamente a sua vida necessariamente tem direito à maior consagração que é possível fazer-se.

Por isso, quando na rua passarem, em desfile marcial, esses soldados da paz, que toda a gente se descubra, porque debaixo das fardas azuis batem corações que albergam um grande sentimento: o sentimento humanitário.”

No dia 3 Março de 1961, uma comissão de ilustres senhores e senhoras reguenses organizou-lhe uma homenagem, à qual a Direcção dos bombeiros apoiou e se associou. No oficio nº 61/61, o Vice-presidente da Direcção, José Pinto da Silva comunicou-lhe “ser a primeira como em tudo (…) a apresentar-lhe os mais entusiásticos cumprimentos (….) em que todo o concelho lhe rende sentidas homenagens pelo obra deveras notável com que tem caracterizado o mandato de V. Ex.ª como presidente da municipalidade.”

Com o título “A Régua agradecida - homenageia o seu Presidente da Câmara”, o jornal “Vida por Vida”, em suplemento, destacou mais pormenores dessa homenagem. Começa logo por destacar a sua acção como autarca na ajuda ao corpo de bombeiros: “Como reguenses, regozijamo-nos por verificar a onda de melhoramentos já existentes, mas como elementos directivos dos bombeiros da Régua, temos que nos sentir agradecidos, pois que a sua acção em prol desta Casa, excedeu tudo o que seria legítimo esperar de um homem.

Nunca qualquer pedido que se lhe dirigiu – aliás sempre justos - deixou de ter a melhor atenção e carinho para que tivesse a feliz resolução que seria traduzida em benefícios. Por isso mesmo, por esta maneira de proceder, a nossa acção tem sido imensamente facilitada e porque sabemos que a sua actuação continuara a ser no futuro como foi no passado e no presente, não nos cansaremos de nos mostrar reconhecidos, como sempre o soubemos fazer para todos quantos nos auxiliem, nos mais variados aspectos.”

No seu discurso, perante o Governo Civil de Vila Real e o Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, capitão Afonso Alves de Araújo, o homenageado agradeceu com estas palavras: “Pode o Presidente da Câmara errar, pode a sua inteligência não abarcar suficientemente a extensão deste ou daquele problema, mas a verdade é que – e nisso com vaidade vos digo, têm-me feito justiça – é sempre com olhos postos no bem da terra que se tem actuado na defesa das legítimas aspirações e anseios. Mas o fardo que recaiu sobre meus ombros tem sido bem pesado. Administrar uma casa em que as receitas mal cobrem as despesas e muitas vezes estas superam aquelas, é tarefa ingrata para quem tem à sua frente a inexorável espada das realidades.”

Mas, em 6 de Janeiro de 1968, o Dr. Fernando Bandeira concorreu aos órgãos sociais dos bombeiros da Régua. A outra lista era liderada pelo Dr. José Vieira de Castro. O acto eleitoral atraiu à sede da Associação muitas dezenas de associados. O jornal da Associação “Vida por Vida” dava a informação de “que nunca esta instituição viveu tão intensamente o significado do acto eleitoral.”
Quem participou na assembleia eleitoral garante - ainda hoje - que os resultados finais causaram dúvidas quanto à lista vencedora. A contagem dos boletins fez-se sem controlo. Pedida uma recontagem dos votos, a mesma não se fez porque os boletins foram imediatamente queimados. Esta irregularidade causou reclamações e fez adensar ainda mais as incertezas. Isso fez com que alguns associados contestassem o modo de apuramento. Rapidamente se originou uma confusão entre os associados que provocou incidentes e desacatos. Pela madrugada, por volta das 5 horas da manhã, uma força da Polícia de Segurança Pública foi chamada ao Quartel para apaziguar os ânimos e manter a ordem entre os associados mais revoltados. Os apoiantes da lista do Dr. Bandeira não se conformavam, mas já nada podiam fazer para repor a verdade que clamavam.

Como nada tivesse acontecido, o Dr. Rui Machado, como Presidente da Assembleia-geral, na tomada de posse dos novos Corpos Gerentes deu uma explicação para o sucedido nas eleições. Se não foi clara e convincente ele conseguiu, pelo menos, depreciar todas as divergências, recorrendo à evocação desta verdade irrefutável para todos: “nesta casa só pode haver uma finalidade: servir a humanidade.”

Algum tempo depois de empossado, numa cerimónia entre bombeiros, o Dr. José Vieira de Castro desvalorizou os factos. Lamentava-se, dizendo “que no período eleitoral tudo parecia uma tempestade medonha, um mar sem fundo, não que passou afinal de uma pequena borrasca cujo único inconveniente foi termos andado todos metidos nas bocas do mundo.”

O que terá motivado este caso que ensombrou um período da vida associativa nunca ficou bem esclarecido. Alguns acreditam que se passou o mais grave, algo que como o desprezo pelas regras da participação cívica e democrática num confronto eleitoral entre dois homens de grande valor. O Dr. Fernando Bandeira era uma figura conciliadora e influente no partido do poder, a União Nacional. O seu brilho de pessoa elegante, culta e com espírito altruísta e liberal faziam dele um cidadão estimado e respeitado. O eleito para a direcção, o Dr. José Vieira de Castro, subdelegado de saúde, gozava de consideração social e era visto como um médico de bom carácter humano.

Mas, há quem continue a dizer – agora decorrido muito tempo - que esteve aqui metida a política. Se assim foi, o Dr. Fernando Bandeira não chegou a ser Presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua, em 1968…! Desta vez, a ser verdade, os interesses concelhios da União Nacional se não mudaram os rumos da história da Associação, alteraram a vida de um homem bom. Mas isso aí, será tema para se contar numa outra história…!
- Colaboração de J A Almeida para "Escritos do Douro". Peso da Régua, Junho de 2010.
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terça-feira, 15 de junho de 2010

RETALHOS DE UM DIÁRIO - Capítulos V, VI e VII

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Capítulo I;
Capítulos II, III e IV;
Capítulo V

Afinal, largámos às seis. Levantei-me do beliche - não resisti à despedida - e pude assistir à entrada do Vera Cruz apinhado de fardas. Estava ali a imagem da geração sacrificada de um povo em ebulição, sem demandas das Índias, guerreando, agora, emancipações de outros impérios, cruzando os mares, cumprindo insistênciasditatoriais em nome de uma grandeza que as ideologias circundavam. Uma juventude a quem calhou a sorte de viver este tempo, de enterrar mortos e confortar feridos, encolher servidões mas vangloriar-se de não ter fugido – algum orgulho resistia à resignação -, sofrer anátemas históricos recusando julgamentos, imolada nos altares das hagiografias profanas sem culpas promissórias, iludida por utopias.

Depois do almoço, arrasado pelo calor e pelos nervos, o sono desligou-me de tudo, acordando com o aviso do torneio de tiro ao alvo.

Navega-se não muito afastado da costa. O céu tem a coloração do chumbo, o mar a do zinco. Adivinha-se chuva. As águas riscam-se de grossos debuxos em paralelas curvas e contra-curvas, confluindo alguns. A maresia é intensa. Escurece cada vez mais. Uma recta gigante separa as nuvens do horizonte, formando uma linda fita azul, igual às que as meninas usam para segurar as tranças. Há camaradas que, finalmente, se começam a levantar, de olhos inchados e lábios de palha. Queixam-se de dores de cabeça.

Afinal não choveu. O oceano mexe-se muito. O navio está mais inclinado para bombordo. Passou as horas, em Luanda, a carregar. Dizem os entendidos que a carga foi mal distribuída. A sopa, na sala de jantar, ondula nos pratos e, ao andar, temos que descair para estibordo. Tenho medo que esta merda vire. De um portátil, abandonado numa pérgula, a Rádio Lobito transmite fados de Coimbra. Apetece-me gritar, as lágrimas estoiram e, no negrume, fumo cigarros ao ritmo daquelas. O barco, da proa à ré, balança sem intermitências. Tremuras prolongadas percorrem-no como se se fosse partir todo, moribundo no estertor final. Recolho-me ao camarote. Contemplo o Oceano da escotilha. A ondulação assusta, cheia de força, castelos de espuma na crista, fazendo e desfazendo-se numa feroz luta de vagas que cavalgam assustadoras até estrondearem no casco, raivosas por este lhes impedir o prolongamento do tropel. Amainam, por breves segundos, em rodopio coleante, todas eriçadas, a aprestar o assalto, emitem o silvo de uma serpente, e aí vêm elas, loucas, histéricas, direitas ao meu respeito, vergastar o vidro do óculo por onde as contemplo. O vento varre os decks, insinua-se nos corredores e escadas interiores; há portas que se abrem e se fecham como num filme de terror; os ferros das camas rangem; o camarada do beliche direito lança uma imprecação, olha-me aterrado, «e se esta porcaria vai ao fundo?!», pede-me um cigarro, «por que não me raspei disto?!»; parece que o Niassa não sai do mesmo sítio, vai à frente e volta atrás, afocinha quando os pés da cama descem, ergue-se quando a cabeceira escorrega.Zonzo, de receios contraídos, adormeço, imaginando o Bartolomeu Dias, numa casca de noz, a dobrar este Cabo.
 
Capítulo VI
 
A manhã surge luminosa, o mar esverdeado, quase parado, num oposto surpreendente à tempestade de véspera. Para Lourenço Marques faltam 1397 milhas.
 
O dia corre monótono, as conversas esgotam-se; há quem leia bastante ou se arraste pelos tombadilhos; nos bares, jogam-se suecas e kings, rilham-se batatas fritase bebem-se coca-colas; engolem-se aspirinas de ressacas, olhares no vazio da lonjura, sem uma palavra, bocas cerradas e serradas por uma atormentada (in)capacidade de ir ali; alguns embrulham-se em desvanecimentos, ajanotando-se nos camuflados, dando-lhes um uso constante para os desgomarem, ansiosos por acção.
 
Uma e meia da manhã; inicio a minha ronda de serviço. Vou à ponte. A lumieira do cigarro do vigia, avivada de cada vez que vai à boca, conforta-me. Alguém vela pelo rumo deste mastodonte. A chaminé, preta e bojuda, expele espessas fumaradas rapidamente levadas pelo vento gelado; o som matraqueado dos motores, audível pelas clara-bóias levantadas da casa das máquinas, indicia o máximo da velocidade; as bocas de alguns soldados, abertas e rociadas, dormindo ao relento para fugirem do abafamento dos seus casulos, dão uma estranha sensação de desprezo humano; os mais persistentes ressonam em camas coladas umas às outras, no meio de tábuas, malas, botas, fardas e uma repulsiva pestilência de urina, suor e tintas; nos canis, os quadrúpedes mexem-se inquietos, nervosos, e um fura a noite com uivos tristes, desfazendo nas ondas o eco do cio. Vou, depois, à proa; comungo dos gemidos do vento, com o abaixo-acima daquela, o marulho da imensidão oceânica, o mar-mundo, a noite-saudade, o horizonte-ânsia; debruço-me para ver a quilha rasgando as águas num permanente acento circunflexo de espuma doirado pelo luar. O céu, sem uma mancha de pecado, e a lua, metálica, recitam poemas de inocência; as estrelas, de vidro, dão um ambiente de cabaret a esta noite que não é minha. Olho para longe, para bem longe, a ver se algo diferente me surge, e nada, só uma vertigem de vazio. “E se o barco fosse mesmo ao fundo? O que é um gigante para o gigantesco? Ao fim e ao cabo, o mar brinca com estas toneladas todas, se lhe dá na irracionalidade eleva-as, volteia-as quantas vezes quiser e manda-nos todos a correr para os botes que não vão valer de nada; ficaríamos para a história colados nas profundezas”, penso, enquanto tusso cheio de tabaco. Os decks são parlatório de sonos desencontrados; das amuradas, corpos debruçam-se de olhos fitos na babugem que se preme contra o aço. Passa o sereno, feito guarda-nocturno do silêncio, enquanto o leme automático faz o bingo das milhas do dia seguinte. Coam-se as minhas lembranças remedidas no tempo: aquele seco edital, afixado na porta da mercearia onde em criança comprava cartuchos de rebuçados, a convocar-me para Mafra, arrancando-me de Coimbra como um dente a sangue frio; aquela chegada de Janeiro, sob um temporal desfeito que mal dava para descortinar o Convento, a entrada por uma porta lateral onde choquei com armas ensarilhadas num bivaqu interior, as redes de camuflagem, o bolor dos corredores transformados em catacumbas de martírios antigos repetidos, o cheiro a mofo das casernas se desabitadas há séculos estivessem, a luz minguada das lâmpadas escurecidas, o engraxar, com cuspe, das botas e dos polainitos, os cabelos à escovinha, o rastejar sob o arame farpado, os saltos para o galho, o equilibrismo do pórtico, a dança de gatos nas cordas sobre a Lagoa, os tiros nos alvos em carreira, o rebolar nas escadarias, as emboscadas na Tapada, os crosses para a Ericeira, os dias e as noites das cercanias torrejanas, acartando, às costas, um transmissor rádio, de castigo por singelos falares caprichosamente interditados, até o Capitão-castigador, num clarão de remorso, me mandar pousar o fardo no jeep.
 
Ao longe, muito longe, diviso uma luz. Será um barco ou algum ponto da costa sul africana?
 
Capítulo VII
 
O Chefe de Mesa, mal me sento para almoçar, entrega-me um rádiotelegrama: a minha Mãe continuava a rezar por mim. Levanto-me e vou encher o mar. O Capelão, aparecendo não sei de onde, abraça-me e convida-me para a sua mesa. Se há Padres abençoados este é um deles. O Padre João ensinou-me que maisimportante do que aquilo que se diz é o que se ouve. Passamos a tarde a discutir Deus e a Fé. Se necessitasse de conversão, converso ficava.
 
Navegamos com a costa da África do Sul à vista. Aquela luzinha que ontem vira era já um indício dela. Um avião, em reconhecimento, sobrevoou-nos por pouco tempo. Escurece. East London, já iluminada, franqueia-se por entre a poalha. Um farol manda avisos sucessivos, desenhando cones de luz. Pontos brilhantes, como velinhas alinhadas, idealizam uma extensa marginal; os binóculos passam de mão em mão e podem-se ver os faróis dos carros.
 
Venho para a Turística onde funciona a Secretaria Militar. Sento-me a uma mesa e escrevo um maço de aerogramas. O Niassa parece um balancé. Os pratos no comedor retinem como grilos em noite de Verão; as cadeiras giratórias fazem cento e oitenta graus porque, fixas no meio, não podem fazer trezentos e sessenta; caem papéis e furadores e esferográficas e livros de registos (as máquinas de escrever estão pousadas no chão) e cinzeiros e óculos e... O sereno desabafa e historia:
 
- Há trinta e sete anos que ando no mar e, em vez de me darem a reforma que mereço, puseram-me de sereno. Veja só: sereno! - pronunciando a palavra com desdém, enquanto tirava um Português Suave. - Passei neste Niassa temporais medonhos! Olhe, numa ocasião, em Leixões, estivemos três dias a apanhar nas trombas que foi um disparate! As vagas batiam neste costado – apontando as vigias – que pareciam fragas! Foi num Carnaval, veja bem o carnaval que nos deram! Sem passageiros, com apenas vinte toneladas de melaço no porão, isto era um brinquedo! Não entrámos na doca nem por nada. O Pátria e o Império foram, como tiros, para Vigo e nós, ali, a apanharmos porrada! Conseguimos virar para Lisboa, mas, por azar, a barra estava fechada. Navegámos a Sesimbra, demos a volta, e conseguimos apanhar mar e vento a favor. Foi o que nos safou, porque, quando não, tínhamos ido para o charco nesses dias. Quando fomos a dar conta, estávamos em Belém – gargalhando – com as máquinas paradas. Depois, um rebocador lá nos levou sãos e salvos. O quê?! Temporal aquilo?! O que nós apanhámos no Cabo foi um mar normalíssimo. (Não sei se ele notou o meu espanto). Isto, quando agarra mesmo temporal, parece um submarino! O que mais pedia, quando saímos de Lisboa, era que, no Cabo, estivesse o mar que esteve. Olha!, olha!, se visse em Leixões! Estas cadeiras e estas mesas escaqueiraram-se contra estas paredes como ovos! Sabe lá...
 
Levanta-se para ir à cozinha escorar a copa. O sereno, encaixado nos seus sessenta e sete anos de vida e trinta e sete de mar, senta-se de novo. Deixo-o no seu trabalho de numerar os cartões dos beliches. Fecho a porta, ele começa a assobiar.
 
Durban desponta de madrugada. Ao começo, umas luzes dispersas e envergonhadas, depois, clarões alaranjados de fábricas enormes. Uma cordilheira emerge e um farol (há imensos ao longo da costa Sul Africana), incansável, silva. Percorreram-se, a uma velocidade de 14,4 nós, nas últimas 24 horas, 346 milhas. Lourenço Marques estava a 39.
Continua...

- Por M. Nogueira Borges in Lagar da Memória. M. Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua..