Tenho aqui à minha frente uma pequena medalha alusiva
a um acontecimento passado no longínquo ano de 1936. Encontrei-a por acaso
guardada numa estante do Museu de Araújo Correia, como é assim conhecido o museu dos bombeiros
da Régua.
Chamou-me a atenção também por ser
um objecto com uma incomum simplicidade estética, embora o seu valor histórico
me tenha despertado mais curiosidade.
Antes de aí repousar, como um cadáver que repousa em vala,
deve ter sido objecto de culto e um bem precioso que deve ter feito parte do historial
do quartel que esteve instalado numa humilde casa, no Cimo da Régua. Se não
fosse um objecto de valor histórico, teria tido um destino diferente, não teria chegado com o seu
brilho e memória do seu ao nosso tempo.
Por si só, a medalha conta-nos a sua verdadeira
história, isto é, revela uma história de uma cerimónia festiva que integrou no,
seu programa de actividades, uma Parada de Bombeiros. Como tal, actualmente,
embora pareça ter uma função meramente decorativa, ela certifica um
reconhecimento público pela participação do Corpo de Bombeiros da Régua.
Pois, era só isto que a medalha me deixava entrever do seu passado e,
assim, justificava a sua existência no museu dos bombeiros da Régua, até que dia questionei o
meu amigo Cdte. Álvaro Ribeiros, dos Bombeiros da Cruz Branca que, embora
desconhecendo da sua existência, tratou de me encontrar a informação que eu
procurava para responder a algumas das minhas dúvidas: Quem organizou esta
parada? Os bombeiros de cima ou bombeiros de baixo? Que ruas percorreram?
Quantas corporações desfilaram? Como foi a reacção da população que assistiu?
Tempo mais tarde, a preciosa informação veio-me direitinha
nas páginas digitalizadas do jornal O Vilarealense,
nas edições de 26 de Maio e de 25 de Junho de 1936. A primeira informava que no
dia 14 de Junho, desse ano, se realizava a “Parada Solene de Bombeiros com a
participação de todas as corporações do distrito” e,
na segunda lia-se na notícia Depois das
Festas, o seguinte: “Sobre a Parada de Bombeiros, diremos que
teve um brilho inexcedível, sendo
merecedoras de todos os elogios as duas Corporações que a organizaram”.
Quem organizou esta Parada de Bombeiros, pretendeu
imitar as primeiras paradas de bombeiros portugueses realizadas com
sucesso no Porto e em Lisboa. Era moda os bombeiros organizarem estas
iniciativas para o público, de forma a destacar a sua afirmação e importância
no seio da sociedade.
Confesso que, depois de partilhar a informação
recolhida no velho jornal, não tenho mais nenhuma para satisfazer a
curiosidade do leitor mais ávido de conhecer o passado dos bombeiros. Quem a tiver,
peço aqui que nos ajude a completar as memórias que evoca esta medalha rara,
que vai voltar, outra vez, a ocupar o seu lugar no silêncio do museu dos
bombeiros da Régua.
Talvez, a partir de agora, não seja mais observada como
uma raridade de um momento de glórias esquecidas na grande história dos
Bombeiros da Régua, mas como um verdadeiro e singelo documento que recorda uma
inédita Parada de Bombeiros, realizada na cidade de Vila Real, por ocasião das
Festas da Cidade de 1936.
Digo inédita Parada de Bombeiros, mas deveria dizer a única
que aconteceu na capital do nosso “reino
maravilhoso”, o que prova a ousadia dos bombeiros de Vila Real, que foram
capazes de se unirem e de mostrarem à sociedade a sua força e o seu exemplo de
altruísmo, generosidade e de verdadeiro serviço público.
Uma Parada de Bombeiros que fez história, se bem que
tenha ficado até hoje esquecida, mas que será sempre uma admirável realização
dos bombeiros transmontanos - durienses.
Toda esta história, devo dizer, me conta a medalha que
já não tenho diante de mim. Voltou ao seu museu para refazer uma nova página da História dos Bombeiros da Régua.
- José Alfredo Almeida*, Peso da Régua, Dezembro de 2012.
*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registam neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Também publicado no semanário regional 'O Arrais', edição de 9 de Janeiro de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.