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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ser mais que uma filiada da Liga dos Bombeiros Portugueses

 "O bombeiro deve praticar o Bem pela consciência e nunca pela vaidade.
A nossa vida pertence à Humanidade”.
Álvaro Valente.


No famoso “Livro de Visitantes da Real Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua”, encontra-se assinalada a presença de figuras importantes na história dos bombeiros, como a do Comandante Álvaro Valente (1886-1965), dos Bombeiros Voluntários do Montijo e dirigente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

O Comandante Álvaro Valente – farmacêutico de profissão -  foi  um influente cidadão  nas estruturas dos bombeiros, quer  a nível local quer a nível nacional. Destacou-se a servir a causa do associativismo e do voluntariado, como comandante dos bombeiros do Montijo. O seu contributo maior foi ter sido um dos impulsionadores que fundaram uma estrutura nacional, a Liga dos Bombeiros Portugueses, para defender e representar os interesses de todos os bombeiros. Como seu dirigente, teve um trabalho notável a erguer os pilares da organização e a divulgar um conjunto de princípios doutrinários que valorizaram o estatuto dos bombeiros. A ele se deve terem os bombeiros adoptado o lema “VIDA POR VIDA”, isto é, os bombeiros dão as suas vidas para salvarem a vida do semelhante. Da sua autoria é também a "Legenda do Bombeiro" que, em forma de dez mandamentos, é como que um verdadeiro guia espiritual, que traduz a forma de ser e estar dos bombeiros na sociedade.

Mas a quem quiser conhecer mais sobre este homem e sua obra aconselha-se a leitura duma interessante biografia, escrita pelo jornalista Artur Vaz, recentemente editada pela Câmara Municipal do Montijo.

No dia 22 de Setembro de 1935, o Comandante Álvaro Valente, como representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, esteve na vila da Régua para visitar o quartel dos bombeiros voluntários, instalado numa velha casa, que existiu na Rua dos Camilos.

A visita de um alto dirigente da Liga dos Bombeiros Portugueses é sempre um acontecimento marcante e de relevo histórico. Esta visita do Comandante Álvaro Valente teve um valor ainda maior para os bombeiros da Régua, por ser a primeira de um dirigente da Liga dos Bombeiros Portugueses.
A Liga dos Bombeiros Portugueses, fundada em 18 de Agosto de 1930, depois dos trabalhos do I Congresso Nacional de Bombeiros, reunido no Estoril, começava a fazer o trabalho de reorganização dos bombeiros em Portugal. Para tanto, era importante as associações unirem-se em volta da sua confederação, a fim de pela sua representatividade esta dispor de maior força no travar das suas lutas. Tornava-se necessário fazer algo por dentro para mudar a atitude passiva e conformada. Havia a necessidade de convencer as associações das vantagens de se filarem na sua confederação para poderem reivindicar com maior eficiência do centralizador Estado Novo os apoios de que careciam os corpos de bombeiros.

No início dos anos 30, o associativismo e o voluntariado encontravam-se em letargia, faltando aos bombeiros muito do necessário para cumprirem com dignidade a sua missão. Sem existir uma uniformidade nos princípios e nos planos de acção, tornou-se importante a nível doutrinário, que o Comandante Álvaro Valente tenha  pugnado mais pela elevação da imagem pública do bombeiro.

Este conjunto de precauções deve-se ter travado muito a nível da conversa do Comandante Álvaro Valente com a Direcção e o Comando dos Bombeiros da Régua, os quais atravessavam uma fase muito difícil para sobreviverem. Numa revisão dos estatutos desse ano, os sócios tinham aprovado a norma do art. 3º dos estatutos que depositou todas as responsabilidades na autarquia: A Câmara Municipal do Peso da Régua toma à sua protecção a organização da AHBV do Peso da Régua, mantendo-a para os fins consignados, tomando também à sua responsabilidade a sua administração e disciplina”.
Se na realidade aconteceu o esvaziamento do poder associativo e a demissão de soberania dos os órgãos sociais, não deixa de surpreender uma consagração estatutária de um princípio limitador da autonomia, o que deveria ser impensável mesmo que a associação estivesse com graves dificuldades económicas. A esse tempo, a associação também não tinha decido filiar-se como associada da Liga dos Bombeiros Portugueses.

A passagem pela Régua do Comandante Álvaro Valente não ficou esquecida, já que, ao dar-lhes a honra de assinar o livro dos visitantes dos bombeiros da Régua, assinou e escreveu uma mensagem que traduzia o espírito de dificuldades de uma época, os dissabores e as amarguras vividas pelas corporações de bombeiros e que aqui se transcreve na íntegra:

“De visita à Benemérita Corporação dos B.V. da Régua, como representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, saúdo efusiva e calorosamente todos os camaradas que a compõem, seus ilustres Comandantes e Ex.ma Direcção, afirmando-lhes a minha incondicional e inequívoca solidariedade e a mais dolorosa camaradagem. Em nome dos que, lá em baixo, na capital, se batem pertinentemente pela nossa sacrossanta Causa, abraço espiritualmente todos os que têm a mesma gloriosa farda e que por ela sofrem tanta amargura e dissabor. Deixando a impressão da minha maior gratidão pela forma como me receberam, apresento a todos os Ex.mos Camaradas as minhas homenagens sinceras e fraternas”.

Esta mensagem foi clara para os bombeiros da Régua. A Liga que ele estava a representar demonstrava solidariedade para com os bombeiros reguenses, mas também fazia sentir que precisava deles para a defesa de causas mais nobres e para se alcançarem as reformas de modernidade que o sector ansiava, como condição para melhorar a qualidade do socorro às populações. 

Se era sua finalidade sensibilizar a associação para que se filiasse na Liga, não teve dificuldade em conseguir esse objectivo. Como a maioria das associações de corpos de bombeiros do país não estavam filiadas, o Comandante Álvaro Valente afirmava ser inconcebível para os “que quem veste a farda possa permanecer indiferente a este movimento sem similar nos anais desta falange de beneméritos”.

A Direcção e Comando entenderam aquela mensagem. Os bombeiros da Régua foram pioneiros, em 1924, ao aderirem como sócios de uma primeira tentativa de confederação de associações, a denominada “Federação dos Bombeiros Portugueses” que não teve longevidade nem actividade.

Mas, em 14 de Dezembro de 1935, a associação reguense passou a ser sócia colectiva da Liga dos Bombeiros Portugueses, tendo-lhe sido entregue o respectivo diploma. Dado este primeiro passo, manteve relações institucionais privilegiadas com a confederação, da qual recebeu ajudas e com ela passou a colaborar nas suas iniciativas.

Depois de uma rápida visita, em 1958, de Moura e Silva, como presidente da Liga, para participar nas cerimónias do 78º aniversário da associação, a direcção da Liga dos Bombeiros Portugueses, presidida pelo padre Victor Melícias, em 1980, escolhe os Bombeiros da Régua para organizarem o 24º Congresso Nacional.

Este foi um momento alto e significativo que prestigiou o centenário dos bombeiros da Régua também festejado nesse ano.
Em Maio de 2010, o Dr. Duarte Caldeira, Presidente do Conselho Executivo da LPB, no âmbito de uma iniciativa denominada “Liga de Proximidade”, visitou o Quartel Delfim Ferreira e o Edifício Multiusos. Do que viu e ouviu gostou. Assinou o famoso livro de visitantes e deixou uma breve mensagem. Já na saída das instalações, lançou-se um desafio à Direcção e Comando, que gostava de ver os bombeiros da Régua a organizarem  o próximo  congresso nacional dos bombeiros.

Aceite esse desafio, a actual Direcção e o Comando apresentaram a sua candidatura que, ao lado da proposta pelos Bombeiros de Cascais, logrou ser a escolhida. A decisão foi tomada pela maioria dos elementos presentes no Conselho Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, reunido em 25 de Setembro de 2010, em S. João da Madeira. Passados 31 anos do anterior congresso, os bombeiros da Régua recebiam a honrosa missão de organizar o 41º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, a ter lugar nos dias 28 a 30 de Outubro de 2011.

Entre a primeira visita de um representa da Liga dos Bombeiros Portugueses e a do seu actual presidente, Dr. Duarte Caldeira, passaram-se setenta e cinco anos, que constituem um ciclo de grandes mudanças, a vários níveis, nos bombeiros da Régua. Os bombeiros da Régua mudaram e progrediram. Adquiriram mais e melhores viaturas de combate a fogos, de desencaceramento e de transporte de doentes. Como reforço do voluntariado, foi criada uma equipa de cinco bombeiros permanentes e profissionalizada. O quartel Delfim Ferreira está a ter obras beneficiação profundas para ser melhorada vertente operacional e a qualidade dos serviços de socorro.

No entanto, os ideais permanecem iguais e imutáveis, sem esquecer todos os bombeiros e dirigentes associativos que contribuíram para tornar cada vez melhor e maior esta associação que, actualmente, pretende ser mais que uma filiada Liga dos Bombeiros Portugueses.

A mensagem válida e ainda actual de significado que o Comandante Álvaro Valente deixou manuscrita no livro de visitas, não deixará de ser levada à prática pelo bombeiros da Régua, ao organizarem com brio e rigor  a próxima Assembleia Magna,  para cerca de três mil bombeiros portugueses, onde serão discutidas decisões importantes para o futuro dos bombeiros portugueses do século XXI.
- Colaboração de J. A. Almeida* para "Escritos do Douro" em Fevereiro de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua.

Ser mais que uma filiada da Liga dos Bombeiros Portugueses
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 17 de Fevereiro de 2011
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